Capítulo 15
A noite ao lado de Letícia não poderia ser definida de outra forma senão excitante. Nem nas minhas maiores expectativas imaginaria que seria tão delicioso como de fato foi, sex* para mim não era novidade, ja tinha dormido com Bernardo, mas nem havia como comparar, ter estado nos braços de Letícia foi uma sensação ímpar, nunca havia provado nada igual.
Na verdade, inicialmente, já havia planejado tudo milimetricamente, antes de viajar tinha ido comprar uma lingerie especial ja imaginando o que aconteceria e mesmo sabendo que seriam raros os momentos que ficaríamos sozinhas em casa e tendo premeditado tudo me senti surpreendida a cada atitude de Letícia.
Até então me perguntava intimamente se aquela mulher realmente existia, depois da noite descobri que sim, irresistivelmente deliciosa, ela sabia como me agradar, sabia exatamente o que fazer para me deixar a vontade, para me livrar das amarras. Ela esbanjava sensualidade sem vulgarizar, sabia conquistar cada cantinho do meu corpo.
Letícia era atrevida, não tinha vergonha de pedir nada, e fazia isso de uma forma tão direta que não dava espaços para negativas.
Era gostosa, e digo isso não de uma forma obscena pelas formas de seu corpo, mas pela sensação de querer sempre mais dela, provar mais e mais.
Era instigante, vez ou outra em meio a carícias observava a ''performance'' dela e me perguntava se ela já haveria tido outras experiencias, era praticamente impossível fazer tudo aquilo sem ter estado com uma mulher antes.
Ainda de olhos fechados preguiçosamente passei a mão na cama procurando o corpo quente de Letícia, mas não encontrei, abri os olhos e a vi sentada na cadeira perto da escrivaninha me observando. Sorri.
--Bom dia - falei
--Bom dia, lindinha.
--Me observando?
--Poderia ficar assim por horas, acredita?
--Bobinha.
--Agora tome o seu café, meu bebe.
Só então percebi o café posto no criado mudo ao meu lado. Arregalei os olhos, surpreendida pela quantidade de comida que ela trouxe.
--Tudo isso para mim?
--Você merece isso muito mais.
Me sentei ainda me espreguiçando na cama, com o lençol tentei cobrir meu corpo amarrando sobre meu colo, comi com satisfação um pãozinho caseiro e tomei o suco de laranja fresquinho. Senti o corpo conhecido se aconchegar atras do meu, causando um arrepio bom no meu corpo, seus braços envolviam minha cintura enquanto sentia seu nariz se aninhar ao meu pescoço.
--Você quer me engordar, é? Mas que bom que trouxe, acordei faminta! --falei isso pegando um fatia de bolo
--Claro que não, só me senti culpada por ter feito você perder tanta energia ontem, agora tem que repor.
Meu rosto corou na hora, Letícia sorriu.
--Você fica mais linda assim envergonhada, sabia?
--Imagino que devo estar linda com essa cara de sono.
Sentia os lábios quentes de Letícia espalharem beijos ternos na minha nuca me deliciava com aquele café saboroso que ela trouxe. Como era bom a sensação de ser cuidada!
--Tenho que tomar um banho, linda.
--Ainda está tão cheirosa...
--hmm, e essa flor?
--Achei que não tinha notado.
--Estava com tanta fome que nem reparei, acredita?
Era uma flor linda, o aroma era incrível, um doce citrico delicioso.
--E o bilhete não vai ler?
--Claro que sim.
Desdobrei aquele papel e li tudo atentamente, um poema lindo cujo autor não conhecia, mas que escrevia com uma profundidade inigualável.
Foi inevitável não me emocionar.
Sorri e depositei um beijo leve sobre a bochecha de Letícia ainda encantada com o gesto.
--Me basta, é?
--Sim, basta você. Não preciso de mais nada.
Fiquei ainda alguns minutinhos curtindo aquele carinho gostoso que Letícia fazia.
--Preciso tomar banho agora, sério.
--Ai, não deixo. Fica aqui!
Suas mãos delicadas me seguravam para que eu não saisse, as segurei e beijei-as.
--Já volto para você.
Me desvincilhei do contato do seu corpo delicioso que me abraçava com carinho, apanhei um roupão felpudo e fui em direção ao banho, tomar uma chuveirada fria para despertar minha sonolência e começar o dia disposta. No banho, observando-me atentamente pelo espelho via em meu corpo algumas pequenas marcas da noite anterior, nada tão perceptível, não fosse minha pele tão branca e sensível sequer seriam percebidas a olho nu.
E água corria no meu corpo me fazendo lembrar da noite anterior, do toque, da sensibilidade que Letícia era capaz de causar na minha pele, no meu coração.
Enxaguei meu cabelo, tirando toda espuma depois escovei meus dentes e sai. Encontrei Letícia na mesma posição, sentada na cama sorrindo para mim.
--Acredita que ja estava com saudades? --falou com um ar divertido.
--Não!
--Sim. Vem cá! -- falou me puxando pelas mãos.
--Calma, tenho que me vestir, Letícia --falei indo em direção ao armário escolher uma roupa.
--Deixa eu vestir você?
Veio me abraçando por trás falando no meu ouvido, causando arrepios pelo meu corpo.
--Acordou disposta? --falei escolhendo um vestido e retirando
--Se bem que prefiro sem roupa!
--Safada.
Letícia me virou de frente e beijou meus lábios com vontade. Abraçando meu corpo me deixando sem ar.
--Quero mais, Alice.
--Você vai ter
Letícia me encostou na parede explorando meu corpo com vontade, sentia seus beijos ávidos se espalharem pelo meu pescoço, enquanto uma de suas mãos subia pelo meu colo, a outra puxava meu cabelo delicadamente me arrancando suspiros.
Ouvi o barulho chato do celular, ignorei a primeira chamada.
Continuou.
Ignorei a segunda.
--Atende, linda. Deve ser sua mãe...--Letícia falou com a voz entrecortada
Suspirei e fui até a escrivaninha e tive um susto quando vi no visor do celular o rosto conhecido.
Era Bernardo.
Na foto que tiramos no seu ultimo aniversário há 4 meses atras. Pisquei várias vezes enquanto olhava para a tela, minha respiração cessou enquanto um sentimento de culpa me invadia. Olhei ao redor como se estivesse sendo observada, mas só via Letícia me olhando com estranheza, porém não era o olhar dela que buscava, por mais que racionalmente saberia ser impossível que Bernardo estivesse ali, meus sentidos me afligiam pela possibilidade de ser observada.
Me senti constrangida, como se ele pudesse naquele momento me ver, como se ele pudesse saber tudo que havia acontecido.
--Alice?
Letícia tocou o meu braço levemente, mas retirei imediatamente repreendendo abruptamente aquele contato. Olhei para ela com aflição.
--O que houve? Quem era?
Suspirei alto enquanto fitava o teto, tentando evitar o maximo olhar Letícia.
--Bernardo.
--E...? --Letícia indagou sem entender.
--Preciso retornar.
Me retirei do quarto com as mãos trêmulas, ainda sentia o sangue faltar quando li sua mensagem.
Amor, preciso falar com você urgente. Quando puder me retorna.
Disquei o número conhecido rapidamente. Ele atendeu no segundo toque, com a voz conhecida.
--Oi
--Bernardo? Tudo bem?
--Não.
Senti sua voz estranha, parecia triste, melancólico. Não a reconhecia, sempre tão entusiasmado. Temi que houvesse acontecido algo realmente grave.
--Aconteceu algo com seu pai? Seu projeto deu certo?
--Ele está bem, tudo certo com o projeto. É outra coisa que queria te falar. Quando você volta, Alice?
--Amanhã, Bernardo. Por que? Me diz o que houve.
--Sobre a gente.
Senti a voz dele fraquejar e temi que ele soubesse de algo, que tivesse desconfiado, que alguém tenha visto algo e contado para ele.
--O que tem a gente?
--Preciso te ver, quero conversar contigo pessoalmente. Com quem você está aí? Vi sua mãe e ela disse que você tinha ficado.
Meu coração quase parou.
--É fiquei aqui no sitio sim, alguma coisa séria? Me diz logo.
--Muito séria, eu preciso de você. Te amo tanto, meu amor.
Ele falava coisas sem nexo, sua voz pastosa denunciava que havia bebido.
--Bernardo, você bebeu?
--Um pouco.
--Em plena terça feira?! Com quem você está?
--Sozinho, eu precisava, você não entenderia.
--Está ao menos perto de casa?
--Estou num bar próximo. Não se preocupa, amor.
--Faz o seguinte, vai pra casa, amanhã quando retornar conversamos, tudo bem?
--Sim, vou fazer isso. Alice?
--Oi
--Te amo muito. Você é tudo para mim, nunca esqueça disso.
Suspirei.
--Você também é muito importante para mim, você sabe disso. Se cuide, Bernardo. Boa noite.
Desliguei sentindo o peso do olhar de Letícia sobre mim, via ela parada na porta com braços cruzados numa expressão clara de irritação.
***
Trovas de ciúmes
"Dosado", o ciúme é tempero
que à afeição da mais sabor...
Mas, levado ao exagero,
é o pior veneno do amor...
Cão de guarda, ameaçador,
a rosnar, furioso e cego
eis afinal, meu amor,
este ciúme que carrego...
Do amor e da desconfiança
infeliz casal sem lar,
nasceu o ciúme, - essa criança
tão difícil de educar...
Perigoso, onipotente,
verdadeiro ditador...
o ciúme é um cego, doente,
ou um doente, cego de amor?
Eis como o ciúme defino:
mal que faz mal sem alarde
corte de alma, muito fino,
que não se vê... mas como arde!
O ciúme, desajustado,
por louco amor concebido,
era uma amante, (coitado)
a padecer... de marido!"
Fim do capítulo
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