O dia amanheceu belíssimo, um lindo sol e um céu sem nuvens, Beatriz e Heitor estavam no fundo ao lado da churrasqueira que ele tinha acabado de acender e estavam preparando algumas carnes para coloca-la.

            - Beatriz, você comprou o pão de alho e o queijo pra Melanie? – perguntou Heitor preocupado, pois a filha era vegetariana e sempre que faziam churrasco ele colocava pra assar o pãozinho e o queijo pra menina.

            - Comprei sim, está na geladeira. – disse a mulher. Ao terminar de responder ao marido ouviram a campainha tocando, foi atender, era Fernanda, o marido Joaquim e Ju.

            Os três entraram rindo e conversando amenidades, já foram direto pro fundo, na casa de Beatriz tinha como se fosse uma edícula. Na parte do fundo ficava a churrasqueira, um banheiro e um quarto e entre a casa e a edícula tinha uma piscina.

            Ficaram conversando todos, quando ouviram mais uma vez a campainha, dessa vez era Carlos, pai de Gustavo. Entrou e cumprimentou a todos. Passou um tempo e o Marcelo foi de encontro com eles, pulando na piscina e ficando ora na piscina ora no meio dos homens.

            Mais uma vez a campainha tocou e era o Rafa, amigo do Marcelo, que entrou e foi direto pra piscina junto com o rapaz.

            - Agora só está faltando a meninada, não é Beatriz? – perguntou Heitor.

            - Eles estão dormindo até agora? – perguntou Fernanda.

            - Acredito que sim, quando eu e o Heitor chegamos eles ainda estavam acordados conversando, devem ter virado a madrugada. – concluiu Beatriz que nem percebeu um par de olhos negros totalmente concentrada na conversa.

            - Quer que eu vá chama-los? Já está na hora deles acordarem mesmo, a carne está praticamente pronta. – concluiu Carlos.

            - Pode deixar comigo, Carlos. – disse Beatriz.

            Subiu em direção ao quarto da filha e quando entrou, não pode deixar de rir da cena. Todos dormindo juntos na cama de Melanie, Gustavo roncava e estava com os pés na cara de Melanie, ou seja, um de cada lado da cama, e a menina estava abraçada com as pernas dele, numa posição bem estranha, enquanto Maurício estava encolhido dormindo de lado todo torto, com os pés pra fora da cama.

            - Meninos!! Pessoal, hora de acordar! – disse Beatriz, calmamente.

            - Mais cinco minutinhos, mãe. – disse Maurício.

            POW. Beatriz tinha dado um tapa forte na porta e todos acordaram assustados.

            - Bom dia, crianças! Os pais de todos vocês já estão ai. Está quase pronto o almoço, vamos descer? – disse alegremente.

            - Pra que esse escândalo, dona Beatriz? Quer matar a gente do coração. – resmungou Melanie. Se ajeitando na cama pronta pra dormir de novo.

            - Levanta!! Vão se ajeitar. Se não descerem em 10 minutos o Carlos virá chamar vocês! – disse e saiu sabendo que todos levantariam logo.

            Melanie foi a primeira a levantar e foi direto ao banheiro, tomou um banho gelado pra acordar, depois escovou os dentes e no banheiro mesmo colocou seu biquíni. Saiu e o Gustavo entrou no banheiro.

            - Maurício, que roupa eu coloco? Tenho que tampar um pouco os machucados também né?

            - Claro gata, peraí. Deixa eu ver o que você tem. – dito isso, abriu o armário da menina e começou a separar algumas roupas. – Acho bom você colocar esse short – apontou um short jeans escuro que tampava mais da metade da coxa. -  e essa camiseta, daí eu passo uma base no seu rosto e mesmo assim você coloca um óculos de sol, tá? – disse o menino entregando uma camiseta mais larguinha branca que deixava um ombro da menina amostra.

            - Tá, obrigada! – disse a menina.

Gustavo saiu do banheiro já vestido com uma bermuda de piscina e sem camisa e logo foi a vez de Mauricio.

- Nossa, Mel! Você tá muito linda! – disse o menino sincero.

- Ai, para, to toda arrebentada, nem vem! – disse a menina não aceitando o elogio.

- Uai, eu acho! Até acho charmoso seus cortes. A Ju vai vir? – perguntou o rapaz.

- Sim, to ansiosa pra ver ela. – confessou a menina.

Depois de mais ou menos uns 20 minutos os três desceram, Melanie já estava maquiada e com um óculos ray-ban aviador que escondia um pouco dos machucados, por mais que fossem todos amigos íntimos dos seus pais e já sabiam o que tinha acontecido, não queria chamar atenção.

Assim que avistaram onde eles estavam sentados os olhos de Melanie se fixaram em um par de olhos negros. Ju estava com um vestido soltinho, curto e florido que destacava sua pele quase negra ainda mais e uma rasteirinha marrom claro no pé.

Estava conversando animadamente com Fernanda quando viu Melanie e os meninos chegando, foi inevitável olhar para a menina e ficar perdida. “Como podia ficar assim, tão linda, mesmo toda machucada” pensou Ju, que ficou admirando sem conseguir disfarçar muito o encanto pela menina.

A tarde passou animada, Melanie com seus amigos na beirada da piscina, pois não quis entrar, assim doeria muito seus machucados, já que alguns eram ralados. E os pais com seus amigos em volta da churrasqueira e sentados na varanda da edícula, conversando “coisas chatas de adultos” como diria Melanie.

Não serviram de fato o almoço, iam passando os pedacinhos e cada um comendo um pouco. Quando terminaram a comilança e os adultos já tinham bebido algumas cervejas se aproximaram dos jovens e sentaram a fim de interagir com eles.

- Carlos, então, nós estávamos combinando uma viagem para Bombinhas em SC, para passarmos o ano novo, você e o Gustavo poderiam ir com a gente né? – convidou Beatriz.

- Que legal!!! Vamos pai? – perguntou Gustavo animado, pois já ouvira sobre a programação e não sabia se seria incluído nela.

- Meu filho, combinei de passar o ano novo com sua avó no interior de São Paulo, já tinha lhe falado sobre isso. – explicou Carlos para o filho e voltou-se para Beatriz – mas muito obrigada pelo convite.

- Ah pai! Eu quero ir com o pessoal! – disse Gustavo chateado por ter que passar mais um fim de ano com a família do pai.

- Carlos, por que não deixa o Gustavo ir conosco? – propôs Beatriz para solucionar o conflito.

- Não sei não, esse menino dá muito trabalho! – disse Carlos pensativo.

- Trabalho por trabalho, meu amigo, a Melanie ganha de todos. – alfinetou Heitor.

- Não começa Heitor! – disse Beatriz, que olhou para a filha que estava pronta para responder à altura, mas ao se deparar com o olhar suplicante da mãe, não o fez. – Carlos, imagina que Gustavo dá trabalho, os três já estão avisados para ficarem longe de confusão, não é? – perguntou olhando para os três que só afirmavam com a cabeça.

- Tio, deixa! Sem o Gustavo nosso trio vira dupla! – disse Melanie como se aquela suposição fosse um argumento e todos riram. – o que quero dizer é que dupla não é tão divertido assim, né, MAURICIO? – disse a garota pedindo ajuda para o amigo.

- É mesmo! Deixa tio, nós vamos nos comportar direitinho! – disse Mauricio.

- Tá bom, eu deixo! Mas, nada de vocês três aprontando hein?! – disse Carlos sério.

- EBA – gritaram os três. – e Ju olhava aquela cena admirada, a alegria da menina deixava ela tão feliz por dentro, aquela inocência que ela tinha, por mais que fosse rebelde e toda metida a independente, no fundo era uma criançona.

- Ju, você poderia levar o Renato. – disse Beatriz, provocando o assunto novamente.

- Acho melhor não, amiga! – disse Ju, sorrindo e observando Melanie de longe que estava sem nenhuma expressão.

- E como vamos fazer com os quartos? – perguntou Fernanda, que estava super animada com a viagem.

- Eu pensei assim, vamos ver se todos concordam, eu e o Heitor em um, você e o Joaquim, Marcelo e o Rafa, Gustavo e Mauricio, Ju e a Melanie. O que acham? – perguntou já imaginando a reação de conflito da Melanie, mas de fato era a melhor distribuição para economizarem.

Todos concordaram, Melanie quase morreu de alegria por dentro, mas teria que disfarçar e muito bem para não dar na cara.

- FALA SÉRIO? Mãe, desculpa Ju, mas mãe? – disse a menina fingindo-se de indignada, enquanto a professora também palpitava de alegria.

- Filha, não tem nada demais, vocês só vão dormir juntas, durante o dia você fica com os meninos e a noite é feita pra dormir mesmo, nem vão se encontrar no quarto, do jeito que você é imperativa! – disse a mãe calmamente, enquanto os outros conversavam outros pontos da viagem.

            - Tá. Que saco! – disse a menina fingindo-se de indignada.

            - Tudo bem pra você, Ju? – perguntou Beatriz, sobre a enrascada que estava propondo pra amiga.

            - Tudo bem, pra mim não tem problema nenhum, Bia, como você mesmo disse, última coisa que faremos é ficar dentro do quarto. – disse tranquilamente, já imaginando que o que ela mais irá querer é ficar dentro dele.

            - Ótimo. – disse Beatriz satisfeita. – Filha, quando começam as provas de vocês? – perguntou a mãe curiosa.

            - É mesmo, senhor Mauricio, agora acabou a exposição e os senhores tem que voltar pra vida real. – disse Fernanda concluindo a intenção da pergunta.

            - Quarta e vai até sexta que vem, depois FÉRIAS... uhuuuuulll – disse Melanie animada.

            - Serviço comunitário não tem férias, não se esqueça! – alfinetou Heitor.

            - Sim, mas é um prazer trabalhar lá que considerarei férias mesmo, chato é aula, escola, aliás por que eu vou mesmo pra escola? – disse Melanie devolvendo.

            - Pra ter um futuro filha, os dois sem se implicarem por favor! – pediu Beatriz.

            - E antes das FÉRIAS... uhullll – disse Fernanda imitando a Melanie. – tem ESTUDOS ... uhulll para não pegarem exames, né Melanie e Mauricio?

            - Claro, eu e a Melanie somos muito inteligentes, né Melzinha? – disse o garoto tirando onda.

            - Lógico, vamos arrasar nessas provas!

            Era quase de noite quando todos foram embora, não houve nenhum desentendimento, foi uma tarde tranquila, regada de risadas e olhares.

******

            Já era quarta-feira e a menina saiu da Apae, direto pra casa, tentou estudar, mas a saudade estava lhe dando aflição, pegou seu material, separou uma roupa e antes de sair avisou a mãe.

            - Mãe vou dormir na casa da Ana, tá? Ela vai me explicar uma parte da matéria que não entendi e vamos varar a noite.

            - Por que não chama ela pra dormir aqui, filha?

            - Já combinamos, te vejo amanhã no almoço. – deu um beijo no rosto da mãe e saiu de bicicleta.

            Foi pra casa da Ju, desde aquela manhã na casa dela não tiveram mais um momento a sós, na Apae estava uma correria sem fim. Deixou a bicicleta na garagem dela, o carro ainda não estava, subiu as escadas e como tinha a chave já entrou. Olhou em volta, sempre tudo em ordem e aquele cheiro dela podia sentir pela casa, mesmo sem a presença dela.

            Tomou um banho, colocou o pijama, um short curto e uma regatinha. Pediu uma pizza, fez um tereré e sentou na mesa começando a estudar. No dia seguinte seria a prova de matemática e como era a matéria preferida de Melanie, estava tranquila, mas ficou resolvendo uns exercícios, depois de mais ou menos uns 20 minutos, Ju entra em casa e leva um susto ao se deparar com a menina. Tinha visto a bicicleta, mas achava que era de algum vizinho.

            - Ah, que susto Mel – disse entrando e fechando a porta atrás. – o que está fazendo aqui?

            - Estudando ué, também estava com saudades, meu amor. – disse indo em direção a professora, que estava parada pasma, mas com o coração acelerado, nem acreditava que estava perto da menina que não saía de seus pensamentos.

            - Nunca imaginava te encontrar aqui, que surpresa gostosa. – disse abraçando a menina.

            - Não sei porquê, nunca imaginava, eu tenho a chave. – disse a menina faceira, dando um beijo calmo nos lábios da professora, que logo começaram a ficar mais calorosos e aquela vontade uma da outra aumentando mais, enquanto as mãos passeavam pelos corpos, matando a saudade que sentiram uma da outra.

            - Bom, deixa eu ir tomar um banho. – disse saindo do beijo. O interfone tocou. –ué, quem será essa hora? – disse pensativa.

            - Deve ser a pizza. – disse a menina indo atender o interfone. – é a pizza mesmo, vai tomar banho logo, que eu vou te esperar pra gente comer juntas e eu to com fome. – disse a menina que pegava o dinheiro enquanto a professora ia em direção ao banho perplexa com a intimidade que a menina já impunha na casa.

            Saiu do banho, colocou uma camiseta grande e folgada, que tampava apenas a calcinha que usava, deixando à mostra suas coxas. Entrou na sala devagar e ficou encantada olhando a menina concentrada, estudando e a pizza no outro canto da mesa com dois pratos e talheres do lado. Ficou admirando a menina e pensando até quando iria durar aquele relacionamento, o que ela estava fazendo, era filha da sua melhor amiga e ela estava completamente apaixonada.

            Tentou afastar os pensamentos de Beatriz e em como tudo aquilo era loucura, pois se pensasse demais iria acabar tomando atitudes que o seu coração não queria, se aproximou da menina e abraçou-a por trás beijando seu pescoço.

            - Que delicia, ta muito cheirosa, valeu a espera – disse a menina com um sorriso bobo.

            - Boba! Vamos comer? – perguntou.

            - Claro. – disse a menina, serviram-se e começaram a comer.

            - Você disse pra sua mãe que viria aqui? – perguntou preocupada.

            - Não, disse que iria dormir na Ana, que estudaríamos até tarde. – disse a menina.

            - Falta muito? Não quero prejudicar seus estudos, minha menina.

            - Na verdade eu nem precisaria estudar, essa matéria eu sei bem, é minha preferida, matemática, só estou fazendo uns exercícios pra gravar bem, mas só faltam mais uns 5 e já to livre.

            - Que bom! Vê se estuda para ir bem nas provas, não dê motivos para falarem de você! – disse a Ju, que se preocupava com a menina.

            - Quanto a isso não se preocupa, eu não gosto de ir pra aula, mas eu vou bem nas provas, fica tranquila.

            - Isso ai, então eu vou pro quarto ler um livro, quando você terminar de estudar vai lá! Sem pressa, tá? – disse Ju saindo.

            Melanie olhou para a bunda da mulher que andava elegantemente, mesmo sem perceber, mal cobria com a camiseta e decidiu que realmente não iria demorar muito com os estudos, teria algo um pouco melhor pra fazer.

            Terminou os exercícios e parou na porta do quarto que estava aberta, olhou a professora sentada apoiada nos travesseiros e pensou o que fez para merecer tanta alegria, seu coração parecia que iria sair pela boca, só de estar perto dela já sentia o corpo arrepiado.

            Aproximou-se, chamando atenção da mulher que deixou o livro de lado e fitava os olhos de Melanie, subiu na cama e foi gatinhando por cima do corpo da mulher, parou de quatro virada pra ela.

            - Oi. Acho que aqui tem algo mais interessante. – disse a menina tentando provoca-la.

            - Será? – disse a mulher entrando no jogo.

            - Deixa eu descobrir. – dito isso começou a beijar a mulher, ainda sem encostar o corpo no dela. E logo, começou a passear com as mãos pelo corpo da mulher mais velha, fazendo-a se arrepiar inteira com o toque da menina. Ju não entendia como aquela garota poderia lhe causar tantas sensações gostosas apenas com simples toques. Naquela noite mataram a saudade que consumia os corpos, adormecendo abraçadas desejando que aquele momento durasse pra sempre.

Fim do capítulo