Capítulo 4
20 anos depois...
Rafaela se concentrava na estrada lutando para não dormir ao volante. Seus músculos já reclamavam por um descanso, precisava parar num posto, tomar um café, mas parecia que nunca chegaria a lugar algum.
“Como foi que Laurel veio me buscar nesse fim de mundo?” pensou.
Piscou algumas vezes para afastar o sono, mas seus olhos se perderam na paisagem e recordações dolorosas do passado a assolaram. Voltar àquela cidade, trazia tudo a tona novamente e seus olhos se umedeceram, lembrando que devia a vida aquela mulher. A mulher que era responsável pelo que ela era hoje, que a resgatou, acolheu, ouviu e a amou com todas as suas forças. Dra. Laurel Ferraz.
Quando Rafaela a conheceu teve certeza que seria médica. Ela já não podia perder mais ninguém na sua vida e não era isso que os médicos faziam? Salvavam vidas?
Estudar nunca foi um problema para ela, mas a realidade se mostrou logo no primeiro ano de internato, quando viu a vida de um paciente se esvaindo, ela desabou. Aquilo não fazia parte dos seus planos. Lembrou-se de ter voltado para casa chorando e se trancar no quarto. A voz do professor ecoando em seus ouvidos:
- Se for chorar por todos pacientes que perder Rafaela, mude de profissão. Isso é um hospital, não um centro de milagres.
Naquele momento Laurel foi crucial, ela entrou no quarto de Rafa sem bater e sentou junto a cama. A conversa não foi menos dolorosa que seus sentimentos e Rafaela quase a odiou. Tudo se esclareceu naquele dia. Sua adoção não havia sido ao acaso, Laurel sabia quem ela era desde o começo, estava presente na sala de parto quando a mulher que lhe deu a vida veio a óbito. Sua dor foi tanta que quis levar o bebê para casa no mesmo instante e procurou informações sobre como proceder, mas a avó da criança já a acolhia nos braços, e assim o fez até não poder mais e ser consumida por uma doença degenerativa que a obrigou a deixa-la no orfanato. Laurel acompanhou tudo. O tempo lhe trouxe a certeza de que a morte daquela paciente fora uma fatalidade, coisas do destino, algo superior à compreensão humana. E aquilo a fez mais forte, determinada em ser a melhor, e assim ela o fez, estudou muito para chegar onde estava e ser reconhecida como uma das melhores e mais conceituada obstetra do país. Especializada em gravidez de risco, Dra. Laurel se formou e se aperfeiçoou com louvor em uma Universidade do Exterior, se casou com um famoso arquiteto e ao retornar ao país e tentar obter informações sobre aquela família, ela ficou sabendo que a criança morava em um orfanato. Daí para a adoção fora um passo decisivo em suas vidas.
Rafaela agiu de forma extremamente egoísta naquele momento, ficando três dias sem conversar com a mãe. Recordações dos olhos amendoados, chorando quando a abraçou pedindo que lhe perdoasse, molharam seu rosto embaçando lhe a visão. Num minuto estava tirando as mãos do volante para limpar os olhos e avistou o buraco do asfalto tarde demais. As rodas da Suv acertaram o alvo e o carro sacolejou descontrolado.
- Acorda Rafaela! – xingou-se mentalmente – desse jeito não chegará viva ao seu destino.
Finalmente ela avistou a entrada da cidade e um alívio pareceu lhe entorpecer momentaneamente.
Refez seu planejamento mentalmente, antes de encostar o carro na primeira vaga disponível e ajustar o GPS. Seu destino: Orfanato São Miguel.
***
Beatriz acordou disposta a fazer sua corrida matinal. Pâmela não quis acompanha-la, a garota tinha sérios problemas para acordar cedo e vivia ralhando com a amiga, por não saber onde a outra achava tanta disposição. Bia sorriu ao se lembrar da cara amassada dela quando abriu a porta do quarto para avisá-la que estava de saída.
Aquilo já era uma rotina, mas Pâm nunca se acostumava. Beatriz adorava sentir a brisa fria da manhã a tocar seu rosto. Além disso, os exercícios lhe ajudavam a arejar a mente e por seus sentimentos em ordem. Desde que perdera a mãe em um acidente de carro, sua vida mudara completamente. Trancar a faculdade de artes e assumir os negócios da mãe, fora uma carga muito grande para ela, mas pior do que isso era a falta que sentia de Dona Cíntia. Ela estava sozinha no mundo agora, não fosse a companhia de Pâm, realmente não saberia como conseguiria continuar a caminhar. A amiga se mostrou presente em todas as dificuldades enfrentadas, acompanhou as insônias e os choros madrugada a fora, não a largou um só instante, e se prontificou a ajudar no Bar Café que Bia herdara de Dona Cíntia. O pequeno estabelecimento que fora adquirido com muito sacrifício da mãe e ela fazia questão de honrar, mesmo tendo que deixar seu sonho de se formar em Belas Artes adormecer em seu coração, um dia ela voltaria à faculdade e tiraria seu diploma com louvor.
Agora se sentia mais estabilizada emocionalmente, 2 anos se passaram da fatalidade. A falta de Dona Cíntia, era preenchida em noites a fio com seus trabalhos artesanais. Ela amava expor seus sentimentos nas esculturas. Enquanto Pâmela se acabava nas baladas da vida, Beatriz a aguardava pacientemente na sala de artesanato que havia equipado para seus devaneios artísticos. Quando a amiga chegava, ela sabia que poderia dormir em paz. As vezes Pâmela a arrastava noite a fora para se divertirem juntas e foi numa dessas vezes que Beatriz conheceu Amim. O libanês se encantou com a moça loira logo de cara e passou a frequentar o Café. Um homem gentil, respeitador, carinhoso. Era assim que ele se portava perante ela e não foi difícil conquista-la. Estudante de medicina, Amim era tudo o que uma mulher na idade de Beatriz poderia desejar num namorado, não fosse sua insistência em se casar. Enquanto ela queria estudar, e investir na carreira de artista plástica, ele sonhava em ter uma dona de casa perfeita. Não conseguiu evitar o noivado, uma vez que a tradicional família do libanês exigira após alguns meses de namoro.
Beatriz ajustou os fones no ouvido quando a música Photograph(*) começou a tocar, “Loving can hurt. Loving can hurt sometimes”, ela não sabia por que, mas sempre se lembrava de Rafaela quando escutava essa música, já se passara 20 anos que não se viam, nem sequer tinham uma foto juntas, mas o desenho de Rafa grudado na lousa em seu ateliê, a arremetia aos velhos tempos em que eram apenas duas garotinhas inocentes querendo descobrir a vida. A dor da separação entre as elas foi o que mais a marcou. Rafaela se fora, e os dias ensolarados perderam a cor, somente os finais de semana em que ela vinha eram divertidos. Lembrou se como as visitas passaram a ser cada vez mais espaçadas, até não acontecerem mais, sem nenhuma explicação, a apatia que tomou conta dela, chegando a ficar acamada por um tempo. Quanta besteira inocente! Beatriz pensou. Rafaela com certeza nem se lembrava dela. Os pais eram muito ricos, na certa se tornara uma patricinha daquelas que Beatriz não suportava.
A música acabou assim que ela venceu a última quadra da avenida desacelerando um pouco, ela visualizou a rua para atravessar em segurança, mas assim que colocou os pés na faixa de pedestres, surgiu uma moto em alta velocidade buzinando. Beatriz estancou sem conseguir dar um passo a mais e fechou os olhos instintivamente. O motoqueiro misterioso parou a poucos metros dela, sacou o capacete e levou a mão na cabeça desalinhando os cabelos amassados pelo acessório.
- Bom dia futura esposa!
Ela abriu os olhos e respirou fundo, tentando desacelerar o ritmo de seus batimentos cardíacos.
- Está louco Amim..., quer me matar de susto? Bia ralhou
O rapaz soltou uma gargalhada.
- Vem me dar um beijo que eu adoro você bravinha...
Mas ela não respondeu, apertou os olhos, atravessou a rua pisando fundo e continuou o resto do percurso caminhando, enquanto o rapaz a acompanhava com a motocicleta barulhenta, tentando lhe roubar a atenção.
Beatriz gostava de sua companhia, apesar da implicância de Pâmela com o rapaz, mas desde que ficaram noivos, ela teve que dar o braço a torcer e concordar com a amiga, pois o moço parecia folgar demais, indo fazer quase todas as refeições no bistrô, e sinceramente aquilo já estava a tirando do sério.
Ela parou em frente ao estabelecimento e o observou enquanto ele estacionava o veículo. Os músculos perfeitos das pernas, salientes na calça jeans justa demais, a pele morena destacada pela camisa branca perfeitamente alinhada, os cabelos negros volumosos, sobrancelhas grossas e olhos negros, deixou escapar um suspiro ao se lembrar de como ele sempre evitava um contato mais íntimo. Chegou a pensar que ao noivarem essa situação se resolveria, mas Amim estava firme na decisão que só teriam relações íntimas após o casamento.
Beatriz se apoiou no portão da sua casa, enquanto o rapaz se aproximava.
- Vai abrir o café agora? Ele disse com aquele sorriso bobo que ela sempre admirava, mas que no momento a estava irritando.
- Não vou abrir hoje. Pâm chegou tarde ontem e provavelmente não vai estar disposta a ajudar. E Pâm de mau humor...
- É um terror – ele completou bem humorado, mas depois fechou a cara logo em seguida argumentando. – Você devia mandar ela embora.
Bia fez uma cara aborrecida, já haviam conversado sobre isso. A implicância de Amim com Pâmela parecia ter aumentado após o noivado. Os dois não se davam era fato, mas interferir em suas decisões quanto a quem ficava ou saia de sua vida, isso já era demais. Jamais faria uma traição dessas com Pâmela. Por outro lado a amiga desconfiava que o noivo queria ela longe, para poder morar com Beatriz, e a antipatia entre os dois só crescia. A casa era pequena, na verdade seis cômodos construídos com muito sacrifício atrás do próprio estabelecimento, mas era dela, não dependia de aluguel, e Bia se mostrava extremamente satisfeita com o local, e não pretendia mudar aquilo, muito menos afastar se de Pâmela.
- Vamos entrar... – ela tentou abrir o portão, mas Amim a alcançou e a prendeu segurando em sua cintura. No minuto seguinte ele já estava beijando seu pescoço para depois virá-la de frente e tomar seus lábios. Bia se submeteu, correspondendo de maneira passional. Ele sempre conseguia o que queria dela, mas com esse assunto, o noivo sabia que teria que se empenhar para convencê-la.
Fim do capítulo
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rhina
Em: 03/07/2016
Ah, tão real. Os acontecimentos.
As pessoas. Suas vidas.
Demais autora.
Como vc relata, o uso das palavras me prende totalmente.
Até.
Rhina.
Resposta do autor:
Bo@ noite rhina!
Muito feliz aqui com seu comentário. Obrigada por apreciar minha narrativa. Espero poder continuar assim, encantando os corações de minhas leitoras.
Bjos minha lind@. ;)
lia-andrade
Em: 03/07/2016
Rafaela de volta 😍😍 logo teremos um reencontro.. Já não gostei desse Amim..ansiosa para o próximo.
Beijos querida autora..
Resposta do autor:
Bo@ noite lia
Hummm tô vendo aqui todo mundo ansioso por esse reencontro, mas acho que o libanês não vai dar mole pra Rafaela não, vai ser uma pedra no sapato dela... hehehe
Bjos lind@
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Luh-Castro
Em: 02/07/2016
Eita q num gostei desse libanês, o cara se acha...affz...rsrs
Rafa voltando pro orfanato...hun....sinto q logo, logo teremos esse reencontro....assim espero....rsrs
Ansiosa já pelo próximo capítulo.
Beijinhos Lara querida :-)
Resposta do autor:
Bo@ noite Luh!
Rafaela voltando com tudo hehehe, o problema será esse libanês no caminho.
Bjos querid@, obrigada por comentar. ;)
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line7
Em: 30/06/2016
Esse tal de Amim😝😝😝😝 !cara chato meu😬.. vamos que vamos Rafaela, team Rafaela...hehehe..20 anos depois😊..até logo linda😙
Resposta do autor:
Boa noite line7!
Aee, o rapaz é respeitador e vcs já ficam metralhando o cara... tô passada... hehehe brincadeiras a parte acho que o libanês vai dar um pouco de trabalho pra Rafaela.
Bjos querid@ ;)
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Nah Dias
Em: 30/06/2016
Olá autora Linda!
Estou passada aqui.. Eu achando que a Pâm seria uma problema futuro e me enganei hihih foi e é de grande importância na vida de Bia já gostei dela heheh rs... Agora esse tal de Amim que já não gostei.. Já quer casar.. Ter dona de casa affzz passada xoxo amim e que Chega Rafaela heheh... Adorando! Ansiosa aqui pelo próximo cap...
Beijos Lar@! Boa noite!
Resposta do autor:
Bo@ noite N@h!
Me segurando aqui pra não rir, o personagem nem bem aparece e você já fazendo mal juizo da garota, tsc, tsc, tsc... tadinha da Pâmela. Só posso adiantar que o libanês vai dar trabalho pra nossa Rafa viu.
Bjinhos doces pra ti lind@!
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Mille
Em: 30/06/2016
Sabe que fiquei com um pé atrás com esse Amim, num gostei dele não😠😠😠😠😠 e estou com a Pam, espero que ele volte logo para o país dele.
20 anos e muitas revelações Laurel e Rafa já estavam com os caminhos destinadas.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Boa noite Mille!
O Libanês Amim vai dar um pouco de trabalho, só um pouco acho... hehehe. ;)
Bjos querid@!
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Sem cadastro
Em: 30/06/2016
LM!
Rafa está de volta! Eba! 0/
Amim? Manda esse libanês de volta ao Líbano...kkkk
Ansiosa pelo reencontro das fofas.
Beijos, my dreams!
Resposta do autor:
Boa noite Pietra!
Rafa vai chegar com tudo, mas esse Amim não sei não, acho que vai dar trabaçho pra ela...
Bjos querid@
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