Capítulo 18
Bernardo que até este momento se ajoelhava entre minhas pernas, apoiando a cabeça no meu colo enquanto segurava minhas mãos delicadamente retesou o corpo de maneira tensa, ainda tive tempo de ouvir seu suspiro pesado.
--Está brincando comigo, não é? Está falando isso para me machucar depois de tudo que eu fiz...
--Não, Bernardo. Eu gostaria que fosse mentira mas...
--Não posso acreditar nisso. --Falou tirando as mãos que se enlaçavam as minhas e me fitou com desespero
--Me sinto na obrigação de te dizer e pelo menos uma vez na vida ser sincera.
--Não quero ouvir. Isso não importa.
Falou enquanto colocava infantilmente as mãos nos ouvidos e seu olhar perdido me fez ter pena.
--Você precisa, Bernardo. Quando me apaixonei por...
--Eu não quero ouvir! --ele gritou--Será que você pode me poupar disso, Alice?!
--Eu não tive culpa, quando me envolvi ja era tarde demais.
--O que você sente é só uma paixão, só uma paixão idiota, você não consegue ver isso?! --
Ele falava passando as mãos sobre os cabelos bagunçados, enquanto via dor em seu olhar distante.
--Eu sei, mas...
--Eu não me importo. --ele falou em voz alta como se quisesse convencer a si mesmo do que falava.
--O que?
--O que você sente é tão fulgás, é passageiro, logo você vai se dar conta e ver que o que temos é mais forte que isso...Eu, eu consigo lidar com isso. Eu posso. Nós dois juntos vamos passar por isso, vou te reconsquistar. Só preciso de uma chance, só preciso que você me aceite e nós vamos superar.
--Não posso, Bernardo. Eu ja te machuquei demais, você não pode aceitar menos do que merece...
Ele se levantou e me olhou com um sentimento que até então não tinha visto nos seus olhos.
Raiva.
Mágoa.
Bernardo me olhava tão intesamente que me senti fuzilada com aquele olhar frio, ressentido, fazendo com que eu me sinta a pior pessoa do mundo. Se distanciou de mim enquanto pegava o copo de uísque com as mãos trêmulas e levava aos lábios. Eu não tirava meus olhos dele, sentindo remorso. A dor de partir o coração de alguem que me ama.
Tomou todo o conteúdo em um gole só e depositou em cima da mesa com força, fazendo ecoar o barulho por todo escritório.
Não ousei falar mantendo meu olhar no seu. Enquanto ele prosseguiu.
--Ele nunca vai te amar como eu te amo. Ele não vai ser capaz de largar tudo por você, como você sabe que eu faria. Ele não vai fazer planos tão lindos como os que eu fiz. Você sabe disso, não sabe?
Não ousei falar mantendo meu olhar no seu. E dessa vez senti minhas lagrimas brotarem com força sobre meu rosto, sabendo o peso que aquelas palavras tinham, a verdade que elas carregavam
--Sim...eu sei.
--E mesmo assim prefere ficar com ele. Eu só preciso saber: Por quê?
-- Porque eu sou egoista demais. E acho que vou ser mais feliz assim...
--Nao. Você nao vai, voce vai se lembrar de mim, vai sentir minha falta. Porque ninguem vai te amar como eu te amo.
--Bernardo...
--Era só isso que tinha pra me dizer? --Ele falou com uma raiva imensa na voz.
--Eu...
--Vá embora.
--Bernardo...
--Vá embora, não era isso que você queria? Ter o caminho livre, tirar esse peso das suas costas? --pegou a alicança do seu dedo anelar e colocou na minha mão.-- Seja feliz com ele. Feliz como eu não fui capaz de te fazer.
Suspirei alto, tentando secar as lágrimas que caiam insistentemente com o dorso da mão, recolhi minha bolsa encostada sob a poltrona, observando-o de costas para mim, com a cabeça baixa.
--Obrigada...
Ele não me olhou, e eu continuei enquanto meus lábios se abriram hesitantes e trêmulos
--por ter sido o melhor namorado que eu poderia ter--minha voz falhava-- eu sei que provavelmente você não me queira ver tão cedo, e eu...Eu vou respeitar sua decisão, por mais egoísta que eu possa ser, eu peço que você não saia da minha vida.
Ele deu um riso sombrio de escárnio, que quase me fez calar. Mas prossegui.
--Por mais magoado que seu coração esteja, espero que guarde a lembranças boas, por que nós tivemos uma história, Bernardo. E por mais contraditório que tudo isso te pareça, eu me orgulho muito dela.--sorri tristemente-- Mas se você não puder me perdoar, e quiser sair da minha vida, eu só peço que você se cuide e encontre alguem que te faça feliz, você merece isso, mais do que ninguem. Mas do que eu mesma.
Ouvi seu choro baixo retornar.
--E eu te amo. --as minhas lágrimas voltaram a cair--Muito. Talvez não da mesma forma como você, talvez de um jeito estranho, mas, definitivamente, eu amo.
Abri a porta e me retirei do escritório.
Meus passos pesados iam em direção ao jardim, enquanto um misto de sensações contraditórias me invadiam. Uma mistura de alívio e culpa.
Eu só precisava de um abraço, de colo, de conforto.
Me sentia frágil, dolorosamente frágil como a muito não me sentia.
Precisava dela. De suas palavras doces e reconfortantes para me dar a tranquilidade que eu precisava.
Liguei meu carro e fui em dirigindo cautelosamente por entre as ruas com o transito tranquilo, o clima, no entento, não queria colaborar pois a cada momento a chuva torrencial aumentava, frustrando a minha expectativa de chegar em casa.
Mas tudo sempre poderia piorar.
Meu carro estagnou no meio do caminho, não conseguia sequer liga-lo, apesar de tentar várias e varias vezes. Isso nunca tinha acontecido.
Inferno.
Sai do carro sentindo os respingos fortes e congelantes me atingirem em cheio enquanto abria o capô que fumaçava incessantemente me vazendo tossir por ingerir boa parte daquela fumaça.
Eu sequer entendia algo sobre mecanica, no entanto meu desespero para chegar em casa era tamanho que tentava inutilmente descobrir uma maneira de consertar daquela droga de motor.
Tentei puxar uma mangueirinha e para meu desespero espirrou uma quantidade assustadora de agua no meu rosto.
Mil vezes inferno.
Só então desisti e voltei ao meu carro procurando nos contatos o numero do guincho, me disseram que chegariam em dez minutos, mas para minha infelicidade demoraram quarenta minutos, e nesse intervalo de tempo devo ter espirrado algumas dezenas de vezes. Olhei-me no espelhinho e vi meu nariz e maçãs do rosto vermelhissimos.
Minha sinusite voltou, que maravilha.
Entreguei as chaves para o rapaz do guincho e esperei um taxi enquanto me abrigava debaixo de um ponto de ônibus, a maioria deles me ignoravam, estava ensopada e se recusavam e me levar. Até que um senhor de bom coração parou e me levou até em casa me fazendo sentar no tapete de borracha para não molhar seu banco.
Mal cheguei na minha rua e a chuva cessou, dando lugar a um sol brilhante, me deixando irritada. O universo estava conspirando contra mim. Paguei a corrida e me dirigi a porta principal completamente molhada, olhos inchados, cabelo bagunçado, nariz vermelho, sandália nas mãos.
Abri a porta e como se tudo não pudesse ficar ainda pior encontro minha mãe e meus tios num papo animado tomando chá.
Aliás, meus tios um tanto próximos, Letícia sentada quase colada em Antoni, enquanto seu braço rodeava os ombros dela. Linda cena.
--Alice, veio de carona com a enxurrada.
Revirei os olhos
Idiota. Antoni, como eu te odiava. Mas pior do que sua brincadeira infame, foi ouvir a risadinha cínica de Letícia, dando corda a sua piada, se possível, me senti ainda mais ridicula.
Nem sequer me dei ao trabalho de responder e subi as escadas.
--Meu bebê, você está bem? -- ouvi minha mãe perguntar com um tom preocupado enquanto subia a grande escada.
--Estou ótima.
Fui ao meu quarto.
Chorei, dessa vez de raiva. De decepção. De frustração.
Tomei um banho com água quente tentando relaxar a minha tensão muscular e depois apaguei na cama, colocando o despertador para algumas horas mais tarde.
Quando acordei fui imediatamente me arrumar, depois daqueles longos 3 meses de férias, minhas aulas retornariam, de fato não estava nem um pouco disposta a ir a faculdade, mas saberia que perderia muita coisa caso faltasse.
A responsabilidade falou mais alto e me levantei, sentindo meu rosto quente e olhos ardendo. Tomei uma ducha rápida em seguida liguei para Clara, minha colega que estudava na mesma faculdade que eu e morava a algumas ruas da minha casa, ela prontamente aceitou me dar carona, ja que meu carro ia ficar uns dias na oficina.
Me arrumei, optando por uma calça jeans bem justa e um pouco rasgada, salto alto preto e uma blusa manga longa de tecido de grosso de lã. Uma maquiagem mais escura nos olhos para tentar desviar a atenção do meu nariz avermelhado, essa técnica sempre funcionava.
Penteei meu cabelo e deixei-o solto, acho que era uma das raras pessoas que dormiam com o cabelo molhado e acordava com ele bonito. Dei umas boas borrifadas de perfume me olhando no espelho e honestamente, gostei do resultado. Parecia futil da minha parte, mas quando me sentia triste gostava de me arrumar mais, me senti bonita, isso me ajudava de alguma forma.
Desci das escadas, torcendo para não encontrar Letícia, o episódio de mais cedo me magoou profundamente. Não era nem de longe a recepção que esperava que ela me daria.
Felizmente não havia ninguém na sala, e me dirigi a porta principal abrindo-a enquanto esperava Clara na varanda em frente ao jardim.
Me destrai lendo a mensagem de Clara que já estava chegando enquanto senti uma fragrancia amadeirada me atingir em cheio.
Tentei controlar minha respiração enquanto a sentia se aproximar de mim por tras.
--Começaram as aulas?
Fechei os olhos quando ouvi sua voz rouca próxima a mim.
--Sim. --respondi friamente.
--Sua mãe comentou que ligaram da oficina, seu carro ficará mais uns dias para o concerto.
--Hm. Certo.
--Ela saiu no carro dela. Mas posso te levar no meu. --falava com uma voz doce, porém controlada enquanto se punha ao meu lado me olhando.
--Não precisa se incomodar, Letícia. Obrigada. --falei ainda olhando o smartphone, sem manter contato visual nenhum com ela.
--Na verdade não será incomodo nenhum, eu faço questão, só preciso de dois minutos para...
--Já tenho carona.
--Com quem você vai?
Nem sequer tive tempo para responder, logo o carro esportivo de Clara estacionou em frente ao jardim, bem proxima a nós duas, baixou os vidros sorrindo docemente para mim.
--Boa noite. Espero não ter demorado, Lice.
--Imagine, Clarinha. Você chegou na hora exata.
Do canto do olho pude ver Letícia travando o maxilar, mas foi educada suficiente para cumprimenta-la.
Entrei no carro, fazendo questão de cumprimenta-la com um abraço e um beijo no rosto. Abraço mais apertado e beijo mais demorado que o habitual, ter os olhos de Letícia sobre nós me deu combustível para ser mais afável possivel com Clara, de quem sabia que ela tinha ciúmes.
Confesso, como era doce o gostinho da vingança.
**
Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?
Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.
É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução. (...)
Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.
O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.
Miguel Esteves Cardoso- Como se esquece de alguem que se ama?
CAP 19
Passei o percurso inteiro conversando com Clara, fazia algumas semanas que não conversávamos e devo confessar que senti sua falta. E também não pude deixar de perceber seu olhar atento sobre mim, poderia estar soando pretenciosa mas tinha quase certeza que ela sentia algo por mim, e naquele momento isso significava muito.
Chegamos a faculdade e me despedi dela ficando de ligar caso decidisse voltar para casa com sua carona.
Meu dia ainda carregava uma aurea pesada, quando entrei na sala atrasada sobre o olhar censurador da professora de Internacional. Mas para meu alívio tinha a companhia de Ana e Patrícia, minhas amigas que tanto sentia falta, elas viajaram boa parte das férias, sendo raras as vezes que nos encontrávamos nos ultimos meses. Definitivamente eu as amava.
Soltei um suspiro aliviado quando o sinal do intervalo tocou como música aos meus ouvidos, e fomos nós três rumo a praça de alimentação.
Conversamos trivialidades quando Ana me indagou:
--Aconteceu alguma coisa?
A olhei desconfiada.
--Não sei. Por quê?
--Estou te achando desanimada.
Falou enquanto eu sugava o canudinho do suco tentando aparentar naturalidade com aquela constatação.
--Um pouco, talvez.
--Hmm. Deixe-me ver... --Patrícia murmurou enquanto arqueava a sobrancelha me analisando calmamente.
--O que foi?
--Terminou com Bernardo?
Arregalei os olhos, era impressionante como ela conseguia ser certeira.
--Como você sabe?!
--Está sem o anel de compromisso.
--Ahh. --Olhei para minha mão logo desviando o olhar para a cara de tristeza de Ana, que logo pegou minhas mãos apertando delicadamente como uma forma de me dar força.
--Sinto muito, Alice. Se precisar desabafar, pode contar comigo.
--Pode contar com a gente--Patrícia corrigiu.
Dei um sorriso triste.
--Obrigada. Eu amo vocês.
--Nós também te amamos, amiga--Ana me lançou um olhar terno.
--Mas voltando ao assunto...quem está na jogada?--Patrícia falou com um riso malicioso nos lábios.
--Patrícia!--Ana censurou.
--Meu Deus, só estou fazendo uma pergunta! Ou você acha que Alice teria coragem de terminar sem ter um bom motivo?
--Não sei...teria? --Ana me olhou confusa.
Baixei os olhos, não sabia nem por onde começar com aquele assunto do qual definitivamente não queria falar.
--Oh my god! --Ana falou surpresa colocando as mãos na boca
--Eu sabia!
--Mas não é um assunto que me deixe confortável para falar agora, ainda é bem dificil assimilar...
--A gente entende, mas não vejo a hora de conhecer o rapaz viu? --Ana sorriu
Coitadas, se elas soubessem...
O sinal tocou e nós retornamos a aula chata, aquele período não seria fácil, e o pior era saber que o ano estava apenas começando.
No final da aula combinamos de jantar, era costume entre nós fazermos aquele programa no primeiro dia de aula, e só então lembrei que não tinha comido nada em casa o dia inteiro. Liguei para Clara avisando que não retornaria com ela para casa, e estendi o convite para irmos ao restaurante, mas ela não pode ir, segundo a mesma, tinha assuntos a resolver em casa.
Enquanto fazíamos o pedido no menu, conversamos trivialidades sobre as viagens que minhas amigas tinham feito nas férias, me deixando aliviada pelo fato de não terem tocado no assunto do meu término.
**
Retornei para casa com Patrícia que me deu uma carona quando ja se passava um pouco da meia noite. Apesar de ter me alimentado, não estava completamente bem, sentia meu rosto quente, e espirrava o tempo inteiro.
Por sorte quando abri a porta não encontrei ninguém, já deveriam estar dormindo, pensei. Fui em direção a cozinha com o intento de preparar um chá para aliviar minha tosse contínua.
--Um tanto tarde.
Quase dei um grito de susto ao ouvir aquela voz. Levei a mão ao peito sobressaltada, enquanto sentia uma leve arritmia no peito. Aliás, fiquei em dúvida se sentia aquilo pelo susto ou por vê-la tão linda naquele robe de seda que ela sempre usava, dessa vez de cor azul claro.
--Quer me matar de susto?! --falei com a voz alvoroçada.
--Hmm. Perdão, não foi minha intenção.- murmurou me fitando séria com o olhar tipicamente analítico.
Me virei em direção ao fogão observando as água fervendo, aliás tentava olhar qualquer coisa que não fosse seus olhos.
--Quem era ela? --me perguntou formalmente enquanto ouvia o barulho de cadeira arrastando.
--Ela quem? -- questionei me virando e pegando seu olhar intenso sobre mim.
--A garota que te trouxe.
--Ninguém que deva te interessar.
Ela pigarreu descontente
--Ok. Como você se sente?
Dessa vez ela havia se sentado na cadeira enquanto apoiava as mãos graciosamente sobre o queixo.
--Bem.
Tirei o sachê da xícara fumejante e tomei um gole do meu chá, por sorte estava maravilhoso, porém fiquei encostada na bancada da cozinha, não me atreveria a me sentar com ela.
Bem no fundo, tinha medo de não resistir a proximidade com ela, por mais magoada que estivesse era impossível permenacer inerte ao seu magnetismo.
Ela se levantou e veio até mim, aproximando-se perigosamente, da distância em que conseguia captar seu cheiro ainda mais intensamente. Ela encostou o dorso da sua mão macia sobre minha testa.
--Está um pouco febril.
Não respondi, tentando parecer impassível a sua presença.
--Como está se sentido?
Sorri incrédula.
--Se realmente estivesse preocupada teria me perguntado mais cedo. --faleis em esconder a raiva na minha voz
Ela franziu o cenho e sorriu mostrando suas covinhas deliciosas. Maldita. Era injusto ela conseguir ser fofa quando eu ainda estava chateada com ela.
--Então é isso...
--Isso o que?
--O motivo de tanta rispidez.
Falou se aproximando mais, quase deixando nossos corpos colados. Eu disse quase. Quase, porque a impedi com a mão afastando seu corpo, enquanto ela apoiava seus braços na bancada atras de mim, me deixando encurralada.
Ela olhou analiticamente para minha mão que se mantinha abaixo do seu pescoço detendo sua aproximação, logo depois a pegou e levou aos seus lábios depositando um beijo terno por um breve segundo antes que eu a puxasse de volta.
--Eu poderia até me desanimar com suas grosserias, mas não posso negar meu contentamento em vê-la sem seu anel.
Revirei os olhos.
--Se me der licença, preciso sair. --Falei olhando seus braços que me rodeavam.
--O que posso fazer para você me desculpar, meu amor?
Roçou o nariz na curva do meu pescoço aspirando meu cheiro, enquanto ainda sentia o efeito daquelas duas palavrinhas mágicas.
Seus azuis me questionavam.
Não respondi.
Ela se aproximou dos meus lábios mas desviei de sua boca e afastei-a.
--Você foi bem mais receptiva hoje de manhã.
--Para você ver. Às vezes um pequeno gesto muda tudo.
Ela me olhou parecendo captar o que indiretamente quis dizer.
--Eu sei esperar. Você me conhece suficiente para saber sei ser muito persistente quando quero.
Estavamos próximas demais, era possivel sentia seu hálito doce proximo a mim, a centímetros. Aproximei ainda mais, quase encostando nossas bocas, passei a lingua umidecendo meus lábios sob seu olhar cheio de encantamento. Vi Letícia fechar os olhos a espera de um beijo.
Um beijo que não veio.
--E você deveria me conhecer o suficiente para saber que não sou tão fácil como você supõe. --Sussurrei ao seu ouvido.
Ela abriu os olhos carregados de surpresa e frustração, enquanto me afastei de seus braços e indo em direção a porta da cozinha enquanto ela ainda permanecia no mesmo lugar, estática.
--Boa noite, Letícia.
Ela não respondeu.
***
As carícias do olhar são as mais adoráveis
Chegam ao fundo da alma, aos limites do ser
e libertam assim segredos inefáveis de outro modo em silêncio,
e sem ninguém saber.
Os beijos puros, são grosseiros, junto a elas;
mais que qualquer palavra o seu falar é forte;
nada exprime melhor, no mundo, as coisas belas que passam num momento,
em efêmera sorte.
Quando a idade envelhece a boca em seu sorrir
que as rugas vão marcando aos poucos de amargura,
intacta ainda, mantém sua límpida ternura.
Feitas para inebriar, consolar, seduzir,
guardam toda a doçura, e os ardores e o encanto!
Que outra carícia em luz trespassa o nosso pranto?
Auguste Angellier - As Carícias do Olhar
Fim do capítulo
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Ana_Clara
Em: 02/11/2015
O que será que aconteceu para a Letícia tratar a Al desse jeito? Só sei que a ruivinha deve ser bem firme e não cair na dela sempre que ela quiser. Ela já terminou com o Bernardo, um problema a menos, agora precisa ser forte e se impor. A Letícia precisa tbem tomar certas atitudes, terminar com o chato do Antoni.
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