Logo após a primeira música Fernanda sorriu para todos e desceu do palco vindo até a mesa reservada para ela. Jasmine, tão concentrada na morena, mal notou quando Pietro e Ana Júlia saíram da mesa e sumiram no salão. Fernanda caminhava e, mesmo antes de poder focalizar os olhos da fotógrafa, ela já encarava a mulher sentada sozinha na mesa.

Quando os olhares das duas se prenderam um no outro uma nova música já havia começado a tocar. Os olhos castanhos escuros pareciam hipnotizar as orbes chocolate e Jasmine mal conseguia respirar, quanto mais se mover. Quando chegou à mesa Fernanda se permitiu analisar melhor a fotógrafa e não impediu-se de morder o canto do lábio inferior ao notar as pernas expostas e a boca decorada com um vermelho menos intenso do que o de seu batom.

Vendo a editora parar a menos de meio metro de si e mordendo o lábio Jasmine prendeu a respiração sem nem perceber. Fernanda colocou as coisas que tinha nas mãos sobre a mesa e apoiou o quadril a 30cm da cadeira onde a fotógrafa estava sentada. A morena deixou seus olhos percorrerem o corpo da fotógrafa enquanto cruzava os braços abaixo dos seios destacando ainda mais o decote de seu vestido.

- Não fui avisada que você seria a acompanhante de Ana Júlia – disse Fernanda com um meio sorriso vendo o olhar de Jasmine percorrer seu corpo e se demorar em seu decote.

- Ela também não tinha me dito que você viria ao jantar – disse a fotógrafa depois de engolir em seco, mas erguendo o queixo e direcionando o olhar para os olhos de Fernanda, mesmo que a boca da editora-chefe lhe chamasse muito mais a atenção.

- Bem, creio que não saberemos os motivos dessas omissões – falou a morena sorrindo e dando a volta por trás da cadeira da fotógrafa que, ao não ter o olhar da outra em seu rosto, se permitiu fechar os olhos com força e respirar fundo.

Fernanda se sentou na cadeira ao lado de Jasmine e, só então, a fotógrafa notou que Pietro e Ana Júlia não mais estavam ali. Antes que Jasmine dissesse qualquer coisa um garçom apareceu servindo o primeiro prato do jantar. Num acordo mudo as duas decidiram esperar que seus respectivos acompanhantes retornassem a mesa e começaram a comer. Jasmine aceitou o vinho que o garçom lhes ofereceu enquanto que Fernanda pediu por um suco, hora ou outra elas se olhavam discretamente, sempre evitando prender seus olhares. Por quase um hora elas comeram e, ao final da apresentação, desistiram de esperar pelos amigos. Fernanda pegou seu celular e ligou para Pietro já completamente impaciente e sob o olhar atento da fotógrafa.

- Sei que vocês dois devem estar confabulando onde quer que estejam – acusou a editora assim que o amigo atendeu a chamada – Mas é melhor aparecerem aqui logo ou você, senhor Sampaio, ficará sem carona para casa.

- Pois saiba que não estamos a confabular, não mais pelo menos – riu Pietro – E faça bom proveito dessa carona, já estou em casa, Ana Júlia fez a delicadeza de me trazer. Agora, quem está sem ter como voltar para casa é a fotógrafa – disse ele fazendo Fernanda olhar para os olhos confusos de Jasmine enquanto ouvia o que o amigo lhe falava – Veja bem e aproveite a chance que lhe demos.

A chamada foi desligada pelo outro e Fernanda, lentamente, abaixou o aparelho até pousá-lo na mesa e então encarou Jasmine que a olhava em expectativa.

- Receio que nenhum dos dois vai aparecer aqui – contou ela para a fotógrafa que fechou os olhos com raiva.

- Onde a irresponsável da minha amiga se enfiou? – perguntou Jasmine controlando a própria irritação.

- Acredito que, pelo horário, já deva estar em casa – contou Fernanda vendo a fotógrafa arregalar os olhos em descrença – Assim como meu amigo que também me deixou para trás.

- Eu agradeço a companhia – falou Jasmine se levantando e pegando sua bolsa, Fernanda se levantou logo em seguida – Irei chamar um taxi.

- Espera – disse a editora se apressando em segurar a mão da fotógrafa antes que esta se afastasse da mesa – Jasmine, espera apenas um segundo.

O toque delicado em seu pulso a fez parar e virar até estar frente a frente com a morena. Os saltos impediam que a diferença de altura entre elas fosse perceptível. Os olhos se prenderam novamente causando um arrepio em Fernanda com a intensidade que via no olhar da outra.

- Eu posso leva-la em casa – falou Fernanda, pela primeira vez na noite demonstrando insegurança – Já iria levar Pietro, não me importo em levar você no lugar dele.

- Não é necessário – falou Jasmine desconfortável, a mão de Fernanda tinha escorregado até estar segurando a mão dela, mas a morena não dava indícios de que a soltaria.

- Eu insisto – pediu a editora – Eu realmente gostaria de ter uma oportunidade de conversar com você. Por favor – ela insistiu outra vez e a fotógrafa não conseguiu negar.

Jasmine acenou positivamente com a cabeça e quis ter dito sim antes quando viu o sorriso que se formou nos lábios da mulher a sua frente. Fernanda rapidamente pegou sua bolsa e as coisas que havia ganhado no palco, o que incluía um buque de flores. Jas pegou das mãos ocupadas dela os papéis sem que ela pudesse contestar, Fernanda agradeceu com mais um sorriso e, sem perceber o que fazia segurou novamente a mão da fotógrafa conduzindo-a na direção da saída do salão.

A fotógrafa encarou as mãos juntas delas, se lembrou da ultima vez em que elas deram as mãos daquela forma. Havia sido na saída do casarão, enquanto fugiam em meio a escuridão por uma janela, mas naquela ocasião era Jasmine quem as condizia. Foram paradas duas vezes no caminho até a saída, em nenhum momento as mãos se separaram. Quando chegaram até os manobristas e pararam a espera do carro dela foi que Fernanda se deu conta de que ainda tinha a mão da fotógrafa na sua; relutante ela soltou Jasmine.

Quando a Mercedes branca parou em frente à elas Fernanda andou até o lado do motorista enquanto os manobristas abriam as portas para as duas entrarem, deixou suas coisas atrás do banco antes que Jasmine terminasse de se ajeitar no banco de couro do carro. Evitando olhar os olhos da fotógrafa Fernanda abriu o porta-luvas deixando ali sua carteira e logo depois o fechando. Sua mente quase que totalmente em branco por ter se inclinado sobre a fotógrafa e sentido o cheiro do perfume que vinha dela. O mesmo perfume amadeirado que se lembrava de ter sentido da ultima vez que esteve perto de Jasmine Meireles.

Fernanda saiu com o carro em velocidade baixa, seu corpo parecia estar no automático, mas mesmo esse automático queria mais tempo perto da fotógrafa. Por algum motivo elas não se falavam, ambas em um silencio incomodo e desconfortável. Fazia 15 minutos que haviam deixado o lugar quando Fernanda finalmente decidiu falar alguma coisa. Mesmo sabendo que o que perguntaria poderia fazer a situação ficar ainda pior.

- Jasmine – disse ela num tom inseguro e controladamente baixo – Porque saiu do meu escritório daquele jeito naquela tarde?

- Convenhamos que nenhuma de nós realmente quer entrar nesse assunto – falou Jasmine num tom irritado e sarcástico enquanto olhava pela janela lateral do carro.

- Eu quero – insistiu Fernanda se irritando também – Você me beija, um beijo daqueles, e depois simplesmente me larga lá como se nada tivesse acontecido! É claro que eu quero entender.

- Só esta reclamando porque não teve suas vontades saciadas? – perguntou Jasmine com ironia e um sorriso forçado – É isso, só pode. Ah Fernanda, poupe-me. Se quer alguém pra levar pra cama e se divertir um pouco pode encontrar outra em qualquer festa durante uma noite em São Paulo.

- Como é? – perguntou a editora indignada parando o carro no acostamento da via rápida e se virando no banco para encarar a fotógrafa.

Fim do capítulo