Nunca sabemos que nossas ações vão causar no nosso futuro, cada escolha que fazemos são bilhares de universos e condições que criamos para nós mesmos. Imagino se eu pudesse voltar ao passado e mudar uma pequena coisa, quem sabe se eu chegasse antes em algum lugar, ou se apenas um detalhe mudasse tudo...  Aquela semana foi exatamente aquilo, coisas que contribuíram contra e a favor da concretização do presente, nunca fui dada a filosofias, mas agora está tudo tão diferente... Quando se sente o cheiro da morte tão de perto e a cada dia mais essa certeza se torna real, nossa concepção sobre a realidade muda, como se escamas caíssem dos olhos e finalmente a fumaça se dispersa e podemos ver o que tudo significou até o mais mínimo detalhe...

Obsessiva...  A vida é um rio que não corre pra trás, mas o pensamento é um pássaro livre que voa solto no presente e passado... tanto faz.

A quinta feira amanheceu esmaecida, mas já era tarde, um dia qualquer que mudou tudo, inverteu os polos do meu mundo.

Eu estava atrasada, e isso é relevante, por que transformou o dia num inferno quase de Dante.

Na quarta, o Henrique, chefe principal de cozinha e dono do restaurante tinha me ligado, eu havia faltado o domingo de trabalho quando o restaurante ficava super cheio, o que causou um grande problema, mantive a mentira de que não tinha passado muito bem, ele até que não ficou muito estressado, mas me avisou que eu devia repor na quinta que seria minha folga, quando um grande designer de moda, Marc sei lá das quantas iria pro nosso restaurante. Eu fiquei chateada com aquela situação, mas eu tinha que compensar a minha falta no trabalho de alguma forma.

Pra minha surpresa, isso se tornou algo que eu jamais poderia ter imaginado. E lá estava aquela quinta-feira, a manhã estava muito esquisita, parecia que já era aproximadamente meio dia, o sol estava quase a pino quando eu acordei com dor de cabeça horrorosa e terrível, peguei meu celular do criado mudo e olhei pra ver se que horas eram. No fundo, no fundo eu queria que tivesse alguma mensagem, principalmente de Chris. Não sei por que mas eu realmente não sabia o que estava rolando comigo, talvez fosse aquela semelhança, não, com certeza era a semelhança. se eu tivesse pelo menos a oportunidade de voltar no tempo e fazer tudo diferente, quem sabe a obsessividade de Elise nunca tivesse se tornado tão ostensiva.

O celular dizia que era 11:17, então eu havia dormido demais e estava atrasada. Levantei da minha cama rapidamente, separei minha roupa de ir pro trabalho e tomei um banho rápido sem demora. Já saindo do banho, escorreguei na poça de água que tinha se formado na porta do box do banheiro e acabei caindo de bunda no chão. Aquilo doeu pra cacete. Fiquei 5 minutos sentada tentando me recuperar daquela dor. A dor de cabeça já tinha aumentado ainda mais. Foi então que percebi que aquela quinta-feira seria dos diabos. depois de ter me recuperado fui pro meu quarto tomei um remédio e  troquei de roupa. Saí de casa quase que correndo, nem mesmo tinha almoçado nem comigo nada. Meu estômago tava doendo bastante por causa do remédio de dor de cabeça com água e estômago vazio. Quando cheguei ao carro me dei conta que eu tinha esquecido minhas chaves no apartamento, e aquilo me irritou pra valer. subi as escadas meio que correndo, porque o elevador tinha acabado de quebrar.

 5 malditos lances de escadas de tirar o fôlego. Eu tinha que chegar lá 12:30 e com certeza o trânsito daquele horário estava uma loucura. desci já com a chave em mãos e parti no meu carro a toda velocidade. Eu sei que não se deve correr, mas eu não podia fazer nada eu não podia ser mais irresponsável do que eu já estava sendo. Numa daquelas curvas malditas, quando você menos espera, o carro começa puxar pra direita e aquele barulho insuportável de pneu furado, me tirou do sério encostei o carro xinguei o volante e esmurrei a porta... Caralh*.

Tratei Logo de Ligar pro meu chefe dizendo que eu ia que me atrasar, pedi um milhão de desculpas e ele ficou completamente grilado com aquela situação. Já estava até com medo de perder meu emprego. Eu tentava trocar o pneu do meu carro, sim eu tive que fazer aquilo sozinha, porque no meio daquela loucura eu jamais teria coragem de pedir ajuda pra alguém. Principalmente com a violência no Rio. Graças aos céus o estepe estava inteiro é foi uma trabalheira. Eu nunca tinha trocado um pneu na minha vida, pelo menos eu sabia como fazer, mas não foi fácil. enfim me  dirigi ao L’etoile, o hotel ficava a menos de dois quilômetros dali, portanto até que foi rápido chegar, graças aos céus. Subi no hotel às pressas, peguei o elevador para o andar do restaurante e  abri minha bolsa pra pegar o cartão do ponto e simplesmente não consegui encontrar minha carteira. Aquilo tava passando dos limites ou eu tinha atirado uma pedra na cruz, ou alguém tinha feito uma macumba muito pesada pra mim. Avisei ao chefe que não tinha trazido meu cartão, ele xingou uns 3 palavrões e digitou a senha de passagem.

Agradeci novamente aos céus quando eu consegui finalmente entrar no vestiário e me trocar. Minhas mãos estavam completamente sujas de graxa de pneu e aquilo me irritou ainda mais. Me olhei no espelho, eu vi meu rosto parecia ter acabado de levar uma surra ou então de ser pisoteada por um trator. Passei uma maquiagem básica pra reconstruir aquela cara de desânimo.

 Minha vida estava um saco. Fui pra cozinha e começamos a preparar em torno de 50 pratos. Aquela era festa encomendada especialmente por um estilista muito famoso dos Estados unidos. Era um jantar especial em comemoração à célebre publicação na revista Vogue. Eu achava tudo aquilo muito ridículo, mas eu não me importava, contanto que aquele dia acabasse.

Já era aproximadamente 19:30 da noite o meu turno tava quase acabando . A recepção já havia começado os convidados já tinham começado a chegar e por sorte minha, dali a uma hora eu poderia ser liberada. Eu estava terminando de fatiar uma cebola quando olhei pro relógio de parede pra verificar se já tinha passado meia hora descanso da massa do ravióli, quando eu cometo o Incrível erro de me cortar. Imediatamente olhei pra minha mão e vi tudo aquilo que eu não gostaria de ter visto: o sangue escorrendo do meu dedo. Era um corte muito profundo e senti minha visão ficar turva, eu era muito sensível a sangue. Respirei fundo e fechei meus olhos. conseguir sentir a dor quando a pulsação fazia o sangue ser expelido pelo meu dedo, consequentemente o ardor. Peguei um pano que tava na bancada e amarrei fortemente pra estancar o sangue. Aquilo funcionou, mas ensopou completamente o pano que era branco. Pedi licença ao chefe pra poder cuidar do ferimento e fui pra enfermaria.

O Enfermeiro não estava naquele momento, mas como estava aberto pude fazer um pequeno curativo. Aquilo ia resolver por enquanto. Voltei pra cozinha e continuei a trabalhar, já era 20:00 horas. Naquele ponto a festa já tava no auge. O chefe avisou que o tal do estilista havia chamado todos os cozinheiros chefes para parabenizar a belíssima refeição que haviam acabado de servir, e me disse pra eu mudar minha expressão porque eu parecia completamente destruída. Logo fui com esperanças de ir embora até mesmo peguei minha bolsa e coloquei perto da bancada de saída, o chefe já estava com com Guto o outro chefe sênior, então fomos até o salão que estava lotado. A festa tinha aproximadamente 50 convidados, algumas mesas com pessoas muito elegantes vestidas de terno e com vestidos de gala. Me senti imediatamente deslocada de lugar, eu com aquela minha roupa branca e com chapéu na cabeça.

A mesa do estilista estava ao centro e fomos nos aproximando eu, o Guto e o chefe Henrique, nós os três chefes hierarquicamente distribuídos. A mesa principal tinha aproximadamente 10 pessoas, três homens e o restante mulheres, aparentemente modelos incrivelmente lindas. Henrique começou se apresentar já que ele era o dono do restaurante.

- meus caros amigos estamos aqui – falou num Inglês perfeito – é com grande prazer que nós nos cumprimentados, eu sou Henrique Parole o dono desse belo restaurante que vocês estão saboreando. - disse ele rindo e abrindo os braços num gesto de extrema recepção. Eu olhava para baixo num misto de vergonha e dissabor, quando vi a distância aquelas modelos me sentir completamente deslocada como há muito tempo não me sentia, estava a encarar o chão enquanto um dos homens aparentemente se levantou. pelas roupas extravagantes devia ser O tal do estilista Marc Jacobs. Ele abraçou o Chef .

-Grato – respondeu Marc – quem são estes? – apontou se referindo à nós.

-Este é Gustavo Lisboa, nosso chef sênior de molhos e essa jovem beldade é a nossa mais jovem chef em culinária francesa Victoria Rockfeller.

-h muito prazer – ele nos cumprimentou – e este belo cavalheiro ao meu lado é meu namorado Jacques. – disse ele apontando pro homem do lado, o homem se levantou e ergueu o braço pra mim – E está é a nossa talentosíssima fotógrafa... Meu coração então parou por alguns segundos, O terceiro “homem” sentado à mesa sorria pra mim contentemente, sua aparência tinha voltado ao normal assim como eu lembrava na minha memória... cabelos curtos castanhos e meio bagunçado, estava usando smoking mas algo parecia muito diferente de tudo que eu lembrava. – Elise de Vries – completou Marc, Elise estava rindo pra mim, zombeteira, mais uma vez ela estava ali na minha frente. Completamente disponível ao meu alcance. Parecia um sonho daqueles bem difíceis de acreditar. Seus olhos estavam diferentes, talvez por causa da maquiagem pesada que usava, era um perfeito equilíbrio do feminino e masculino. Ela me encarou com naturalidade.

- Oi, quanto tempo! -  meu coração se negou a bater.

Fim do capítulo