"Ah, coração, seu idiota adorável...!" (Besqui)
Capítulo 5
Marina estava quinze minutos atrasada. Olhei para o relógio e me levantei. Isso também era uma situação nova para mim. Até então, não me lembrava de ter tido que esperar alguém em minha vida...
Suspirei me lembrando que passei o resto da tarde tentando encontrar um motivo para desistir daquele encontro. Sabia que, ou melhor, meu sexto sentido estava me dizendo que eu perderia o controle de minha vida para aquela mulher. E eu ainda não estava preparada para isso.
Naquele momento, vi Marina atravessando a praça em minha direção.
Ela, vestida num conjunto leve, à medida que caminhava, a leve brisa da noite enfatizava cada curva de seu corpo. Ela sorria dando-me a impressão de estar relaxada, mas ao se aproximar percebi a tensão em seu rosto.
Sorri de volta, sem me mexer! Era indescritível a sensação de observar o movimento elegante e sensual de seus quadris.
- Olá! - ela me cumprimentou.
- Olá! - respondi sem fôlego.
- Perdoe-me pelo atraso. Uma ligação fora de hora e... - ela se justificou.
Balancei os ombros, sem desgrudar meus olhos dos dela.
- Sei... Trabalho?
- Trabalho! - ela me respondeu beijando-me a face.
Seu perfume encheu meus pulmões e eu me senti ainda mais fascinada, se é que isso era possível.
- Sem problemas... - disse sem perceber.
- Obrigada pela compreensão e, também, por ter me esperado! - ela sorriu e, então, eu lhe perdoaria por qualquer coisa neste mundo.
- Onde quer comer? - ela perguntou.
- Você parece conhecer a cidade melhor do que eu... - disse-lhe simplesmente - Portanto, você decide!
- Certo, Valentina! - e pegou em minhas mãos.
O restaurante escolhido por ela ficava muito perto de onde nos encontramos. Muito conhecido pela discrição e privacidade, segundo Marina, tinha uma seleção de pratos deliciosos.
Depois que o garçom se afastou soltei um longo suspiro e consegui me sentir um pouco mais relaxada na companhia daquela bela mulher.
Os cabelos dela estavam presos em um rabo frouxo, com muitos fios soltos, fazendo-me sentir vontade de me aproximar e soltá-los num gesto sensual e demorado.
- Você está linda! - falei lentamente.
Não sei se pelo modo direto ou pelo tom sedoso que usei, o fato é que percebi que ela apreciou meu elogio.
- Obrigada! - ela falou num tom baixo e profundo. - Achei que você não fosse aparecer...
- E quase não apareci mesmo! - falei sincera.
- O que a fez mudar de ideia? - ela pareceu surpresa pela minha sinceridade.
- Senti fome.
Marina riu, gostosa e sensualmente. Neste momento, o garçom se aproximou trazendo os cardápios.
Segurei um deles para disfarçar a chama da excitação sexual que aquela risada provocou em mim.
- Quer que eu peça por você? - ela perguntou delicada.
- Por favor.
Ela pareceu estranhar e gostar de minha resposta ao mesmo tempo. Com um sorriso enigmático, passou a ler o cardápio. Decidiu-se por brodetto di pesce e moleche.
O garçom se afastou, mas retornando em seguida, com uma garrafa de vinho. Serviu-nos.
- Não sei se quero tomar vinho. - falei sentindo-me já embriagada pela visão da mulher à minha frente.
- Eu também não! - ela disse estranhamente irônica e, erguendo sua taça, olhou-me profundamente.
Segurei minha taça, repeti seu gesto e tomei um pequeno gole, desviando meu olhar. Não queria olhar para Marina naquele momento. Tive medo do que ela poderia ler em meus olhos.
- Sabe... - comecei tímida - Nós passamos quase o dia todo juntas e eu ainda não sei... Não sei se...
- O quê, exatamente, quer saber, Valentina?
Olhei-a incrédula. As pessoas geralmente gostam de falar de suas vidas, mas não parecia ser o caso da misteriosa Marina.
- Olha, isso não é um interrogatório! - disse-lhe, gentilmente. - Mas gostaria de saber se você é comprometida e...
- Isso é importante? - Marina estava neutra.
- Não! Quero dizer, sim... - suspirei indecisa. Senti que minha pergunta criou uma ligeira tensão no ar, mas, ainda assim, Marina sorriu.
- Não! Não sou comprometida!
Sorri aliviada e Marina, observadora que era, pareceu achar graça daquele meu alívio. De repente sua fisionomia tornou-se séria e seu olhar pousou nos meus lábios.
- E você? - ela perguntou.
- Não! Também não sou comprometida! - respondi tão depressa que ela abriu um pequeno sorriso e desviou seu olhar de minha boca.
Tomou mais um gole de vinho e, maliciosamente, comentou:
- Perfeito!
O garçom se aproximou e nos serviu a entrada. Mas, mal tocamos na comida. O clima tenso e erótico entre nós crescia a cada gole daquele vinho afrodisíaco.
Nos olhávamos como se tivéssemos sido transportadas para um lugar mágico, onde estávamos sozinhas.
- Valentina! - ouvi sua voz chamando minha atenção.
- O que foi?
- O garçom está esperando para lhe servir o prato principal.
Saindo do transe, me surpreendi com o homem parado ao meu lado com o prato de lagostins nas mãos, mal conseguindo conter um sorriso.
- Grazie. - disse-lhe.
- Prego.
Senti minha face quente e não falei mais nada até ele se afastar o suficiente.
- Você viu a expressão dele? - murmurei para Marina ainda constrangida.
- Estamos na Itália, senhorita... - ela me lembrou. - Estão todos acostumados a ver casais gays e heteros sendo afetuosos!
Estranho. Mesmo nunca tendo escondido minha orientação sexual, senti-me tímida com as palavras nada discretas de Marina.
A comida requintada era própria para ser degustada, mas comemos rápido e em silêncio, mal sentindo o sabor dos ingredientes, tamanho era o clima quente entre nós.
Terminei de comer e coloquei os talheres ao lado do prato, movimento que foi imitado por Marina logo em seguida.
- Posso pedir a conta? - ela perguntou visivelmente ansiosa.
Eu também estava e me esforcei para responder normalmente.
- Não vai querer sobremesa? Nem mesmo um café?
Ela pareceu pensar um momento e, então, sugeriu:
- Acho que podíamos tomar este café num ambiente mais... íntimo!
Senti um arrepio e o tesão voltar forte.
- Sim! - concordei sem desviar meu olhar - Então podemos ir!
Fim do capítulo
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