Capítulo 5
Voltei da festa e já eram uma da manhã, Bernardo me deixou em casa, andei pelo jardim, percebi que a luz da varanda no andar de cima estava acesa, e minha mãe não costumada a ficar até tarde acordada.
Entrei na casa tirando os saltos e subindo as escadas em direção ao meu quarto. Lá tirei minha roupa e fui em direção ao banheiro, tirei a maquiagem e fui tomar um banho relaxante, após o termino usei o secador, pois não gostava de dormir com cabelos úmidos. Terminei e usei um conjuntinho, short e camiseta de seda verde.
Fiquei um pouco receosa de sair do quarto assim e ir para a varanda, meu inconsciente sabia que no fundo eu a procurava, não a tinha visto o dia todo e sentia falta do seu sorriso, da sua risada gostosa, da forma como me olhava, me analisando. Cobiçando.
E por um segundo deixei a razão se esvair e segui minhas vontades, meus anseios.
Simplesmente fui.
A casa estava um tanto escura, naquela escuridão só se via a luz da varanda acesa, aproximei lentamente enquanto ouvia uma musica ressoar, entrei pela varanda e a vi encostada ao peitoril, alheia tomando vinho, olhando na direção oposta a que eu estava, com um cálice de vinho entre as mãos. Sua feição, sua elegância, o charme tudo nela era digno de estampar obras de artes dos melhores pintores.
--Chegou tarde, sobrinha-Falou ela sem sequer virar-se na minha direção
--Um pouco, desculpa te incomodar – falei sentindo meu coração sair pela boca.
Então ela virou-se e me olhou dos pés a cabeça sem pressa, se atendo a cada detalhe, depois levou a taça aos lábios e tomou um generoso gole de vinho.
Ela estava com um robe amarelo lindo, combinava perfeitamente com ela.
--Imagine, estava aqui sozinha. Me faz companhia? -- Falou tão delicada que não resisti.
--Claro.
--Quer um taça? – falou olhando para algo atrás de mim, só então me dei conta que me recostava na mesa onde a garrafa de vinho estava posta.
--Não costumo beber, sou fraca.
Ela deu uma risada gostosa.
--Você é um bebê mesmo, mas só uma taça, prometo. E amanhã ainda é feriado, não é?
--Sim, se você faz questão então aceito, mas só uma taça.
Como resistir? Eu nem sequer conseguia dizer não há algo que ela pedia.
--Ótimo. –falou e pegou uma taça que repousava ao lado da sua.
--Como sabia que era eu que estava aqui, quando cheguei? –
Perguntei curiosa enquanto ela se aproximou me olhando, em poucos passos e já estávamos a centímetros uma da outra, dava até para ouvir sua respiração de tão próxima que estava do meu rosto. Éramos da mesma altura, então os olhos, nariz e boca se encontravam no mesmo patamar. Aquele olhar libertino, intenso fez meu corpo esquentar de imediato, tamanho calor que vinha do seu corpo.
Na posição que eu estava, completamente recostada a mesa de costas, apertei as mãos que se encontrava na borda, tentando controlar o ímpeto que sentia de beija-la. Tamanha vontade que sentia em que ela me tomasse em seus braços.
Ela segurou minha cintura com delicadeza. Suspirei. Fez carinho subindo e descendo as mãos quentes e me causando arrepios, achei que não podia estar mais vulnerável, me enganei.
Letícia afastou uma mecha do meu cabelo e encostou o nariz a pele do meu pescoço e aspirou, fazendo-me eriçar cada pêlo do meu corpo, fechei meus olhos e cerrei meus dentes, tentando controlar o gemido.
Quando ela encostou os lábios úmidos na minha orelha e falou com a voz mais deliciosa do mundo.
--Reconheci você pelo cheiro. Adoro seu cheiro. –Falou aspirando mais profundamente enquanto apertava mais minha cintura, me pressionando contra ela, senti sua barriga encostar-se à minha. Quase desfaleci.
--Deve ser o perfume-falei com a voz entrecortada.
Só então percebi que já estávamos indo longe demais, tirei usas mãos da minha cintura e ela fez uma carinha tão linda, fez um bico com os lábios, parecia uma criança quando perde o doce.
Suspirou frustrada, então colocou vinho em uma taça e me ofereceu.
--Com quem estava? Vi um carro parando lá fora, e não era o seu. –perguntou direta
--Era Bernardo...
--Quem é Bernardo? – ela olhou-me curiosa
--Meu namorado.
--Interessante. Na minha época não era assim –falou e pôs uma cadeira na minha frente, sentando-se de frente pra mim, enquanto ainda me mantinha em pé.
--Sua época? –falei sorrindo
--Quando tinha sua idade...
--E como era, então?
--Digamos que meus pais eram rígidos com esse assunto. Não podia chegar depois das oito, tinha que namorar em frente à casa, e só se podia sair juntos e sozinhos em ocasiões especiais –Falou sorrindo
--Absurdo
--Na época essa severidade me aborrecia, hoje vejo que era melhor assim. Era mais gostoso.
--Por quê?
--Namoro a moda antiga é bem melhor, andar de mãos dadas, flertar, esperar o tempo certo para as coisas acontecerem. Não gosta? -ela falava me olhando, acho que queria saber se concordava.
--Prefiro assim também.
--Acha que estou indo rápido demais?
--Como?
--Se você acha que eu estou apressando as coisas...contigo? –ela me olhava fixamente
--Não entendi.
--Acho que entendeu sim.
Ela estava aos poucos jogando as cartas na mesa, naquele momento em especial, apesar de não estar sendo tão clara, era notório que assunto ela estava tratando.
--Um pouco. –falei quase que me arrependendo imediatamente.
Ela ali, em minha frente, sondando o terreno e eu dando corda, incentivando-a a continuar a aquela paquera que antes velada, agora tinha ganhado ares petulantes.
--Tem razão. –falou segurando minha mão e depositando um beijo.
Aquele beijo me incitava, optei por mudar de assunto antes que não respondesse mais por mim.
--Gosto de Diana Krall – falei referindo-me a musica que tocava no pequeno aparelho de som
--Minha cantora favorita. Gosta de soul?
--Sim, rhythm and blues, jazz...
--Magnífica.
--Diana?
--Você, Alice. Fico instigada a saber mais de ti
--Já sabe tanto sobre mim, eu que não sei quase nada sobre você.
--Respondo tudo que você quiser! É só perguntar.
Da posição que estava, acima dela, me davam uma visão privilegiada dos seus olhos que brilhavam inquisidores em minha direção.
--Um resumo da sua vida, seria de bom começo.
--Sério? –falou me olhando com os olhos arregalados
--Sim –falei divertida, ela não parecia ser alguém que gostasse de se expor
--Posso omitir algumas partes e contar só o relevante?
Dei uma risada.
--Fique a vontade, não mentido pra mim é o suficiente. Não suporto mentiras.
--Bom, nasci a 30 anos atrás- olhou sorrindo-me. – Morava em Sicília com meus pais, que são brasileiros, mas se mudaram para lá e sempre vinham aqui quando era criança, porém passei longos anos sem vir, no entanto considero meu País. Eles tinham vinhedos no interior da cidade e vendiam vinho para toda a Itália e logo depois para outros países, só que em pequena quantidade. Nada tão grandioso, era uma empresa de porte médio, prezávamos mais a qualidade que a qualidade propriamente, mas inevitavelmente os negócios cresceram e passaram a produzir em grande quantidade...Enfim, era uma vida tranqüila, cresci estudei economia me formei, decidi continuar os estudos com mestrado, doutorado. Logo depois dei aula em uma universidade no norte da Itália, lecionar é minha paixão.—Por um segundo sua voz embargou e ela desviou os olhos dos meus-- Mas me ausentei da sala de aula para cuidar de um negócio, a empresa teve problemas e tive que assumir a frente, foi uma grande crise mas há alguns anos a situação se estabilizou. Com ajuda de algumas pessoas, acabou tudo ficando bem.
--Interessante.
--E agora estou aqui, retornei ao meu País, conheci uma pessoa maravilhosa, encantadora, inteligente mas que se recusa a tomar o vinho vindo diretamente do meu vinhedo e que escolhi a dedo para essa noite.—Falou apontando para a taça anda intacta em cima da mesa.
Sorri.
--Perdão, estava tão concentrada que esqueci de beber. –Falei dando um gole
Ela deu um sorriso tão lindo que quase me engasguei, os dentes perfeitamente alinhados, as covinhas que tanto me cativavam.
Letícia passou a ser sinônimo de irresistível.
--E então? O que achou?
--Bom, não devo conhecer tanto sobre vinhos como você. Mas é bem saboroso. –dei outro gole, de fato o vinho era uma delícia.
Continuávamos conversando amenidades, enquanto eu continuava provando do seu vinho, em dado momento ela buscou outra garrafa e continuávamos bebendo e dando risadas. O papo dela era deliciosamente atraente, a forma como ela falava, se expressava, gesticulava. Era como seu corpo todo falasse.
--Cuidado para não exagerar na bebida –Ela disse enquanto eu colocava mais vinho na minha taça
--Eu também não sou tão vulnerável assim. –falei com a voz vacilante com o efeito da bebida
--Você ainda é um bebê, sabia? Posso ser presa por fornecer bebida alcoólica a uma criança
Disse enquanto contornava a renda do meu baby-doll com a ponta dos dedos e me olhava sedutoramente
--Exagerada.
Fiquei tão nervosa com o gesto dela que acabei por derrubar a taça, que se espatifou no chão.
--Não disse, já é o efeito da bebida.
--Foi sem querer.
Falei enquanto tentava juntar os cacos do chão, e acabei me espetando com um estilhaço pequeno.
--Droga – falei
--Cortou muito? Deixe-me olhar -- Letícia levantou-se e colocou suas mãos entre as minhas e tirou o estilhaço que ainda estava fixado ao meu dedo indicador.
--Aii – gemi
--Desculpa, meu anjo. Ta doendo?
A vontade que tive foi de mentir, exagerar, dizer que minha dor era descomunal, excessiva, para que aquele carinho se prolongasse, pra sentir suas mãos mais tempo acariciando a minha. Mas foi só uma espetada, um pequeno furo. Uma gotícula minúscula surgiu e ela fez algo que me excitou completamente.
Beijou meu dedo, passando a língua envolta, circulando até colocar a pontinha na boca dando um pequeno estalo. Mordi meu lábio tentando controlar o gemido.
Respirei fundo.
--Não faz assim-falei sem me conter, estava prestes a avançar naquela boca que parecia ainda mais apetitosa ainda.
--Assim? –Falou e repetiu o gesto, mas dessa vez beijou todos os dedos, um por um, lentamente.
--Preciso ir dormir... –falei completamente abismada, tentando recuperar o controle
--Deixa eu te pôr na cama deixa?
Falou abraçando-me novamente, dessa vez mais apertado, colando seu rosto no meu, ela falava baixinho no meu ouvido, dessa vez salpicava beijinhos no meu pescoço, na minha orelha...
Suas mãos acariciavam minhas costas, primeiro por cima do tecido, mas logo depois por dentro, me arrancando suspiros todas as vezes que suas unhas encostavam-se a minha pele.
--Não pode –falei num fio de voz
--Só vou te por pra dormir, Bobinha. Além do mais você não está em condições de responder por si. Deixa que eu cuido de você. Vem –falou me puxando pela mão em direção ao corredor.
A cada passo que dava sentia meu coração palpitar mais forte, minhas mãos gelavam, enquanto acompanhava seus passos. Ela tinha razão, eu já não respondia mais por mim, meu olhar fixava-se aos seus quadris que rebol*vam enquanto ela caminhava.
--É esse aqui –falei quando cheguei a porta do meu quarto já no final do corredor.
--Eu sei.
Abri a porta e adentrei.
--Com sua licença.
Ela entrou e ficou olhando ao redor, acho que a decoração do quarto a tinha agradado. Depois olhou a cama de casal com estranheza.
--8 Travesseiros? Quantas pessoas dormem aqui? –perguntou divertida sentando na cama
--Eu gosto.
-- Deita aqui – falou apontando para a cama.
Deitei sendo acompanhada pelo olhar dela. Acomodei-me na cama e ela me cobriu com o cobertor
--Ta tudo girando – falei sorrindo.
--Embriaguei você, estou me sentindo culpada, tenta dormir agora.
Falou acariciando meus cabelos e eu acabei dormindo.
Não sei ao certo quanto tempo dormir, mas quando acordei o dia já estava amanhecendo.
No criado mudo uma jarra de água, um copo e um analgésico acompanhados de um bilhete.
Obrigada pela companhia deliciosa, anseio
passar outras noites ao seu lado...
Ps : Espero que isso te ajude com a ressaca,
Beijo,
Letícia
** *
Por todas as razões e mais uma. Esta é a resposta que costumo dar-te quando me perguntas por que razão te amo. Porque nunca existe apenas uma razão para amar alguém. Porque não pode haver nem há só uma razão para te amar.
Amo-te porque me fascinas e porque me libertas e porque fazes sentir-me bem. E porque me surpreendes e porque me sufocas e porque enches a minha alma de mar e o meu espírito de sol e o meu corpo de fadiga. E porque me confundes e porque me enfureces e porque me iluminas e porque me deslumbras.
Amo-te porque quero amar-te e porque tenho necessidade de te amar e porque amar-te é uma aventura. Amo-te porque sim mas também porque não e, quem sabe, porque talvez. E por todas as razões que sei e pelas que não sei e por aquelas que nunca virei a conhecer. E porque te conheço e porque me conheço. E porque te adivinho. Estas são todas as razões.
Mas há mais uma: porque não pode existir outra como tu.
Joaquim Pessoa, em 'Ano Comum’
Fim do capítulo
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Ana_Clara
Em: 02/11/2015
Então os mistérios e a fuga do que ela realmente considera felicidade tem a ver com o Antoni e a empresa que era de sua família? Senti certa frustração vinda da parte dela. Com certeza a Al vai fazer a empresária sair dos eixos e cometer muitas loucuras. rsrsrs
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Maria Flor
Em: 29/09/2015
Adorando esse clima de ferte!!!!
Beijoo
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