Ela parecia um anjo dormindo... Flávia... Contemplei o seu rosto sereno, aquele corpo... Mas a realidade me esperava. Olhei as horas e já se passavam das oito e quarenta da noite, a qualquer momento Danilo e o restante poderiam chegar.  Vesti minhas roupas e lágrimas molhavam meu rosto, ela dormia tão tranquila... O que eu fiz foi tão errado, tão... Mas eu não consegui, simplesmente não consegui resisti a vontade de sua pele, sua boca... Dela por completo... Eu não queria dar nomes a tudo que sentia, eu não poderia seguir em frente com aquela loucura.

 

- Perdão... Meu amor...

 

Beijei os seus lábios, toquei o seu rosto, cobri seu corpo nu, observei a tatuagem.

 

“The sky is the limit”. Li em minha mente.

 

- O céu é o limite... – sorri.

 

 A olhei mais uma vez e logo sai daquele quarto... Fui para o meu e na cabeça um milhão de questionamentos... Tomei um banho longo, eu não queria, porém precisava tirar o cheiro dela do meu corpo... Chorei!

 

Inventei mil e uma desculpa para ficar pois sabia que Flávia não iria à pizzaria, Danilo até insistiu para ficar, mas no fim consegui convence-lo a ir. Sentei no azulejo frio do banheiro, relembrei cada momento há pouco vivido...

 

“O que farei? Como vou agir depois do acontecido? Meu Deus! Como vou encarar o Danilo... O pior de tudo... Como vou encarar ela?”. Sai do banho, vesti uma roupa larga e deitei com a mente um caos, logo adormeci.

 

- Ela ama a chuva. Você acertou quando escolheu o nome de nossa menina...

 

Olhei para a menina com cabelos loiros correndo na areia molhada, no horizonte o mar, eu estava sentada em uma cadeira de balanço, olhei para o lado e uma mulher segurava minha mão, olhando sorridente para aquele pequeno ser brincando na chuva. Senti uma paz me invadir, olhei novamente para a menininha e uma alegria tomou posse de meu coração.

 

- Ela é linda... – senti minha mão sendo apertada com carinho.

 

- Ela é parece com você... Nossa menina está crescendo. – olhei para a mulher ao meu lado, mas apenas a via de perfil. Cabelos castanhos lisos e longos, pele levemente bronzeada. Senti uma grande emoção ao olha-la. Parecia tanto com... – Iara, minha filha assim você ficará resfriada...

 

 “Vive dentro de mim, como num rio

 

Uma linda mulher, esquiva e rara,

 

Num borbulhar de argênteos flocos, Iara

 

De cabeleira de ouro e corpo frio.”

 

- Amanda? Abre a porta meu amor. – despertei daquele sonho com Danilo a me chamar.

 

- Desculpe, acabei dormindo. – eu não pude olha-lo nos olhos.

 

- Tudo bem? – ele segurou meu rosto entre as mãos e me encarou.

 

- Sim... Apenas tive um sonho estranho. – Passei a mão nos cabelo.

 

- depois você me conta. Vou tomar um banho e descemos. Ta bem?

 

- Sim... Vou trocar de roupa. – Danilo tentou me beijar, mas me esquivei.

 

- Ta bem mesmo?

 

- Sim... – lhe dei um selinho. Ele foi para o banheiro.

 

Passei a pensar no sonho e como ele era realista, aquela ao meu lado era ela, Flávia... Ao olhar aquela garotinha senti um amor enorme por aquele ser... Que loucura.

 

- Iara...

 

Eu não conseguia esquecer aquele sonho e ao descer, olhei pela enorme porta de vidro, Flávia estava sentada com Paloma, Cássia e Rebecca a beira da piscina, ao seu lado o violão. Ela me olhou e tudo que senti naquele sonho me atingiu ainda mais forte, eu tentei ser indiferente ao sorriso que estava em seu rosto, mas não consegui... Sorri de volta. Permanecia na sala com os pais de Danilo e de Flávia, que contavam peraltices deles quando criança. Ninguém escapou das lembranças.

 

- Uma vez o Danilo apareceu no nosso quarto, não é amor? Com um absorvente e no rosto uma grande interrogação de como se usava aquilo. – todos caíram na gargalhada, fazendo Danilo corar. Ainda bem que meus pais não puderam vim, na certa contaram minhas inúmeras perolas de quando eu era criança.

 

- Flávia quando tinha dez anos apareceu em casa vestida de menino e com os cabelos curtíssimos, nós quase tivemos um ataque cardíaco. – olhou para ela lá fora e eu acompanhei seu olhar. - Mas depois quase morremos mesmo foi de rir de sua explicação. – olhou para o marido com um sorriso. – Ela nós disse que havia virado menino, porque ser menina era horrível. Perguntamos o por que e ela disse que na aula de educação sexual a professora havia mostrado vídeos sobre partos. – as gargalhas foram muitas.

 

Olhei novamente para ela, estava com o violão e se preparava para cantar, todos percebendo isso se calaram para vê-la e ouvi-la. Ela sorriu e uma melodia invadiu nossos tímpanos.

 

 

 

Eu só quero que saiba

 

Que estou pensando em você

 

Agora e sempre mais

 

Eu só quero que você ouça

 

A canção que eu fiz pra dizer

 

Que eu te adoro cada vez mais

 

E que eu te quero sempre em paz

 

 

 

Tô com sintomas de saudade

 

Tô pensando em você

 

Como eu te quero tanto bem

 

Aonde for não quero dor

 

Eu tomo conta de você

 

Mas te quero livre também

 

Como o tempo vai e o vento vem

 

 

 

Eu só quero que você caiba

 

No meu colo

 

Porque eu te adoro cada vez mais

 

Eu só quero que você siga

 

Para onde quiser

 

Que eu não vou ficar muito atrás

 

 

 

Tô com sintomas de saudade

 

Tô pensando em você

 

Como eu te quero tanto bem

 

Aonde for não quero dor

 

Eu tomo conta de você

 

Mas te quero livre também

 

Como o tempo vai e o vento vem

 

 

 

Eu só quero que você saiba

 

Que estou pensando em você

 

Mas te que livre também

 

Como o tempo vai e o vento vem

 

E que eu te quero livre também

 

Como o tempo vai e o vento vem

 

 

 

Marisa Monte – A Sua

 

 

 

Ela abriu os olhos, vi ao longe ela enxugar uma lágrima e aquilo mexeu comigo, senti vontade de abraça-la.

 

- Sua filha tem um talento maravilhoso. – Catarine falou sem piscar.

 

- É um presente de Deus... Minhas meninas são tudo que uma mãe pode desejar. – Carolina se emocionou e Henrique a abraçou.

 

- Amor? Vamos dormir? – Danilo beijou meu pescoço e um grande arrependimento se apossou de mim.

 

Veja bem, meu arrependimento não era de ter feito amor com a Flávia... Mas... Mas sim de ter traído Danilo, minha consciência estava pesada e ainda mais confusa.

 

- Vamos sim, amor... Boa noite meus amores. – nos levantamos e nos despedimos dos pais de Danilo e Flávia. Também de Nicole e Júlio.

 

Olhei uma última vez para ela e ao ver Danilo e eu de mãos dadas, abaixou a cabeça e passou a mexer no violão. Ao chegarmos no quarto, Danilo me agarrou e me beijou vorazmente, me empurrou pra cama ficando sobre mim. Aquele momento um desespero me dominou, não conseguia tomar uma atitude para freia-lo.

 

- Que saudade dessa boca. – ele invadia a minha boca com sua língua. Passou a mão por meu sex* e tirou o próprio shorts e cueca.

 

- Danilo... Espera. – senti seu sex* duro encosta no meu e aquilo foi o que precisei para criar forças e tira-lo de cima de mim. – Para! Eu não quero. - Levantei da cama, Danilo vestiu suas roupas e me encarou confuso.

 

- Mas Amanda... Tudo bem. – ele levantou e foi para o banheiro. Deitei na cama e me cobri totalmente com o lençol.

 

Eu não poderia, não poderia mesmo trans*r com ele depois do que aconteceu... Depois que me entreguei... Fazer amor com a Flávia... Eu não poderia. Um desespero me invadiu, de repente me vi em um grande labirinto. Eu não deveria... Eu noiva e apaixonada...  Caramba, eu estou apaixonada... Na verdade amando outra pessoa e não a meu noivo... Sim! Estou a amando... Eu não posso fazer isso com o Danilo... Eu preciso matar esse sentimento por ela.

 

Meus pais, se eles imaginassem isso... Eu não conseguiria encarar aqueles olhos cheios de decepção como ocorreu no passado... Foi doloroso demais. Ela iria me odiar, vai odiar, mas eu não posso Flávia... Perdão, mas eu vou sufocar esse amor. Vou te esquecer... Não posso decepciona-los novamente... Flávia. O sono me tomou.

 

- Conta uma historinha pra eu dormir mamãe? – a menina dos cabelos loiros e lisos, com os olhinhos dengosos pedia. Ver aquele ser tão pequeno me fez senti um turbilhão de sentimentos, eu amava aquela garotinha.

 

- Conto meu anjo. Mamãe pode escolher?

 

- Sim, mamãe.

 

Estávamos em um quarto, brinquedos, fotos espalhadas... A minha frente, sentada em um banquinho rosa, segurando as mãos da pequenina estava ela... Certeza que era ela. Ao longe o som do mar, me aproximei da cama e sentei na beirada.

 

- Mãe Amanda, mamãe Flávia vai contar uma historia. Quer ouvir? – e ela então virou para mim, seu sorriso esquentou minha alma. Segurou minha mão com carinho e beijou o meu rosto. A paz que senti foi divina.

 

- E que historia vamos ouvir minha princesinha?

 

O sonho acabou, dando lugar a outros e algum tempo depois despertei, o quarto era invadido pelo sol, Danilo dormia tranquilo ao meu lado. Olhei as horas, sete e cinco da manha, decidi levantar e fazer minha higiene matinal. Olhei pela janela e vi quando Flávia e Rebecca saiam para correr na praia... Suspirei, a partir de hoje eu teria que começar com o processo de esquece-la.

 

Tomei um café reforçado e fui para a pequena academia que possuía na casa, passei a olhar cada canto que eu passava até chegar a academia, era tão diferente da realidade que cresci e lembrei da minha infância complicada e de todo esforço que meus pais tiveram para que eu fosse o que eu tanto queria. Eu poderia viver cercada por aquele luxo, mas ainda sim não deixaria a vida simples, as coisas que conquistei ou que me foram dadas com tanto suor. Eu não iria decepciona-los, não poderia, não tenho esse direito. Depois dos exercícios, voltei para o quarto, Danilo não estava mais na cama e agradeci mentalmente por isso. Tomei banho e desci para o café da manhã. Flávia e Rebecca ainda não estavam lá.

 

- Bom dia para a nora mais linda do mundo! – seu Edgar sempre muito gentil.

 

- Venha, Amanda. Tem que provar esse bolo delicioso que as meninas fizeram. – Catarine me fez sentar ao lado de Danilo.

 

- Bom dia amor! – ele me deu um beijo leve nos lábios.

 

- Bom dia! – sorri para ele. – Bom dia à  todos!

 

- Bom dia! – a resposta veio em coro.

 

- Cadê a Flávia e Becca? – dona Carolina perguntava a Paloma.

 

- Foram correr na praia, mamãe. Elas já estão vindo ali.

 

Meu coração gelou, não olhei em sua direção, não conseguiria encara-la sem me desmanchar em sorrisos.

 

- É sério, Flávia. Você deveria ser modelo. – elas conversavam animadas e aquilo me incomodou.

 

- Para, Becca. Eu não possuo beleza para tanto. – mentira, Flávia possuía uma beleza avassaladora.

 

- Claro que tem. Olha como essas fotos ficaram perfeitas! – Becca falava e um pouco de raiva me tomou.

 

- Bom dia família. – ela estava sorridente e aquele sorriso era... Me olhou daquela forma que me enfeitiçava e um arrepio surgiu em todo corpo. Flashes da noite anterior vieram a minha mente, senti minha intimidade reagir.

 

- Bom dia. – responderam todos e depois ela e Becca se juntaram a nós.

 

- Do que falam com tanta empolgação? – a mãe de Flávia quis saber, a servindo com uma fatia de bolo e um copo com suco.

 

- Estava dizendo a Flávia que ela deveria pensar seriamente em ser modelo. – Becca que estava ao lado de Flávia, segurou sua mão. – Dê uma olhada, Carolina. - Rebecca entregou a câmera para Carolina.

 

- Quero ver também! – Nicole levantou de seu lugar.

 

- Eu também. – Paloma, Cássia, seu Henrique e dona Catarine passaram a ver as fotos.

 

- Nossa... Maninha. – Paloma disse e só fez aumentar a minha curiosidade.

 

- Filha... Você tem muito jeito para isso.

 

Aos poucos foram voltando para os seus lugares, muitos elogios foram dados e Flávia nada dizia, Danilo pediu para ver.

 

- Nossa... Acho que indicarei você para as campanhas que minha empresa produz. – ele olhava e eu queria muito ver também.

 

Fiquei inquieta, Flávia nada respondia, Danilo devolveu a câmera para Becca e o assunto foi se prolongando. Hora ou outra Danilo me incluía na conversa e assim a manhã foi passando, poderia dizer que sem grandes acontecimentos, para os outros, pois para mim estar perto de Flávia era como estar em uma montanha-russa que nunca acabava a trajetória. Eu me manteria longe, e seria a partir daquela manhã.

 

“Será que eu conseguiria ficar longe dessa mulher? Eu duvidava da minha própria força e não confiava nem um pouco em meu coração”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fim do capítulo