Capítulo 11
Construindo o Amor -- Capitulo 11
Rafaela aguardava por Kenedy no saguão do aeroporto. O avião estava com meia hora de atrasado.
Quando o rapaz finalmente apareceu Rafaela foi ao seu encontro e o abraçou.
-- Amor que saudade - Kenedy depositou um beijo na boca da namorada.
-- Também estava. Vamos? - seguiram em direção ao estacionamento do aeroporto.
No carro:
-- Bela, providenciou o que pedi?
-- Sim, tem certeza que teremos que ir Kenedy? Não sou dada a festas. Principalmente essas que servem tão somente para aparecer nas colunas sociais.
-- Mas entenda Rafa que essa festa é muito importante para mim. Meu chefe nem sabe que eu existo. Hoje será a oportunidade que tanto esperei.
-- Tudo bem. Farei esse sacrifício por você - Kenedy pegou a mão da namorada e beijou.
Na clinica veterinária:
-- Olha Eduarda ele ficará aqui pelo menos por mais uns cinco dias - a veterinária explicava para Eduarda os próximos passos a serem seguidos no tratamento do cachorro atropelado.
-- Você pode fazer tudo o que for necessário para que ele fique bom logo - fazia carinho na cabeça do animal que retribuía com lambidas em seu braço.
-- Pode ter certeza que farei - a veterinária sorriu pegando o cachorro no colo.
-- Até mais amiguinho. Amanhã volto pra te ver.
Eduarda despediu- se da veterinária e foi para casa. Tinha uma festa à fantasia para encarar não estava nenhum pouco a fim, mas havia prometido para Fabi e não a deixaria na mão. Desde o acidente não sentia-se bem. Devido ao choque emocional, sua asma voltou a incomodar. Iria fazer uma média com o coroa da Fabi e logo voltaria para casa.
-- Dudinha a Fabi esteva aqui e deixou essa caixa para você - Joana a mulher de Manoel e uma das empregadas da mansão, entregou o embrulho para Eduarda.
-- Obrigada Joana. Essa é a minha fantasia para usar na festa de hoje à noite. A Bába?
-- Está lá fora conversando com o Lucas - Lucas é o jardineiro.
-- Quando Bába entrar Joana pede pra ela subir. Estou no meu quarto.
Eduarda entrou no quarto e jogou a caixa sobre a cama. Não fazia a mínima ideia de que seria a fantasia.
Sentou na cama e abriu o embrulho, tirou a roupa de dentro da caixa e ficou admirando.
-- Até que a magrela tem bom gosto - a roupa era linda.
-- Gostou? Logo imaginei que gostaria - Bárbara entrou no quarto e sentou ao lado de Eduarda na cama - Quando ela me contou de que seria a fantasia, pensei, que grande coincidência.
-- Sabe Bába... - Eduarda levantou foi até a estante e pegou um livro -- lembro-me de cada trecho desse livro, de trás pra frente, de frente pra trás. Acho que vocês fizeram uma lavagem cerebral em mim - riram juntas.
-- Nós? Você passava o dia inteiro perseguindo os empregados para que lessem, mesmo que fosse um trechinho para você.
-- Eu era chata né Bába - Eduarda sentiu tristeza nesse momento.
-- Você nunca foi chata minha menina - Bárbara abraçou a loirinha - Você sempre foi o nosso tesouro.
Eduarda abriu o livro e tirou um bilhetinho amarelado pelo tempo, que ficava guardado entre as folhas. O motivo de Eduarda amar tanto a história eram as poucas palavras nele escritas.
"De todos os bens que um dia te deixarei, esse é o mais precioso e amado por mim".
Mamãe.
Bárbara vendo que os olhos da menina estavam cheios de lágrimas, resolveu mudar de assunto.
-- Você já provou o traje? Fabi falou que se não ficar na medida correta, é só ligar que ela manda a costureira vir aqui ajustar a peça.
-- Já vou provar Bába - passou a mão pelo rosto para secar as lágrimas e foi vestir a fantasia.
No apartamento de Rafaela Kenedy não estava tão feliz com a fantasia.
-- FICOU APERTADA RAFAELA - Jorge berrava como se Rafaela fosse à culpada pela barriguinha saliente dele.
-- Você engordou. Tenho culpa? Tenta ficar sem comer até a noite, talvez dê certo - a vontade de Rafaela era tanta de rir que foi obrigada a correr para o quarto e jogar-se na cama, abafando o riso com o travesseiro.
-- Essa calça partiu o meu pinto no meio - Kenedy tentava fechar a calça.
-- Agora você tem dois. O sonho de todo homem - Rafaela se recompôs.
-- Você fez de propósito para não irmos à festa. Não é Rafaela? - Kenedy acusou.
-- Agora quero ir. Mesmo que seja necessário amarrar o seu pinto e o seu saco com uma corda para ficarem dentro dessa calça - saiu e batendo a porta com força.
-- Entra Rafaela - Jorge foi se arrastando abrir a porta do apartamento para Rafaela entrar.
-- Não precisa nem falar. "Está morta de sono e com o corpinho doido".
-- Deixa prá lá - Jorge jogou-se no sofá.
-- Tem alguém aí com você? - pegou a chave de carro que estava sobre a mesinha de centro.
-- Não se preocupe. Não é a Duda. Há essa hora a deusa loira deve estar nos braços de uma linda morena catarinense.
-- Claudia está namorando com essa maluca? - Rafaela perguntou preocupada.
-- Não fale assim. A Duda é o sonho de consumo de toda a sapataria e se elas estão namorando não sei te dizer, mas que rola uma colação de velcro rola - Jorge bocejou.
-- Nesse mundo em que vocês vivem um come o outro, com uma facilidade incrível.
-- Pra começar querida, quem vive em outro mundo é você e lá com certeza só quem vai te comer é o otário do seu namorado - Jorge perdeu a paciência com a amiga.
-- Desculpe Jorge, não tive a intenção de te ofender - sentou ao lado do amigo no sofá.
-- Sabe mona... Você deveria conhecer a Dudinha. Ela é tão fofa amiga e com certeza te mostraria o lado gostoso da vida.
-- Não sou lésbica Jorge e mesmo que fosse escolheria uma mulher e não uma pirralha.
-- Sei lá você é tão... Mulherão, gostosa, coxas grossas e ainda usa vestido com sandálias de salto alto. Eduarda iria babar o tempo todo em cima de você. Sem contar que ela é a herdeira da Jeser mona.
Rafaela ficou olhando séria para o amigo. Não se acreditava que tinha escutado isso da boca de Jorge.
Na mansão dos Jeser.
-- Dudinha você ficou linda meu amor - Bárbara, Lucas, Joana e Manoel bateram palmas assim que Eduarda desceu as escadas da mansão.
-- Vocês são suspeitos - Eduarda olhou para a cara de bobões dos empregados. Colocou a boina e foi até eles - Mas mesmo assim o que interessa é a opinião de vocês - beijou um por um no rosto.
-- Vocês parem de babar na menina e vão descansar - Bárbara tocou os três que ainda olhavam orgulhosos para a garota.
-- Amo demais eles sábia? Sou muito feliz por ter tantos pais e mães - beijou a cabeça de Bárbara - Vou descansar um pouco, ainda é cedo para sair - conferiu a hora no celular.
-- Duda vou deitar amanhã acordo cedo. Se cuida meu amor saiu em direção ao quarto.
-- Boa noite Bába.
No Leblon as coisas não estava tão tranquilas assim.
-- Tem certeza que não vai arrebentar? - Rafaela observava preocupada o estado em que se encontrava a calça de Kenedy.
-- Se eu não respirar com certeza não teremos problemas - olhou de alto a baixo para Rafaela - Não me conformo você linda e maravilhosa e eu nessa roupa de bailarino parecendo uma bicha. Justo hoje que queria ser visto por todos como um homem bonito e apresentável estou assim, parecido com o Mikhail Baryshnikov (Maior bailarino clássico de todos os tempos) - Kenedy havia reclamado o dia inteiro, Rafaela não aguentava mais.
-- Vamos Kenedy. Agora não adianta reclamar. Foi você quem escolheu essa fantasia porque era a mais linda de todas. Lembra? - Abriu a porta do apartamento para saírem.
-- CARALHO!!! - Kenedy saiu de perna aberta xingando - Rafaela teve que rir.
No clube:
O local foi transformado em um castelo medieval. O clube tinha as paredes de pedra. Lindo! Para deixar a festa com um clima ainda mais medieval, a decoração era com muitas velas, lustres e candelabros. Os móveis de madeira combinavam muito bem com o tema da festa. Tons de verde foram usados na decoração do espaço.
Grandes mesas de madeira foram usadas para colocar os rechauds, onde os convidados podiam se servir. Na área externa do salão, mesas foram colocadas próximas à piscina. O espaço serviu como lounge para os convidados que queriam conversar mais à vontade e fugir da agitação da pista de dança.
A apresentação da comida era um espetáculo. O menu misturava receitas de diferentes momentos do século XIX e origens.
Aperitivos: Ostras ao Natural (Era Vitoriana), Pastéis de Ostra (Brasil, Segundo Reinado).
Entradas: Sopa à La Condé (1829) Sopa de Pepino (1860) Sopa de Ervilha
Pratos principais e guarnições: Lombo de Porco ao molho de maçãs, Bife ao molho de Vieiras, Bacalhau à Holandesa (1821), Chilaquiles (1898), Arroz de Carreteiro, Batatas à Maître D'Hôtel.
Bebidas: Vinho (obrigatório!), Ponche do Regente, Limonada de Lavanda, Cajuada e Licores.
Rafaela e Kenedy estavam parados na entrada do "castelo" improvisado aguardando os dois homens fantasiados de cavaleiros medievais checarem seus convites.
-- Senhor e Senhora Vieira. Podem entrar - o cavaleiro abriu passagem para que passassem.
-- Meu Deus!!! - Rafaela estava deslumbrada.
-- É poder demais não é? - Kenedy arregalou os olhos.
O local já estava cheio de camponeses; burgueses; nobreza; Clero, cavaleiros tudo junto e misturado.
-- Nossa fantasia é da era medieval Rafa? - Kenedy estava na duvida.
-- É entre a era medieval e a era moderna... Já era no tempo em que os humanos descobriram as armas de fogo - Rafaela respondeu convicta.
-- Além de gostosa minha mulher é culta - Kenedy sorriu orgulhoso ao lado da arquiteta.
-- Apenas conheço muito bem o que inspirou nossas fantasias.
Os dois misturaram-se aos demais convidados. Kenedy apresentava Rafaela a todos os amigos. Sentia orgulho de ter uma mulher tão bela como namorada. O que aborrecia Rafaela era o fato de querer o tempo todo chamar a atenção do dono da empresa e aniversariante do dia.
Eduarda acordou assustada com seu celular tocando.
-- Duda, onde você está que ainda não apareceu? - Aline estava possessa.
-- Estou no caminho, tenho que desligar o celular, estou dirigindo - mentiu.
-- Tá bom vem rápido. Tô te esperando - desligou brava.
Eduarda deu um pulo do sofá, correu até o espelho, se ajeitou, pegou a chave da Ferrari do pai emprestado (seu porsche estava no conserto) e em dez minuto estava na estrada em direção ao clube.
No clube a festa estava bombando, muita gente dançando, comendo, enchendo a cara e Kenedy puxando o saco de supervisores, gerentes, porteiros, copeiros... qualquer um que trabalhasse na empresa.
Rafaela estava sufocada, nauseada, chateada. Aqueles homens babando nela na frente de Kenedy e ele se vangloriando por ter uma mulher bonita. Galhudo. Pensava Rafaela.
-- Kenedy vou dar uma volta, respirar ar puro. Tudo bem?
-- Claro amor vou aproveitar para conversar com o gerente da filial de Minas.
Rafaela bufou e saiu em direção a uma porta que levava a uma sacada. Respirou fundo e por algum tempo pode perder-se em devaneios.
A noite estava linda o céu todo iluminado de estrelas cenário perfeito para namorar. Riu desse pensamento. Seu namorado não estava nem aí para céu estrelado queria mais era correr atrás do careca barrigudo dono da empresa em que trabalhava.
-- Tomara que a calça divida o seu saco em dois - falou para si.
Eduarda passou correndo pelos cavaleiros medievais que apenas sacudiram a cabeça.
-- É a menina Eduarda - um falou para o outro e riram.
Eduarda entrou no clube lotado procurando por sua Julieta. Fabi com todo o seu típico romantismo fez questão que as duas se fantasiassem de Romeu e Julieta. Eduarda aprovou a escolha, pois amava o romance desde criança. Achar a Julieta no meio de tantas pessoas fantasiadas seria uma façanha. Foi até a mesa e serviu-se de vinho. Viu uma porta que dava para a sacada, talvez a magrela estivesse lá. Depositou o copo sobre a mesa e caminhou lentamente até o lugar.
Fabi estava encostada formosamente na janela da sacada, com um vestido lindo de Julieta, as pernas mais lindas que já havia visto. Estranhou o fato de nunca ter observado as pernas de Fabi. Mas ela estava ali maravilhosa olhando as estrelas. Que visão. Pensou Eduarda.
Aproximou-se silenciosamente por trás e colou o seu corpo ao de Julieta e falou ao seu ouvido:
--"Meu coração amou antes de agora? Essa visão rejeita tal pensamento, pois nunca tinha eu visto a verdadeira beleza antes dessa noite.".
Rafaela estremeceu não saberia dizer se foi de susto, ou daquela voz praticamente sussurrando em seu ouvido. Virou-se pronta para meter a mão na cara da engraçadinha, mas não conseguiu mover um músculo. Quando ficou frente a frente com aquele anjo loiro vestida de Romeu, de boina e com os olhos mais lindos do mundo. Ficou paralisada.
-- "Esqueci-me do que tinha a dizer" - Rafaela continuou o diálogo.
-- "Deixa que eu fique parado aqui, até que te recordes".
Ficaram por alguns instantes se olhando.
-- "Esquece-lo-ia, só para que sempre ficasses aí parado, recordando-me de como adoro tua companhia".
Eduarda olhou para os lábios entreabertos de Rafaela.
-- "Posso ter a honra? Se profano for tocar este santo relicário. Espero que com meus lábios possa suavizar este rude contato com um terno beijo". - Eduarda tirou a boina e pegou nas mãos de Rafaela.
-- "As santas tem mãos que são tocadas pelos peregrinos"... - Rafaela sorriu.
-- "Não tem lábios as santas?" - Eduarda perguntou contornando os lábios de Rafaela com o dedo.
-- "Sim, lábios que devem usar na oração" - Rafaela juntou as mãos e colocou sobre os lábios.
-- "Então santa adorada, deixa que os lábios façam o que as mãos fazem" - Eduarda aproximou-se ainda mais de Rafaela.
-- "As santas são imóveis mesmo quando atendem as orações" - Rafaela evitou o contato, mas não deixou de olhar para os lábios de Eduarda.
-- "Então não te movas enquanto recolho o fruto de minhas preces. Assim mediante vossos lábios ficam os meus livres de pecados". - Eduarda encostou os seus lábios nos de Rafaela lentamente, docilmente, como se dessa maneira fosse guardar aquele sabor em sua boca para sempre. Quando os lábios se afastaram e os olhos se cruzaram. Eduarda tinham os seus úmidos e os de Rafaela brilhavam em um misto de felicidade e surpresa.
-- "E assim passaria para os meus o que vossos lábios contraíram".
-- "Pecado dos meus lábios"? Então devolvei-me meu pecado - quando Eduarda se aproximava para beijar Rafaela novamente, alguém abriu a porta.
Rafaela empurrou Eduarda e correu, dando de cara com Kenedy.
-- Amor minha calça arrebentou - Kenedy olhou para Eduarda e riu - Esse Romeu aí é bem delicado né? - falou para Rafaela que olhava séria para Eduarda.
Eduarda olhou para Kenedy de cima a baixo. Não comentou nada. Estava mais interessada na bela Julieta do que no Romeu de calça rasgada.
-- "Estas alegrias violentas, tem fins violentos, falecendo num triunfo como fogo e pólvora, que num beijo se consomem". - Rafaela falou para Eduarda, virou-se e saiu rápido deixando- a completamente perdida sem saber o que fazer.
-- Não entendi nada - Kenedy olhou para Eduarda e foi atrás da namorada.
Eduarda procurou um lugar para sentar, queria correr atrás da morena, mas precisava primeiro usar a bombinha. Estava difícil de respirar. A sorte foi que Fabi logo a achou sentada no chão da sacada e a ajudou.
-- Está melhor meu amor? - Fabi perguntou preocupada.
-- Estou. Vamos dar uma volta pela festa? - Queria ir atrás da outra Julieta.
-- Claro - Fabi levantou e ajudou Eduarda a levantar-se.
A loira procurou pela Julieta por todos os lugares e não a encontrou. Sentou desanimada em um banco do jardim. Teve vontade de chorar só de pensar que nunca mais a encontraria. Jogou a boina no chão e pisou em cima com raiva.
-- Droga, droga, droga.
Rafaela foi em silêncio até em casa. Estava tão perturbada com tudo o que havia acontecido que não ouviu uma palavra do que Kenedy havia falado. Como que em transe foi da garagem do prédio até o apartamento sem perceber.
-- Amor, vamos tomar banho juntos - Kenedy estava aceso.
Rafaela fez que nem ouviu, entrou no banheiro e trancou a porta. E Embaixo do chuveiro chorou, chorou, chorou sem ao menos saber o verdadeiro motivo do choro.
Fim do capítulo
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