Capítulo 1
Os sinos tocaram no alto da torre anunciando um novo dia no mesmo instante em que a freira abriu a porta do dormitório na ala infantil. Irmã Dulce era assim, sempre pontual, nunca chegava um minuto antes ou depois do soar da campana. Havia rumores que ela e o sujeito que tocava aqueles sinos mantinham uma conexão para que tal sincronia funcionasse perfeitamente. E as apostas corriam soltas entre as crianças do orfanato. Quem seria a pessoa que tocava os sinos? Será que ela acenava do alto da torre com um lenço para irmã Dulce saber que era o momento de abrir a porta? Aquele sinal poderia ser dado com um simples pedaço de espelho quebrado ou um sofisticado aparelho de celular, aquilo pouco importava para as crianças, o interessante era a brincadeira, os sorrisos, a criatividade. Porque todos os dias, a menos que tivessem a sorte grande de obter um lar, a cena se repetiria. Infelizmente a maioria das famílias desejavam bebês, e a medida que cresciam elas tomavam consciência de que ter uma família era um sonho cada vez mais distante da realidade. Então se divertiam com as histórias. O vencedor era o mais criativo e o prêmio uma sobremesa a mais que Rafaela, uma das internas, conseguia com Dona Cíntia a cozinheira.
Ninguém resistia ao charme de Rafaela, seus expressivos olhos azuis eram capaz de convencer a pessoa mais desalmada daquele lugar, mas claro, Dona Cíntia tinha um motivo a mais para se render aos apelos da criança, sua pequena filha Beatriz era a melhor amiga de Rafa. Foi amor a primeira vista, dizia a pequena Rafa, quando se lembrava dos cabelos dourados de Beatriz. Antes de Bia, ela nunca havia visto uma pessoa de cabelos loiros, as freiras sempre escondiam os cabelos em seus hábitos e quase todas as crianças do orfanato eram negras com algumas exceções, mas não havia nenhum cabelo como aquele entre elas. A ligação entre as duas foi imediata, como almas criadas em duplas que tivessem se encontrado, era difícil se separarem, sempre que se via uma a outra estava lá juntinho, das 6:00hs da manhã quando Dona Cíntia chegava para servir o café das crianças, até às 18:00hs da tarde horário em que terminava o expediente, Bia e Rafa eram a sombra uma da outra.
Cresceram praticamente juntas, frequentaram a mesma a escola primária, e conheceram novas crianças. Havia muitas cabeleiras loiras e outros olhos azuis no colégio, mas ninguém que fosse capaz de quebrar o elo que se formou entre elas. Todas as vezes que Rafa era levada por uma família para uma possível adoção, o sofrimento se instalava nas crianças, que previam uma separação. Dona Cíntia tentava em vão explicar para a pequena Beatriz que seria a melhor coisa que poderia acontecer na vida de Rafa, mas era difícil para criança entender, como deixar Rafaela ser levada por estranhos poderia ser bom? Felizmente, para alegria de Beatriz, Rafaela sempre voltava depois de uma semana ou duas, deixando as freiras tristes pela pouca sorte dela em encontrar uma família que realmente a amasse e lhe quisesse, em compensação, Beatriz ficava radiante com o retorno da melhor amiga.
Aquela semana, tudo foi diferente para as crianças, Beatriz estava doente e há três dias não ia ao orfanato e também faltava as aulas. Rafaela se sentia sozinha, deprimida, não via graça em nada, nem as apostas do campanário conseguiam distrair a pequena órfã. Irmã Dulce sentou na cama com ela assim que lhe percebeu a apatia.
- O que foi Rafa?
- A Bia vem hoje?
- Não sei, mas tenho uma surpresa para você – irmã Dulce falava com entonação tentando animá-la.
Rafaela olhou para a mulher a sua frente, já prevendo o que a mesma diria.
- Temos uma entrevista com uma família para você.
A criança soltou um suspiro jogando o corpo na cama novamente e cobriu a cabeça com as cobertas, ela não queria ser adotada.
- Rafaela escute – irmã Dulce continuou – já está com 8 anos e sabe que vai ser difícil conseguir pais verdadeiros com essa idade.
- Minha avó vai vir me buscar, eu sei, ela prometeu e se eu for com essa família, nunca mais ela vai me achar – a voz da criança saiu embargada por baixo das cobertas.
Irmã Dulce balançou a cabeça pesarosa, respondendo a com carinho.
- Nós já conversamos sobre isso Rafaela e você sabe que as chances de acontecer são irrisórias, faz quatro anos que sua avó a deixou sob nossos cuidados, ela já era bem velhinha e estava muito debilitada pela doença.
Irmã Dulce sabia que falar isso era cruel, mas precisava tentar, nem que para isso tivesse que dar um choque em Rafaela, a pequena merecia a chance de ter uma família e parecia se recusar a todas as adoções. Sempre aprontava com os casais pretendentes. Travessuras simples como colocar talco no secador de cabelo, um copo de vinagre no filtro de água, pintar o mascote da família, as paredes e a televisão do casal, eram rotina para a criança que desejava ser devolvida o mais breve possível, e quando isso não acontecia, Rafaela tomava medidas drásticas, chegando a esconder o gato de um casal dentro do micro-ondas. Ela não pretendia machucar o bichano, mas aquilo lhe rendeu um castigo severo antes de ser levada de volta ao orfanato, o que só fizeram uma semana depois, para evitar que os hematomas deixados em seu corpo ainda estivessem em evidência. A desculpa era sempre a mesma: “Não nos adaptamos a criança, queremos uma mais jovem”.
A freira puxou a coberta de Rafaela e analisou os intensos olhos azuis, precisava ser dura com a criança se quisesse que aquilo funcionasse dessa vez e a ausência de Beatriz aquela semana parecia estar conspirando para que tudo desse certo.
- Nem sabemos se sua avó ainda está viva.
As palavras surtiram efeito na hora em Rafaela que sentiu um nó na garganta, enquanto lágrimas desciam por seu pequeno rosto de menina.
- Vamos não chore – irmã Dulce tentou encorajá-la - levante e se recomponha. Vista seu uniforme mais limpo, e vamos tomar café, antes que seus futuros papais cheguem, não quer que eles encontrem uma menina chorona.
Rafaela obedeceu enxugando as lágrimas, fez sua higiene pessoal com as outras crianças, se trocou com a ajuda da freira e desceram ao refeitório. O encontro com a mãe de Beatriz a deixou mais apática do que já estava. Bia ainda estava doente e parecia ser grave, pois não podia receber visitas. Rafaela entregou um desenho para que Dona Cíntia lhe levasse, havia passado a noite inteira colorindo o pequeno papel no qual desenhara uma criança sozinha sentada na gangorra de um parquinho. As palavras gravadas no final da folha, continha alguns erros de ortografia, mas sabia que Bia as entenderia. “Sem você nenhuma brincadeira tem graça. Sare logo.“
Fim do capítulo
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rhina
Em: 03/07/2016
Oi.
No comentário anterior o fiz citando elas como adolescentes. Mas a história delas pelo que acabei de ler começou bem antes. Ainda criancas.
Esta vai ser profunda. Um amor que teve seu desenvolvimento antes mesmo que elas tivessem aperfeicoados suas escrita e leitura. Dois corações que se identificaram em tenra idade.
Mas acho o futuro rerserva para elas muitas dores e sofrimentos.
Até.
Rhina.
Resposta do autor:
Bo@ noite rhina!
A história dessas meninas começou na infância já, ou será que foi na criação, "como almas criadas em duplas..." hehehe, mas claro vamos conferir muitas emoções pela frente.
Bjos lind@ obrigada por comentar. ;)
Nah Dias
Em: 17/06/2016
Boa noite flor! Que cap maravilhoso... Já estou ansiosa pelo próximo heheh.. Gente Rafaela é uma garotinha bem atentada com as famílias que tem interesse em adotar lá kkkkkk 😁😁😁 mais tbm vai ter uma separação de Beatriz e não será nada fácil 😟😟... Ah e dona Dulce pegou pesado com Rafa... Enfim adorando 😘
Ps. Lara meus parabéns pelos seus contos... Que são maravilhosos e envolvente.. Boa noite e bom fds flor.. Até o próximo cap Beijos!
Resposta do autor:
Oi Nah... nem te conto em quem me inspirei para escrever as travessuras da Rafa... hahaha.
Obrigada pelo seu carinho lind@, sem palavras aqui para tantos elogios. Beijos e até breve.
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Srta Petrova
Em: 17/06/2016
Ai meu Deus ansiedade é meu sobre nome kkkk
Bjsss querida, amo de paixão suas histórias!
Resposta do autor:
Oh Lord!... rs siflima acalme seu coração que estamos somente começando... hehehe vem muita coisa por aí ainda.
Beijos lind@ e obrigada por seu carinho.
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Mille
Em: 17/06/2016
A Irmã Dulce foi dura, até euzinha chorei com a Rafa.
É tal lindo a amizade das duas, se ela for mesmo adotada seja para uma família boa que não a maltrate ou lhe faça nenhum mal.
Bjus e até o próximo
Resposta do autor:
Oi Mille, irmã Dulce foi dura né, mas acho que Rafa também não é uma criança fácil... Vou contar um segredo: estudei em colégio de freiras e tinha muitas irmãs Dulces por lá... rs
Bjos querid@ obrigada pelo seu carinho em comentar.
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lis
Em: 16/06/2016
Boa noite Lara, tudo bem? Belo capitulo parabéns pelo jeito essa história vai ser fantastica, poxa mais triste né a Rafa está se sentindo sozinha e a Bia nem pode estar ao lado dela por estar doente, linda a ligação da duas.
Resposta do autor:
Oi li, estou bem sim e vc?
Rafaela não quer ser adotada, coitada né... será que essa situação vai mudar? Vamos conhecer o casal pretendente a essa boa ação logo mais no próximo capítulo. Deseje Boa sorte a eles... rs
Bjos querida e obrigada por seu carinho em comentar .
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line7
Em: 16/06/2016
O Capítulo lindo, será que Rafinha vai ser adotada?😯 a sintonia entre as duas são bem evidentes. Oi linda😊 o Cap está indo super bem, e bem fofo no final😍 até mais😙
Resposta do autor:
Oi line7. Quero poder passar mesmo uma grande sintonia entre essas duas crianças... rsrs Tomara que consigam encantar vocês que me acompanham.
Beijos querida obrigada por seu carinho em comentar!
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preguicella
Em: 16/06/2016
Já estou adorando essa lourinha de olhos azuis, será que ela vai me fazer esquecer certa ruiva angelical?
Mas essa irmã Dulce hein! Que psicologia bandida é essa que ela está usando com a Rafa, muita maldade com a bichinha. 😞😠
Vamos ver o que vem por aí!
Bjão
Resposta do autor:
Oi Pregui... Oh Lord, nem bem começamos e você já quer tomar conta de uma personagem, comporte-se senhorita... hehehe
Obrigada pelo carinho em comentar. Bjos querid@!
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Sem cadastro
Em: 16/06/2016
La!
"Sem você nenhuma brincadeira tem graça. Sare logo.“ que fofo! Rafa está triste.
Se por um lado torço para ela ser adotada, por outro quero que as duas fiquem juntas. A mãe da Bia podia adotá-la, hein Lara?
Beijos!
Resposta do autor:
Oi Pietra.
Humm a Rafa é uma fofa mesmo eu particularmente adoro crianças travessas... hehehe sinal de esperteza ;) E a senhorita cheia de idéias em relação a adoção da criança... pode isso produção?
Bjão, muito grata por seu carinho!
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