Eu nunca imaginei que um dia viveríamos uma situação como essa, vemos diariamente situações parecidas na televisão, porém sempre achamos que não vai acontecer conosco, essa com toda certeza é uma forma equivocada de se pensar. O relógio marcava uma da manhã, minha mãe dormia nos braços do meu pai, Nicole repousava a cabeça no ombro de Amanda, o que era estranho de se ver, Emily dormia abraçada a Becca e Cássia dormia em meu colo. Não consegui pegar no sono, minha mente estava trabalhando a mil, cogitar a possibilidade de ter perdido a minha irmã fazia uma espécie de tortura em meu peito, seria um baque muito grande, mas graças à Deus, ela está viva. Isabela estava angustiada, mesmo depois que Nicole ligou, dizendo que Flávia iria ficar bem, ela não parou de mandar mensagem, pedindo que qualquer noticia nova, que eu a avisasse. Havia recebido muitas mensagens e o facebook da minha irmã estava cheio de publicações, todas dizendo o quão eles queriam que ela ficasse bem logo.

 

Amanda me surpreendeu, sua atitude pegou a todos de surpresa, eu queria que Flávia fosse feliz, acima de tudo, e acredito que a loira a minha frente faria isso, depois de hoje, eu virei fã dessa professora.

 

- No que você tanto pensa? – escutei a voz doce da minha namorada, mirei seu rosto e ela estava de olhos fechados. Passei a mão sobre os seus cabelos castanhos, macios, cheirosos.

 

- Estava pensando na loucura que foi esse dia... – ela abriu os olhos e me encarou.

 

- Ela nos deu um grande susto... – vi seus olhos encherem de lágrimas, me inclinei para beijar-lhe a testa. – Quando ela acordar... Vou mata-la... – dei uma pequena risada.

 

- Eu te ajudo... – ela beijou a minha mão que acariciava o seu rosto.

 

- Já imaginou como vai ficar esse quarteto amoroso?

 

- Tadinha da minha irmã... Mas não há dúvida. – olhei para Amanda. – Ela ama essa loira...

 

- Eu te amo... – voltei a olhar para a minha namorada, não importava quantas vezes ela dissesse, em todas elas o meu coração disparava.

 

- Eu te amo... – beijei seus lábios, sem pressa.

 

Ficamos daquele jeito por um bom tempo, até que o ar pediu para entrar, Cássia ficou sentada e me fez deitar sobre suas coxas, ficamos a nós encarar.

 

- Não vai dormir? – seus dedos passeava por meu rosto.

 

- Estou sem sono...

 

- Precisa descansar... Amanhã será outro longo dia...

 

- Deixa eu ficar olhando para você, seus olhos me acalmam... – vi um lindo sorriso se formar naquele rosto tão delicado. – Você é linda demais, amor...

 

- Linda é você, Paloma... Tem noção disso?

 

Aquele silencio gostoso ficou, olhar para ela era como observar o pôr do sol, ficamos como sempre, nos olhando. O tempo foi passando, e não percebi, mas havia pegado no sono e acordei com o barulho nos corredores, Cássia dormia toda torta, olhei o relógio.

 

- Seis da manhã... – tentei levanta, mas acabei acordando a Cássia.

 

- Que horas são? – ela perguntou sonolenta.

 

- Seis... Daqui a pouco o médico pode aparecer. – levantei. – Vamos lavar nossos rostos...

 

Ela levantou e fez uma cara de dor, olhei e o restante ainda dormia, saímos a procura do banheiro. Lavei meu rosto, Cássia já havia terminado e me esperava, voltamos para o corredor, quando chegamos, todos já haviam acordado.

 

- Bom dia... – falei e recebi o mesmo cumprimento.

 

- Estão com fome? – meu pai nos perguntou.

 

- Sim... Todos estamos... – Nicole respondeu.

 

- Vou buscar algo para comermos, vou no líder aqui em frente. – ele beijou o rosto da minha mãe e saiu.

 

- Meus amores, vocês precisam ir para casa, eu fico aqui com o pai de vocês. – mamãe nos olhou.

 

- Eu quero ficar... – falei.

 

- Nós só vamos sair daqui quando ela acordar, mãe. – Nicole falou e todas concordamos.

 

- Tudo bem, mas prometam que vão depois que ela acordar, certo? – ela falou serio. Apenas concordamos com a cabeça.

 

- Vamos lavar nossos rostos, vocês vem? – Rebecca perguntou a Amanda, Nicole e Emily.

 

- Sim... – as quatro saíram, sentei ao lado da minha mãe e Cássia ao meu lado.

 

Peguei o celular para enviar uma mensagem para a Isa, desbloqueei a tela e haviam mensagens dela, do Rafael, da Marcinha, da Lili e outras pessoas da minha família. Passei a responder cada uma, enquanto Cássia e minha mãe conversavam.

 

Quase uma hora depois, meu pai voltou com um monte de sacolas, mamãe o ajudou tirando algumas de sua mão.

 

- O médico já deu alguma noticia? – ele perguntou ansioso.

 

- Ainda não, pai... Já não aguento... Quero ver a minha irmã... – falei chateada.

 

- Vou ver o que consigo... – meu pai falou e logo sumiu.

 

- Comam, meninas... – dona Carolina mandou.

 

Comemos, deixando apenas o café da manhã do meu pai, a ansiedade tomava conta, cada minuto parecia uma eternidade. Queria ver a Flávia, ouvir a voz dela, ver aquele sorriso de quem está sempre aprontando, a risada gostosa... Meu pai voltou e todo mundo ficou de pé.

 

- O médico acabou de chegar, ele foi ver como ela está e logo vira para nos dar alguma notícia. – ele dizia visivelmente mais animado.

 

- Graças à Deus! – minha mãe comemorou.

 

Ficamos a espera do bendito médico, Isabela mandou uma mensagem, disse que foi chamada para depor.

 

- A Isa, foi chamada para depor...  – falei e todas me olharam curiosas.

 

- Isso significa que você também será chamada, Amanda... – Rebecca falou.

 

- Quando? – Amanda perguntou.

 

- Ela disse que a tarde... – respondi.

 

- Então logo eles viram... – ela concluiu.

 

- Caramba... – Emily falou e acompanhamos o seu olhar, era o noticiário local.

 

- Aumenta... – levantei e aumentei o volume.

 

- Videos do momento em que a estudante, Flávia Cardoso Freire, foi baleada circulam pela internet... – foi um choque bem grande, não dava para ouvir quase nada, por causa do barulho ao redor, mas dava para ver perfeitamente o tal segurando a arma, enquanto Flávia e Amanda, tentavam o que parecia conversar com o desgraçado, ele pareceu dar um passo a frente e Amanda... Se pós a frente da Flávia, vi como todas olharam em sincronia para ela, minha mãe tinha um ar surpreso, na verdade todos nós, voltamos a olhar para televisão e a cena seguinte foi horrível, Flávia empurrou a Amanda e foi atingida. Gritos, pessoas correndo, minha mãe se agarrou ao meu pai e Cássia buscou a minha mão. Aquela cena foi horrível, Emily baixou o volume, todos pareciam aéreos.

 

- Você tentou... Tentou proteger a minha irmã, Amanda... – Nicole estava sobre o efeito do que acabamos de ver. – Meu Deus...

 

Meus pais olhavam para Amanda, com um brilho diferente nos olhos, sentei pois a minha cabeça pesava toneladas, ver a minha irmã ser atingida mexeu com o meu emocional, abalou todos ali, Amanda sentiu na pele, eu estava atônica.

 

- Bom dia... – a voz do médico quebrou aquele momento estranho.

 

- Bom dia... – dissemos juntos.

 

- Bom dia, doutor Saraiva. – meu pai ficou a frente.

 

- Como estar minha filha? – minha mãe aguardava a resposta.

 

- A senhorita Cardoso, ainda não despertou, mas está muito bem, para o tipo de ferimento que ela sofreu, retiramos os aparelhos, ela logo acordará. As visitas poderão ser de duas em duas pessoas, se ela continuar com essa evolução em seu quadro, logo deixara a UTI e irá para o quarto. – o médico conclui, um sorriso surgiu no rosto de todos.

 

- Gostaria de saber doutor, sobre uma possível transferência da minha filha para o hospital da minha família... – minha mãe olhou o médico com expectativa.

 

- Creio que logo será possível, doutora Cardoso, sua filha vem se recuperando de forma espantosa, é uma menina forte e logo poderá ser transferida, se assim desejam.

 

- Obrigada, doutor Saraiva... – meu pai cumprimentou o médico com um aperto de mãos.

 

- Logo voltarei... – o médico saiu sorridente, meu pai era muito respeitado.

 

- Obrigada, meu Deus!!! – Nicole chorava emocionada.

 

Nos juntamos em um abraço, a minha irmã ficará bem e logo acordara, um sorriso estava estampado em nossos rostos. O horário do almoço chegou, fazia meia hora que o meu pai havia saído para comprar algo para comermos, estávamos conversando, quando Isabela e seus pais chegaram, ela tinha os olhos vermelhos, Rebecca, Emily, Cássia, Nicole e eu levantamos para abraça-la. Minha mãe ficou sentada, enquanto os pais da Isa, se aproximaram de Amanda e ela.

 

- Ei? – Nicole chamou a atenção de Isa. – Não chora...

 

- Me perdoem... Me perdoem... – ela chorava, soluçava.

 

- A culpa não foi sua, Isabela... – Nicole tentava a confortar.

 

- Se eu não... Se... – doeu vê-la daquele jeito.

 

- Não... Não tem “se”... Você não teve culpa... Olha pra mim... – Rebecca segurou o rosto dela entre suas mãos. – Ela está bem... Ela vai acordar e não vai gostar nada de você ficar se culpando... Você não tem culpa de nada... Absolutamente nada... Entendeu?

 

- Quando ela acordar, você vai até lá... Aperta forte ela e não diga essa bobagem na frente dela, se não estará encrencada, senhorita Pantoja... – Emily tentou descontrair e conseguiu, tirou risos de todos nós.

 

- Não duvida não... – Cássia concluiu.

 

- Tudo bem... – ela sorriu. – Prometo que não direi nada... Quando poderemos vê-la?

 

- Logo... – Amanda respondeu, olhei para a loira e ela olhava de forma carinhosa para Isa. – Logo ela volta pra gente...

 

- Eu vi... O que fez... – Isabela também olhava carinhosa para Amanda. – Você foi incrível.

 

Um sorriso cumprisse surgiu entre as duas, deixando o clima leve, nos olhamos sorrindo, aquele foi um grande passo.

 

- Estão com fome? – meu pai chegou.

 

Depois do almoço, meus pais, os pais da Isa, a própria Isa e a Amanda conversavam sobre o que poderia acontecer, no caso do Paulo Henrique, lembrar daquele monstro me causava repulsa. Pelo que pude ouvir, os pais dele estavam tentando prejudicar a Isa, jogando pra cima dela toda a responsabilidade, mas é obvio que eles não conseguiriam nada. Fiquei abraçada a minha namorada, enquanto Becca e Emily conversavam e Nicole falava com o pateta do namorado.

 

Depois de algumas horas, os pais da Isa foram embora, ela ficou, meu pai a levaria depois, nós sete ficamos conversando amenidades, era cinco da tarde, meus pais falavam com alguém da nossa casa, quando o médico chegou afoito aonde estávamos, no mesmo momento nos levantamos, meu pai encerrou a ligação.

 

- O que houve, doutor? – minha mãe ficou nervosa.

 

- Ela acordou! – ele sorriu.

 

- Ai, senhor!

 

- Meu Deus! – cai sentada.

 

- Ela perguntou por duas moças, mas logo caiu no sono. Ainda está sobre o efeito da anestesia. – por quem ela perguntou?

 

- Por quem, doutor? – Cássia perguntou o que todos queriam saber.

 

- Amanda... E Isabela... – Amanda pois a mão sobre o peito e Isabela abriu um sorriso gigantesco.

 

- Podemos vê-la? – minha mãe perguntou.

 

- Claro, duas em duas pessoas... – o médico parecia satisfeito por dar a noticia.

 

- Se importam de irmos primeiro, meninas? – meu pai perguntou.

 

- Podem ir... Mas não demorem! – Nicole falou e rimos, mas ela falava sério.

 

- Tudo bem, minha filha... Vamos, amor...

 

Os dois saíram acompanhados pelo médico, nos olhamos e começamos a rir feito loucas, algumas pessoas nos olharam como se fossemos todas retardadas.

 

- Que foi? – Nicole perguntou e eles viraram os rostos.

 

- Sua doida! – Emily falou rindo.

 

- Povo intrometido, oras...

 

- Para de ser velha, Nicole... – falei rindo da cara de ofendida que ela vez.

 

- Quem vai entrar depois? – Cássia perguntou.

 

-  A Isa e a Amanda... – respondi.

 

- Acho melhor você e a Nicole, Paloma. – Isa respondeu. – São as irmãs dela.

 

- Mas foi por vocês que essa traidora chamou. – Nicole falou com ciúmes, tirando risadas.

 

- Concordo com a Isabela, vocês devem ir. – Amanda que estava apenas ouvindo, falou.

 

- Tudo bem... – respondi.

 

- Depois é a sua vez, Amanda... Afinal você esteve com ela... – Emily falou, Amanda apenas concordou. - Cássia entra com a Isa e minha namorada e eu. Concordam? –

 

- Ok! General! – Cássia bateu continência.

 

O clima estava visivelmente mais leve, eu agradecia mentalmente à Deus por não leva-la de nós. Nunca mais quero passar por algo parecido, as coisas que se sente é inexplicavelmente terrível, não desejo isso a ninguém.

 

“Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada meu Deus!”

 

Fim do capítulo