O relógio marcava sete da noite, joguei o celular sobre a cama e decidi tomar banho, entrei no banheiro dando de cara com Emily.

- Vou esperar lá embaixo. – ela beijou meu rosto e saiu.

Tomei um banho rápido, escolhi um vestidinho solto e uma havaiana, batom rosa e um pouco de mascara nos cílios. Olhei no espelho e gostei do que vi, borrifei um pouco de perfume, peguei o celular e desci.

- Vamos?  - Rebecca sorriu. – Esta linda.

- Obrigada!

Combinamos mais cedo que iriamos a uma pizzaria, como não ficava tão distante, decidimos ir andando. O clima estava descontraído e a todo momento meus olhos me traiam indo de encontro a Amanda. Ela evitava me olhar e aquilo me machucava bastante, aquela distancia estava acabando comigo. Emi me lançava olhares de compreensão. Chegamos à pizzaria e foi posta duas mesas para todos. Fiquei entre Becca e Emi, de frente para o casal feliz. O que veio a seguir divertiu muito meus pais, minhas irmãs e minha amiga. Catarine, seu Edgar e os dois filhos ficaram alheios aos olhares na mesa.

Enquanto esperávamos as pizzas, Emi e Becca passaram a fazer descaradamente ciúmes para Amanda... De que forma? Rebecca ajeitava alguns fios de cabelo atrás da minha orelha, Emi tocava meu rosto com carinho. Olhei para Paloma e Cássia, essas se seguravam para não rir, meus pais e Nicole balançavam a cabeça de forma negativa, mas com um sorriso no rosto e Amanda?

- Vou retocar a maquiagem. – ela levantou e me olhou feio.

- Vamos com você! – Emily levantou, puxando Becca e eu junto.

- Vamos? – Becca e eu perguntamos baixinho.

- Volto já, amor. – Amanda beijou o Júlio. - Vamos meninas.

- Relaxa... – Rebecca sussurrou em meu ouvido.

- Vocês são loucas... – Falei baixinho enquanto seguíamos para o banheiro. As duas deram uma risadinha.

Entramos no banheiro e haviam mais três meninas lá dentro e entre elas Caroline, a moça que trabalhava na casa de dona Catarine. Eu sorri para ela e fui retribuída.

- Oi moça... – recebi o olhar curioso de minhas amigas.

- Mais uma... – Amanda entrou em um reservado. Becca e Emi se olharam com um sorriso vitorioso.

- Oi, Flávia...

- Te esperamos lá fora, Caroline. – falou uma moça magra e de cabelos enrolados.

- Não vou demorar. – elas saíram.

- Essa é a Becca...

- Prazer, Caroline. – as duas deram um breve aperto de mãos.

- Prazer! – ela sorria tímida.

- E essa é Emily. – Emi com seu jeito sempre espontâneo deu dois beijinhos e seu rosto.

- Prazer, Caroline... – Emi sorriu.

- Prazer, Emily. Eu vou indo! Nos vemos amanhã garotas. – ela sorriu dando tchau com a mão para as meninas. – Até amanhã, Flávia.

- Até... – sorri e ela sumiu pela porta.

- Ela esta afim de você! – Rebecca falou.

- Hum... Também acho! – revirei os olhos. Aquelas duas tentavam a todo custo cutucar Amanda.

- Estão vendo coisas aonde não tem. – Amanda nesse momento saiu do reservado e foi em direção ao espelho. Jogou o cabelo para o lado.

- Vamos? – ela sorria simpática.

Saímos do banheiro com Amanda e Rebecca conversando, foi a primeira vez que presenciava essa cena desde que chegamos. Emily olhava para Becca com um brilho no olhar, a belisquei.

- Aiii... – ela esfregava o braço.

- Tá afim da Rebecca? – sussurrei em seu ouvido.

- Bom... Eu...

- Ai meu Senhor... – rir do embaraço de Emi.

Chegamos à mesa e as pizzas não demoraram a chegar, o clima estava agradável e eu me sentia feliz. As minhas amigas nada normais ainda não satisfeitas continuaram a fazer raiva para Amanda.

- Flávia, como seu cabelo é lindo. – Becca passava a mão em meu cabelo.

- Concordo... – Emi brincava com alguns fios. -  Adoro essas suas pintas... São um charme... Não é Rebecca?

- É sim, Emily...

Tenho certeza que ao chegar à casa de dona Catarine essas duas iriam rir e muito dessa noite e eu agradeci mentalmente por elas fazerem parte da minha vida. Depois da pizza, comemos sorvete de casquinha e decidimos ir embora.

Ao chegar fui direto para o quarto para pegar o violão, as meninas e eu decidimos ficar na varanda. Meus pais e os pais de Danilo foram dormir, ficando assim somente os mais novos.

- Qual vai cantar? – Paloma quis saber.

- Sem medo de amar... – falei colocando o violão sobre as coxas. Olhei para Amanda e ela estava deitada na rede com o noivo, Nicole no sofá com o pateta, Cássia sentada ao lado de Paloma no chão e Rebecca e Emily em outro sofá.

- Onze e vinte... – Emily concluiu.

- Alguém contra? – olhei para cada um.

- Não! – resposta em coro.

Passei os dedos sobre a corda e me deixei levar...

 

Ontem te falei que você é tudo que eu mais quero

E no meu coração só tem lugar pra você Só você

Essa mistura louca de desejo

Me perco toda vez que eu te vejo

Eu sei, sem você não tem rima a minha canção

Você inspira os meus sonhos

Eu venço a solidão

 

Toda vez que ouço a sua voz

Sinto o gosto do seu beijo

Quero ser seu mundo

Vem com tudo

Matar o meu desejo

 

Quero mergulhar no azul desse olhar

Poder navegar

Quero te de dizer sem medo de amar

Eu quero você

Quero mergulhar no azul desse olhar

Poder navegar

Quero te de dizer sem medo de amar

 

Eu quero você pra mim

Eu quero você pra mim

 

Depois dessa vieram muitas outras, Emi e Nicole também cantaram algumas canções e com tanto entusiasmo a noite se estendeu até às quatro da manhã. Ao chegar no quarto tomei um banho rápido, Emi também e com muito sono nos jogamos na cama.

Os dias foram passando e tentei aproveitar o máximo tudo que pude, Amanda e eu trocamos poucas palavras durante aqueles dias, tentei não me aproximar tanto, por mais que a vontade de abraça-la, beija-la e dizer para aquele noivinho dela que eu a amava, fosse gigantesca. Pensar nessas coisas apertava meu coração e me deixava triste. Durante aqueles dias Caroline e eu nos aproximamos, fizemos alguns programas juntas. O dia de voltar para casa estava perto, era domingo dia vinte e seis de Julho, já se passava das seis da noite, Emi e eu arrumávamos nossas roupas para a viagem de volta na manha seguinte e ao terminarmos, saímos à procura de Becca, Cássia e Paloma para caminhar na praia. Estávamos na porta quando lembrei do meu pequeno aparelho de som.

- Meninas... Volto já!

- Não demora! – mandou Cássia.

Subi as pressas e entrei no quarto, mas ao sair encontrei Amanda parada em frente a minha porta. Parece até que não importava quantas vezes eu a visse, sempre era como se fosse a primeira vez causando assim aqueles sinais tão conhecidos de quem está apaixonado sente.

- O que você... – ela pós a mão na minha boca me empurrando para dentro do quarto e trancando a mesma atrás de si.

- Eu sei que deve está me achando uma louca, deve estar morrendo de raiva de mim... Não te culpo... Mas eu juro que estou em uma guerra constante comigo mesma para permanecer longe de você... – ela continuava com a mão em minha boca e eu cada vez mais me convencia que aquela mulher seria a minha ruina psicológica. – Eu perdi essa batalha e por isso estou aqui... Te peço que me deixe mesmo que não tão próxima, ficar perto essa noite... Eu sei que não mereço te pedir nada, mas mesmo assim eu vim te pedir... Tá um caos aqui... – ela apontou para o próprio peito.

Tirei a mão dela de minha boca totalmente surpresa com as suas palavras, a olhei sem acreditar que havia mesmo ouvido tudo aquilo. Meu coração batia feito logo e a troca de olhares permanecia. As palavras não saiam e minha única atitude foi acabar com a pequena distância que havia entre nós e beija-la. Deixei todo o meu orgulho de lado, toda magoa, a dor por suas palavras há dias atrás. Sentir novamente a macies daqueles lábios, o sabor totalmente viciante daquela boca me levava para outra realidade, suas mãos passeavam por meu corpo e o que eu estava sentindo não dava para explicar... Eu não queria larga-la nunca mais, porém o ar nos faltou. Segurei o seu rosto entre minhas mãos, nossas testas estavam unidas, as respirações se misturavam... Permaneci com meus olhos fechados.

- Eu te amo...

Imediatamente abri meus olhos, o coração mal se recuperou e voltou a dar saltos dentro do meu peito. Ela pousou suas mãos sobre as minhas e me olhava dentro dos olhos, os dela estavam húmidos e uma lagrima descia por sua face. Senti uma grande vontade de chorar naquele momento. Um sorriso bobo brotou em meu rosto e então a abracei o mais forte que pude, senti o cheiro gostoso que seus cabelos loiros tinham.

- Amanda? – sai do abraço a encarando.

- É o Danilo...

-Calma... – pensei por um instante. – Aja normalmente.

- O que vai fazer? - Destranquei a porta sem fazer nem ruído.

- Confia em mim... – Abri a porta. – Mas ainda sim acho que os parques aquáticos dos Estados Unidos são os melhores... Sua noiva está aqui Danilo. – sorri torcendo para que Amanda entrasse na minha.

- Oi amor! Estávamos falando sobre a faculdade. – ela deu um beijo em seu queixo. Ela me lançou um olhar de quem entendeu. – Acabamos nos distraindo.

- Nem aqui você se desliga, não é amor. – ele a abraçou e eu senti o meu coração se comprimir. – Minha mãe solicitou a ajuda de vocês duas na cozinha.

- Então vamos...

Encontrei as meninas na cozinha, todas me lançaram um olhar de “Como assim vocês três chegando juntos?”.  Dei de ombros e me aproximei da pia aonde Emily e Rebecca lavavam algumas frutas.

- Depois explico. – sorri amarelo. - O que tá rolando?

- Dona Catarine inventou uma despedida e pediu para que ajudássemos. – Becca respondeu.

- Nada de caminhada na praia? – perguntei colocando algumas frutas na bandeja. O aroma ali era maravilhoso.

- Cancelada... Precisamos falar com você... – olhei para Emi.

- Precisamos? – arqueei a sobrancelha. Olhei para Rebecca e ela baixou a cabeça.

- Sim... – de repente o obvio me deu um tapa bem na lata.

- Vou esperar.

- Já terminamos, dona Catarine. – ouvi aquela voz e logo me virei, sorri ao ver de quem se tratava.

- Fiquem conosco, Carine e Caroline. – Caroline me olhava com um sorriso tímido, Amanda me olhou feio.

- Isso garotas, fiquem. – mamãe reforçou.

- Então vamos ajuda-las.

Caroline se pós ao meu lado, sorri para ela e iniciamos um dialogo que no inicio foi tímido, mas logo se torno descontraído. Depois de tudo pronto, levamos para a beira da piscina, arrumamos tudo e logo estávamos a nos divertir. Havia duas rodas de conversas em uma meus pais, dona Catarine, seu Edgar, Nicole, Danilo e o Júlio e na outra Rebecca, Cássia, Paloma, Emily, Caroline, Carine, Amanda e eu. As risadas eram estridentes, os assuntos eram diversos.

- Como vocês se conheceram? – Becca perguntou olhando para Cássia, Emi e eu.

- Conheci a Flávia no jardim de infância... – Cássia respondeu já com ar de riso.

- Não faz isso... – olhei arqueando a sobrancelha. Paloma e Emi soltaram uma gargalhada.

- Agora fiquei curiosa. – Carine franziu o cenho.

- Eu também! – Amanda e Caroline disseram juntas e depois se encararam.

- Merda! – passei a mão no cabelo.

- Deixa que eu conto... – Paloma se ofereceu.

- Conta amor... – Cássia deixou escapar ficando vermelha igual a nariz de palhaço, Paloma a beijou nos lábios, sem nem uma vergonha. Elas sorriram uma para a outra.

- Traidora! – a olhei feio e ela mostrou a língua.

- A Flávia estava chorando, escondida atrás de um arbusto no pátio da creche. – ela me olhou e prendeu o riso. Irmã de meia tigela.

- Eu cheguei perto dela e perguntei o por que dela estar chorando... Ela me olhou com os olhinhos vermelhos. – Cássia me olhou se preparando para rir. – Abaixou a cabeça olhando para os próprios pés. Mania essa que ela tem até hoje...

- Te odeio sua amarela... – falei jogando meu cabelo para trás.

- Continua... – Amanda deu corda e eu a olhei sem acreditar.

- Ela me falou que estava chorando porque havia feito caquinha na calcinha. – abaixei a cabeça e as gargalhadas foram muitas.

- Oh neném... – Becca zombou.

- Cara, eu só tinha cinco anos... – pra que fui dizer isso? Mais gargalhadas.

Algumas limpavam as lagrimas que escorriam pelos rostos de tanto que riam, revirei os olhos e alguns minutos elas pararam.

- E como você conheceu a Flávia, Emi? – Becca olhou carinhosa para Emi.

- Nos conhecemos no primeiro ano do ensino médio. – ela sorriu para mim. – Foi amor à primeira vista...

Sorri ao lembrar daquele dia.

- Você estava com suas amigas no corredor da escola, eu passei com a Cássia e a Nicole. – Emily segurou na minha mão. – Te encarei e você baixou a cabeça depois de alguns segundos...

Senti que Rebecca se sentiu desconfortável, Amanda fechou a cara e eu para quebrar aquele clima estranho por parte delas falei:

- Não estranhem! O mundo está moderno. – falei sorrindo. – O meu primeiro amor virou a minha grande amiga. E pelo que já percebi se encantou por um certo par de olhos castanhos, certo parceira? – Rebecca corou violentamente.

- Certo, parceira! – Emi bateu em minha mão.

- Viva ao amor! – Carine falou com entusiasmo.

- VIVA!!!

O clima voltou a ser descontraindo, a música era contagiante, o vento gostoso, o céu sem igual e as companhias as melhores. Olhei para Amanda tão solta e meu coração sorriu comigo... “Eu te amo”... Aquela frase dita por ela há poucas horas ecoava na minha alma.

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo