Acordei com o barulho escandaloso do despertador, a terça-feira amanheceu gélida e chuvosa. Procurei por Pilar, porém ela não estava mais deitada, levantei e sai a sua procura. Encontrei-a na cozinha, já arrumando a mesa do café da manhã.

- Amor, bom dia! Dormiu bem? (falei me aproximando).

- Bom dia! Acordei muito durante a noite, tive um pouco de insônia (comentou abatida).

- Anjo, quando for assim pode me chamar, vem me dê um abraço (pedi carinhosa).

Nos abraçamos, fiz um carinho na cabeça dela e depositei um beijo em sua testa.

- Rúbia... (ela disse meu nome baixinho e não continuou, aguardei alguns segundos e ela prosseguiu).

- Eu quero te fazer um pedido (afirmou olhando nos meus olhos).

- Pode pedir!

- Por favor, não volte a trabalhar em demasiado visando esquecer os problemas pessoais, por favor, não nos deixe de lado novamente (suplicou).

- Eu não quero mais este vício, não consigo viver sem você, eu te amo e não quero te perder (garanti).

- Eu te amo tanto (falou toda afetuosa).

Nos beijamos, aos poucos fomos nos acalmando, fizemos nosso desjejum matinal, nos arrumamos e seguimos para os nossos trabalhos.

A semana transcorreu pacifica, a terapia de casal começou a nos auxiliar e a nossa convivência melhorou gradualmente.

Eu comecei a ser mais dedicada, atenciosa e carinhosa. Compreendo o anseio de Pilar, toda a pressão familiar, sei que se trata de um ciclo vicioso, namoro, casamento e filhos. Tenho muito medo de não conseguir, de falhar e acabo me desesperando quando começo a pensar sobre ser mãe. Acredito que eu não tenho vocação para a maternidade, mas não posso destruir este sonho que a Pilar sempre teve, antes mesmo de me conhecer. Eu lembro, na época que éramos apenas amigas ela já falava e fazia alguns planos, porém, eu nunca dei muita atenção e sempre fugi da responsabilidade.

Em uma das sessões de terapia, dentre tantos assuntos levantados, Sônia e Pilar, comentaram sobre uma possível cobrança do relógio biológico, eis o problema não sei onde larguei este meu suposto relógio, eu devo ter perdido em qualquer local, talvez no meio de algum trabalho ou algo do tipo. Eu não tenho este sentimento maternal e nem mesmo esta vontade interior. Mas decidi começar a pensar um pouco sobre toda a questão. Já Pilar mostra-se cada dia mais entusiasmada e esperançosa, ela até comenta que não quer passar muito da idade, já que as chances de fertilidade podem diminuir.

No meu ponto de vista ter um filho é uma responsabilidade e um compromisso para a vida toda, uma decisão que requer cautela, que precisa ser meditada com tranquilidade e segurança. Sei também que esta questão é fundamental para muitas mulheres e que em algum momento de suas vidas, não ter filhos pode ser um problema e tudo que eu não quero é frustrar ainda mais a minha companheira.

Ser mãe, gerar e cuidar dos filhos parece ser tão complexo, sou tão insegura e não me sinto preparada.

Com muito cuidado e sensibilidade, a Pilar me procurava para conversar, às vezes quando deparávamos com alguma família, de forma sutil ela falava sobre as crianças e seus olhinhos brilhavam. Em certo dia ela estava deitada na cama fazendo um teste intitulado: Você está preparada para a maternidade?

- Amor, tudo bem? (perguntei receosa ao me aproximar da cama).

- Rúbia, vou começar a fazer este teste, faz comigo?

- Mas tem certeza que isso é sério? Acho que não precisamos disso, já estamos fazendo terapia (tentei argumentar).

Ela não respondeu, abaixou a cabeça e ficou concentrada lendo a revista. Percebi que ela queria muito resolver aquilo e mesmo achando que era uma bobagem acabei fazendo com ela.

- Ei Pilar, vamos resolver juntas.

- Obrigada! (ela agradeceu feliz).

O teste era composto por várias perguntas, tais como:

1)    Você é uma pessoa paciente?

2)    Sua vida profissional é estável?

3)    Você é cuidadosa com a sua alimentação?

4)    Sacrificaria noites de baladas e diversões para cuidar de uma criança?

5)    Você é uma pessoa responsável?

6)    Sua situação financeira é boa?

Depois de vários minutos respondendo, conferimos as respostas e de acordo com aquele teste, sim, nós estávamos prontas para a maternidade. Pilar ficou toda radiante.

- Amor, por favor, não fique obcecada, vamos com calma (eu pedi).

- ok! Você tem razão. Vamos sair um pouco? Passear, visitar algum lugar...

- Hoje ou no final de semana?

- Pode ser no sábado, que tal uma pequena viagem? Só para espairecer um pouco.

- Tudo bem, eu topo. Quer ir para onde?

- Quero ver o mar.

- Gostei! Vamos reservar um hotel?

- Sim!

- Ótimo, então vamos escolher, podemos ir sexta-feira e retornar no domingo.

- Vai ser muito bom!

Pesquisamos, decidimos viajar para o litoral norte de São Paulo, ligamos para um hotel e reservamos um quarto em Ubatuba.

Os dias até a data da viagem foram tranquilos, felizmente nossa reaproximação fortaleceu nosso relacionamento, consolidou nosso amor e recuperou nossa amizade.

Sobre a minha carreira profissional, tudo estava em ordem na empresa, diminui meu ritmo de trabalho, comecei a conciliar e dividir meu tempo.

Na sexta-feira trabalhamos meio período, almoçamos com os meus pais e no final do dia viajamos para o litoral. Adoramos o hotel, tudo impecável, profissionais competentes, atenciosos e prestativos. Guardamos nossas malas e saímos para jantar em um restaurante especializado em peixes e frutos do mar.

- Amor, adorei o jantar (disse Pilar enquanto voltávamos para o hotel).

- Eu também adorei, muito saboroso e o hotel é bem agradável.

- Vamos tomar banho de banheira juntas? (perguntou).

- Sim! Agora entendi porque você pediu um quarto com banheira, estava querendo se aproveitar da minha ingenuidade (brinquei).

- Quero você minha mulher (falou com desejo).

- Uau, eu também te quero muito, ainda bem que já chegamos.

Entramos no quarto e em seguida na banheira, namoramos e relaxamos bastante. Trocamos várias carícias e muitos beijos sedutores e repletos de afeto. Depois de um bom tempo na banheira nos secamos, colocamos roupões saímos do banheiro e deitamos na confortável cama de casal.

- Pilar, eu te amo! Boa noite!

- Rúbia, eu te amo muito, durma bem (ela disse se aninhando ao meu lado).

Fim do capítulo