Capítulo 6 - A Arte de se apaixonar
“É melhor dar o fora daqui. Tudo o que eu menos preciso na minha vida agora é me aproximar de uma mulher e ter mais motivos para fantasiar algo inadmissível. É melhor me proteger antes que isso saia do controle”.
Antes que pudesse alcançar a porta, sentiu um cheiro delicioso acompanhado de uma voz igualmente deliciosa.
- Desculpe a demora, Raquel. Estou faminta e você também deve estar. – Aquela policial lhe despertava sensações estranhas.
Raquel se virou para Natália. Estava sem graça. A médica estava linda. Aquele ar renovado pós banho. Aquele shorts curto, as pernas era lindas. Aquele perfume. Reparou que a médica a observava.
“Será que ela percebeu que reparei as pernas dela? Raquel, Raquel você deveria ter sido um pouquinho mais rápida”.
- Vamos jantar?
Sentaram-se a mesa. O silêncio se fez presente. Raquel não era nada boa em iniciar conversas. Para que aquela refeição saísse do silêncio a iniciativa teria que ser da médica.
- Por que você chorava aquele dia no shopping? – Foi a primeira coisa que lhe ocorreu. Mas, também era uma curiosidade. Afinal, a partir daquele dia passou a enxergar aquela mulher de outra maneira. Percebeu o arquear de sobrancelha dela. Droga, avançou em território delicado. – Desculpe-me. Não tenho nada a ver com sua vida.
Raquel continuou em silêncio. Mas, desta vez ele se tornou constrangedor.
- Eu tenho uma irmã, que depois da morte de nossos pais, ficou muito rebelde. Ela não soube lidar com a perda. E bateu muito a cabeça na adolescência. – Natália era toda ouvidos. Nunca ninguém lhe despertara tanto interesse como a policial. – Resumindo... Ela engravidou, mas não quis cuidar da criança. Eu assumi a criação da Yasmin, mas nunca escondi dela que eu era a tia. Há 4 anos minha irmã e eu brigamos na justiça pela guarda da Yasmin. Foi sofrido. Penoso. Eu havia sido baleada num trabalho de campo e minha irmã usou isso contra mim, além da minha orientação sexual que ela usou para alegar que eu não tinha moral para educar uma criança. Minha sobrinha passou a morar com ela desde então, por determinação judicial. E nos vemos poucas vezes. Um final de semana por mês ela fica comigo. Temos um elo muito forte. Eu a criei até os 12 anos.
- Nossa que triste. Sua irmão foi uma filha da puta com você. – Via a mágoa na policial por ter perdido a sobrinha. “Hum!!! Orientação sexual... Ela é lésbica?! E eu fiquei feliz com isso por quê?”– E aquele dia no shopping... – Tentando não demonstrar a inquietação.
- Estávamos nos despedindo. Falamos-nos todas as noites. Quando chego em casa e ela também. Uma liga para a outra.
- Vocês tem um elo muito lindo.
Raquel sorriu. E Natália, babou.
- Ela só não me chamou de mãe porque eu não quis. Detesto mentiras. Mas, a Yasmin é a pessoa que eu mais amo no mundo.
- Você deveria sorrir mais vezes. Fica linda.
Raquel ficou sem graça. Corou. Isso encantou de vez a médica que por sua vez se encontrava pasma com tamanha ousadia.
Terminaram o jantar.
- Você disse que sua sobrinha é a pessoa que você mais ama. Você namora? – A curiosidade era maior que o bom senso.
- Eu não namoro. – Disse estranhando a pergunta da médica.
- Hum. Não tem ninguém? – “Ai, meu Deus, quando irei calar a boca?”
- Eu... Não acredito em relacionamentos.
- Aconteceu algo?
- Não. Eu não gosto de ninguém. Acho que isso enfraquece as pessoas. As tornam vulneráveis porque criam expectativas demais. E, sempre se frustram...
- Eu que o diga... – A médica ficou pensativa e a policial na curiosidade...
- Por que?
- Eu era noiva – Neste momento a policial sentiu um frio na barriga pensando na possibilidade da médica estar casada. – Mas, num belo dia fui dispensada de um plantão que faria e resolvi fazer uma surpresa para ele. Acredita que ele estava na cama com a vizinha dele? Se descuidaram e acabaram dormindo... Ou, sei lá, como ele não me esperava para aquela noite nem se importou. Depois disso não acreditei mais em nada... Isso tem um pouco mais de três anos.
- É um choque e tanto. Você ainda sofre?
- Não. Mas, não tive mais vontade de sair com ninguém. Depois disso não tive mais relacionamento sério.
- Entendi. Doutora. – Disse batendo as mãos nas pernas. – Já está ficando tarde. Preciso partir.
- Ah, claro. – Levantaram-se. – Obrigada pelo apoio. Por me trazer aqui. Por estar comigo, agora.
Elas se perderam no olhar. Raquel estava tensa. Pois tinha consciência que a médica passeava por lugares perigosos dentro de si. Aquela proximidade. As duas de guardas baixas. O olhar que a médica lhe dirigia a fazia se perder.
Natália aproximou-se. Sua ideia era beijar e abraçar a policial agradecer imensamente a atenção que ela lhe prestou. Fazia tanto tempo que ninguém lhe dedicava aquela atenção. Mas, não resistiu. O olhar da policial era intenso. Aqueles lábios lindos convidativos.
A médica segurou o rosto da policial entre as mãos e não pensou mais fez o que seu coração pediu e naquele momento ele pedia para sentir os lábios daquela mulher marrenta que andava mexendo consigo. A beijou.
A policial ficou imóvel. Mas a insistência dos lábios da médica fez com que ela extravasasse o desejo que sentia. Envolveu a médica pela cintura e correspondeu ao beijo com paixão. Sentiram seus lábios, seus gostos, seus cheiros. O beijo foi intenso. Raquel explorou aquela boca atrevida que há tanto tempo lhe povoava a fantasia.
O beijo foi diminuindo a intensidade e cessando com selinhos. Abriram os olhos e se encararam. Aqueles olhos diziam tanta coisa...
- Eu preciso ir. – Novamente a falta de tato da policial dava o ar da graça.
- Raquel... Eu... Não... – Natália estava visivelmente sem graça.
- Não diga nada. A culpa foi minha. Me perdoe... – Disse já colocando a mão na maçaneta.
- Espera.
Mas a policial saiu. Não olhou para trás. Deixou a médica sem saber o que fazer. Mas, se sentindo nas nuvens.
“Eu beijei uma mulher... Que pegada, que delícia.”
A policial entrou no carro, transtornada. Começou a dirigir sem rumo.
“O que foi isso, Raquel? Desde quando você cede a rompantes juvenis?”
Lembrou-se da aproximação da médica. Da forma como ela lhe segurou o rosto e foi se aproximando. De como ela a beijou. Era como se tivesse despertado em si um vulcão adormecido. Perdeu qualquer resquício de racionalidade que pudesse ter e passou a devorar os lábios da médica como se precisasse daquilo para viver.
“Há quanto tempo não me sinto assim? Acho que nunca me senti assim? Mas, que inferno. Como pude deixar a situação sair do controle desta maneira?”
Entrou no Pub. Sentou-se no bar e pediu um whisky. Precisava de algo forte para exorcizar um sentimento conflitante que se apossava de si.
Era muito bem resolvido para si que em sua vida não havia espaço para relações amorosas. Esta decisão não era fruto de nenhum trauma. Mas, escolhera uma profissão que colocava quem estivesse ao seu redor em perigo. Não era dada a sentimentalismos... E, no quesito sex* também acreditava não necessitar disso para viver. Era um paradoxo de eremita urbana. Gostava de sua vida do jeito que estava. Não queria e nem sabia lidar com o que estava começando a nutrir pela teimosa médica. Na terceira dose tomou uma decisão. Sairia de circulação. Não voltaria nunca mais ao hospital.Fim do capítulo
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Anny Grazielly
Em: 26/12/2020
Aiaiaiiiaiia... Raquel eh louquinha.... kkkkk.... e Nat, safadinha.... kkkkk

rhina
Em: 28/06/2016
Oi.
Paloma.
Raquel perdida.... e perdida no que está sentindo pela linda médica.
Será que Nathália vai conseguir rompet esta couraça.
E Nathália como vai lidar com o fato de estar gamada em uma mulher.
Demais. Demais.
Tenso. Curioso.
Beijos
Rhina.
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wood
Em: 10/06/2016
Amei o capítulo cada dia você se supera mais parabéns, acho que esse casal tem tudo pra dar certo.Até o próximo autora😚😚
Resposta do autor:
Wood, como faremos para unir essas duas???
Na sua opinião, como faremos par baixar a guarda dessa policial marrenta?
Beijo
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Mille
Em: 10/06/2016
Raquel queria escapar da Nat, mais ela chegou a tempo de impedir, e se deixou ser seduzida pela médica esperar que elas se reencontrem e ver como fica a situação de cada uma.
Bjus
Resposta do autor:
Mille, o que será que será dessas duas??? Como faremos nossa policial baixar a guarda???
Aguardo sua opinião.
Beijo
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line7
Em: 10/06/2016
Nossa eu tenho uma admiração como vs (a Vc linda) escrevam o romance com detalhes bem intensos(até viajamos juntas para o outro mundo,. ) sério! Esse casal eu amo, "e que pegada"..Kkk..desde de impacto😊 até linda e ficar na paz😚
Resposta do autor:
Line 7, cada retorno de vcs faz com que nos empenhemos mais... Não que escreveremos para agradar... Porque daí a estória perderia um pouco o sentido... Mas, vcs nos estimulam a ir além... Isso é muito bom.
Beijos linda e continue me deixando por dentro do seu parecer.
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