Capítulo 30
Capítulo 30
Luiza.....
Eu estava sentada em um banco distante. Observava os alunos em volta. Rebecca não veio para colégio hoje. Eu andava preocupada com minha linda. As coisas na casa dela não estavam nada boa. Todos os dias ela discutia com o pai e todos os dias ela chorava em meu colo. Queria poder protegê-la de tudo que estava acontecendo, mas era algo inevitável para ela, afinal, ele é o pai dela.
Observei Victoria de longe em volta de suas amigas e seu namorado. Ainda não conseguia entender o motivo dela estar namorando aquele garoto. Era perceptível que Vick não gostava dele. Ela me encarou e sorriu para mim, também sorri para ela. Vick falou algo com todos e depois se afastou, caminhando em minha direção com um sorriso doce nos lábios.
-- O que faz aqui... Tão sozinha Luiza? - perguntou sentando-se ao meu lado.
-- Estou pensando na vida...
-- Coisas boas ou ruins?
-- Umas boas... Outras nem tanto...
-- Eu entendo... Carol me contou por alto o que está acontecendo na casa da ruiva... Falando nela... Como a Carol está? - Ela perguntou preocupada.
-- Ela está bem... Na medida do possível.
Victoria abaixou a cabeça. Ela mexia algumas pedrinhas com a ponta do sapato.
-- Luiza me responde uma coisa com toda a sinceridade.
-- Claro...
-- Acha que a Carol vai sair dessa? - Ela perguntou com um brilho diferente nos olhos.
Suspirei e meus olhos se perderam em um canto qualquer.
Carol é minha irmã caçula... Sempre foi apenas nós duas juntas. Quantas vezes não a protegi e se pudesse continuaria protegendo para sempre, mas infelizmente isso não dependia de mim... Não nesse momento.. Com essa doença.
Para ter irmãos é preciso muita paciência. Ainda mais se for do tipo da Carol. Essa menina ama encher a paciência. Lembro-me das várias vezes em que me assustou, se escondia dentro do guarda-roupa e depois me dava um grande susto, chegava de mansinho... Ou quando ela quer se chata do tipo que fica apagando a luz quando você está lendo... Não consigo esquecer da primeira vez que ela viu o filme Ghost do outro lado da vida... Ela me encheu por três dias cantando a música do elefante. Eu estava para enlouquecer.... Quando ela inventou que queria o pikachu... Hoje quando penso nisso sinto vontade de rir... Eu agradeço por ter uma irmã. Todos os dias chegar em casa e ter uma pessoa para conversar sobre qualquer besteiras, ter alguém para dividir qualquer coisa... Principalmente os momentos, sejam eles bons ou ruins, nós vivemos tudo isso juntas... Crescemos juntas... Brincamos, aprontamos, brigamos... Toda a minha infância e adolescência foi ao lado dela... Amo tanto essa baixinha...
Carol é o tipo de menina que leva tudo na brincadeira... A pessoa mais sapeca que conheço. Tem aquele sorriso travesso e aquela carinha de anjinho que engana muita gente... Seu pudesse comparar ele com alguém seria... Com o pestinha. Acho que eles são parentes. Odeia estudar, jornal, acordar cedo, fazer as coisas de casa, arrumar a cama, claridade e lógico... Chocolate. Fico até admirada quanto a isso, pois, Carol é aquelas meninas que comem de tudo e não é pouquinho não... Fico pasma com a quantidade de coisa que ela consegue comer ao mesmo tempo e não se encher... Essa menina é um caso a ser estudado.... O sorriso é sua marca registrada... Um dos mais lindos que já vi... Aberto e sapeca... Acolhedor.
O amor que sinto pela minha irmã é incalculável... Não importa nossas brigas, nossas mágoas. Eu a amo acima disso tudo... Ela é aquela menina que fala as coisas errado, que te abraça apertado, que compra doces pra você, que te faz sorrir mesmo que esteja triste... Aquela que conhece os seus segredos e te ama... Na sua maneira de ser...Tenho medo de nunca mais olhar em seus olhos doces, ver suas sardas delicadas por cima do nariz e bochecha, escutar seu riso tão gostoso, de não mais escutar sua voz, suas piadas e suas declarações para o sorvete de morango, seu jeito engraçado e aquele completamente amoroso... Aquele abraço apertado e completamente suado... Aquele beijo molhado com cheiro de sorvete... Aquele jeito mimado e cheio de significados.
Carol tenho medo de você morrer... Tenho medo de te perder. Sei que um dia todos se vão, mas eu só queria ficar um pouco mais com você. Será que isso é pedi demais? Você é tão nova e cheia de vida... Mesmo que todos não acreditem que você possa ficar boa... Eu sempre manterei a fé que você vai sair dessa... Enquanto você estiver viva eu jamais vou desistir. Te amo minha irmã!
Suspirei... Era exatamente isso que eu queria falar para ela. Minha baixinha é tão forte!
Encarei Victoria que ainda esperava minha resposta.
-- Eu sempre irei acreditar que sim!
Vick sorriu e nós voltamos a ficar em silêncio. Cada uma perdida em pensamentos distantes.
Sou aquele tipo de menina que todos consideram certinha e sem defeitos, mas sinceramente não me considero assim. Todos têm defeitos e eu não sou uma exceção. Somos seres humanos e perfeição é algo muito distante de nossa realidade.
Tenho sorte em minha vida. Tenho uma família linda e maravilhosa, que eu amo incondicionalmente. Somos unidos e felizes, em nossa forma de viver. Nunca fui pressionada a nada, meus pais sempre foram compreensivos, até mesmo no momento que falei sobre minha orientação sexual para eles. Sei o quanto foi difícil para eles, no entanto, tudo que recebi deles foi o mais profundo e sincero... Amor. Amo os meus pais. Carol falou tudo o que eu também gostaria de falar deles.
Nunca fui uma garota do tipo Rebelde, grossa e briguenta... Só de pensar nisso sinto arrepios, não conseguiria ser assim, nem se tentasse. Acho que vocês já sabem que meu maior ato de rebeldia na vida foi namorar a Bia. Mas eu tenho uma justificativa para isso... Eu realmente gostava dela. Papai e mamãe achavam que ela era uma péssima influência para mim, afinal todos sabiam da fama de Beatriz. Mas eu nunca fui influenciável... Eu sempre fiz o que eu queria e não o que os outros diziam para eu fazer... Mesmo com meus pais contrários ao meu relacionamento , eu fiquei com ela... Até que depois de alguns meses percebemos que a gente se gostava apenas como amigas e Desse rolo todo surgiu uma pura e sincera amizade. Bia hoje é minha melhor amiga pro desespero da minha namorada.
Não posso estar falando sobre mim, sem falar da minha infância.... O quanto eu me divertir e fui feliz naquele tempo... Brincava com meus primos e minha irmã, mas eu sempre fui um pouco mais grudada na Érika. Nós fazíamos tudo juntas. Era muito grude... Eu não posso negar nesse momento que a Érika foi minha paixão de infância ( Isso fica apenas entre a gente) Eu tinha certo encantamento por ela... Era impossível não ter... A Érika é linda... Aqueles cabelos loiros com cachos nas pontas e aqueles olhos verdes. Fazia sucesso com os meninos desde novinha, mas ela nunca dava muito importância para isso... Sempre teve esse nariz empinado e essa pose de rainha.... Quem não a conhece tem uma impressão enorme de que ela é uma metida... Coisa que ela não é... Érika é muito reservada... Também né, com aquela família. Quantas vezes quando éramos crianças eu enxuguei suas lágrimas de tristeza... Ficava furiosa com o Júlio. Érika colocou aquela máscara de gelo por causa dele, mas no fundo ela é uma pessoa incrível... Quando ficamos adolescentes veio a fase das descobertas. Muitos meninos queriam ficar com ela, mas Érika sempre foi curta e grossa... E eu estava descobrindo o quanto as meninas eram encantadoras, sempre observava elas... Em uma tarde de um dia qualquer Érika bateu na porta do meu quarto. Percebi que ela não estava bem e corri para abraçá-la e confortá-la. Ela outra vez chorou e contou da discussão em sua casa. Não gostava de vê-la daquela jeito e fiz o possível para distraí-la... O que deu muito certo. Quando menos percebi Érika abria aquele lindo sorriso que sempre era para mim... Ficamos conversando bobagens até tarde... Deixei sem querer a folha que estava em minha mão cair e nós duas ao mesmo tempo agachamos para pegá-la... O toque de mãos, olhares e o beijo... Meu primeiro beijo... Foi muito bom... Depois ela saiu correndo, me deixando com cara de tacho... Alguns dias se passaram e nós conversamos sobre isso... Decidimos ficar por um tempo... Foi assim por uns três meses. Até eu perceber que sempre iria ver ela apenas como minha prima, era assim que eu gostava dela, mas a Érika já estava completamente envolvida por minha pessoa. Eu sei que ela sofreu quando eu coloquei um fim naquela nossa história, mas eu não poderia continuar com aquilo. O que ela sentia por mim, infelizmente não era correspondido... Infelizmente mesmo, porque a Érika é uma menina maravilhosa... Depois disso tudo... Ela mudou... Se afastou... Tentei me aproximar, mas ela nunca deixava. Começou a andar com a Daniela... Ficou com vários meninos, mas eu acho que ela percebeu que gostava mesmo era de meninas... Por algum tempo eu vi ela apresentar namorados falsos, para tentar disfarçar... Ela nunca mais foi a mesma comigo. Eu sempre quis ter a amizade dela novamente... Aquela cumplicidade. Agora estamos mais próximas e estou muito feliz com isso.
Rebecca... Já abro lindo sorriso apenas por pensar nela... Lembro-me como se fosse hoje da primeira vez que a vi... Geralmente eu ficava na sala de aula, pois não tinha nenhum motivo para sair dali. Não falava com ninguém naquele colégio além da minha irmã. As pessoas não queriam ser vista com a esquisita, não que eu me importasse para a opinião dessa gente, mas preferia ficar quieta no meu canto. Naquele dia, porém, foi diferente... Não sei o que deu em mim. Quando cheguei no colégio deixei meu material sobre a mesa e ao contrário do que sempre fazia, decidi sair da sala. Fiquei encostada em uma parede afastada de todos. Estava distraída olhando para a grama que havia ali... Tudo estava normal, até começarem o cochichos e burburinhos. Levantei os olhos para ver o que estava acontecendo e minha visão foi tomada pela mais bela imagem que já havia visto na vida... Ela estava Tímida e meio perdida, mas sua pose superior, contradizia o nervoso que via em seus olhos. Rebecca chamou a atenção de todo o colégio e mesmo nervosa, ela conseguiu se sair muito bem. Percebi que em meio aquela multidão de alunos, ela procurava alguém... Fiquei por um tempo a analisando... Seus cabelos sem dúvida chamavam a atenção, sua pele muito branca, seus olhos de mel, seu corpo que parecia flutuar enquanto andava, seu jeito de princesa... Tudo nela encantava. Meus olhos a seguiram quando ela caminhou em direção a Daniela com um lindo sorriso estampado... E que sorriso perfeito ela tinha, sem perceber também sorri. Percebi que estava fazendo papel de tola e resolvi sair dali e voltar para sala... Os próximos dias, semanas, meses e anos... O que eu mais fiz foi admirá-la. Percebi o tão doce ela era, mesmo sem nunca ter trocado uma palavra com ela. Todos os dias no intervalo eu saia para vê-la. Rebecca vivia grudada em Daniela e eu como não sou boba percebia que rolava muito mais que uma simples amizade entre elas.
Considerei que Rebecca era um sonho impossível e como uma menina sensata, eu não nutria nenhuma esperança que um dia ela viesse a saber que eu existia... Que um dia nos pudéssemos ter alguma relação... Mas o destino resolveu me ajudar e após dois longos anos eu finalmente tive minha oportunidade. Eu como a menina desastrada que sou, esbarrei sem querer no amor da minha... Em um dia qualquer e comum, mas que marcou para sempre a minha vida.
Não deixei aquela oportunidade passar e a agarrei como pude. Em nenhum momento eu quis conquistá-la... Não fiz joguinhos e nem a seduzi, apenas fui eu mesma... O que havia entre nós duas era muito mais que uma simples amizade, isso era perceptível... Eu sofria por não saber o que ela realmente sentia por mim e ainda tinha a Daniela, para causar ainda mais confusão. Nunca vou esquecer de quando ela falou dos seus sentimos por mim... Nosso primeiro beijo... Primeira vez... Tudo tão perfeito... Único.
Com o tempo fui conhecendo muito mais o meu amor... Ela é doce quando quer, mas também sabe usar sua arrogancia quando necessário... Ciumenta, mas no limite certo... Tímida apenas em alguns momentos, pois em outros ela se transforma... Carinhosa, manhosa, carente, simples, sensível sorridente, brincalhona e amável... Fico horas escutando ela falar e admirando o seu jeitinho... Sua voz é como as mais lindas melodias, eu amo escutá-la... O jeito como mexe nos cabelos, as caretas engraçadas, como ela aperta os olhos, o sorriso, a forma como me olha. Tudo nela é perfeito... Perfeito para mim... Não tenho palavras para falar sobre o meu amor por ela... Ela é sem dúvida alguma, a mulher da minha vida... E eu digo isso com toda a certeza que existe em mim e não é apenas por eu ser uma garota jovem sem experiência no amor... Se o primeiro amor é inesquecível, então quero vivê-lo por toda vida... E apesar de todas as barreiras que ainda vamos enfrentar... Eu estou disposta a não desistir... Por nada nesse mundo... Enquanto a Rebecca for minha... Eu serei dela.
-- LUIZA! - Vick praticamente berrava.
-- Oi...
-- Nossa, você estava viajando legal na maionese - disse sorrindo.
Sorri.
-- Estava mesmo.
Observamos o grupinho que Victoria estava antes e Gustavo fez sinal para ela se aproximar. Percebi que Vick suspirou e abaixou a cabeça.
-- Por que você está namorando esse garoto, Victoria?
Ela ficou um tempo em silêncio.
-- Gosto dele.
-- Pode até gostar, mas não do jeito que deveria.
-- É complicado Luiza - falou angustiada.
-- Sim, eu sei que é... Mas entenda uma coisa Vick... Fugir é pior.
Ela abriu a boca para falar algo, mas o sinal tocou nesse momento, indicando que o intervalo havia acabado. Não falamos mais nada e cada uma foi para sua respectiva sala.
Durante a tarde Rebecca foi em minha casa. Conversamos sobre várias coisas.
-- Como anda as coisas em sua casa, meu amor? - perguntei carinhosamente.
-- Pior impossível... Papai está irredutível. Falta apenas alguns dias, Luiza...
Rebecca estava angustiada e eu também estava. Eu estou com medo do que irá acontecer daqui pra frente, mas não poderia demonstrar isso para ela.
-- Amor... Olha pra mim - segurei seu rosto com carinho - Não importa a distância ou o tempo... O quanto for preciso... Eu vou te esperar... Se você estiver comigo... Então nada nesse mundo será capaz do nos separar... Porque enquanto você me amar e me querer... Eu serei sua... Apenas sua.
-- Eu sempre vou te querer Luiza... Sempre vou te amar....
Nos beijamos com carinho, amor, paixão... Quando as coisas começaram a esquentar, Carol entrou em meu quarto... Sem bater como sempre.
-- Opa! Acho que tô atrapalhando... - disse com ar de riso.
Rebecca Levantou-se rapidamente e quase caiu. Eu a segurei pela cintura. Minha namorada estava visivelmente sem graça, seu rosto estava corado.
-- Êee ruivis... Acalma seu coração mulher - Carol estava se divertindo.
-- Carolina, o que eu disse sobre bater na porta antes?
Carol fez uma careta por eu ter falado o nome dela.
-- É... Acho que realmente agora, eu preciso começar a bater na porta... Vai que meus olhos puros... Ver coisas impróprias né - disse debochada.
Revirei os olhos.
-- O que você quer, Carol?
-- Nada... Eu só vim perturbar vocês um pouquinho... - Ela aproximou-se e encarou Rebecca - Não precisa ficar igual um tomate ruiva... Eu tô ligada nas coisas.
Minha irmã não esperou convite e se sentou em minha cama. O resto dia passamos conversando bobagens. Carol estava louca de vontade de tomar um sorvete de morango, mas ela não podia, ou seja, ela estava toda mole e resmungando de tudo. Rebecca voltou para casa já era noite e eu fiquei com meus pensamentos perdidos em algum lugar. Érika veio estudar comigo e acabou percebendo que eu estava aérea.
-- O que tá acontecendo Luiza? - Ela enfim perguntou, depois de eu ter respondido mais uma questão de física errado, sendo que faço isso de olhos fechados.
-- Nada... Só estou pensativa.
-- Sinto que você está angustiada... - Érika me observava atentamente.
-- São apenas alguns problemas...
-- É sobre a viagem da Rebecca?
-- Vejo que todos já sabem... - disse tristemente.
-- É o comentário da vez na cidade.
-- Pois é...
-- Está com medo?
-- Sim... Muito... - confessei.
-- Do que? - perguntou séria.
-- Dela me esquecer
-- Meio improvavel isso - disse com a voz num tom diferente.
Eu a encarei.
-- Como pode saber disso?
-- Luiza... Vocês duas se amam e você é uma menina perfeita... Você é inesquecível - disse com um brilho diferente nos olhos. Ela desviou o olhar - Se vocês duas querem... Então a distância é apenas um mero detalhe... Lembre-se que sempre uma terá que ceder e nesse caso é a Rebecca, que isso não se torne um motivo para ela te jogar na cara depois... Tem pessoas que estão sempre juntas e é apenas por conveniência... Pessoas presas a uma relação onde não existe amor e muitas vezes até o respeito é perdido... Uma relação fracassada... Pessoas não podem e não devem viver de migalhas.... - Ela sorriu - Eu me pus a falar sem parar né?
-- Sim... Mas foi interessante... Não vou me angustiar antes da hora... Vou aproveitar esse tempo que nos resta ao máximo.
-- Você está certíssima.
Fiquei um pouco mais calma e conseguir estudar com minha prima...
Era uma tarde de segunda-feira. Estava quente. Carol tinha ido fazer um exame e mamãe a acompanhou. Érika estava na casa de uma amiga... E Rebecca tinha saído com a mãe.
Eu estava deitada escutando música no volume bem baixo. Não gosto de barulheira. Sou chata mesmo... O sono estava quase me vencendo quando escutei o som da campainha... Levantei com uma certa dificuldade e caminhei lentamente em direção a porta... A abri...
Acho que de todas as pessoas que imaginei que estariam batendo em minha porta... Essa sem dúvida era a última da lista.
Aquele homem com jeito superior, terno caríssimo, cabelo e barba perfeitamente aparados... Cabelos vermelhos e um olhar azul extremamente congelante... Senti o ar me faltar ao deparar-me com a figura imponente de Clark Thompson.
Ele me analisou da cabeça aos pés e quebrou o silêncio que nos cercava.
-- Olá Ana Luiza...
Sua voz me causou um arrepio nada agradável.
-- Não vai me convidar para entrar?
-- Oh, claro - me afastei dando espaço para ele passar.
Clark olhou em volta e sentou-se no sofá menor. Eu fechei a porta e caminhei a passos hesitantes em sua direção. Sentei no sofá maior de frente para ele. Ele tinha um olhar frio e observador.
Naquele momento eu já tinha consciência que o pai da minha namorada sabia de nós duas. Seja lá o que ele tenha vindo fazer aqui, coisa boa não deve ser. Eu estava preparada para tudo naquele momento. Enfrentaria o mundo pela minha Rebecca. Uma força tão grande tomou conta de mim... A força do amor que eu sentia por Rebecca... E aquele homem na minha frente não me causava mais medo... O encarei seriamente... Eu não queria rodeios nem meias palavras.
-- Diga o que você tem a dizer - Uau... Eu mesma me surpreendi com tom de minha voz.
Clark sorriu... Não havia sido um sorriso de deboche. Pelo menos não que eu tenha percebido.
-- Você é prática menina... Sabe... Olhando para você agora... Posso dizer que minha filha tem bom gosto. Você é muito bonita e pelo que percebi, muito... Corajosa também.
Mordi os lábios nervosa.
-- E como você foi tão direta... Eu também serei. Quanto você quer para se afastar em definitivo da vida de minha filha?
Apertei os lábios e trinquei os dentes. Era aquilo mesmo que eu estava ouvindo? Que absurdo!
-- Nenhum dinheiro no mundo será capaz de me afastar de sua filha! Nada do que o senhor me aforecer! - Eu estava irritada com aquele homem.
Ele permaneceu exatamente da mesma forma que estava. Não moveu um músculo. Ficou me encarando e sorriu.
-- Imaginei que essa seria sua resposta - disse calmamente - Sabe Ana Luiza... Eu sempre dei o melhor para a Rebecca... Ela sempre foi tratada como uma princesa... - ele levantou e caminhou lentamente em direção ao quadro que havia da minha família ali. Meus pais, eu e Carol... Ficou observando a fotografia - Você tem uma família bonita...
Senti um forte arrepio apenas dele falar sobre minha família. Ele virou-se para me encarar.
-- O que você seria capaz de fazer por eles?
Eu senti meu coração apertado e o ar me faltar. Era tão óbvio que aquele homem poderoso iria atacar minha família.
-- Eu sabia que você não iria se interessar pela minha proposta de dinheiro... Então obviamente eu tenho que apelar... Não quero o nome de minha família manchado com essa vergonha. Farei o possível para que isso não ocorra e não importa o que eu tenha que fazer. Luiza você é uma menina inteligente... Sabe que sou um homem poderoso... Se eu quiser acabar com sua família... Então assim eu faço.
-- Você não tem esse direito! - gritei.
-- Claro que tenho! Estamos falando da minha filha aqui! Eu quis apelar para o bom senso dela, mas Rebecca está cega... Virou uma menina rebelde... Deixou de ser aquela filha obediente.
-- Ela apenas tem o direito de ser feliz! Mas acho que a felicidade da sua filha nunca foi importante para você! Um homem que vive preocupado com as aparências... Que nunca foi capaz de entender a sua unica filha! Rebecca é um ser humano e não uma boneca que você pode controlar! - estava descontrolada.
-- É claro que a felicidade da minha filha é importante. Um dia no futuro ela vai perceber que tudo que eu fiz foi para o bem dela.
-- Não me faça rir.
-- Não vim aqui para ficar discutindo sobre isso... Vim te fazer uma proposta...
-- Não estou interessada, já disse!
-- Apenas me escute Ana Luiza.
Suspirei e voltei a sentar no sofá, nem tinha percebido que havia ficado de pé.
-- Eu posso acabar com sua família - disse seriamente - Sou poderoso para isso... Posso fazer seu pai perder o emprego e nunca mais conseguir um.
-- Meu pai é um médico brilhante... Tenho certeza que ele conseguirá outro emprego, onde pessoas não aceitem suborno.
-- Sim... Ele pode até conseguir, mas eu garanto que isso vai demorar...
-- Não tem problema... A gente se vira do jeito que pode.
-- Obviamente você não pensou que esse momento é delicado e que ficar sem dinheiro seria trágico...
Abaixei a cabeça e mordir os lábios. Acho que nesse momento eu já começava a me desesperar.
-- Sua irmã está precisando de ajuda Luiza... Ficar sem dinheiro agora... Seria muito difícil... Tudo que eu quero nessa história toda é que todos fiquem bem e que eu não precise fazer coisas piores para você se afastar da minha filha.
Nesse momento eu não conseguia mais segurar as lágrimas. Estava desesperada... Se ele fizesse o que estava dizendo, então teríamos sérios problemas. Minha irmã precisa de cuidados e os melhores médicos, mas isso custava muito dinheiro... Me desesperei profundamente, tanto que eu soluçava em meio ao choro.
-- Ana Luiza o que vou lhe propor é algo muito interessante - ele amenizou a voz - Se você prometer se afastar da Rebecca... Eu prometo que não farei nada contra a sua família... Além disso, tenho outra proposta para você... Se quiser posso pagar todo o tratamento de sua irmã. Ela poderá se cuidar com os melhores especialistas em sua doença e não estou falando apenas do Brasil e sim do mundo. Tenho dinheiro suficiente para isso...
-- Eu não quero a merd* do seu dinheiro! - gritei em meio ao choro.
-- Não seja orgulhosa... Isso será muito importante para sua irmã. Não garanto que ela ficará boa, mas posso garantir que as chances dela serão maiores... Não adianta você persistir em sua relação com minha filha, estando na miséria e acabando com sua família e com a oportunidade de sua irmã se recuperar... Pense nisso Luiza... Você terá até amanhã para me dar uma resposta... Caso contrário serei obrigado a fazer tudo que estiver ao meu alcance e acredite... Não terei nenhum remorso.
Ele se afastou caminhando a passos firmes em direção a porta.
-- O senhor não merece a filha que tem... - disse baixinho, mas ele escutou.
-- Tudo que estou fazendo é para o bem dela... - disse abrindo a porta e antes de fechá-la me encarou uma última vez - Você tem até amanhã para decidir... Não esqueça!
Ele se foi me deixando em pranto... Chorei... Chorei muito... Chorei por tudo, mas principalmente por saber que eu não tinha escolha, apesar de parecer que eu tivesse... Ele me deixou sem opção alguma... De mãos atadas... Eu estava derrotada.
Depois de muito chorar eu levantei, tomei um banho e me tranquei no quarto. Não quis falar com ninguém, mamãe tentou me convencer a comer, mas inventei uma mentira, estava sem fome. Ignorei todas as mensagens do meu amor, não conseguia falar com ela naquele momento. Eu só queria ficar sozinha e pensar. Eu não consegui dormir, vi a noite virar dia e permaneci no quarto. Quanto mais as horas se passavam mais eu sentia meu coração ficar apertado. Eram quase cinco da tarde quando resolvi levantar e tomar um banho. Parecia que o peso do mundo estava sobre minhas costas... Eu praticamente me arrastava. Peguei meu celular e tinha várias mensagens de Rebecca, com certeza ela estava magoada. Me arrumei e por sorte não havia ninguém pela casa. Sai... Em direção a casa do amor da minha vida e cada passo que eu dava sentia meu coração ficar ainda mais apertado, não segurei as lágrimas, deixei elas rolarem pelo rosto livremente. Quando cheguei em frente à casa de Rebecca, fiquei um tempo parada. Limpei meu rosto e respirei fundo várias vezes. Estava tremendo. Hesitei por um momento e logo depois toquei a campainha. Não demorou muito e eu já estava dentro da casa dela. A primeira pessoa que eu vi foi Clark, que sorriu para mim, eu mal consegui encará-lo. A mãe de Rebecca deixou eu subir para o quarto da filha. A cada passo que eu dava era um tortura, parei muitas vezes, até que respirei fundo e conseguir caminhar de modo mais firme. Não bati na porta do quarto dela, eu simplesmente entrei...
Rebecca estava em pé e olhava para janela. Seus olhos estavam fixos em alguma coisa no seu belo jardim. O sol sobre ela a deixava ainda mais linda do que já era....
Ela percebeu que não estava sozinha e virou-se. Seus olhos pousaram sobre os meus e eu vi neles, tristeza e mágoa. Não conseguir encará-la e desviei o olhar para um canto qualquer. Estava um silêncio perturbador. Apesar de não olhar para ela eu sentia o peso do seu olhar sobre mim. Eu estava sendo analisada. Rebecca caminhou alguns passos em minha direção, ficando a uns cinco metros distante de mim.
-- O que aconteceu? - Ela estava triste, era perceptível em sua voz.
Senti vontade de abraçá-la e dizer que tudo estava bem, mas não fiz.
Respirei fundo.
-- Precisamos conversar... - Sei que essa é a pior frase que alguém gostaria de ouvir, mas não conseguir pensar em outra.
Ela apertou os olhos.
-- Fale...
Fechei os olhos e respirei fundo. Eu precisava de forças... Muita força.
Eu já conseguia sentir o quanto ela estava distante de mim naquele momento. Voltei a encará-la e caminhei alguns passos em sua direção.
-- Andei pensando nesses últimos dias... Falta apenas cinco dias para sua viagem - apertei minhas mãos fortemente - Ainda somos novas... Temos a vida inteira pela frente, Rebecca... Acho que isso nunca vai dar certo... Acho que cada uma devia seguir sua vida...
Ela apenas me encarava. Acho que ainda processava tudo que eu havia dito. Percebi que ela começou a tremer.
-- Você... Você está ter-terminando comigo? - disse com dificuldade.
Abaixei a cabeça... Não conseguia encará-la. Eu não podia voltar atrás...
-- Sim, Rebecca - falei firmemente e a encarei.
-- Não... - seus olhos ficaram marejados e ela caminhou rapidamente em minha direção, me abraçando apertado - Não diz isso... - sussurrou e eu pude sentir suas lágrimas molhando meu ombro.
Engoli o choro... Precisava fazer isso de forma rápida. Me afastei dela, que me olhava com tanta dor. Seus olhos estavam banhando em lágrimas. Me senti um lixo em saber que eu estava fazendo aquilo com ela.
-- Rebecca isso nunca vai dar certo... Segue sua vida e eu seguirei a minha... Eu desejo de todo o meu coração que você seja muito feliz.
Eu vi toda aquela dor se transforma em furia.
-- O QUE ACONTECEU, LUIZA?! ATÉ ONTEM VOCÊ JURAVA QUE NUNCA IA ME DEIXAR! QUE ME AMAVA MAIS QUE TUDO! QUE MERDA DE AMOR É ESSE HEIN? ME DIZ! - Ela gritava descontrolada - VOCÊ NÃO ME AMA MAIS, É ISSO?! DIZ ALGUMA COISA!
Rebecca andava de um lado ao outro descontrolada. As lágrimas desciam e ela não fazia nenhuma questão de escondê-las.
-- Rebecca esse negócio de esperar para nós ficarmos juntas não é para mim - Eu tentava ser firme em minhas palavras, não queria mágoa-lá, mas isso era algo impossível - Você ainda é nova... Têm muitas coisas para viver ainda, assim como eu... Não podemos ficar presas a esse tipo de relação.
Ela me encarou com tanta mágoa.
-- A esse tipo de relação, Luiza?... Quando a gente ama isso não importa! Você não me ama mais é isso? - senti que ela estava com medo da minha resposta.
-- Eu não sei... - fechei os olhos para não ver a reação dela.
-- Luiza... Você está apenas confusa... Amor, me diz o que eu tenho que fazer pra você mudar de ideia... Me diz, por favor... Você não pode me deixar desse jeito... - disse chorando - Você não pode jogar tudo que vivemos assim... Se quiser eu não viajo... Fico com você... Eu enfrento tudo por você e só você me querer - disse me abraçando novamente - O problema é comigo? Eu mudo, amor... Prometo que eu mudo... Eu mudo tudo por você... Só não me deixa, por favor...
Eu não consegui segurar as lágrimas. Pensei em ceder... Eu a amava com loucura. Meu coração tava em pedaços. Tudo me mim doía... Me afastei dela com muita dificuldade. Rebecca não teve forças para ficar de pé e sentou-se no chão.
-- Você não precisa mudar em nada... Você é perfeita assim...
-- Mas isso não é o suficiente pra você!
-- Eu quero aproveitar minha vida Rebecca. Não vou aguentar te esperar por anos...
-- Se você quiser eu não viajo, amor... Já disse... Fico com você.
-- Isso não é tão fácil assim, Rebecca. Você é menor... E eu não quero estragar sua vida... Melhor a gente segui as nossas vidas...
-- Não me deixa Luiza... Eu amo tanto você... Porque você fez eu te amar dessa maneira, se não conseguiria manter as suas várias promessas? Tem noção que você está me destruindo?.... Por favor, não me deixa...
-- Eu não posso, Rebecca - disse com os olhos cheios de lágrimas.
-- Você não percebe que estou me humilhando pra você?
-- Não faça isso... - Eu precisava sair dali - Não posso ficar com alguém que eu nem sei se amo... Rebecca segue sua vida... O que nós tínhamos acabou nesse momento! Desculpa por tudo... O que nós vivemos será guardado dentro de mim para sempre... Quem sabe o destino não faça com que nossos caminhos se cruzem novamente e assim poderemos ficar juntas... Mas esse não é nosso momento... Sinto muito.
Rebecca se levantou e limpou as lágrimas.
-- Eu espero nunca mais cruzar com você na minha vida... Vá a merd* com todas aquelas suas promessas... Não sabe se me ama? Até ontem jurava amor... Como você é falsa, Ana Luiza... Foi bom o quanto você pode se divertir com a bestinha aqui né? Agora que eu preciso realmente que você prove algo para mim... Você se manda... Realmente você não merece o amor que sinto por você... E eu juro que vou deixar de te amar... some da minha frente! - Ela estava fria como um gelo.
Eu senti um arrepio... Nunca tinha visto ela desse jeito. Fiquei paralisada.
-- Sua covardia me enoja! SOME DAQUI! NUNCA MAIS EU QUERO TE VER! SAII! - disse gritando.
Eu despertei e sai tropeçando nas coisas. Eu estava destruída, meu coração estava em pedaços. As lágrimas que tanto segurei, agora desciam sem controle. Desci a escada rapidamente e encontrei com Clark na sala.
-- Espero que o senhor esteja satisfeito com o sofrimento da sua filha... Espero nunca mais ver o senhor na minha vida!
-- Você fez o que era certo Luiza... Ninguém morre de amor... Minha filha logo ficará bem - disse tranquilamente.
-- Você não pode ser chamado de pai - disse caminhando em direção a saída.
-- Um dia minha filha ficará agradecida pelo o que eu fiz...
Não perdi meu tempo tentando responder aquele homem. Sai da casa do amor da minha e andei sem rumo algum... Tudo em mim estava doendo... Eu me sentia vazia. Não conseguia parar de chorar... Havia magoada a menina que eu mais amava na vida. Estava realmente mal.
Se eu ficasse com a Rebecca... Então todos nós estaríamos na ruína. Meu pai ficaria sem emprego, claro que ele poderia conseguir outro, mas com a influência de Clark, isso poderia demorar a acontecer. Mas com certeza isso foi a coisa que menos pesou para mim, tenho certeza que conseguiríamos vencer essa crise juntos. O que mais pesou e talvez fosse meu calcanhar de Aquiles... Minha irmã... Papai não poderia ficar sem emprego com uma filha doente para cuidar e depender do governo não era nada bom... Tempo era algo que minha irmã não poderia perde... Não com essa doença terrível. Sabendo que ela precisaria de muitos cuidados e provavelmente de um transplante... O que aquele homem me ofereceu foi chances maiores da Carol se recuperar... Mesmo que talvez isso não acontecesse, eu jamais me perdoaria se não tivesse tentado... Minha irmã naquele momento era coisa mais importante... Ela estava com uma doença que poderia matá-la... E eu amo minha irmã... Amo ela tanto mais tanto... Talvez algumas pessoas não me compreendam, mas eu nunca seria feliz com Rebecca sabendo que eu poderia ter feito diferente com a Carol... Se ela morresse... Eu jamais me perdoaria... Não sabendo que eu tive a chance de ajudá-la... Eu não estava arrependida... Isso eu nunca ia sentir, mesmo que acontecesse o pior... O importante é que vou conseguir ajudar a minha maninha.
Rebecca... Essa eu sempre vou amar... Me sinto tão mal por saber que ela sofre por minha causa... Eu também estou sofrendo... Isso dói demais... Não é fácil abrir mão da garota que você ama... Eu ainda carrego em meu coração a esperança de um dia quem sabe não poderemos ficar juntas... Talvez seja apenas uma ilusão da minha cabeça, mas sonhar faz parte... Rebecca provavelmente nunca mais vai deixar eu chegar perto dela... Até consigo compreendê-la... Mas eu ainda não havia desistido dela. Esperaria minha irmã se recuperar e procuraria por ela... Ela pode até não me querer mais... Mas saberia como era seu pai de verdade... Sei que ela vai ficar bem, como diz a Bia... Ninguém morre de amor, você apenas sofre, mas isso o tempo se encarrega de curar... Mesmo que eu sofra muito... Só desejo que a Rebecca seja feliz, mesmo que não seja ao meu lado... Cara.. Isso dói demais.
Depois de muito andar e pensar na vida. Eu decidir ir na casa de Beatriz. Já estava noite, quando bati em sua porta. Escutei ela gritar e depois abriu a porta. Não esperei mais nada para me jogar em seus braços e chorar igual um bebê. Bia não perguntou nada, apenas me deu colo por um bom tempo. Fiquei um pouco mais calma. Contei tudo para ela que me escutava atentamente, as vezes fazia umas caretas.
-- Eita que hoje é o dia de vocês sofrerem hein...
-- Como assim? - perguntei sem entender nada.
-- Mais cedo a Thaís veio chorando também. A idiota da Karina deixou ela e a Tata tá mal pra caramba. Ela só voltou pra casa agora pouco.
-- Nossa...
-- Tava na cara que isso ia acontecer né... Todos sabem que a Karina é uma piranha de quinta...
Fiquei pensativa por um tempo.
-- Está arrependida?
-- Não... Estou apenas com saudade.
-- Ai Luiza... Eu imagino o quanto isso tudo está sendo difícil pra você... Mas fique sabendo que sempre estarei aqui... Pra tudo que você precisar.
Bia me apertou e beijou minha bochecha.
-- Essa coisa de amor e foda demais né?
Eu sorri... Um sorriso fraco, mesmo assim foi um sorriso.
-- Não tenha dúvidas.
-- Por isso que eu sou vida louca... Amor é para os fortes... Eu prefiro sex*!
-- Você é louca.
-- Louca eu tô pra fumar um baseado.
-- Beatriz! - a repreendi.
-- O que foi madre Teresa?
-- Você não tem jeito mesmo né?
-- Oxi, o que eu fiz? - disse fingindo inocência.
-- Sei... Um anjo você né... - disse olhando em volta - Bia que horas é isso?
-- Acho que umas dez... - disse tranquilamente.
Eu levantei num pulo.
-- Caramba... Eu tenho que ir pra casa... Obrigada por tudo, Bia - disse a abraçando apertado.
-- Foi nada meu amor... Fica bem... - disse beijando o meu rosto.
Corri em direção a minha casa. Graças a Deus, mamãe não me fez muitas perguntas, mas acho que percebeu os meus olhos inchados e papai também. Abracei os dois e beijei... Depois fui para o meu quarto... Assim que entrei as lembranças vieram fortes e eu não aguentei e chorei igual um bebê... Chorei por muito tempo... Chorei a falta que ela já me fazia... Chorei por saber que faltava poucos dias para a viagem dela... Chorei de desespero por talvez nunca mais poder tocá-la. Chorei de tristeza, chorei de saudade... Eu queria tanto ela pra mim... Mas naquele momento, Rebecca estava inalcansavel.
Depois de algum tempo... Fui tomar um banho... Me arrumei e sentei na minha cama... Estava aérea... Parecia que estava fazendo tudo no automático. Senti medo de ficar ali, eu me senti sozinha... Me levantei e caminhei em direção ao quarto de Carol. A porta estava meio aberta e eu entrei, ela assistia alguma coisa na TV e sorriu para mim.
-- Luhh - sussurrou.
-- Posso dormir hoje com você? - perguntei.
Ela abriu um lindo sorriso.
-- Claro maninha... Sua medrosa - disse dando espaço na cama e batendo - Vem... Deita aqui...
Nao pensei duas vezes deitei ao seu lado. Carol estava sentada na cama e colocou o travesseiro sobre sua perna, coloquei minha cabeça sobre e observei a televisão.
-- Não é filme de terror né? - perguntei temerosa.
Ela riu.
-- Não né, Luh... Não tá vendo que é desenho...
-- Vai saber né...
-- Muito bocó você...
-- Como foi no médico hoje?
Carol ficou um tempo em silêncio.
-- Vou precisar fazer o transplante...
Me aconcheguei ainda mais, apertando ela.
-- Como você está se sentindo? - perguntei carinhosa.
-- Não sei... Sinto um pouco medo.
-- Tudo vai ficar bem, meu amor... - Eu tentava mais me consolar do que consolar ela.
-- É difícil encontrar alguém compatível...
-- Tenho certeza que vão encontrar - minha fé também era enorme.
-- Você não me parece bem... - disse me analisando.
-- É impressão sua, Carol... - disse tentando segurar as lágrimas.
-- Sei... E eu tenho um pikachu... Você é péssima pra mentir, Luiza - disse irônica.
-- Eu só quero ficar quietinha, Carol...
Ela percebeu minha voz de choro e passou a fazer carinho nos meus cabelos.
-- O que tiver que acontecer... Vai acontecer... Não podemos mudar nossos destinos... Eu sempre vou estar aqui com você... Sempre... Não se esqueça disso... Tudo sempre melhora... É só esperar o tempo certo... Não tenha medo, Luh... Apenas aproveite as coisas boas da vida.
Eu não consegui mais segurar as lágrimas. Minha irmã fez Cafuné e cantou para mim, até eu ficar mais calma e sentir o sono me vencendo.
Dormir agarrada aquela menina... Que sempre esteve ao meu lado... Que apesar das brigas e mais brigas... Eu amava incondicionalmente... Eu não tinha arrependimento de nada...
Minhas escolhas.... Minhas consequências...
Talvez eu nunca mais ficasse com a Rebecca... Nunca mais a visse, mas eu sabia que naquele momento essa era a melhor decisão...
Não por mim, não pela Rebecca... E nem pelo nosso amor....
Mas pela vida... Pela vida da minha irmã... Por Carol...
Eu seria uma menina pela metade... Mas se fosse para ver o sorriso da minha irmã todos os dias...
Então eu poderia dizer... Que tudo valeu a pena...
Fim do capítulo
Sinto muito por toda essa demora.. Aconteceram algumas coisas... E eu tive que praticamente reescrever esse capítulo. Não sei se ficou bom, mas espero que gostem. Farei o possível para não demorar tanto.
Beijos moças.
Até mais.
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perolams
Em: 04/06/2016
Que bom que voltou! Capítulo triste, mas não havia outra decisão a ser tomada, era proteger ou proteger as chances de Carol ter um tratamento mais eficaz, mesmo sofrendo as consequências de "perder" o amor da sua vida. Esse Clark deveria viver muito para amargar as consequências de fazer uma maldade dessas com a própria filha. Tô sentindo falta de Julia nos últimos capítulos, é um ótimo momento pra ela aparecer mais.
Resposta do autor em 04/06/2016:
Perolams... Demorei, mas voltei. 😊
Sim... Luiza não tinha nenhuma decisão, nem mesmo escolha... Era a vida da irmã... Chances maiores de cura... É para isso ela abriu mão de viver seu amor com Rebeca.
Verdade isso que vc disse... Tenho certeza que ele um dia vai se arrepender do que fez a filha.
O último capítulo... Vou tentar falar um pouco de todas elas... Para ninguém sentir falta... Julia tá merecendo aparecer um pouco mais mesmo.
Beijos!
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gessik
Em: 04/06/2016
Ainnnn meu coração quase parou agora, que bom que voltou Stelinha lindaaaaa. Amei o capitulo sem sombra de duvidas,ja aguardo o proximo.
Xerinho coisa linda 😍
Resposta do autor em 04/06/2016:
Gess! Tava com saudade disso aqui!
Eu queria muito ter voltado antes... Mas eu meio que travei... Rsrs... O próximo já quase perfeito.
Que bom que vc gostou 😊
Xerinho Gess! 😉
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