“MAS QUE DROGA!!! POR QUE EU ESTOU SENTINDO ISSO? QUEM ELA PENSA QUE É PARA FICAR SE ESFREGANDO COM A REBECCA, NA MINHA FRENTE? COMO ELA OUSAR BEIJAR OUTRA... Mas que bobagem eu estou pensando? Meu Deus!”.

 

Desde que conheci a Flávia, minha vida virou do avesso, meu relacionamento esfriou por minha culpa e agora não sei o que fazer... Ela me faz duvidar do que eu considero certo. Ela não sai da minha cabeça e eu não posso admitir essa invasão em minha vida. Já estava tonta de tanto andar de um lado para o outro. Sai tão irritada com a cena que vi que acabei deixando o Danilo dormindo e me enfiei no quarto.

 

A minha vida toda, tentei ao máximo dar orgulho aos meus pais, minha mãe sempre trabalhou muito para não faltar nada em casa, sofreu bastante quando meu pai foi baleado durante um confronto com marginais. Eu tinha apenas dez anos quando aconteceu e nesse período minha mãe carregou a responsabilidade sobre si. Meu pai sempre fez de tudo para que eu pudesse ser alguém na vida, mas apesar de tudo, ele jamais aceitaria ter uma filha homossexual e deixa bem claro todas as vezes que ver algo relacionado a esse assunto. Foi por isso que tentei guardar a sete chaves o meu envolvimento com Fernanda. Tentei a todo custo, mas não foi tão bem-sucedido.

 

Eu tinha dezessete anos e estava cursando meu último ano do ensino médio, quando Fernanda entrou em minha vida. Quando a vi entrar pela porta da sala de aula o encantamento foi imediato, senti uma forte batida em meu coração e dali em diante fiz de tudo para me aproximar dela... Começamos um romance que durou nove meses, eu estava totalmente apaixonada, mas um dia... Lembro como se fosse hoje.

 

11 anos atrás...

 

- Amanda? Amanda?

 

- Estou na cozinha mamãe! – gritei.

 

- O que significa isso? – ela segurava uma folha de caderno e o balançava de um lado para o outro. – Me explica isso. – ela dizia muito nervosa e eu senti um grande medo se apossar de mim. O papel que ela balançava era um poema que Fernanda havia escrito e dedicado a mim, lá havia inúmeras declarações e o seu nome.

 

- Mamãe... Eu... – pisquei várias vezes até que a voz saiu e eu comecei a narrar toda a história. Minha mãe estava com uma expressão de decepção gritante.

 

Hoje...

 

- Amanda? Meu amor? – voltei ao meu presente com a voz e as batidas insistentes de Danilo na porta. Respirei fundo várias vezes, até que abri a porta. – Amor, você está bem? – ele segurou minhas mãos com preocupação. – Demorou a abrir...

 

- Sim, amor... –“Não, não estou!”. – Estava no banheiro. Vamos voltar para a piscina?

 

- Vamos sim... – ele entrelaçou nossos dedos.

 

Ultimamente tem sido assim, pequenas mentiras sendo contadas todas ás vezes que eu me encontrava distraída ou quando Danilo queria fazer sex*, eu tentava encontrar em mim toda a paixão que possuía pelo meu noivo.

 

“Tudo vai voltar ao normal, eu vou me casar e esquecer essa bobagem”.

 

Quando cheguei à piscina, os pais de Danilo, os pais da Flávia juntamente com Júlio e sua namorada estavam em volta da piscina, busquei com os olhos a Flávia, e não a encontrei, assim como Rebecca, também havia sumido...

 

 “Na certa devem ter indo se agarra por ai”. Balancei a cabeça tentando me desfazer daquele pensamento.

 

- Não é da minha conta! – pensei alto.

 

- O que amor? – Danilo me encarava sorrindo.

 

- Vamos dar um mergulho? - precisava parar de pensar nessa garota.

 

Depois de sair da água, Danilo e eu deitamos na espreguiçadeira, não demorou muito e eu acabei pegando no sono enquanto meu noivo brincava com meus cabelos... Acordei um tempo depois  e continuávamos na mesma posição.

 

- Vamos andar um pouco pela praia? Quero registra esses momentos com a loira mais linda desse mundo. – ele beijou-me os lábios com carinho.

 

- Está bem, meu amor. – aquelas palavras já não saiam da mesma forma que antes.

 

Eu não poderia estar perdendo o controle sobre a minha vida desta forma, uma parte de mim brigava arduamente para não ceder, eu tentava a todo custo não ser levada por todas as sensações que apenas olhar para aquela garota me causava... Mas era muito difícil.

 

Antes de sair, olhei mais uma vez em volta e nada dela... A sensação de posse foi as alturas quando a imaginei com Becca. Caminhávamos pela praia e as ondas iam e vinha, beijavam os meus pés, tentava dar atenção ao que Danilo me dizia, mas meus pensamentos me traiam e não saiam dela... E como se os meus pensamentos a tivessem chamado, a poucos metros a nossa frente Becca, Cássia, Flávia sua irmã mais nova Paloma, brincavam e batiam fotos, olhei para Flávia e ela usava somente um biquíni minúsculo e vê-la daquela forma, mexeu com cada pedaço do meu corpo... Acabei mordendo os lábios de forma involuntária

 

- Amor, vamos lá com a Rebecca e suas alunas. – ele sorria. E eu me senti a pior pessoa do mundo.

 

Desde o dia que levei Flávia, na galeria, eu havia me afastado de Rebecca, saímos poucas vezes depois disso. Eu não sei que coisa era aquela que se apossava de mim. Certas coisas estavam sendo novidade e devo admitir que eu estava apanhando feio dessas novas “sensações”.

 

- Vamos amor. – concordei com a certeza que aquela ideia não faria bem ao meu alto controle.

 

- Você está bem, Amanda?  - Danilo me encarava preocupado.

 

- Claro meu amor... – lhe dei um selinho. – Vamos...

 

Demos continuidade à caminhada e logo já estávamos perto das meninas. Rebecca foi a primeira a nos ver e sorriu aberto, Flávia estava deitada ao seu lado e não nos viu chegar, as outras meninas conversavam com muita intimidade, pareciam ser mais que amigas. Havia uma música tocando vinda de um pequeno aparelho de som conectado a um pen drive, a música acabou dando lugar a outra que parecia ser goz*ção...

 

 Mais um dia triste

 

Me pego outra vez pensando em você

 

Não dá pra evitar

 

O seu olhar me disse...

 

 

 

- Já acabou a sessão de fotos? – Danilo perguntou, Flávia sentou-se tirando os óculos e nesse momento o castanho invadiu a minha alma.

 

 

 

... Que ainda há tanta coisa pra se entender

 

Pra que controlar

 

Paz, é tudo que eu venho tentando encontrar

 

Mas me vem a saudade

 

Fazendo lembrar...

 

- Oi Danilo, Amanda... Infelizmente chegaram tarde. - Rebecca entrou na brincadeira. Desviei o olhar dos de Flávia, pois a vontade de sentar em seu colo e beija-la novamente inundou a meu corpo.

 

 

 

Tentei evitar

 

Tentei esquecer

 

Tudo que me lembra você

 

 

 

- Podemos ficar aqui com vocês? – Danilo mais uma vez se pronunciou e nesse momento voltei a encarar Flávia, que se encontrava o que me parecia muito surpresa. Cássia e Paloma se olharam.

 

- Claro... Fiquem à vontade. – Foi a irmã de Flávia quem respondeu. Ela permanecia quieta.

 

 

 

Tentei não te amar

 

Mas olho no espelho e nada de me reconhecer

 

Só vejo você...

 

 

 

O silencio se fez presente enquanto aquela canção dizia tudo o que a minha boca não conseguia sequer admitir. Sabia aquela música de cor, gostei dela desdei a primeira vez que a ouvir na novela ‘Em Família’.

 

Se bate um desespero

 

No mesmo instante o que eu quero é você

 

Pra me abraçar

 

Já não importa o tempo não tenho medo de me arrepender

 

Não vou controlar

 

 

 

Paz, é tudo que eu venho tentando encontrar

 

Mas me vem a saudade

 

Fazendo lembrar...

 

 

 

Tentei evitar

 

Tentei esquecer

 

Tudo que me lembra você

 

 Tentei não te amar

 

Mas olho no espelho e nada de me reconhecer

 

Só vejo você e mim

 

 

 

Eu sei que mesmo que eu tente

 

Isso não vai passar

 

 

 

Tentei evitar

 

Tentei esquecer

 

Tudo que me lembra você

 

 Tentei não te amar

 

Mas olho no espelho e nada de me reconhecer

 

Só vejo você... e mim

 

Tania Mara – Só vejo você

 

 

 

- Esse lugar é muito agradável. – Cássia se pronunciou. – Lindo demais!

 

- É a perfeição. – aquela voz me estremeceu toda. – Maravilhoso. Um dia eu ainda vou desbrava esse paraíso...

 

 

 

Ela olhava para o horizonte com um sorriso lindo, senti meu coração aquecer...  Danilo apertou minha mão e por um momento me imaginei somente com ela, nós ali uma nos braços da outra. Não consegui segurar uma lagrima que desceu por minha face, enxuguei discretamente. 

 

Engatamos uma conversa animada, a irmã de Flávia começou a conta sobre as coisas engraçadas que lhe acontecia diariamente, trouxe todos para a conversa. Flávia, gargalhava a cada história contada. Sei que não deveria, mas me sentia feliz em estar ali, tão perto daquela menina.

 

- Flávia, lembra daquela vez no parquinho? –Paloma perguntou com ar de riso.

 

- Claro que lembro... Você foi imitar a garotinha que havia ficado com a cabeça presa na escada do escorrega-bunda e acabou ficando do mesmo jeito. – gargalhadas. – Não bastando um mico, pagou dois quando começou a chorar. – e mais gargalhadas e Paloma fazia bico.

 

- Ah! Qual é? Eu só tinha oito anos oras... As criancinhas me zuaram muito, mas também lembro que você me tirou de lá Flávia, e fingiu que havia ficado presa só pra eles pararem de rir de mim... – Paloma segurou a mão da irmã e senti muita cumplicidade ali. – Ficamos conhecidas como “as irmãs patetinhas do parquinho”. – e mais gargalhadas.

 

Flávia me olhou e um sorriso me escapou, para a minha surpresa ela sorriu de volta... Eu poderia negar para ela, mas já está na hora de admitir para eu mesma que sentia atração, desejo absurdo... Mas principalmente...

 

“Eu... eu sentia algo forte por essa mulher com jeito de menina”.

 

- Nossa! Já são cinco e meia... Vamos? Estou faminta. – Cássia reclamou.

 

- Você? Com fome? Estou chocada. – Paloma cutucou.

 

- Há, há, haaaa!

 

 

 

Levantamos, Danilo me ajudou, Rebecca fez o mesmo com Flávia e logo em seguida deu uma blusa de mangas longas, branca para ela... Olhei para Flávia e era impossível não admirar a beleza de seu corpo... Parecia moldada por academia. Eu agradeci mentalmente por estar de óculos, ela vestiu a blusa e botou apenas três botões a deixando perigosamente sexy. Caminhamos de volta para a casa, eles conversavam amenidades, enquanto eu me mantinha calada apenas pensando em como a minha vida amorosa estava toda bagunçada. Chegamos a casa e os três casais estavam conversando na varanda.

 

- Amanda minha querida, subam para tomar banho. – dona Catarine, ela sem sombra de dúvida é uma pessoa incrível. Sempre me tratou como uma filha. Me aproximei e ela segurou minha mão com carinho. Danilo deu beijo na mãe e subiu e as meninas fizeram o mesmo. - Hoje vamos fazer uma fogueira na praia. Carolina nos contou que Flávia, canta e toca violão muito bem.

 

- Então teremos um luau? – sorri e olhei para os pais de Flávia e eles sorriam. – Não vamos demorar. – beijei sua mão e entrei.

 

 

 

Subi pensando em ligar para os meus pais, ao tirar os óculos acabei derrubando-o e abaixei para pegar e ao levantar acabei jogando alguém no chão, olhei e senti o mundo parar. Flávia, estava sentada, com fones no ouvido e o celular longe por causa da queda.  Ela me olhava daquela forma que acabava comigo.

 

- Lembro que isso já aconteceu uma vez e lembro também como acabou. – sai do transe ao ouvir aquela voz rouca. Senti magoa nas suas palavras.

 

- Desculpa! Eu estava distraída. – ela pegou o celular e eu estendi mão para levanta-la, a senti em dúvida. – Não seja orgulhosa, Flávia. Anda! – ela arqueou a sobrancelha e cerrou o olhar.

 

- Tudo bem. – ela segurou minha mão e uma sensação de choque atravessou meu corpo.

 

Puxei a deixando de pé, porém nossas mãos não quebraram o contato e o encontro de nossos olhos foi inevitável.

 

“Como você me deixa assim? Isso não é certo... não, não, não...”. Soltei sua mão macia e delicada, apertei com força a minha.

 

- Você não cansa de ser covarde? – seu timbre era duro.

 

- Olha como... – me calei ao ouvir vozes.

 

- Minha filha! Achei que já estavas no banho. – era a mãe de Flávia. – E você também Amanda.

 

Desde que os conheci dona Carolina e seu Henrique foram muito simpáticos comigo. Sorri.

 

- Já estou indo, Carolina. – Flávia olhou para a mãe e em seguida para mim. Sua face era de pura curiosidade.

 

- E você, moçinha? – seu Henrique perguntou a ela.

 

- Já estou indo. – ela os beijou na bochecha e foi para o outro corredor.

 

- Nos vemos no luau. – sorri para eles.

 

- Até daqui a pouco, Amanda. – seu Henrique falou e dona Carolina me deu um sorriso em concordância.

 

Entrei no quarto e ouvi o barulho da água sendo sessada, Danilo saiu de lá enrolado com uma toalha e com outra enxugava os cabelos. Ao me ver ele sorriu e se aproximou me abraçando pela cintura.

 

 - Tira essas roupas... Quero fazer amor com você...

 

Ao dizer isso, Danilo, capturou meus lábios e com agilidade tirou minha roupa, não me dando tempo de reagir. De repente a imagem daquela menina dos olhos castanhos me atormentou.

 

“Não posso deixar você bagunçar ainda mais a minha vida, NÃO POSSO!”

 

Deixei meu noivo tomar de conta do meu corpo, precisava me desligar dela.

 

 

 

 

 

Fim do capítulo