Capítulo 47
As Cores do Paraíso - Capítulo 47
Na sala de espera (lotada) do consultório da doutora Milena.
-- Elas estão demorando demais. Vocês não acham? - Samanta andava de um lado para o outro da sala de espera.
-- Calma dona Samanta, elas já devem estar saindo - Talita tentava acalma-la, mas também estava muito nervosa.
-- Eu acho que a Larissa vai ter gêmeos. Duas crianças pra gente batizar.
-- Será Fê? - Laura abriu um sorriso largo.
-- Na fertilização in vitro tradicional, o médico pode implantar um ou dois embriões na mulher que tem até 35 anos ou três embriões na que tem mais de 35 anos. Por isso, quem faz fertilização tem mais chance de engravidar de gêmeos, de trigêmeos...
-- Finalmente - Alice correu até Larissa que saia do consultório da doutora Milena de mãos dadas com Gabriela - Então, como foi?
-- É muito simples. O processo funciona de forma semelhante ao Papanicolau: é inserido um bico de pato na vagin* e depois um cateter bem fino, por onde passam os espermatozoides. O posicionamento do cateter é feito usando um aparelho de ultrassonografia.
-- Legal, é assim? Nós vamos querer uns quatros então, né Alice? - Talita ficou toda empolgada.
-- Primeiro vai arrumar um emprego, depois a gente conversa - falou com toda a seriedade e convicção - Ter filhos envolve duas partes e é coisa muito séria!
-- Você tem toda razão. Um casamento muito pouca coisa muda na vida da gente, continuamos fazendo os mesmos programas de sempre, tendo os mesmos encontros com os amigos, as viagens, festinhas, mas um filho... - Talita sacudiu a cabeça.
Luísa abraçou a filha e beijou a sua cabeça.
-- As saídas a noite vão ter que diminuir bastante, as viagens, os programinhas com os amigos então... Ao invés disso, vão ter que começar a curtir um filminho em casa, cozinhar e comer em casa mesmo.
-- A Larissa, a primeira coisa que fazia quando chegava em um lugar, era ver se o banheiro era limpo e espaçoso, agora ela vai começar a olhar para ver se tem trocador.
-- Com certeza amor, e se eu precisar trocar a fralda do nosso filho?
Laura tocou no ombro da ruiva, que ria animada com a conversa.
-- Quantos dias depois da inseminação é conhecido o resultado, Lari?
-- Daqui a 16 dias já posso fazer o BHCG, e ter o resultado.
-- Lembro como se fosse hoje, quando recebemos o resultado do seu BGCG, né amor? - Luísa abraçou Samanta emocionada.
-- Verdade. Chorei tanto.
-- Só fazem vinte anos, que essa alemoa batata nasceu - Talita deu um tapa na cabeça da amiga.
-- Tali. Você sabe o que um escorregador de parquinho falou para outro?
-- Não.
-- Nossa.... Como os ânus passam depressa!
Quarta-feira.
-- Mas dona Samanta, não precisava tudo isso. Esse lugar é muito luxuoso e enorme. Eu e a Gabi, queríamos algo simples, só para os mais íntimos.
-- Esse negócio de simples e luxuoso, depende do ponto de vista de cada um. No meu ponto de vista é um lugar simples, já do seu é luxuoso. Viu? Nunca teremos unanimidade. Como dizia Nelson Gonçalves: Toda Unanimidade é Burra.
Larissa ficou momentaneamente sem palavras. Por mais que não concordasse com a mãe de sua noiva, não dava para discutir, nem com ela, nem com Gabriela. Elas davam umas respostas tão enroladas que deixavam a cabeça da pessoa totalmente confusa.
-- Enfim, já que concordou, vou deixar você escolher o modelo do bolo.... Há... o sabor eu já escolhi.
Samanta colocou sobre a mesa um catálogo com dois modelos de bolo.
-- Poxa, quantas opções de decoração - Larissa colocou o dedo sobre um dos dois e sorriu satisfeita pois era lindo - Esse.
-- Eu sabia que escolheria esse, até já havia falado para a confeiteira.
-- Que bom! - Olhou para a porta do ateliê e acenou com a cabeça - A Gabi não deu a opinião dela.
-- A Gabi está tão entusiasmada com a possibilidade de você engravidar, que não pensa em outra coisa.
-- Para ser bem sincera, eu também, Samanta. A noite passada nem conseguimos dormir direito, fizemos planos a noite inteira e....
Klaus entrou na sala e sentou ao lado de Samanta na poltrona.
-- A Gabi é uma chata - reclamou.
-- Porque pai?
-- Pintou uma tela daquele velho feio e homofóbico para a exposição em Paris e não pintou nenhuma minha. Nem um retratinho ¾. Isso é um absurdo... eu que a criei.
Davi entrou logo atrás acompanhado de Gabriela.
-- Eu feio? Você que é feio, seu plantador de batata doce - cruzou os braços com força - E não sou mais homofóbico, mudei meus conceitos.
-- Há é? E mesmo assim aprovaram a definição de família como união entre homem e mulher.
-- Eu sou senador. O projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados e lá quem dá as cartas é o deputado Marco Feliciano (PSC-SP), conhecido por seu conservadorismo e por defender a "cura gay". Ele chegou a presidir a reunião nesse dia.
-- Quer dizer que quando for para o senado, o senhor vai votar contra, vô?
-- Vou meu anjo, mas infelizmente, duvido que mude alguma coisa - afagou os cabelos da neta - Farei a minha parte.
-- Para mim já é o suficiente vô. Estou muito orgulhosa do senhor - abraçou o avô com carinho.
Davi mostrou a língua para Klaus, que jogou uma almofada na cabeça do senador.
-- O que é isso pai? - Samanta colocou a mão na boca e perguntou admirada.
-- Foi ele quem provocou -- cruzou as pernas e jogou a cabeça para trás, gargalhando gostosamente.
Quinta-feira.
Talita e Alice conversavam na varanda da casa da praia do Encanto.
-- Alice, acho que terei que sair daqui em breve - Talita falou com uma voz calma, singela e melancólica.
-- Porque você está falando isso?
-- Vocês não vão transformar isso aqui em um grande e luxuoso condomínio fechado?
-- Verdade. O paraíso não é direito de todos, Tali.
-- Mas a gente vai construir o nosso paraíso em um outro lugar, não é mesmo?
-- Claro. Talvez demore um pouco, mas a gente vai conseguir.
Talita colocou as mãos na cabeça de Alice e a puxou para um beijo demorado e delicado.
Talita percebeu que enfim havia chegado o momento. O momento de tomar um rumo na vida. Precisava arranjar um emprego, ganhar dinheiro e começar a preparar o seu futuro ao lado da mulher que tanto ama.
-- Quero que saiba Tali, que tudo o que é meu é seu.
-- Eu também quero te falar que tudo o que é meu é seu, Alice. Mas eu não tenho nada - falou muito triste -- Eu quero primeiro conquistar o meu para que eu possa compartilhar com você.
-- Vou respeitar a sua vontade e te ajudarei no que for preciso.
Alice sorriu, pegou o rosto dela entre as mãos, inclinou a cabeça e beijou-a na boca.
-- Você não precisava ir junto com elas. A Diane Blanche não vai junto? Então?
Fernanda reclamava com seu habitual mau-humor.
-- Eu faço parte da equipe, minha ursinha, preciso estar presente.
-- Mas são tantos dias, love you - Fernanda choramingou.
-- Eu sei, prometo conversarmos todos dias através de vídeo chamada.
Fernanda ajeitava alguns papeis dentro de uma pasta.
-- O que são esses papeis, Fê?
-- A Gabriela pediu que eu providenciasse algumas coisas para ela - foi direta, mostrava certo desconforto em conversar sobre o assunto.
-- Que coisas? - Laura insistiu com uma curiosidade enorme.
-- Amor, é sigiloso - fechou a pasta e a guardou na gaveta da mesa.
-- Você não confia em mim? - Chantageou.
-- Confio -- riu e segurou seu rosto beijando seus lábios -- Quem ama confia. Confia e respeita.
Laura enroscou os braços ao redor de seu pescoço e a puxou contra si.
-- Quando eu voltar da França vou me grudar em você e nunca mais te largar.
-- Que delícia! Promete.
-- Prometo Fê. Te amo demais.
Fernanda pegou ela no colo e a colocou no sofá.
-- Vou te encher de beijos e carinhos por todo o corpo - falou rindo e deitou em cima de Laura - Diz: Duvido.
-- Duvido...
-- Há é?
Beijavam-se e ao mesmo tempo sorriam, mostravam a paz e felicidade que transbordavam as suas almas.
Três da Madrugada.
-- Lari, amor, miau... tá dormindo? Princesa?
-- Huuummm... o que é Gabi?
-- Duas loiras estavam conversando em um bar quando começaram a falar sobre filhos (já que as duas tinham filhos pequenos) e uma delas falou:
-- Ai, amiga meu filho já tá andando faz 6 meses.
E a outra loira burra responde:
-- Nosaaaaaaaa... então ele já deve estar bem longe, hein.
Fim do capítulo
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