Chegamos e passamos direto para o quarto.

 

- Tira essa roupa, toma um banho pra liberar o catarro e aliviar a dor de cabeça.  Eu vou buscar remédio com a Lili. – Minha amiga saiu, eu tirei a roupa e entrei no banheiro, olhei-me no espelho e meus olhos ainda continuavam inchados.

Aquilo sempre me denunciava.

 

      Tomei um banho longo, a imagem de Amanda não saia de minha cabeça juntamente com a dor. Depois do banho me enrolei na toalha e ao sair do banheiro encontrei minha amiga sentada na cama.

 

- Trouxe remédio que serve para gripe e dor, no criado tem água... – em todos esses anos de amizade, todas as vezes que me encontrava desta forma, Cássia estava sempre ao meu lado. Ela tinha algo a mais nas mãos. - Isto é seu. Esse nariz deve estar todo melecado.

 

- Palhaça. – Tirei a toalha e joguei nela. Olhei e percebi do que se tratava. As fotografias. – Deixe aí. Vou olhar depois.

 

- Ui, ui, ui cunhadinha. Tá toda sarada.  Vou deixar aqui. – Ela pós em cima de uma pequena poltrona.

 

- Olhe e babe moun cher. – falei passando a mão por meu corpo. Milagre ela não perguntar quem me deu.

“Deve estar doente.” Sorrir.

 

      Outra coisa sobre Cássia e eu: não tínhamos a menor vergonha de estar nuas uma perto da outra, ouve um tempo quando ela tinha 13 anos e eu 14, que tentamos nos beijar ao descobrir a sexualidade uma da outra, mas ao fazer isso acabamos caindo na gargalhada e aí obtivemos a certeza que nossa relação era de irmãs.

 

- Corpo lindo, com esses olhos inchados e nariz escorrendo... Nossa! Muito sexy. – Ela caiu na gargalhada e não me contive, acompanhei ela, mas ao sentir uma forte pontada na cabeça fui parando.

 

- Ai, ai... Não faz eu rir, garota. – Coloquei as mãos na cabeça. – E para de me zuar senhorita Duarte, se bem me lembro quando você estava com conjuntivite eu não fiquei te zuando. – falei pondo a calcinha.

 

- Que fingida, você zuou sim... Passou o tempo todo me pondo apelidos. – Ela me jogou um travesseiro, enquanto eu colocava uma blusa de mangas longas.

 

- Aí, coisa branca... Deixa só eu terminar aqui. Vou te dar uns tapas. – falei penteando de leve meus cabelos.

 

- Pode vim, baby.

 

- Sorte sua que estou com dor de cabeça...

 

- Não dá conta, sua fraca... – ela debochava e eu só fazia rir.

 

Terminei de pentear meus cabelos, peguei o remédio de sua mão e a água que estava no criado mudo.

 

- Agora vai tomar banho. Quero você limpinha na minha cama. – Ela olhou com cara de safada.

 

- Hum... Que possuir meu corpo esculpido por anos de academia? – ela deu uma piscadinha.

 

- Você está fazendo academia há dois meses pessoa. E deixa de ser safada que está comprometida com a minha caçula. – Fiz um gesto com a mão para ela ir pro banheiro.

 

- Estraga prazer.

 

- O quê?

 

- Disse que já estou indo. – Ela fazia cara de falsa indignação.

 

Sorrir.

      Amava aquela garota. Senti meu celular vibrar, olhei e senti um frio na barriga quando vir de quem era.

Amanda.

Abrir de imediato a mensagem.

 

“Espero que esteja bem, bom dia, Flávia.”

      Olhei para o canto acima no celular onde indicava as horas 10:23. O ser humano é um bicho complicado, digo por ela e por mim também. Ontem rodou a baiana e agora se mostra preocupada. Ontem chorei de raiva e agora estou nervosa por uma simples mensagem. Resolvi usar o pouco de orgulho que me restava e não respondi.

 

- Que cara é essa? – Cássia me surpreendeu ainda olhando a mensagem.

 

- Amanda, mandou uma mensagem. – A olhei melancólica.

 

- Vai responder? – ela me olhava com uma sobrancelha arqueada.

 

- Não. – Coloquei o celular debaixo do travesseiro.

 

- Acho bom mesmo. – Ela tirou a roupa.

 

- Fiu-fiu... Mas que mulher gostosa. - Cássia mostrou a língua.

 

- Deixa de graça. Não é pro seu bico. Tuuuudo isso. – Ela brincou imitando um personagem de um seriado americano “eu, a patroa e as crianças”, morro de rir quando vejo.

 

- Está tudo isso, agora termina de se vestir e deita aqui comigo... – fiz bico.

 

- Mas que coisa fofa... – ela colocou a blusa e veio deitar comigo.

 

      Ficamos abraçadas, eu com os braços por cima de sua barriga e a cabeça em cima de seu peito, já ela me fazia carinho. Fechei meus olhos e pude ver a imagem nítida de Amanda, abri imediatamente meus olhos.

 

”Que inferno, eu quero dormi e essa mulher fica invadindo minha mente.”

 

- Tudo bem? – Cássia quis saber.

 

- Esta sim... – sai de cima dela. - Vou por um filme.  

 

- De terror? – ela me olhou aflita.

 

- Claro! – vi seus olhos arregalarem. – Deixa de ser covarde.

 

- Não sou covarde... – ela falou e depois fez bico.

 

- Oh, meu amor... – dei uma gargalhada.

 

      Coloquei um dos filmes novos que tinha comprado no domingo, novos porque não tinha os visto, escolhi “Alma perdida”. Voltei para a cama e para a mesma posição que estávamos antes.

 

- Se sentir medo e só me abraçar. Eu deixo. – Levei um tapa na testa. – Aí... A dor ainda não passou, sabia?!

 

- Se continuar zuando... Dou outro.

 

      Fiquei calada, o filme começou e me concentrei nele. Levei vários sustos, não pelo filme, mas por Cássia gritar nas partes mais fortes. Depois de alguns gritos, ela fez silencio e pude curtir o restante do filme. O filme acaba e logo em seguida escuto batidas na porta.

 

- Entra. – gritei.

 

- Mãe de quem? – Só aí me dei conta que minha amiga estava dormindo. Me sentei na cama e Cássia tentava se livrar da preguiça.

 

- Meninas, vamos almoçar? Está melhor meu amor? – Lili perguntava segurando meu rosto em suas mãos e com aquele ar de preocupação...

 

- Estou sim, Lili, obrigada. – Sorri.

 

- Vamos... Seus pais ligaram e estão vindo almoçar, suas irmãs também.  – Levantamos e a seguimos pelo corredor e escadas.

 

- O que vamos comer, Lili? – revirei os olhos.

Cássia.

 

- Uma das comidas preferidas da Flavinha. – Ela deu uns pulinhos de alegria.

 

      O almoço seria servido perto da piscina, sentamos e minutos depois o restante da família chegou. Olhei para Cássia e vi que sua cara de bobona estava lá, foi só ver Paloma.

 

- O cheiro está uma delícia. – Dizia Nicole vindo até a mesa. – Oi maninha, oi Cássia.

 

- Oi Nicki. – dissemos juntas.

 

- Oi meninas. – Paloma disse ao se aproximar e revirei os olhos. Será que eu fico assim quando vejo Amanda?

 

- Oi maninha.

 

- Oi Paloma.

 

- Quer um lenço? – perguntei próximo ao seu ouvido.

 

- Engraçadinha.

 

      Meus pais se juntaram a nós e o almoço seguiu entre risadas e olhares apaixonados entre Cássia e Paloma. Não fui a faculdade nem na quinta e nem na sexta, meus pais não me interrogaram sobre o ocorrido de terça e eu agradeci internamente. Eles sabiam que havia algo, mas sabiam também que quando eu me sentisse a vontade, contaria. Durante aqueles dias meus pensamentos sempre me traiam trazendo as lembranças do beijo com Amanda, quando isso acontecia eu sentia um frio na barriga, mas suas palavras duras vinham com muita intensidade me deixando com raiva. No sábado combinei com Cássia, Nick e Paloma de irmos ao shopping.  Veríamos filmes, comeríamos besteiras e compraríamos algumas coisas.

 

 - Quero ver os vingadores. – falei enquanto subíamos a escala rolante.

 

- Apoiado. – Cássia disse com um sorvete na mão.

 

- Parecem duas crianças. – Nicole disse enquanto mandava mensagens para o namorado.

 

- Até que gosto. – foi a vez de Paloma.

 

- Três crianças... –Nicki revirou os olhos.

 

- Voto vencido, Nicole agora vamos comprar os bilhetes. – Subimos para o último piso do shopping.

 

- Bilhetes?

 

- Vai se ferrar, Flávia!

 

Chegamos e eu fui para a fila, comprei os ingressos e fui sentar ao lado de Nicole.

 

- Cadê a Cássia e a Paloma?

 

- Foi ao banheiro. Sei bem o que foram fazer lá. – Olhei espantada para Nicole. - Que foi?  – Ela arqueou a sobrancelha. – Acha que não saquei que essas duas estão de namorico? Até nossos pais já sacaram.

 

Nesse momento vi as duas sorrindo de orelha a orelha, se aproximaram e sentaram.

 

- Muito discretas. – Nicole falou dando novamente atenção ao celular.

 

- Para Nicole.

 

- O que foi? – perguntou Cássia.

 

- Nada não. – Respondi beliscando a perna de Nicole por baixo da mesa onde estávamos.

 

- Pois é cunhadinha, nada não. – Paloma arregalou os olhos e Cássia ficou muito vermelha. Não disseram uma única palavra. A cena foi engraçada.

 

- Vamos, a sessão vai começar e ainda nem compramos nada para comer. – Tentei mudar o foco. – E para de mexer no celular, você e seu paspalho já estão me deixando enjoada.

 

      Nicole me fuzilou com os olhos e eu em retribuição dei um sorriso irônico, compramos pipocas que eu não curto muito, ao menos não a salgada, chocolates e refrigerantes. Depois da seção, nossa nova parada seria a praça de alimentação, pedimos nossos lanches.

 

- Flávia, olha quem vem ali. – Cássia mostrou a direção com um gesto de cabeça, olhei para o lado e senti aquele famoso frio na barriga. Minhas irmãs olharam e logo se mostraram curiosas.

 

- Amanda... – ao seu lado segurando sua mão, havia um homem bonito, tenho que admitir.

      Pouco mais alto que Amanda, cabelos estilo Luan Santana e aparentava ter uns 27 a 29 anos. Mais ou menos. Senti uma pontada no coração e uma raiva também. Eles sentaram em uma mesa um pouco distante.

 

Ela estava toda sorridente e ele fazia carinho em seu rosto.

 

- Quem é ela, Flávia? – perguntou Nicole. Desviei meu olhar do casal.

 

- Minha professora... – sorri sem humor.

 

 – Aquele lá me parece familiar... – olhei novamente. – É o Danilo, irmão do meu bebe. – Disse Nicole.

 

- O que? – minha surpresa foi enorme, olhei para Nick. – Tem certeza?

 

- Sim, tenho absoluta certeza.

 

 ”Que mundo pequeno.” Pensei.

 

- Gosta dela mana? – dessa vez foi Paloma que perguntou e Cássia apenas me olhava.

 

- Claro que não. – disse rápida. – Talvez um pouco. Muito. – Abaixei a cabeça.

 

- Caramba mana... – lamentou Paloma. – Foi por causa dela que estava com os olhos vermelhos? - nada respondi.

 

- O que essa mulher te fez, Flávia?  - Nicole perguntou entre os dentes, mas uma vez resolvi me calar.

 

      Passei a encarar meu copo de suco, por um momento me distrair voltando para aquele apartamento, tendo a chuva lá fora como trilha sonora. Até que a voz de Cássia me trouxe de volta.

 

- Eles estão vindo, amiga. – Não olhei, apenas dei uma golada no meu suco. Senti meu corpo tremer, o nervosismo tomou conta de mim, Paloma que estava ao meu lado segurou minhas mãos em sinal de apoio.

 

- Bom dia meninas. – O cunhado da minha irmã disse ao se aproximar de nossa mesa – Tudo bem? Vi você, Nicole e não pude deixar de cumprimenta-la.

 

- Bom dia. – Cássia, Paloma e eu dissemos. Meu desconforto foi latente.

 

- Bom dia cunhado. – Nicole levantou e lhe deu um breve abraço. - Bom, deixa eu apresentar: Estas são Paloma e Flávia, minhas irmãs e esta é Cássia, minha cunhada e grande amiga. Meninas este é o Danilo, irmão do Júlio.

 

Cássia corou, Paloma deu um sorriso sem graça e eu? Bom, eu queria sair correndo dali.

Super madura.

 

- Prazer meninas... Está é minha noiva, Amanda. – Olhei para Amada que está mais do que desconfortável.

 

- Olá meninas... Como vai Flávia, Cássia. – ela deu um sorriso.

 

- Já se conhecem amor? – ele pois a mão direita em seu ombro a olhando.

 

- Flávia e Cássia são minhas alunas, Danilo.

 

- Que bom! Isso é maravilhoso.

 

“Fantástico.”

 

- Querem sentar conosco? – olhei para Nicole incrédula, mas que filha da mãe.

Ela me paga.

 

- Claro, será um prazer. Não é amor? – ele deu um selinho em seus lábios e eu me senti horrível... Ciúmes? Claro que não.

 

- É sim amor. – Pronto.

Minha respiração até ficou mais acelerada de ouvi-la chama-lo de “amor”.

AH! Vão se danar!

 

      Nicole e Danilo engataram um assunto qualquer, a mesma lançava olhares para Amanda sempre tentando traze-la para a conversa. Só aí compreendi o que ela queria com aquilo, a velha irmã coruja, mas eu queria tanto sair dali. Amanda me lançava alguns olhares e eu a fitava de volta, mas ela nunca os mantinha, olhava para as mãos ou mexia nos cabelos. O clima estava tenso, Cássia e Paloma me olhavam com pesar. O noivo de Amanda estava tão entretido que nem se dava conta do clima na mesa.

 

Peguei o meu celular e olhei as horas. Aquilo já não estava mais dando para suportar.

 

- Com licença, vou no banheiro. – Levantei e qual foi minha surpresa ao ouvir Amanda se pronunciar.

 

- Vou com você. – Nicole me olhou em imediato. Com Paloma e Cássia não foi diferente.

 

- Claro... – foi só o que eu disse, mas o que senti foi muito mais que isso.

 

      Chegamos ao banheiro totalmente mudas, Amanda foi para uma das cabines e eu me pus de frente ao espelho. Lavei meu rosto. Senti meu celular vibra, o peguei e sorri ao ver de quem se tratava.

 

- Oi Rebecca.

 

- Oi Flávia. Tudo bem?

 

- Melhor agora...

 

- Onde você estar?

 

- No shopping, com minhas irmãs.

 

- Liguei porque ando pensando muito em você. Seu sorriso me encantou. – Sua voz era carregada de sensualidade, mordi o lábio inferior.

Muito direta.

 

- Só o sorriso? – quis provocar, algo que eu sempre gostei de fazer.

Ora, não me julguem.

 

- Você por completa. Passa o domingo comigo?

 

Pensei por um momento. Poderia estar entrando em uma furada, mas como decidi pagar para ver.

 

- Claro! Vou adorar.

 

- Vou mandar o endereço por mensagem, vou aguardar ansiosa.

 

- Tenho certeza que será ótima a sua companhia. Rebecca. - Ela deu uma risada.

 

- Farei de tudo para ser. Agora vou deixar você curtir suas irmãs. Te espero amanhã. Às nove. Um beijo e um cheiro.

 

- As nove... – dei uma risada – Outro beijo e um outro cheiro.

 

      Desliguei e coloquei o celular no bolso. Olhei novamente no espelho e dei de cara com dois olhos azuis me fitando. Não fiz de proposito, mas adorei ver aquela cara.

 

- Não tem vergonha na cara? Já vi que adora mulheres comprometidas. – Ela falou vindo em minha direção.

Fiquei surpresa.

 

- Não muito e quanto às mulheres comprometidas, bom devo confessa que o perigo me excita. – Respondi ironicamente, me virando e a olhando olho no olho.

 

- Sua, sua... – ela me fuzilava e eu mostrava uma tranquilidade que não sentia.

 

- Que foi professora resolvida. O gato comeu sua língua? Ou uma gata. – A vontade de provoca-la aumentou.

 

- Você é muito infantil. – Ela ia sair, mas puxei pela mão. A prensei na pia onde eu estava apoiada antes. Seus olhos arregalaram. – Me solta garota. – Ela mandou.

 

- E se eu não quiser? – a desafie. Seus olhos fitavam minha boca.

 

      Colei por completo nos corpos e ao sentir seu corpo, o meu se encheu de desejo, seu perfume invadiu as minhas narinas, por breves instantes fechei os olhos e toda aquela raiva e ciúme se mudaram pra China. Coloquei minha mão em sua nuca e não perdi mais tempo, beijei seus lábios feito louca e para a minha surpresa total, ela correspondeu. Ela me apertava e eu sentia cada vez mais o desejo em tela para mim, vim com ainda mais intensidade.

 

- Não faz isso. Por favor. – Sua voz saia abafada, quase um sussurro.

 

- Mas você quer. Eu quero...

 

      Segurei por seus cabelos a beijando como se devorasse sua boca. Minha mão direita estava livre, passei a aperta suas coxas, o que estava fácil, pois ela está com um short curto, subi pelas laterais até alcançar seus seios, os toquei de leve por cima da blusa branca de mangas dobradas até o cotovelo. Ela apertava minha cintura e àquela altura já havia deixado meu juízo ir embora. Senti sua respiração alterar-se, mas não sei se pelo beijo ou por minha mão ter tocado seus seios. Sua boca era macia, seu beijo era perfeito.

Encaixe perfeito.

 

 

 

 

Fim do capítulo