CapÃtulo 3
Beatriz atravessou o pátio da escola em poucos segundos, ela tinha pressa em encontrar Rafaela. Não entendeu direito porque sua mãe a levara no final de semana para o sítio da avó, nem porque a deixara lá, dizendo que voltaria para busca-la na outra semana. Ela adorava sua nona, e gostava de visita-la, mas ficar longe de Rafa por uma semana era tempo demais. Sentiu-se agoniada e chorou quando a mãe partiu, deixando-a sob os cuidados da anciã. Por conta disso, a criança pulou de alegria quando a figura materna surgiu antes do previsto. A viagem de volta pra casa demorou apenas algumas horas, mas foi o suficiente para Dona Cíntia convencê-la que não contaria a Rafaela onde estava esse tempo todo. Falaria que estava doente, assim Rafaela não ficaria triste por não ter mais uma avó que cuidasse dela.
A criança chegou trombando com as amiguinhas da classe na porta da sala. Ela procurou os olhos brilhantes e os cabelos negros da amiga pelo local, mas Rafaela não se encontrava, pelo menos não estava em sua costumeira carteira. Soltou a mochila no chão e observou várias crianças num tumulto ao fundo da classe. Beatriz se aproximou e pode ouvir a voz de Rafa entre elas.
Todas queriam saber o que era aquele objeto que Rafaela levava junto ao pescoço. Beatriz queria gritar, chamar-lhe a atenção, abraça-la e dizer que sentiu saudades, mas Rafa estava compenet*ada mostrando aos amiguinhos para que servia o estetoscópio. Observou quando ela colocou o aparelho no peito de uma coleguinha e depois sorriu lhe dizendo:
- Seu coração bate bem forte, até parece os sinos do orfanato - Ouviu o burburinho das crianças, todas querendo ser a próxima a ser examinada e Rafaela aumentando o sorriso alheia a sua presença. Beatriz se empertigou e voltou para a carteira aborrecida, enquanto a professora adentrava a sala.
- Ora, ora, senhorita Beatriz, vejo que já melhorou.
As palavras da mestra tirou toda a compenet*ação de Rafaela. As crianças correram para suas carteiras e Rafa correu para junto de Beatriz.
- Você sarou! – ela disse com entusiasmo.
Ver Beatriz ali, inteira e linda com seus cabelos loiros e sedosos, fortalecia sua ilusão que Dra. Laurel seria o anjo que curaria todas as dores de sua alma. A frase veio acompanhada de um abraço apertado e apesar de aborrecida com a amiga, por não lhe notar segundos antes, Bia retribuiu com a mesma afetividade. Não havia espaço para rancor entre elas.
***
Laurel observava as crianças brincando através da janela, ela viu Rafaela hesitar quando irmã Dulce se aproximou interagindo com ela. O olhar da criança se voltou para a direção em que ela estava. Laurel acenou por alguns instantes na esperança que Rafa a visse.
A Médica viu quando outra mulher vestindo uniforme se agachou entre elas e a garotinha loira a agarrou escondendo o rosto em seu ombro, enquanto a freira praticamente arrastava Rafaela pelo braço. Aquilo realmente era necessário?
Irmã Dulce chegou a sala, trazendo Rafaela com os olhos marejados. Ao ver a doutora a criança se jogou em seus braços e o choro veio em profusão.
- Porque está assim Rafa – a mulher tentava consolá-la – Pensei que ficaria feliz em me ver.
Rafaela soluçava e não conseguia sequer respirar direito. A madre superiora torceu os lábios e já ia se pronunciar, quando Dra. Laurel sinalizou a ela com a mão numa tentativa de calar-lhe a boca. A freira revirou os olhos de modo desagradável.
- Podem nos deixar a sós – a médica falou
- O que disse?
- Que quero ficar sozinha com a criança, por favor!
Muito a contra gosto, a madre superiora e irmã Dulce deixaram a sala.
- Marcos?
O marido olhou para a mulher com espanto, mas ao cruzar com o olhar amendoado da esposa percebeu-lhe a determinação, encolheu os ombros e seguiu atrás das freiras. A porta se fechou, deixando a mulher e a criança abraçadas. Laurel suspirou aliviada, se até ela se sentia melhor sem a presença daquelas irmãs, imagina como estaria a pobre criança.
- Rafa sei que estás triste porque vai deixar sua amiguinha, mas eu queria muito que viesse comigo pra casa.
- Eu nunca mais vou vê-la? – Rafaela finalmente conseguiu murmurar alguma coisa entre as lágrimas.
Laurel inspirou o ar, segurando o choro que teimava em embaçar-lhe a vista, ver a criança naquele estado, estava lhe destruindo emocionalmente.
- Eu posso trazer você pra visita-la algumas vezes, se você quiser.
- Promete?
- Eu prometo – respondeu, com um sorriso querendo brotar-lhe no rosto.
- E não vou ter que mudar de nome?
O choro começou a cessar, e Rafa enxugou os olhos com as costas das mãos. Ao escutar a pergunta, Laurel fez aquilo que ela fazia de mais lindo aos olhos de Rafaela e respondeu sorrindo:
- Claro que não Rafa, você será sempre Rafaela, se me deixar ser tua mãe, eu apenas gostaria que usasse meu sobrenome também, vai ser hum... Dra. Rafaela de Almeida Ferraz.
- Rafaela de Almeida Ferraz – a criança disse empolgada – Gostei.
***
A residência do casal Ferraz era algo muito além dos sonhos de uma órfã. O casal vivia em uma mansão junto com os pais de Laurel, havia empregados por todos os lados, flores e árvores diversas compunham o jardim, além de uma piscina, salão de jogos e vários carros na garagem. Os pais de Laurel receberam a criança com o mesmo entusiasmo da médica, ela foi acolhida pela família Ferraz da forma mais carinhosa possível e em seguida encaminhada ao cômodo que seria seu quarto. Tudo isso deixaria qualquer criança encantada, mas Rafaela não, ela sabia que seria difícil ver Beatriz novamente, pois viajaram horas de carro até o seu destino.
Ela deu um sorriso torto, quase forçado, enquanto Laurel lhe mostrava o quarto. Pacotes de presentes cuidadosamente colocados na cama aguardavam a sua chegada para serem desembrulhados. A médica se sentou no móvel e trouxe a criança ao seu aconchego.
- Eu espero que se acostume conosco, e melhore essa carinha triste. Compramos presentes pra você, não quer abri-los?
Rafa se concentrou em tentar ser agradável, aspirou o perfume de flores que emanava da mulher e pegou um pacote. O sorriso se abriu ao encontrar uma maletinha de médico, e o brilhante olhar azul se voltou à mulher. Laurel a abraçou.
- Sabia que ia gostar.
A conexão entre a mulher e a criança era algo admirável de ver. A promessa de Laurel se cumpriu, pelo menos uma vez por mês ela levava Rafaela ao encontro de Beatriz. A rotina se repetiu todos os meses durante um ano inteiro. Até Rafaela ouvir a conversa do casal.
- Laurel pelo amor de Deus, faz um ano que não tiramos férias, porque você não quer viajar?
- Não posso quebrar a promessa que fiz Marcos, você não entende? E não vou sem nossa filha.
- Meu bem, Rafaela precisa esquecer o passado, nós somos a família dela agora. Vai ver como ela nem se lembrará de tudo isso quando estiver em Nova York, podemos ir pra Orlando e leva-la na Disney.
- Concordo com Marcos minha filha, você mima demais essa criança – a mãe de Laurel disse, se manifestando a favor de Marcos, fazendo a médica se sentir derrotada.
Rafaela pode ver a tristeza da mãe durante o jantar. Aquela noite na mansão dos Ferraz, ela recebeu a visita da avó materna em seu quarto.
- Rafa querida, você precisa ser compreensiva, está fazendo Laurel sofrer não vê isso criança? - Marcos está muito bravo com sua mãe.
A avó fora cruel com as palavras e Rafa não dormiu a noite inteira. Os pensamentos a levaram a sua última visita. Beatriz se mostrará distante, já havia outra melhor amiga. Como era mesmo seu nome? Pâmela. A garota ruiva com sardas no rosto parecia ter substituído à falta que Rafaela fazia a Beatriz.
O olhar triste da mulher que a acolhera com toda sua alma. As palavras frias da avó materna. O tom de voz alterado de seu pai. Tudo isso quebrou seu coração mais uma vez. Não podia mais agir daquela forma, deveria ser grata aquela mulher que lhe dera um lar e a acolhera com todo amor.
Rafaela levantou decidida a romper seu vínculo com o passado aquela manhã, e foi com surpresa que avisou a mãe que não queria mais fazer as viagens rotineiras para visitar Beatriz.
– Eu quero viajar com minha família! – disse com a voz determinada surpreendendo a todos durante o café da manhã.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 03/07/2016
Oi.
Nossa vida todos os dias são bombardeadas por decisões de outras pessoas e nem sempre está ao nosso alcance esquivar delas de maneira que elas não interfira e de algum modo contribuindo para formar ou transformar nosso futuro.
Rafaela era livre dona de suas escolhas dentro do orfanato. A única que podia interferir diretamente era a Madre e assim ela o fez conseguindo lhes pais adotivos -decisão da qual nada Rafa podia fazer.
Então ela passou a ter pais e estes fazeriam suas escolhas de agora para frente deixando ela com a menor porcentagem de escolhas. Escolhas como visitar a amiga.
Mas chega um momento que o que ela sente e quer e posto xeque e ela tem que decidir o que escolher (mesmo porque sua vontade não seria suficiente para vencer no meio de tantos adultos que interfere em sua viida ) e ela escolhe pelo a maioria.
Dessa maneira ainda que por outras pessoas é sua escolha. E como esta escolha irá retornar para sua vida seu futuro.
Parece pouca coisa. Mas são de pequenas coisas que a vida é construída. E seu peso e enorme e fundamental.
Mas na maioria das vezes naquele momenta da esclha não alcançamos devidamente todas as suas implicações.
Até.
Rhina.
Resposta do autor:
Bo@ noite querid@!
Como já disse no primeiro comentário e no prólogo também, escolhas sempre levam a perdas, é muito triste saber que elas nem sempre dependem somente da gente e na maioria das vezes somos arrastados por escolhas de outros. Perdemos. Sofremos. E as vezes seguimos em frente sufocados, sem olhar para atrás, trilhando caminhos que não escolhemos, mas que muitas vezes serão necessários para o nosso crescimento. Vamos ver o que o destino reserva pra essas jovens?
Bjos lind@, obrigada pelo seu comentário. ;)
lia-andrade
Em: 28/06/2016
Estou amando a estória.. E será um enorme prazer poder acompanhar todos os capítulos.
Beijos, parabéns!
Resposta do autor:
Bo@ tarde lia!
Agradeço seu carinho por registrar seu comentário.
Bjos querid@.
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Luh-Castro
Em: 27/06/2016
Que lindo o amor entre Laurel e Rafa...
A médica se tornou um verdadeiro anjo na vida da pequena.
Pena que a Rafa teve que se separar da Bia.
Lara...sou um tiquinho anciosa....já to querendo o reencontro delas...haha
Bjos querida.
Resposta do autor:
Oh Lord, Luh querid@... precisamos resolver esse probleminha de ansiedade então. Logo logo Rafaela e Beatriz vão se encontrar novamente. ;)
Bjos lind@
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Mille
Em: 27/06/2016
Gostei muito da ligação das duas, já o Marcos é mais duro.
Laurel é das pessoas que quando promete, faça chuva ou sol ela cumpri.
E o ciúmes da Rafa com as novas amizades da Bia.
Lara será que nessa histórias não iremos chorar, olhe lá quero final feliz.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Bo@ tarde Mille. Hummm Dra. Laurel ai, ai, ai (autora suspirando...rs)
Então estou anotando aqui seus pedidos... nada de choro e final feliz...hehe vou ver o que posso fazer para atendê-la.
Bjos querid@ obrigada pelo seu carinho em comentar.
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Sem cadastro
Em: 26/06/2016
LM!
Rafa ficou enciumada com essa nova amiguinha da Bia, né? Fofinha demais essa Rafa!
Parabéns pelo capítulo maravilhoso.
Beijos, my dreams!
Resposta do autor:
Bo@ tarde Pietra!
Bom... eu adoro criança e gostei muito de introduzí-las na história, pois conseguem dramatizar algo simples e simplificar coisas complicadas num universo mágico sob a visão infantil onde tudo pode acontecer...rs
Obrigada pelo seu carinho em comentar. Bjos querid@.
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line7
Em: 26/06/2016
Espetacular capítulo, cada vez mais,vc linda autora capricha😍😍..para nossa alegria💃💃💃😂. A mãe de rafa é um verdadeiro anjo, que pena que rafa vai se separar de beatriz😐 mas eu não vejo a hora desse novo reencintro ( viu estou muiiitoooi curiosa..rsss😉)até mais linda e ÓTIMO domingo fica com Deus😙
Resposta do autor:
Bo@ tarde line7. Obrigada pelo seu carinho em comentar.
Sou suspeita para falar de Laurel... gosto de incluir alguns anjos no roteiro ...rs Separar Beatriz e Rafaela foi inevitável com a adoção, mas logo logo vou unir esses corações novamente.
Bjos querid@.
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Nah Dias
Em: 26/06/2016
Linda noite Lara! Que capítulo maravilhoso.. Um ótimo encerramento de domingo heheh... Nossa sem palavras para falar da mãe de Rafaela.. Maravilhosa... Mais que história é essa de uma terceira pessoa na história 🙊😕 affz já estou até vendo com a presença da nova amiga Pamela 😐... Mais uma vez.. Parabéns pela história 👏👏👏 no aguardo do próximo cap. Heheh... Bom final de noite e uma ótima semana! 😘😘
Resposta do autor:
Boa tarde lind@! Agradeço seu carinho...
Beatriz precisava de alguém para consolá-la né... rs. São apenas crianças senhorita Dias, não se preocupe muitas coisas ainda vão acontecer.
Bjos querid@ e até o próximo... ;)
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