O resto do caminho foi feito com a mente de Fernanda correndo mais do que seu carro. As palavras do amigo rodavam em sua cabeça, os significados e as implicações delas faziam seu peito apertar e sua respiração ficar difícil. Isso porque ela, no fundo de seu ser, sabia que ele estava certo, sabia que Pietro tinha toda a razão. Mas, ao mesmo tempo, ela não sabia o que fazer; não sabia como agir nem por onde começar.

Quando chegaram ao salão onde aconteceria o evento ela ainda estava distraída e pensativa, sequer notou o amigo com o celular na mão. Ela pegou sua bolsa que estava sobre o painel, saiu do carro, entregou a chave ao manobrista, quando Pietro pegou sua mão e colocou sobre seu braço ela mal notou, apenas foi seguindo junto com o amigo. Vários flashes acompanharam o caminho dos dois na entrada, quando chegaram na porta do salão, mais uma parada para fotos. Fernanda sorria automaticamente, apenas sua máscara de sempre, mas seus olhos estavam distraídos e vagavam pelo ambiente tão sem ponto fixo quanto seus pensamentos. Foi quando ela enxergou a fotógrafa.

Para Fernanda seria impossível não reconhecer aquele cabelo castanho mesmo que, por conta da iluminação do lugar, parecesse um tom mais escuro do que o castanho chocolate que já estava gravado em sua memória. Fernanda precisou apenas passar o olhar pelo salão para reconhecer Jasmine, só depois de reconhecer a fotógrafa foi que viu sua assistente caminhando ao lado dela indo em direção às mesas posicionadas mais ao fundo. Pietro sentiu a amiga parar e acompanhou o olhar dela vendo a dupla de amigas caminhando mais ao fundo, era possível ver as duas rindo de algo que a fotógrafa dizia. Olhando para o rosto de Fernanda ele viu os olhos dela brilharem ao ver o sorriso da fotógrafa, mesmo que de longe.

Para Fernanda ela era a mulher mais linda do lugar e parecia atrair a atenção dela como se fosse um imã que impedia que seus olhos desviassem daquela figura. O vestido mais curto deixando as pernas a mostra, pernas longas e lindas, os ombros também apareciam e as costas estavam completamente a mostra, o preto do vestido contrastando com a pele branca fracamente bronzeada. Ela estava simplesmente linda e a editora-chefe ficou paralisada em vê-la ali, tão perto dela outra vez.

- Feche a boca antes que a baba escorra pelo queixo minha amiga – sussurrou Pietro segurando o riso e se inclinando para ela de forma que apenas a morena o ouvisse.

- Idiota – ela sussurrou de volta, mas não podia negar que ele talvez estivesse certo – O que ela está fazendo aqui? – perguntou forçando um novo sorriso em seu rosto e acompanhando o amigo que entrava no salão, mas seus olhos não desgrudavam da fotógrafa que estava quase chegando às mesas.

- Ela faz a mesma coisa que você eu presumo – murmurou Pietro sorrindo enquanto eles eram cumprimentados por algumas pessoas – Que coincidência não é?

- Você sabia – ela disse sem olhar para ele, mas o tom irritado foi perceptível.

- E se eu soubesse? Qual o problema? – perguntou o advogado se divertindo com o surto controlado que sua amiga estava tendo, mas ele logo adotou um tom mais sério – É sua chance Nanda, não desperdice.

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Jasmine se sentou ao lado de Ana Júlia em uma mesa onde estavam dispostas quatro cadeiras com o nome da revista em um papel em frente aos acentos. Bem a frente delas estava um palco elevado em 15cm onde estavam dispostas diversas cadeiras. A fotógrafa ouvia a explicação da amiga sobre para o que serviriam aquelas cadeiras descobrindo, só naquele momento, que antes do jantar haveria uma apresentação de uma orquestra infanto-juvenil. Ana Júlia explicava que o membro mais novo da orquestra tinha apenas 11 anos quando seu celular sobre a mesa tocou mostrando o nome de Fernanda na tela.

- Ela deve estar querendo saber como estão as coisas – mentiu Ana Júlia com um sorriso forçado ao notar o olhar sério, desconfiado e quase irritado da amiga – Boa noite dona Fernanda – ela disse atendendo o celular.

- Nem adianta me dar desculpas, já obtive a informação com Pietro de que vocês dois não me avisaram intencionalmente que sua amiga fotógrafa estaria aqui como sua acompanhante – disse Fernanda num tom irritado, mas com certo nervosismo que a assistente não soube ter certeza de que era realmente isso; Ana Júlia apenas permaneceu com uma expressão calma enquanto ouvia a chefe e olhava discretamente para a amiga que a encarava de forma séria sem poder ouvir o que era dito do outro lado da linha devido ao som alto de conversas – Avise ao Antônio que eu finalmente cheguei, eu tinha enviado uma mensagem dizendo que me atrasaria. Ele havia alterado a ordem das apresentações para que eu fosse citada ao final da apresentação. Fale com ele para voltar ao planejamento original. Ache-o e faça isso – falou Fernanda desligando sem esperar resposta de sua assistente.

Ana Júlia mal respirava, olhou em volta rapidamente e viu Antônio, o diretor da ONG responsável pela orquestra, caminhar em direção ao palco a algumas mesas de distância logo atrás de Jasmine. Agradeceu mentalmente por sua chefe não ter ido atrás do homem ou a fotógrafa a veria antes da hora e era provável que ela fosse embora sem nem esperar uma explicação da amiga.

- Bem, ali esta alguém com quem eu tenho que falar, se me der licença por alguns minutinhos – disse Ana Júlia com um sorriso constrangido enquanto se levantava – Eu volto logo Jas.

- Espera Anjú – falou Jasmine já sem entender nada do que a amiga estava fazendo, mas ela continuou indo e deixando a fotógrafa completamente confusa para trás – Ana Júlia!

Ela apenas sorriu para trás e continuou a caminhar fazendo Jasmine soltar um som de irritação e cruzar os braços em frente ao peito e se soltar na cadeira com uma expressão emburrada. A dona dos olhos verdes se apressou para alcançar o homem, mas ao mesmo tempo seus olhos buscavam encontrar a chefe no meio de tantas pessoas. Logo depois ela voltou para a mesa, mas de forma lenta com a intenção de chegar apenas quando Antônio já estivesse chamando a atenção de todos na direção do palco.

Jasmine ficou encarando a amiga até que viu as luzes mudarem se tornando mais intensas na direção do palco. Quando o homem alto usando um terno e subiu ao palco com um microfone a atenção de todos, inclusive da fotógrafa, foi atraída para aquela direção. Assim que ele se posicionou no centro uma fila de jovens e crianças começou entrar vindos do fundo do salão e indo se organizar nas cadeiras.

- Boa noite a todos – disse o homem com um enorme sorriso – Agradeço a presença de todos aqui, mesmo com a necessidade que tivemos de adiantar esse jantar beneficente. Todos os anos ele é realizado e arrecada fundos para a nossas ONG. Esse ano nós trouxemos algo diferente, assim como nossas situação atual é distinta. Essa noite teremos uma apresentação da nossa Orquestra Principal que foi convidada para se apresentar num evento internacional em Moscou, onde iremos nos apresentar junto a diversas outras grandes orquestras do mundo todo. Todos os anos, após o jantar, fazemos um levantamento dos maiores doadores. Esse ano entretanto eu gostaria de citar apenas uma pessoa. Ontem eu recebi um documento e, essa tarde, fui informado que já havia sido realizada a entrega de alguns instrumentos para a nossa ONG. Hoje eu queria agradecer de todo o meu coração a essa pessoa. Graças à ela a nossa orquestra inteira irá viajar para Moscou com instrumentos novos de excelente qualidade. Ela é uma das nossas maiores doadoras em todos os anos desde que assumiu o lugar da sua falecida mãe na direção da revista Actualites. E nessa noite nós gostaríamos de entregar a ela um documento em que relacionamos nossos agradecimentos junto a uma pequena carta onde cada um dos membros da orquestra escreveu seu nome, seu instrumento e uma mensagem para nossa queria benfeitora. Além disso, decidimos, em homenagem, utilizar os novos instrumentos pela primeira vez essa noite. É de nossa vontade que a primeira música tocada por esses instrumentos seja ouvida pela pessoa que proporcionou isso para todos nós. Por favor, gostaria de apresentar à todos vocês a senhorita Fernanda Azevedo.

Jasmine tinha estado tão concentrada no homem falando que não notou a linda morena se aproximando do palco. Quando o holofote focalizou Fernanda a fotógrafa simplesmente não conseguiu se mover. Os olhos da fotógrafa acompanharam cada movimento daquela mulher. O vestido longo era preto e levemente aveludado, descia marcando o corpo da morena até o final das coxas e, a partir dos joelhos, seguia mais solto até os tornozelos. O vestido tinha um detalhe dourado na cintura além do generoso decote. Jas simplesmente não conseguiu se impedir de percorrer com os olhos desejosos cada detalhe do corpo da editora da revista.

Fernanda estava com um salto alto também preto e sem detalhes, a maquiagem destacava seus olhos, o batom vermelho escuro destacava seus lábios, não usava nenhum acessório além da pulseira dourada no pulso esquerdo junto. Seu cabelo, apesar de solto, estava jogado por cima do ombro direito. Ela estava simplesmente deslumbrante e Jasmine não conseguia parar de olhar para ela. Jasmine ficou tão concentrada em Fernanda que só desviou sua atenção quando sentiu a mão de Ana Júlia colocar a mão em seu queixo fazendo-a fechar a boca.

- Sinceramente eu espero que ela não seja tão cabeça-dura quanto a Fernanda – comentou Pietro enquanto ria, ele havia se sentado na cadeira ao lado de Ana Júlia enquanto a morena subia ao palco.

- Eu vou te matar Ana Júlia – sussurrou Jasmine entre dentes ao entender que a amiga sabia que Fernanda viria ao jantar.

- Hey, eu nunca afirmei que a chefinha não viria – disse Ana Júlia rindo da expressão irritada da amiga – E não seja exagerada, se não quer falar com ela não fale.

- Vou te matar assim mesmo – resmungou Jasmine voltando a olhar para o palco.

Fernanda recebia as coisas sorrindo e logo depois o maestro subiu junto ao palco também convidando-a a se posicionar ao seu lado de frente para a orquestra. A primeira música da noite começou e Fernanda ficou ali a alternar olhares entre os músicos e a plateia.

Fim do capítulo