Levei ela ao quarto que seria dela, ela ficou abismada olhando em todas as direções.

– Então, eu usei muito rosa? Vermelho ? Sei lá..não gostei! Acho que segunda feira vou devolver e trocar por de outras cores, o que me diz?

– Não faz isso, eu adorei é tudo muito lindo que eu não consigo nem falar direito – Me abaixei para ficar na altura dela – Eu não sei nada sobre criança,sobre cuidar de uma criança; e pelo jeito você também não se deu muito bem com adultos, então vamos ter que aprender uma com a outra, o que você acha?

– Eu fico muito feliz por você ter salvo a minha vida!

– Você não tem que me agradecer, foi você que salvou minha vida.

Minha vida mudou completamente com a chegada da Júlia, mudei meus horários, para ficar mais tempo com ela. Ligava para ela pelo menos 3 vezes ao dia, fiz uma lista dos melhores médicos da cidade e do mundo para me ajudar a lidar com o problema dela; uma equipe multidisciplinar formada por : Nutricionista ( a Zidovudina é um medicamento que contém uma taxa alta de gordura, dieta balanceada para quem toma é importante), infectologista e pediatra. Ela sofreu todos os efeitos colaterais possível da medicação, e eu acompanhei de perto reação por reação. Ela dormiu comigo na primeira noite que precisava ir toda hora no banheiro ( diarréia é um dos efeitos colaterais ), passei a noite em claro, chorava sem ela perceber. Odiava viver em um mundo, onde uma pessoa deixa a criança chegar nessa situação. Nas consultas com a psicóloga, ela contou que a mãe era viciada em drogas injetáveis, e que pegava as siringas para brincar, ela ia pedir comida para a mãe não morrer de fome.

4 meses se passaram desde que a Júlia entrou na minha vida, passei a frequentar lugares que ninguém nunca imaginava com ela, parques de diversão, peça de teatro de Frozen, e por várias vezes ela acabava indo dormir comigo na cama, pois tinha pesadelos que á assombravam , e aos poucos ela ficou menos arredia e eu fui me acostumando a ter uma criança em casa, bonecas espalhadas pelo meu quarto, peças de lego na sala ( Eu sempre pisava nelas) uma bicicleta bem pequena em minha garagem, um cadeirinha de criança quase rasgando o estofamento de couro do meu carro, um abraço entusiasmado todos os dias que eu chegava do serviço, caixas de cereais que vem com brindes em meu armário, em minha estante de TV vários bluray de ''Barney e seus amigos''; que eu era intimada a assistir quase todos os dias antes dela dormir; eu até decorei um das musicas (que aliás me peguei cantando várias vezes em meu serviço) :

Amo você! Você me ama!

Somos uma família feliz.

Com um forte abraço

E um beijo te direi:

"Meu carinho é pra você".

Eu a chamo de chaveirinho e ela me chama de chaveirão, e uma coisa muito interessante aconteceu : O fenômeno dos desenhos na porta da geladeira, ela fazia vários, desenhava eu a Máh por quem ela é apaixonada e a Máh também ama muito ela, desenhou o eduardo.. Todos os desenhos que ela me dedicava eu guardava, o primeiro que ela me ofereceu, eu tatuei em minha costela, o desenho era eu e ela em um monte de coração ao redor, tatuei em tamanho real, mas não tive coragem de mostrar ainda.

Hoje vai ser mais um dia de consultas, ainda não contei para ela sobre a doença, sempre que ela me pergunta para que é o remédio eu digo que são vitaminas e que ela vai presisar tomar para a vida inteira.

– Chaveirinho, desce para tomar café ou vamos nos atrasar.

– Já estou indo chaveirão – Ela gritou lá de cima, do quarto dela.

Fiz um sanduiche natural e um copo de suco de laranja para ela, me sentei à mesa tomando meu café puro quando ela desceu, vestida de tinker bell o que deixou eu e Mariáh surpresa.

– Eu deixei uma roupa separada em cima da sua casa, você não viu querida?! Perguntei tentando ficar calma.

– Sim eu vi, mas eu queria sair assim hoje.

– Ok Tinker Bell, você tem certeza?

– Sim!

– Mas essa roupinha eu te dei para você ir na festinha do aniversário do filho do Eduardo, mas você insiste em sair com ela, por mim tudo bem. Agora faça uma mágica e venha voado tomar seu café, nós estamos atrasada para o médico.

Enquanto ela tomava o café da manhã junto com a Mariáh, fui até o quarto dela e peguei a roupa que havia deixado separada em cima da cama e as coloquei na mochilinha, peguei os remédio; separei dois para ela tomar assim que ela terminasse o café e coloquei o vidro do remédio dentro da mochila também. Alguns hábitos meu também haviam mudado : Agora eu precisava arrumar duas bolsas para sair, a minha e a dela.

Passamos o dia fora, ela fez o exame de testagem sorológica, teve uma consulta com a psicóloga; achei importante contratar uma pois eu não me via dando a noticia a julia sobre a gravidade do problema que ela iria levar para o resto da vida, não sei o que isso causara em seu emocional.

Chegamos em casa de noite, coloquei ela para tomar banho e também fui me banhar, Maráh serviu a janta e fomos para a cama. Acordei por volta das seis da manhã com ela batendo em meu ombros, meio sonolenta me sentei na cama.

– Julia, é seis da manhã eu estou morrendo de sono, aconteceu algo?

– Aconteceu chaveirão, eu não consegui dormi, preciso te fazer um pedido – Esfreguei os olhos tentando despertar – Esses dias que você não estava em casa, eu estava assistindo um filme com a Mariáh,um homem pedia uma mulher em casamento – Ela fez uma pausa

– Prossiga, estou ouvindo casa palavra atentamente – Respondi esfregando os olhos e bocejando.

– Então, ele levou ela para uma praia bem bonita, e chamou uns Mariachi, se ajoelhou e pediu ela em casamento.. A Mariáh se emocionou com a cena, então cheguei a conclusão que todos os adultos se emocionam com pedidos que tenha música – Então ela pegou um rádinho de pilha que eu havida dado a ela, colocou a musiquinha do Barney : Amo você, tirou do bolso do moletom um anel de doce que vem de brinde na caixa de cereal – Você aceita ser minha mamãe?

O sono foi embora na hora, tentei não me emocionar mas não consegui, veio um nó na garganta.

– É claro que eu aceito ser sua mãe Julia – abri a gaveta do criado mudo ao lado da cama e tirei um anel de tucum, me abaixei ao lado dela – Julia Roberts, você aceita ser minha filha ?

– Eu aceito ser sua filha, para o resto da minha vida – Ela também estava chorando.

Ficamos algum tempo conversando na cama, e ela pegou no sono novamente; a carreguei até o quarto, Fui para o meu escritório, puxei pelo computador o extrato das minhas contas bancárias e peguei comprovante de todos os gastos que tinha tido com a Júlia até então, um total de 100 mil euros, entre o móveis do quarto, roupas, médicos, remédios, viagem ( fui com ela para os Estados Unidos consultar com uns dos melhores infectologistas pediatra do mundo) peguei também todos os documentos pessoais de que precisaria e fui até meu advogado para ele dar entrada nos papéis da adoção.

Depois de seis meses o pedido de adoção foi deferido, o juiz entendeu que uma criança na situação que ela se encontrava dificilmente seria adotada por outra família, tendo em vista o problema de saúde e sua idade, ele também ouviu a Júlia, viu que ela era muito apegada comigo, e assim deu o veredito favorável para eu adota – la, eu sou oficialmente mãe dela. Mas as visitas não agendadas ainda continuariam, e caso eu precisasse viajar, teria que comunicar ao órgão de proteção às crianças.

Pensando sobre toda a minha história minha com a Júlia, me veio um sentimento do qual eu não me orgulho muito, mas também não posso negar que senti : A felicidade por ser podre de rica, o fato do meu pai ter me deixado meio bilhão de reais na minha conta bancária, vai proporcionar a vida que a Júlia sempre mereceu, vou poder pagar os melhores médicos, vou poder até parar de trabalhar se eu quiser só para me dedicar a ela, e que fique registrado : Eu largo tudo se for preciso para ficar junto dela.

Ela começou estudar, eu vou busca e levar todos os dias na escola, e duas vezes na semana ela tem aulas de balé. Enfrentei alguns problemas para matricular ela, percebi de alguns diretoras quando eu contei sobre o problema dela o olhar de preconceito, de nojo por minha filha ser soropositivo. Mas tive que contar; sou obrigada, se ela se machuca e a professora vai socorrer, tem que estar de luvas e enfim. Me senti segurança apenas na quarta escola em que tive, fiquei satisfeita com as instalações e com a equipe pedagógica.

Fazia mais de um ano que eu estava longe de Trondheim, cheguei a quase esquecer..mas veio à tona pois Mariáh foi visitar por uma semana os filhos dela, a minha nova vida de mãe, professora me tomava muito tempo. Fazia quase um ano que eu não ia em uma balada nem em festa..Peguei o celular para enviar uma mensagem de texto para o Eduardo.

– '' Vamos sair para dançar?''

ATT Agnês

– '' Sim, vamos..inaugurou um pub em Soho, estou louco para ir!

Te pego as 22''.

Edu

Deixei Julia com uma Babá umas das 37 candidatas que eu entrevistei, a contratei depois de ter pedido até antecedentes criminais, mandei instalar câmeras de seguranças pela casa todinha e uma babá eletrônica que envia imagens do quarto dela direto para o meu celular. Quis deixar uma pessoa só responsável por ela na minha ausência, não que Mariáh não seja capaz de cuidar dela..claro que é, mas vou deixar ela apenas para cuidar da casa e da nossa comida. Não quero sobrecarregar a Máh, e é obvio que ela ficou bem chateada no começo.

***

Hoje recebi a notícia de que meu pai faleceu, pegou uma forte pneumonia e não resistiu, eu nunca fui muito apegada com ele. Ele sempre foi um pai ausente, vivia mais viajando do que em casa, e não era uma das pessoas mais carinhosas que eu conheci. Mas ainda assim eu fazia meu papel de filha, ia visita- lo todos os fins de semana, pagava as despesas da casa de repouso.

Mas ele gostava muito do Aleksander e Aleksander era louco por ele, minha mãe sofreu pois ele foi o grande amor da vida dela. Como ele era da policia, teve direito a um enterro com honras militares, em que eu participei da salva de tiros. Depois do funeral, seguimos em silêncio para casa; eu, minha mãe, Aleksander, Daphini e Andrea, no meu velho subaru. As horas não passavam, ver minha mãe triste daquele jeito me deixava destruída, chegamos em casa, Andrea foi colocar as crianças na cama, eu e minha mãe ficamos por horas abraçadas no sofá, ela não conseguia falar nada..apenas chorar.

Meu relacionamento com o meu pai começou a dar errado quando ele descobriu que eu era uma menina, ele sempre quis ter um filho homem..o que infelizmente para ele não aconteceu. Quando engravidei adolescente as coisas só pioraram, ele ficou um tempão sem falar comigo; foi conhecer o Aleksander ele já estava com três meses. Quando eu disse que iria entra para a policia ele riu de mim, me disse que eu não aguentaria nem uma semana. Então eu fui, entrei em uma acadêmia, melhorei minha forma físicas, treinava tiros com arma de matar passarinho; praticava todos os dias; fiz os testes e passei em primeiro lugar.

E uma satisfação pessoal muito grande para mim recentemente foi em minha formatura de Sniper de elite, justamente no dia ele estava lúcido e viu a única mulher formada como ATIRADORA DE ELITE DA POLICIA DA NORUEGA.

Ele nem olhava no rosto da Andrea quando descobriu que eramos casadas, para ele era como se ela não existisse, nunca dirigiu uma só palavra a ela, o que é claro deixava ela muito triste, mass ainda assim ela me incentivava sempre ir ver ele, e apesar de tudo ela fazia questão de ir junto nas visitas. Então era assim, passei a vida tentando provar para o meu pai que eu era uma boa filha, mas só ele não percebia. Então resolvi cuidar da minha mãe, em tudo que ela precisa eu sou uma filha presente, em todas as decisões importantes de nossas vidas.

***

Chegamos ao Pub, estava lotado, resolvi não beber nada alcoólico, quero tentar pelo menos uma vez a diversão sadia. Bebi a noite inteira soda limonada, dancei...isso sim eu fiz, eu e Eduardo dançamos a noite inteirinha, mas eu fazia algumas pausas para fumar.

Na pista estava tocando Habits da Tove lo, fui até a mesa onde estávamos sentados para fumar mais um cigarro, quando se aproximou uma garota, loira do cabelos cacheados com as pontas pintadas de azul, aparentava ter uns 25 anos; não mais que isso, calça jeans surrada babylook regata branca, unhas pintadas de preto, seu braço esquerdo era tampado por tatuagens. Fazia algum tempo que trocávamos olhares, mas não passou disso, trazia cerveja em uma das mãos e na outra um cigarro de maconha. Sentou se em minha frente sem dizer nada e ficou me encarando, foi uma sensação muito esquisita, um tesão misturando com medo.

– Você me empresta o isqueiro?

– Claro – Acendi o cigarro para ela.

Ela se aproximou de mim e passou a fumaça do cigarro de maconha para minha boca, meu corpo se arrepiou, ela voltou para o lugar dela, me levantei e fui até lá, sentei e seu colo; dei um beijo..e sussurrei em seu ouvido.

– Não vou mentir, minha vontade era de te levar para um quarto e fazer você me foder a noite inteirinha, mas eu sou uma pessoa diferente hoje, então se quiser me ver outra vez, vamos fazer do meu jeito, o que me diz?– Ela foi subindo a mão por dentro da minha blusa.

– Eu também vou ser bem sincera, minha vontade é de foder esse seu rabo gostoso a noite inteirinha, nem que pra isso faremos do seu jeito. Vou te deixar meu telefone, e essa semana combinamos de sair.

Minha boca foi passeando pelo seu pescoço, senti ela se arrepiando, coloquei a mão por baixo de seus cachos, e ela colocou a mão por trás em minha blusa. Levantei do seu colo, peguei a caneta da minha bolsa e anotei meu telefone, com o endereço de um restaurante e o horário e o dia do encontro. E ela em outro papel escreveu o telefone e o nome dela : Ashley Salander.

Me levantei e dei sinal pro Eduardo para irmos, se eu ficasse mais 2 minutos ali; chamaria ela para ir para um motel..O sinal que recebi do Eduardo é que eu teria que ir sozinha.

Ele sempre fazia isso, me deixava ir embora sozinha.

Esperei na frente do Pub para trazerem meu carro, já era 5 da manhã de uma segunda feira, fui para casa, a primeira coisa que fiz foi ir no quarto da Júlia que dormia profundamente, deixei um bilhete pregado na geladeira dizendo que se eu não acordasse à tempo era para a baba levar a Júlia na escola. Tomei um banho e me deitei quando o celular vibrou – Mensagem.

– '' Estaria fazendo loucura se você estivesse comigo agora''. A.S

– '' Não significa que não faremos na data combinada''. – Respondi

– ''Você sempre foge daquele jeito?''

– '' Fiz isso para você me foder ainda mais gostoso quando nos encontrarmos...mas agora preciso dormir''.

Dormi com o celular na mão, imaginando como seria meu encontro com aquela doida, fui despertada com o celular tocando, imaginei que fosse a Ashley, mas não consegui enxergar no visor do celular sem óculos, e fui atendendo.

– Senhorita Agnês? Disse a voz em Norueguês, se o meu norueguês é péssimo em condições normais, imagina bêbada de sono.

– Sim, é ela que está falando – Respondi em norueguês.

– Aqui é o diretor da escola, aconteceu um problema – O sono despertou na hora – O ano letivo vai começar, e precisamos de uma série de alvará que a prefeitura só quer entregar com sua assinatura, a senhora vai precisar vir para Trondheim resolver isso, caso contrário, não teremos as devidas autorizações para o começo do ano letivo.

– Mas eu deixei uma procuração com você, justamente para resolver essas coisas – Respondi irritada.

– Eu sei, e levei a procuração, mas eles não querem aceitar de forma alguma..sinto muito Senhora Agnês, mas vai ter que vir.

Fim do capítulo