Capítulo 3- Um novo lugar.
Larissa
Depois de 50 minutos, já sobrevoávamos Belo Horizonte. Era quase noite, olho Milena ao meu lado empolgada e já planejando as noitadas para comemorar nossa chegada.
- Laris, meu bem, essa cidade é linda, ainda nem vi de perto e já estou me apaixonando.
- Eu falei que você ia adorar ter vindo.
- Pois é mais uma vez tenho que concordar com você, amiga sabe tudo.
Iriamos desembarcar no heliporto na empresa, Zé meu motorista já estaria nos esperando. Observo cada luz que começava a iluminar a cidade, em meu peito sentia um pouco de esperança, até minha respiração já estava mais leve, e todo aquele peso e os fantasmas do passado pareciam terem sido deixados em Ouro Preto. Não que eu tenha esquecido meus pais, e muito menos meu irmão. Eles ainda estavam presentes em minha memória, e sei que ainda demoraria a me acostumar totalmente e começar a viver de novo. Porém, depois de um ano já havia chorado todas as lágrimas, e como Susane e Milena sempre me disseram, chorar não iria trazê-los de volta.
Durante esse último ano me senti culpada, por ter sido a única a sobreviver. Me senti deixada para trás, injustiçada por ter que seguir minha vida sem minha família. Nos aproximávamos da empresa. Mile me chamou a realidade.
- Amiga, chegamos.
Sorri em concordância. A primeira coisa que faço ao descer é observar o céu. Tão lindo e ao mesmo tempo tão distante. Lembro-me de mamãe, quando meu avô faleceu eu era apenas uma criança, recordo da forma que ela me contou que ele tinha virado uma estrela e que ia ficar nos observando do céu. Fecho meus olhos e penso: “Pai, mãe, Henrique, sei que vocês estão cuidando de mim ai de cima, sinto muito por não ter partido com vocês. E sei que tudo o que querem é que eu consiga ser feliz. Prometo que vou tentar. Amo muito vocês. Estou com muitas saudades.” Essa foi a primeira vez que conversei com eles depois que se foram.
Observei Zé vir em nossa direção, pegou das mãos de Milena sua mala, e a minha também. Ele e Mile conversavam animadamente, e eu, bem, só observava.
- Zé, me diz que vai ter uma comida maravilhosa feita por Suse em casa? Porque essa minha amiga ingrata não me deixou comer nada antes de viajarmos.
Olha em minha direção fingindo uma raiva que não sentia.
- Claro Dona Milena, Suse estava preparando frango ao molho pardo, e disse que era para vocês já se sentirem em casa.
- Ora Zé, desde que cheguei aqui não sei se vou embora mais.
- Pois é Zé, pelo visto perdi a amiga e ainda a funcionaria.
Riram.
Resolvi parar de escutar a conversa dos dois, observei o prédio da filial mais atentamente, esse tinha sido o último projeto de meu pai. Tudo muito bem decorado, um espaço maravilhoso, e bem iluminado. Era quase seis e meia da noite e ainda havia alguns funcionários por ali. Vi a Sala da Administração, a Sala do RH, e um pouco mais a frente vi a Sala do Jurídico. Fiquei feliz por ver que a empresa apesar de não ser acompanhada de perto por mim conseguia ser tão organizada. Foi ai que lembrei de Ingrid Ferraz, pelo que me lembrava ela que tomava conta daquele lugar, sorri satisfeita por saber que Sr. Luiz, meu pai, tinha feito a escolha certa ao coloca-la no comando. E pela primeira vez pensei nele sem toda aquela dor de antes. Agora era apenas um misto de saudade e admiração pelo homem que foi.
Já na saída do prédio, observo uma turma, pareciam todos animados, duas mulheres e um homem, conversavam e riam de algo. Não deu para ver como eram, já estavam meio distantes. Meus olhos correram para uma silhueta que mesmo em meio ao breu me chamou atenção. Cabelos longos, uma cintura fina, estava em uma saia social, nas mãos pude observar uma pasta e seu blazer. Ela era a mais contida do grupo. Pensei como adoraria tocar aquele corpo de violão. Ri de meu pensamento, e ao mesmo tempo me repreendi pois eles eram meus funcionários. Mais mesmo assim não conseguia desgrudar meus olhos da estranha.
- Ei amiga que um babador? Acho que trouxe um na bolsa. Mile e suas tiradas. Olhei-a com uma sobrancelha arqueada.
- Ora Mile não estou babando por ninguém, apenas observava os funcionários. Dou meu sorriso mais sem graça.
- Sei, será que não era a funcionária? Ai amiga também não precisa ficar tão vermelha assim.
- Ok, você me pegou. Resolvo concordar. Vamos Zé já vem com o carro.
Zé abriu a porta do carro, e entramos. Ainda passamos pela turma tive uma rápida visão de todos. O homem era alto e elegante, parecia ter na faixa dos 30 anos de idade, a outra mulher era baixinha, parecia a mais empolgada. Meus olhos procuraram pela desconhecida numa busca quase que desesperada. Porém, não a vi mais. Afinal de contas o que tinha aquela mulher de tão especial que me fez observa-la com tanta curiosidade? Era a primeira vez depois de um longo ano que uma mulher me chamava a atenção.
Chegamos em casa rápido, menos de trinta minutos e já estávamos em frente a grande casa, Zé parou o carro e descemos e caminhamos em direção a porta de entrada.
Observei atentamente a sala e todos os móveis eram de um bom gosto impressionante. Minha mãe sempre havia adorado decorar cada uma das nossas casas. Dava para ver o seu toque em cada cômodo. Milena me olhou encantada com tudo. E disse:
- Precisamos fazer novas amizades para darmos umas festinhas aqui, essa casa é linda. E aquele jardim, e a piscina, ainda não acredito que você nunca tinha vindo aqui. Sorri para ela e respondi:
- Nunca vim aqui realmente, acho que nem meus pais, eles construíram a casa meses antes do acidente. A única coisa que mamãe fazia questão era escolher tudo da casa. Mesmo que fosse por vídeo chamada. Senti-me um pouco triste. Mas esbocei um sorriso e continuei. Em relação as festas não precisamos de tantos amigos ou motivo para fazê-las.
- Que ótimo, vamos marcar algo pra o próximo fim de semana o que acha?
-Por mim tudo bem, bom a conversa está ótima mas precisamos nos trocar, Suse já deve estar com o jantar pronto.
- Claro, só me mostre onde posso colocar minhas coisas.
- Vamos subir então.
Deixei ela em seu quarto, e me dirigi ao meu para tomar um banho e trocar de roupa. Parei com a mão na maçaneta da porta de um dos quartos. Aquele tinha sido projetado para ser o quarto dos meus pais. Respirei fundo e entrei. Senti meus olhos brilharem ao ver na parede do quarto uma foto enorme nossa. Papai sentado na grama com Henrique deitado em seu colo, e mamãe e eu olhando para os dois. Foi então que tomei a decisão de que iria ficar ali, aquele quarto iria me deixar mais perto deles. A cama era imensa caberia 3 pessoas ali confortavelmente. Em frente a cama tinha uma TV LCD enorme, com home theater com caixas de som espalhadas pelo quarto. Abri uma porta e me deparei com o closet, era imenso. E outra porta dava acesso ao banheiro, esse também não era muito diferente dos outros cômodos. Todo em branco e preto. Com um espelho que cobria uma das paredes completamente. Além do box com chuveiro, havia uma imensa banheira de hidromassagem. Ligo o som em um volume baixo, a voz calma de Ed Sheeran e a música que toca é ‘’Lego House’’. Tiro minha roupa e entro na hidro. Sinto a água quente de encontro a minha pele. Fecho os olhos e a primeira coisa que penso é naquela desconhecida de mais cedo. Revejo a sua silhueta na escuridão. Me pergunto como seria o som de sua voz, a cor de seus olhos, e como seria seu sorriso. E com uma paz que a muito não sentia acabei cochilando ali mesmo.
Me assusto ao acordar, imagino que devo estar muito cansada para ter dormido ali. Visto meu roupão, me lembrei que minhas coisas não estão naquele quarto. Me surpreendo ao ver que Susane percebeu que eu ficaria naquele quarto, e trouxe todas as minhas malas para ali. Olho no espelho e percebo que preciso de um corte de cabelo. Meus fios loiros já estavam grandes demais. Ouço batidas na porta.
- Pode entrar.
- Amiga linda do meu coração, sei que você estava cansada, eu também, é claro, cochilei até agora. E pela sua cara você também. Mas, estou varada de fome. E já são quase dez horas, e se bem me lembro graças a sua ilustre pessoa minha última refeição foi o almoço. Fez cara de indignação.
- Sinto muito por ter lhe deixado sem comer, prometo compensar com um maravilhoso banquete de Suse. Assim é claro que eu ficar mais apresentável. Sorrio e beijo sua bochecha. Vou em direção ao closet e visto uma regata branca e short curto. Depois que me vesti descemos para comer.
O jantar foi maravilhoso, fizemos questão que Zé e Susane nos acompanhassem na refeição. Milena sempre fazendo comentários engraçados. E durante toda a noite eu permaneci feliz. Sorrindo e em nenhum momento pensei em meus pais com tristeza, e sim, apenas com saudade. Suse despediu-se dizendo que precisava dormi. E Zé fez o mesmo. Chamei Mile para a varanda, sentamos em frente a piscina, tomamos quase duas garrafas de vinho entre conversas e risadas. Já era quase uma hora da manhã quando entramos para dormi. Dei boa noite a ela e entrei em meu quarto. Deite-me na imensa cama. Fechei os olhos e pensei como seria o dia de amanhã. Imaginei se veria a estranha de corpo escultural. Será que ela é mesmo funcionária da empresa? Logo em seguida adormeci.
Fim do capítulo
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