- Saudades? – Emi estava com um sorriso lindo e ao seu lado a minha mãe.

Levantei em imediato e abracei tão forte que fiquei até com medo de tê-la machucado, senti o cheiro de seu cabelo negro e seu perfume com flagrância de sabonete tão refrescante ao meu nariz.

- Diz que veio pra ficar!? – eu me escondia entre a curva de seu pescoço como fazia há anos atrás.

- Não pretendo sair do seu lado nunca mais. – ela me apertava e era tão bom estar ali em seu abraço novamente. – Minha magrela já não tão magrela assim...

- Eu falei que ia ficar mais fortinha. – ela riu e nos afastamos alguns centímetros.

- EMI!!!

Paloma, Nicole e Cássia vinham eufóricas para abraçar Emily, Rebecca vinha logo atrás parecendo meio deslocada, depois que elas a soltaram eu puxei Becca pela mão.

- Emily, essa é a Becca. – Emi olhou para Becca de um jeito estranho, olhei para as mãos sendo dadas. Senti uma coisa estranha no peito, mas era uma coisa boa.

- Prazer! – Rebecca ficou sem jeito.

- Todo meu Becca... – Emi tinha um sorriso enorme no rosto e Rebecca parecia meio confusa.

- Viu isso? – Cássia sussurrou em meu ouvido.

- Sim... – cocei a cabeça.

- Veio pra ficar? – Nicole quebrou o contato entre as duas.

- Sim, hoje sou dona de mim. – ela olhou-me e sorriu.

- Meninas, por favor. Emily, meu amor não quer tomar um banho e comer algo?

- Adoraria, dona Carolina. – sorriu.

- Mas que menina linda. – Dona Catarine e seu Edgar também se juntaram a nós, mas não vieram sozinhos. Logo atrás o casal “feliz”. – Catarine e esse é meu marido Edgar.

- Oh... Muito prazer! Sou Emily. Muito obrigada por me acolherem aqui. Eu precisava ver a Flávia e essa galera aqui. – sorriu olhando para a minha família.

- Nada meu anjo. Fique totalmente à vontade. Esse é meu filho Danilo e essa moça linda é a sua noiva, Amanda. Cadê o Júlio?

- Dormindo, Catarine. – Nicole respondeu.

- Prazer... – Danilo a olhava da cabeça aos pés.

- Prazer. – Amanda apertou a sua mão e logo em seguida me olhou de forma rápida.

- Desculpa galera, mas vou roubar a Emi um pouco. Fica no mesmo quarto que eu?  - segurei sua mão.

- Sim, senhora!

Emily agradeceu muitas outras vezes seu Edgar e dona Catarine. Abraçou muitas vezes minhas irmãs e meus pais, abraçou Cássia e olhava sempre sorrindo para Becca. Pedi para Rebecca me ajudar com as duas malas de Emi. Ela deixou a mala no quarto e saiu dizendo que nos deixaria matar a saudade.

- Emily, tem toalha limpa no banheiro e tudo que possa precisar. – falei segurando a sua mão e fazendo carinho.

- Assim que estou fedendo? – ela fez cara de indignada. Sorri.

- Oh menina dramática. – ela gargalhou e me abraçou forte. – Parece até mentira...

- O que? – ela se afastou para me encarar.

- Você aqui... – apertei suas mãos.

Nos abraçamos tantas vezes e ainda sim parecia que não era o suficiente, minutos depois Emi foi tomar banho e eu fiquei sentada, sorrindo feito louca. Por alguns instantes esqueci de Amanda, mas foi só lembrar que o coração apertou.

- Quem é ela?

- O que? – Emily sorria com os cabelos molhados e a toalha os enxugando.

- A tal que te fez ficar com essa cara...

- Emi... Deixa de bobagem... – levantei. Ela me empurrou de volta.

- Que foi? Não confia em mim? – sua cara era de indignação. – Não precisa ter receio em falar sobre outras pessoas. O que tivemos lá atrás foi perfeito, ao menos para mim, e será guardado aqui... – ela apontou para o coração. – Eu me envolvi com algumas mulheres Flávia... Então não sinta medo em me magoar.

- Não é isso... – passei a mão nos cabelos. – Sim, era um pouco disso... Mas confio em ti... Muito...

- Então? – ela sentou ao meu lado.

- Você venceu! – suspirei.

- Ainda consigo tudo de você! – ela sorriu vitoriosa.

- Certas coisas não mudam. – revirei os olhos e ela gargalhou.

- Para de enrolação e comece a contar. – me puxou para junto de si.

- Viu aquela loira lá embaixo?

- Sim...

- Ela é minha professora na faculdade... Faz pouco tempo que a conheci... - Contei tudo a ela, cada detalhe e infelizmente chorei a cada palavra que era dita, ela me abraçava forte e eu me sentia bem em seus braços. Era maravilhosa a sensação de estar em seu colo, senti falta e ainda parecia mentira ela ali.

- Nossa... Agora entendi... – ela pareceu ficar distante por uns instantes.

- Que foi? – indaguei. – Entendeu o que?

- A cara que ela me olhou. Só faltou sair raios. – fez uns gestos engraçados e eu rir de suas  loucuras.

- Besta...

- Linda! – ela me apertou. – Ela vai desejar nunca ter te magoado...

- Emiiiii...

- Relaxa... – ela riu e eu senti receio de alguma atitude louca.

- Não faz bobagem...

- Confia em mim! A loira toda “não posso porque mamãe não deixa” vai ficar louca de ciúmes. – ela piscou e eu me senti novamente cheia de felicidade.

Ficamos por mais uns minutos e descemos pois Emily estava faminta. Enquanto ela comia aos poucos o a minha família ia se aproximando, estavam todos muito curiosos com a vinda dela. Ri dessa cena.

- Vocês não tem jeito mesmo. – revirei os olhos.

- Como se você não estivesse cheia de curiosidade também. - Nicole respondeu e eu apenas mostrei o dedo do meio.

- Flávia... – dona Carolina me olhou feio.

- Parei...

- Quer mais alguma coisa meu amor? – mamãe sorriu carinhosa para Emily.

- Não, dona Carolina. Muito obrigada! – ela sorriu de volta.

- Becca... Senta aqui. – Rebecca sentou ao meu lado.

- Cadê os donos da casa? – Emi perguntou.

- Foram deitar. Disseram que não queriam atrapalhar o nosso momento em família. – meu pai respondeu.

- Que pessoas boas eles são... – Senti uma pontada de tristeza em sua voz.

- O que aconteceu, Emi? – segurei sua mão. Ela enxugou uma lágrima solitária que descia em seu rosto.

- Depois que eles me levaram para fora do Brasil, a minha vida se tornou um inferno...  – ela apertou forte minha mão.

- Quer falar sobre isso em outro momento, meu amor? – mamãe segurou sua mão e fez um carinho.

- Não! Eu quero contar... – sorriu fraco. – Era da escola pra casa, eles tiraram qualquer ligação com o mundo virtual, cortaram toda e qualquer forma de me comunicar com vocês, principalmente com a Flávia... Essa foi a primeira coisa que fizeram ao chegar a Londres. Eu quase desenvolvi um estado de depressão, mesmo assim os meus pais não mudavam as suas posturas. Meu pai falava sobre o homossexualismo com tanto ódio... – Emily apertou os olhos com força. Meu coração doeu ao vê-la daquela forma. - Quando fiz dezoito anos tentei fugir, mas meus pais me encontraram e me obrigaram a voltar. Comecei a cursar a faculdade de administração pois meu avô pediu. Ele era o único que me aceitava e isso nos uniu ainda mais, e assim meus dias foram passando até que... – seus olhos se encheram de lágrimas. – O vô faleceu... Faz um mês que isso aconteceu...

- Hey! – segurei seu rosto a fazendo me olhar. – Tem certeza que quer continuar? – Enxuguei umas lágrimas que por ali passavam. Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça, respirou fundo e continuou.

- Meu avô deixou absolutamente todos os seus bens pra mim, meus pais fizeram de tudo para desfazer o testamento, anula-lo por completo, porém não conseguiram e eu tomei posse de tudo. Depois de certas burocracias, arrumei as minhas malas e vim para o Brasil, vim atrás das pessoas que sempre me trataram como uma filha... Da menina que agora virou mulher. – apertou forte a minha mão. – Das irmãs que eu nunca tive. – Olhou sorrindo em meio às lágrimas para Nicole, Paloma e Cássia. - Eu... Eu amo vocês...

- Oh meu amor...

Minha família não era perfeita, mas com toda certeza se existisse reencarnação e eu pudesse escolher, escolheria sempre eles. Abraçamos muito aquela menina, aquele momento só existia a gente.

- E vai morar conosco, certo? – meu pai perguntou.

- Não... – Emi sorriu. – Mas comprarei um apartamento próximo ao condomínio. Pedi para o Roberto, advogado do vovô cuidar dessa parte. Quando eu voltar escolherei o que me agradar.

- Mas saiba que nossa casa sempre estará de portas abertas para você! – Nicole segurou a mão de Emily e depois apertou a bochecha. – Minha amiga...

- Vamos ajudar! –Cássia falou animada.

Continuamos a conversar e vi Becca e Emi interagindo, me deixando muito feliz com aquela aproximação. Dona Carolina exigiu que Emily descansasse um pouco e foi o que ela fez a tristeza a pouco vi deu lugar a um brilho que aqueceu meu coração. Emily subiu sendo acompanhada por minha mãe, permaneci na varanda com as minhas fieis companheiras.

Depois de um tempo Cássia e Paloma foram para o quarto e Rebecca e eu ficamos conversando amenidades, até que...

- Você e a Emily vão voltar a ser namoradas? – Becca me perguntava sem olhar em meus olhos. Ri daquilo.

- Becca? – toquei em seu rosto.

- Oi?

- Foi impressão minha ou de fato rolou um clima entre vocês? – Rebecca arregalou os olhos e eu senti ainda mais vontade de rir.

- Flávia... Vocês... Não... Eu...

- Ei? Calma! – segurei sua mão. – Ta tudo bem...

- Não sei explicar... É clichê, mas quando a vi senti uma pontada no coração e quando nossas mãos se tocaram eu senti como se uma descarga elétrica tomasse conta de mim... Mas vocês estão próximas... Podem dar continuidade ao namo...

- Becca... – a interrompi. – Emi e eu somos amigas.

- Tem certeza? Eu não quero atrapalhar nada e também nem sei se ela se interessou de alguma forma. – olhei para Becca tão insegura e lembrei da primeira vez que a vi.

- Eu lembro que quando nos conhecemos você quase arrancou meu vestido com os olhos. – Rebecca deu uma gargalhada gostosa. – Agora esta ai toda insegura.

- Você estava irresistível. – dessa vez foi eu quem gargalhou. – Eu senti algo...

- Eu percebi... – sorri a olhando.

- Será que ela também percebeu?

- Vamos descobrir... – levantei. – Vou buscar uma rede para deitarmos.

Subi rapidamente e encontrei Amanda no corredor, fechei a cara e passei por ela sem nada dizer, entrei no quarto e Emily dormia tranquilamente. Não fiz barulho para não acorda-la, peguei a rede que estava na pequena sacada e sai do quarto. Becca e eu deitamos, ela lia um livro e eu aos poucos adormeci.

- Me pega mamãe...

- Vem cá sua pimentinha...

Novamente naquela praia, o vento soprava forte, o céu azul sem nenhuma nuvem, o mar distante e as duas loiras corriam pela areia branca. Senti meu coração aquecer e novamente uma paz encher cada parte de meu corpo. A loira mais velha correu em minha direção e finalmente puder ver o seu rosto com clareza e naquele momento o ar me faltou, o coração parou...

- Amanda...

- Meu amor...

Ela sorriu, jogou-se em meus braços e em seguida fomos ao chão por um corpo menor se chocar ao nosso... Risadas, abraços... Amor...

 

- Flávia?

- Oi... – Becca me acordou.

- Você estava sorriso... – me olhou querendo rir. – Estava com maior cara de bobona.

- Faz alguns dias que venho tendo uns sonhos estranhos...

- Que sonhos?

- Com uma menininha loira, parece até um anjo e com a Amanda... Estamos sempre felizes e vivendo coisas como se fossemos uma família. É tão estranho, Becca... Eu sinto um amor tão grande por aquela menina, sabe?! Vontade de protege-la... De abraça-la tão forte... Ela é minha filha... Que loucura...

- Talvez esse sonho signifique algo. – Rebecca falou pensativa.

- Será, Becca?

Passei um tempo a divagar nesse assunto, tudo nele era tão real, tão intenso que eu podia sentir em cada parte de mim. De repente senti uma grande vontade de dormir só para voltar para aquele mundo onde eu era tão estranhamente feliz.

 

 

 

 

 

Fim do capítulo