"Nada do que foi será, de novo, do jeito que já foi um dia..." (Lulu Santos)
Capítulo 10
Namorada de Guto?!! Não! O senhor destino devia estar brincando comigo!
Não! Não! E não! De Guto, não! Se ainda fosse de Roberto eu não me importaria tanto! Mas, eu não podia estar apaixonada pela namorada de meu irmão querido!
Se levei um susto e se o ar me faltou, quando a vi ali, parada, para Marina o mesmo acontecia. Mas ela, muito mais experiente que eu, disfarçou melhor e veio ao meu encontro. Beijou-me as faces e com um sorriso lindo nos lábios sensuais, disse:
- Finalmente estou tendo o prazer de conhecer a tão "preciosa" Valentina, filha do meu grande amigo Norberto! - sua voz estava bastante firme e ainda mais suave.
Gelei ao sentir seu perfume suave e feminino. Depois que ela se afastou, a sensação de vazio que me invadiu foi ainda maior do que a que eu estava sentindo, desde que saí em disparada daquele hotel.
Claro que percebi a ênfase que ela deu a esta frase.
- O prazer é todo meu, Marina Cintra! - não deixei por menos. Sublinhei também seu nome, mas confesso que minha voz ardia em minha garganta na dificuldade de respirar que eu encontrava.
- Muito bem! - papai já tinha servido o champanhe nas taças e nos oferecia - E esta é Márcia, amiga de minha filha e também uma de nossas advogadas.
Márcia e Marina se cumprimentaram também com beijinhos. Porém não deixei de notar o olhar avaliador de Marina sobre a linda morena que Márcia é.
Não consegui encarar os olhos de Marina, mas podia senti-los cravado em mim, me observando, me estudando.
Erguemos o brinde e eu baixei de vez a muralha que havia tentado neste último mês erguer em volta de meu coração.
Marina estava ali, na sala de meu pai, linda, maravilhosa e eu, que tantas noites, fui buscá-la na suíte do luxuoso hotel, em Veneza, nada podia dizer ou fazer para demonstrar a saudades que me invadia o peito. Poderia ser até perfeito, se não fosse o fato de ela ser namorada de Guto.
Minha cabeça parecia que ia explodir à medida que eu bebia o champanhe e bebia, cada vez mais. Até que, sutilmente, Márcia conseguiu me afastar da taça. Gesto esse que não passou despercebido pelo olhar sempre atento e preciso de Marina.
E à medida que a bebida ia subindo, deixando-me tonta e com uma vontade louca de sorrir, a vontade de chorar também crescia, até que, sem poder mais aguentar aquele acúmulo de emoções conflitantes que me enlouquecia, fugi para a cozinha.
Ali, sentada na enorme mesa de carvalho, chorei todos os momentos que vivi desde minha partida de Veneza.
- O que aconteceu com a menina? - disse Haroldo entrando na cozinha e se calando com um aviso de Amélia, que alisava meus cabelos, como uma mãe protetora.
- Ainda não sei, mas deixa ela desabafar. Chorar é muito bom e ela está precisando!
Assim fiquei durante algum tempo, até meus soluços irem se acalmando, se acalmando...
- Já estou bem, Amélia! Obrigada! - disse-lhe, enxugando as lágrimas com o dorso de minhas mãos.
- Tome um pouco deste chá. Vai te fazer bem, menina! - a voz bondosa e calma daquela mulher esquentava um pouco o meu frio interior. E sua maneira carinhosa de cuidar de mim, sem cobranças, me alegrava a alma.
- Obrigada! - disse-lhe tomando de suas mãos a caneca com um líquido quente.
- Você deveria subir um pouco, jogar um pouco de água nesta carinha linda e, assim que estiver melhor, me avise que servirei o jantar. - Amélia, ainda sentada à minha frente, me olhava com ternura e preocupação.
- Não, já estou melhor... - balbuciei com uma enorme vontade de voltar a chorar. Talvez chorasse a noite toda.
- O que você tem, Val? - a voz suave de Márcia soou atrás de mim revelando sua preocupação.
Vi Amélia subir seu olhar para ela e, ao mesmo tempo, abrir seu sorriso bonachão enquanto respondia por mim.
- A menina só está com uma forte dor de cabeça... - Amélia se levantou - Aliás, vocês garotas de hoje em dia não se alimentam direito e bebem mais do que deviam. Trabalham muito e se cuidam pouco, dá nisso aí. - então ela se afastou.
- Val? - Márcia sentou-se ao meu lado. - O que está acontecendo? Você praticamente fugiu da sala e... Já tem algum tempo! - gentilmente, ela tocou meu queixo e virou meu rosto para ela.
Olhou-me nos olhos. Nunca vi o olhar de Márcia mais doce e mais verdadeiro. Neste momento, percebi que o que havia naquele olhar era algo além de uma amizade forte e fatal! Havia mais... Havia amor!
Meu Deus! Márcia me amava! Aquela mulher linda e maravilhosa, de corpo e alma, me amava!
- Meu Deus, Má... - sussurrei, assustada, confusa, dilacerada - Desde quando?
Seus olhos encheram-se de lágrimas. Márcia sabia do que eu falava.
- Desde que me confundiu com uma conhecida sua! - suspirou, de certa forma, aliviada.
Santo Deus! Eu não a confundi com ninguém. Foi a maneira de me aproximar daquela morena de corpo sexy e olhar malicioso. E isso já tinha mais de sete anos...
Sete anos! Sete anos de baladas, safadezas, companheirismo, brigas, bebedeiras e, sex*, muito sex*! Sexo bom e, total liberdade.
Esse era o tipo de relacionamento que tínhamos, ou melhor, que temos. Uma amizade muito colorida e gostosa. Mas, saber que Márcia me ama, deixou-me ainda mais triste.
- Por que nunca me disse nada! - minha voz era só um sussurro.
- Será que é mesmo preciso, Val?! - sua voz tinha um quê de ressentimento. Mas, no mesmo instante, isso mudou - Não se preocupe, Valentina, esse é um sentimento só meu! Você nunca quis. Nunca me pediu nada. Nunca vou te cobrar nada!
Além do amor, que agora eu enxergava em seus olhos, existia também uma chama dolorida de aceitação. Márcia me aceitava como eu era. Livre, solta, de ninguém! E era assim que ela me amava. E sofria.
Meu Deus! Quanto idiota eu tinha sido até ali. No entanto, foi só eu me apaixonar de verdade para perceber melhor as coisas ao meu redor. Perceber o amor de Márcia, uma amiga fiel, uma amante ardente, uma mulher apaixonada.
- Perdoe-me, amiga! Perdoe-me...
- Ei! - ela me interrompeu tão suave quanto terna - Não precisa se desculpar, Val! Eu é que preciso te agradecer por estar sempre ao meu lado e por me deixar ficar sempre do seu lado! - ela suspirou. Havia lágrimas em seus olhos, mas a fortaleza Márcia não as deixou cair - Quer saber?! Melhor que saiba mesmo o que sinto, assim não preciso mais me esconder atrás de uma falsa parede de frieza e de "não estou nem aí com isso!". Meu amor por você é lindo, é verdadeiro, é livre e, é pra sempre!
Pronto! Agora sim que eu não poderia jamais lhe dizer sobre Marina!
- Vamos voltar para a sala. - Márcia se levantou. - Está melhor?
Balancei a cabeça num sim, embora eu ainda me sentisse incerta. Então fomos!
No resto da noite, Márcia não saiu do meu lado e Marina não deixou de me encarar.
Meu coração estava em pedaços por saber do amor, que eu não correspondia, de Márcia e, ao mesmo tempo, inteiro, forte, desejoso e feliz, por estar perto de Marina.
Percebi que, por várias vezes, ela tentou se aproximar. Mas a presença morena e sexy de Márcia não deixou isso acontecer.
Roberto, depois de passar metade da noite tentando se aproximar de Márcia, desistiu e, assim que o jantar terminou, desculpou-se e foi para seu quarto.
Eu e Márcia nos despedimos uma hora e meia depois, debaixo de protestos de papai, para que ficássemos e passássemos a noite na mansão. Mas eu precisava ficar sozinha aquela noite e pensar sobre tudo o que estava acontecendo.
- Val, por favor, não se afaste de mim agora que sabe de meus verdadeiros sentimentos! - Márcia pediu assim que estacionou o carro em frente ao meu prédio.
- Quer subir? - perguntei por educação, mas pedindo a Deus que ela não aceitasse.
- Não! - ela respondeu percebendo e respeitando meu momento. - Acho que você precisa de um tempo. Mas, nada mudou, tá? - e sorriu seu sorriso mais meigo, desarmando-me e, de certa forma, me deixando com tesão.
Seria tão fácil convencê-la a entrar. Só que agora eu sabia de seu amor e não podia mais brincar com seus sentimentos.
Depois, tinha Marina e, apesar de ser a namorada de Guto, eu ainda a desejava, e desejava muito!
- Amanhã a gente conversa, então. E é claro que nada mudou, Má. - disse com carinho e beijei de leve sua face - Boa noite e, assim que chegar, me dá um toque?
Márcia, sorrindo triste, fez um gesto de sim com a cabeça e, pegando meu rosto entre suas mãos macias, disse baixinho:
- Boa noite, meu amor! - e me beijou, suave, os lábios.
Fim do capítulo
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