Era terça, dia 11 de agosto, cheguei da empresa, a noite já se fazia presente e com ela um espetáculo no céu. Olhei para o apartamento vazio, apenas um colchão na sala, o gosto da liberdade era fantástico, por vezes sentia saudade dos meus pais, apesar de tudo eu os amava muito. Joguei a bolsa sobre o colchão, parei diante da enorme janela, senti uma saudade gostosa aquecer meu peito, saudade dos olhos castanhos.

Sentei no colchão para procurar o celular, queria ouvir a voz dela, desbloqueei a tela e como já havia decorado o número, fui discando, mas ouvi a campainha tocar deixei o celular e levantei para atender. Estranhei receber visita, já que não fazia muitos dias que havia comprado o apartamento.

- Becca? – ela estava parada a porta, sorria lindamente, toda despojada em um vestido branco de alcinhas. Nas mãos algumas sacolas, não perdi mais tempo e a puxei para um abraço.

- Isso tudo é saudade? – cheirei seus cabelos, o aroma era divino. Seus braços me apertavam ainda com as sacolas nas mãos.

- Nem imagina o quanto. – tirei o rosto de seus cabelos e colei nossas testas.

- Também senti saudade... Estou me viciando em você. – ela me olhava dentro dos olhos.

Coloquei uma mexa de cabelo atrás de sua orelha, toquei sua pele branca, macia, ela fechou os olhos me presenteando com um lindo sorriso.

“Aaaah Rebecca... Assim você acaba comigo”.

Beijei o canto de sua boca, beijei a ponta de seu nariz, a fazendo rir, a olhei por mais alguns segundos e colei nossos lábios e nossa, como eram gostosos. Um beijo calmo, eu não tinha pressa e queria saborear aquele beijo que me fazia ir ao céu. Sua boca era gentil, explorava a minha também sem pressa.

- Agora sim o meu dia está perfeito! – falei depois de um longo selinho.

- Você não existi. – ela falou sorrindo. Peguei algumas sacolas de sua mão e entrelacei os meus dedos nos seus.

- Vem amor... O que você trouxe? – fomos para a cozinha, meu apartamento estava vazio, só o colchão e algumas poucas coisas na cozinha.

- Trouxe um escondidinho de frango.... Aaaah... Bolo prestigio e um vinho... – ela respondeu colocando as coisas sobre a bancada central da cozinha.

- Nossa... – a olhei por uns instantes, ela tirava as coisas da sacola e quando percebeu que eu a olhava, arqueou a sobrancelha.

- Que foi, amor? – ouvi-la me chama de amor me deixava com um coisinha gostosa no coração.

- Só fico me perguntando aonde você esteve esse tempo todo.  – Rebecca passou a mão pela nuca, olhou para baixo e depois me encarou.

- Te esperando... – sorri gigante, dei a volta na mesa e colei seu corpo no meu. Dessa vez pude sentir suas mãos, aspirei o seu cheiro maravilhoso. – Adoro quando você me abraça dessa forma... Me sinto... – ela respirou fundo. – Me sinto protegida...

- Eu amo a sensação do teu corpo grudado no meu... É... É incrível. – me afastei de seus cabelos para encarar o seus olhos, toquei o seu rosto e ela beijou minha mão.

Busquei os seus lábios, só que o beijo não foi tão calmo, Becca ch*pava os meus lábios e eu senti a sua língua buscar a minha e aquela guerra gostosa por descobertas. O ar nos faltou e nos afastamos ofegantes. Eu sorria feito boba e ela me olhava de um jeito que invadia a minha alma.

- Vai tomar banho... Eu trouxe uma toalha nova e shampoo. – ela cobriu meus lábios com os seus. – Não demora...

- Eu te adoro, Rebecca... – a olhei mais uma vez e fui para o banheiro.

Eu tinha um sorriso bobo, debaixo do chuveiro, bolava um jeito de pedir Rebecca em namoro, apesar de todos já acharem que somos namoradas, eu ainda não havia pedido. Tentaria fazer algo especial, sorri mais ainda com as ideias malucas que passavam em minha cabeça e decidi que amanhã a noite faria o pedido. Não iria trabalhar, passaria o dia pondo em pratica os meus planos de um pedido que a deixasse feliz.

A cada dia que passava eu me via ainda mais apaixonada por ela, a queria em minha vida e se ela me permitir, para sempre. Terminei de banhar, vesti umas roupas que deixei no apartamento e voltei para a cozinha com os cabelos enrolados na toalha.

Rebecca estava de costa, recostada no balcão central da cozinha, mirava a janela que ficava acima da pia inox, parecia nem estar ali. Respirei fundo, aquela visão era perfeita e fazia meu coração acelerar, quase sair do peito. Ela se virou de forma lenta e tinha um lindo sorriso ao me encarar.

- Um dia desses, esse teu sorriso me mata. – ela mordeu o lábio inferior, baixou a cabeça e eu quase corri para morde-la.

- E um desses você me mata de vergonha. – sorri, continuei a olha-la. – Não me olha assim... É covardia...

- Covardia é isso que você acabou de fazer. – falei me aproximando. Abracei sua cintura, a olhando nos olhos.

- Não sei do que você está falando. – ela se fez de desentendida e eu apenas gargalhei.

- Não sabe o que só tocar em você me causa, Rebecca. – ela fechou os olhos e sorriu lindamente.

Ela colou os seus lábios no meu, não nos beijamos, apenas ficamos sentindo o peso dos lábios uma da outra, abraças.

- Vamos comer... Você precisa... Se alimentar... – suas palavras saíram abafadas por estarmos com os lábios colados.

- Mas tá tão bom aqui... Do que adianta me fazer devorar isso... Se amanhã vai me fazer acordar cedo para correr? – ela deu uma gargalha e me puxou na sentar na cadeira.

- Amor, como você é preguiçosa... Precisa manter uma boa disposição... – ela falou colocando vinho em nossas taças.

- Isso é chato... Eu nem tenho tendência para ser gordinha... – ela riu ainda mais.

- Come logo...

Jantamos enquanto conversamos amenidades, depois falamos dos nossos dias, falamos sobre tudo um pouco. Depois do jantar, lavamos a louça, Becca foi tomar um banho enquanto eu tentava deixar o colchão que iriamos dormir o mais decente possível. Peguei um livro e deitei para espera-la e quando senti um aroma gostoso de sabonete, olhei e vi ela com um shortinho que mais lembrava uma calcinha e uma blusa cinza de mangas longas.

- Que foi? – ela foi se aproximando.

- Você está tão...- respirei fundo. – Tão linda... Deita aqui... – abri espaço e coloquei o livro de lado.

- Obrigada... – ela deitou sobre meu ombro, abracei a sua cintura e ela a minha. – Você tem um cheiro gostoso. – soltei uma gargalhada.

- Olha quem diz... – a apertei.

Ficamos abraças, falando sobre tudo, eu sei que acharam que iriamos fazer amor, mas não... Rebecca nunca transou com uma mulher, o que me deixava feliz, pois eu seria a primeira, não é por ser egocêntrica e nem nada disso, apenas me deixava muito feliz ser a primeira da mulher pelo qual meu coração batia sem controle. Logo fomos vencidas pelo sono, agarradas uma a outra, não havia nada melhor do que a sensação de ter Rebecca grudada em meu corpo.

Acordei com um barulho chato do alarme do celular, Rebecca levantou, desligou e eu me escondi debaixo das cobertas.

- Vamos, Emily... Levanta...

- Mais dez minutos... – agarrei o travesseiro.

- Nem um segundo, levanta... – ela sumiu.

Levantei com a preguiça de 500 pessoas, fiquei pescando em pé, até ouvi a voz da Becca, abri meus olhos e tentava a todo custo manter daquela forma.

- Bom dia... – ela beijou meus lábios.

- Bom dia... – abracei. Eu adorava abraça-la.

- Vai tomar um banho rápido... Vou fazer um café da manhã leve. – ela fez carinho no meu rosto.

- Sim, amor...

Dei-lhe um outro beijo, e ela foi pra cozinha, tomei um banho rápido, procurei algo para usar, logo já estava vestida. Comemos bem rápido, logo já estávamos na calçada do prédio.

- Tá tão cedo... – reclamei enquanto nos alongávamos.

- Amor, para de reclamar...

Depois de quase uma hora, eu estava morrendo, me joguei no gramado da pracinha que estávamos, Rebecca ria muito. Nossa, como eu estava sedentária, mal conseguia respirar.

- Emi, levanta... – ela colocou as mãos na cintura.

- Não dá, Becca... Estou muito cansada. – fechei meus olhos.

- Amor, você é muito exagerada... – ela sentou ao meu lado.

- Nunca fui ligada nessas coisas de exercício... – minha respiração voltou ao normal. – Mas vejo que realmente preciso praticar...

- Pode deixar que eu mesma vou ficar encarregada disso...

- Acho que não vou gostar disso... – ela deu um sorrisinho.

- Vai sim... Daqui há um tempo, seu corpo acostuma... – olhei para ela, busquei sua mão.

- Quero te beijar... – ela olhou para os lados.

- Aqui? Tem certeza?

Subi minha mão para o seu rosto, toquei de leve a pele macia, aproximei o meu rosto e beijei a sua bochecha, me afastei e sorri.

- Se eu começar, provavelmente não irei parar... – ela abriu um grande sorriso. – Então vou deixar pra matar essa vontade louca de atacar sua boca pra depois.

- Só quero ver... – ela falou me desafiando. Estendeu as mãos para me puxar.

- Não brinque comigo, dona Rebecca... – levantei.

- Te digo o mesmo.

Balancei a cabeça sorrindo, definitivamente eu estava louca por essa mulher, voltamos andando, nada de correr, eu mal estava dando conta de andar. Ao chegarmos, Becca e eu tomamos banho, não juntas, ela teve que ir e me prometeu voltar a noite. Senti um vazio chato depois da sua saída, decidi por o meu pedido de namoro em pratica. Iria pedir a ajuda das meninas, mas era quarta e a essa hora estariam estudando.

Fui a vários shoppings em busca de um par de alianças, já estava quase desistindo, quando no último, entrei e uma joalheria, vi um par que fizeram meus olhos brilharem. Eram de ouro branco, delicadas e com alguns pequenos diamantes. Eram simplesmente lindas, fiquei encantada com elas.

- Elas são lindas... – a voz da vendedora me tirou do transe. – Quer vê-las de mais perto?

- Sim, por favor...

Ela me entregou e eu pude sentir a delicadeza das peças, fique abobalhada, confesso, mas não era para menos.

- Eu vou leva-las...

Depois de tudo certo, fui para o supermercado comprar os ingredientes para o jantar, iria por aqueles inúmeros meses que minha mãe me fez aprender gastronomia, em pratica. Eu pensei em um monte de asneiras, confesso, mas preferi ser mais clássica. Voltei pra casa, deixei as compras, guardei a caixa de veludo com as alianças, mas tinha um porém:

- Não tenho mesa... – pensei por uns momentos. – Vou ter que comprar e fazer alguém trazer no mesmo instante...

Peguei a bolsa e as chaves do carro, fui em uma loja especializada em moveis, iria comprar uma mesa simples, com duas caldeiras. Uma outra ideia brotou na cabeça de onde seria o jantar. Eles queriam entregar em três dias, pois tinham muitas entregas pendentes.

- Desculpe, senhora! – o rapaz com crachá de gerente me dizia.

- Mas eu preciso para hoje, moço. – falei chateada.

- Me desculpe. – o homem falou sincero.

- Tudo bem... – pensei por uns momentos. - Eu vou levar.

O gerente me olhou engraçado e só imaginava como levaria aquilo dentro do carro, mas com a ajuda de um funcionário e não me perguntem como, colocamos tudo dentro do carro. A medida que o tempo passava, eu ficava cada vez mais ansiosa. Foi um aperto só levar tudo para o decimo andar, tropecei e graças ao Pai, não tinha ninguém para me ver pagando aquele mico.

- Como vocês fazem falta... Esquadrão das loucas... – lembrei das meninas.

Já se passavam das quatro da tarde, tomei um longo banho e troquei de roupa, precisava por em pratica os meus adquiridos dotes culinários. Eu não lembrava que cozinhar dava tanto trabalho, sujei muito a cozinha, não podia esperar para ter a minha cozinha equipada. Depois que preparei tudo, partir para a sacada, lá coloquei a mesa, as duas cadeiras, a noite já estava se propagando, depois de tudo pronto, resolvi tomar banho.

- Pareço uma menina de 15 anos. – me olhei no espelho, eu estava muito ansiosa. Um vestido branco de alcinhas, justo na cintura e solto no quadril. Optei por um batom vermelho, mascara nos cílios e só. O cabelo, deixei de lado, olhei o relógio. – 19:23. Ela está chegando! – peguei a pequena caixa de veludo.

Respirei fundo pela vigésima vez, minhas mãos suavam, me olhei mais uma vez no espelho e fui para a sala. Olhei para a sacada e estava do jeito que eu queria, uma toalha de mês branca, velas, um arranjo de flores, rosas brancas, o vinho, as louças. Fui à cozinha checar se a comida estava realmente boa.

- Vou acabar com a comida desse jeito. Como sou boba.

Ouvi a campainha tocar, meu coração deu um solavanco, respirei fundo, deixei a caixinha sobre a mesa, logo voltaria para buscar. Caminhei de vagar até a porta, segurei firme a maçaneta, abri a porta.

- Emily? – seus olhos me analisaram longamente, sua boca abriu e fechou inúmeras vezes.

- Meu amor... – sorri para ela, ela estava usando um short jeans, uma blusa preta com um pouco do ombro esquerdo de fora. Linda...

- Como você... Uau... Como você está linda... – ela procurou o meu corpo e o abraçou forte. – Tão cheirosa...

- Você que está linda... Muito sexy... – ela riu e eu fui para outro planeta.

- Vai sair? – nos afastamos. A encarei e não disse nada.

Segurei em sua mão, fechei a porta atrás de nós, caminhos devagar até a sala, Becca estancou ao meu lado, apertou com força a minha mão.

- O que é tudo isso? – ela continuava mirando a sacada.

- Algo que eu já deveria ter feito...

 

 

Fim do capítulo