Capitulo 1- Dia chuvoso.

NarrNarrador

Da janela de seu quarto, Larissa observa as gotas de chuva que inundavam sua piscina antes calma, transformando-a em um pequeno mar revolto. O único barulho que se podia ouvir na mansão dos Rodrigues eram os grandes trovões que ecoavam em cada cômodo escuro, e o soprar dos ventos desejava levar consigo todas as árvores. Enquanto raios cortavam o céu que pela manhã era de um azul admirável, agora parecia uma grande imensidão escura e fria.

Pensava em seus sentimentos. admirou-se ao perceber o quanto tinha de semelhante com aquele dia chuvoso. Há exatamente um ano, era uma linda jovem de apenas 20 anos, com os seus 1,70 de altura e lindos olhos cor de mel, de sorriso fácil e que deixava um rastro de alegria por onde passava. Era como aquela linda manhã ensolarada. Mas, assim como aquela encantadora manhã havia se transformado em um dia cinzento e atribulado, toda a sua felicidade foi levada como as árvores de seu jardim, todas as lágrimas que já havia derramado as que permaneciam a cair, eram como as gotas da chuva que fazia pequenas ondulações em sua piscina.

Fechou seus olhos por um instante relembrando o fatídico dia em que perdera seus pais e seu irmão caçula em um trágico acidente de carro:

Olhava seu pai feliz, sorridente como há muito não o via.  A mãe ao seu lado exalando todo o contentamento de enfim tirar as tão sonhadas férias. Há alguns meses completaram 22 anos de casados e Sr. Luiz Gustavo não havia conseguido se desligar dos negócios e esquecera completamente que havia prometido uma viagem em família. Agora lá estavam eles dentro de um carro, rumo há um lugar desconhecido.

Com os fones de ouvido concentrada em sua playlist, olhos vidrados em toda a felicidade que emanava de cada passageiro naquele carro. Seu único pensamento era que não podia estar em melhor lugar. Já estavam viajando a mais de duas horas. Via todo o amor que os pais demonstravam ter, cada troca de olhar, cada sorriso singelo, cada ‘eu te amo’ pronunciado por ambas as partes. Sorria, perguntando-se, se um dia teria um amor assim. Será que existiria alguém no mundo que fosse lhe completar daquela forma, ser sua outra metade e viver a plenitude de um amor tranquilo.

Fechou os olhos por um instante e a música “Segredos” do Frejat invadiu seus ouvidos, fazendo-a sorrir. Adormeceu por um segundo, despertou ao ouvir sua mãe gritar:

— Querido, olha o caminhão, cuidado!

Sentiu uma aflição gigante ao ver aquelas grandes luzes vindas em sua direção, Henrique seu irmão, a abraçou forte, pode ver seu pai tentando controlar o carro,  sua mãe Linda, completamente desesperada. Por um segundo fechou os olhos pedindo a Deus que nada acontecesse, que não passasse de um pesadelo. Tudo parecia estar em câmera lenta, sentiu o impacto da batida em seguida o carro já descia serra a baixo capotando várias vezes... Bateu forte a cabeça em algo pontiagudo e desmaiou...

Larissa suspirou saindo de seus devaneios, desceu as escadas rapidamente.Abriu a grande porta que dava acesso à área externa da casa, correu em direção a piscina e se atirou nela. Observou seus pelos arrepiarem, sentiu suas lágrimas se misturarem com as gotas de água que caiam. Fechou os olhos novamente e mais uma vez sentiu a solidão, a angústia daquele que foi o pior dia de toda sua vida.

“Abriu os olhos, olhou em direção a seu irmão e desesperou-se ao vê-lo desacordado.  Chamou-o uma vez, duas, três, e não obteve resposta. Olhou em direção aos seus pais, sentiu que não podia mover-se. Passou a mão na cabeça e viu muito sangue saindo de um ferimento em sua testa. Seus olhos foram ficando pesados e mais uma vez desmaiou."

Horas já haviam se passado desde que os Rodrigues saíram. Susane, a governanta estava preocupada por não ter recebido nenhuma notícia de seus patrões. Uma aflição tomava conta de seu coração desde que eles haviam partido. A Governanta trabalhara para a mãe de Luiz e depois que seus pais faleceram foi trazida pelo mesmo. Adorava aquela família. Sentia-se parte dela.

O telefone ecoou assustando a pobre mulher entretida em seus pensamentos. Observou a empregada atender, em seguida, estendendo em sua direção. Perguntou do que se tratava e Lúcia disse-lhe que era da polícia.

— Alô.

— Aqui é o delegado Alcântara, sinto ser portador de más notícias, infelizmente encontramos nesta tarde o carro pertencente a família Rodrigues, capotado nas proximidades da BR-123, sinto informar que 3 dos ocupantes vieram a óbito no local, e a única sobrevivente foi levada em estado grave ao Hospital Geral de Belo Horizonte.

Susane desesperou-se, agora compreendia a aflição que sentia, com o coração em disparado mandou chamar o motorista e dirigiu-se o mais rápido possível ao hospital. Encontrou-a desacordada, com vários hematomas, faixas em volta de sua cabeça. Imaginava a dor que ela sentiria ao saber de sua família, não sabia o que seria da vida da garota dali para frente. O médico lhe informou que a mesma passou por uma neurocirurgia para reparar os danos causados por um coágulo que se formou de um traumatismo resultante do capotamento.

Após 2 dias desacordada a jovem desperta sem conseguir lembrar de muita coisa. Abriu os olhos lentamente, encarou o teto branco do quarto do hospital, sentia dores em todo o corpo, mas o incomodo maior era a forte dor em sua cabeça. Olhou para o lado e viu Susane sentada em uma cadeira próxima à cama, perguntou-se onde estariam todos. Fechou os olhos, e foi recordando do acidente, lembrando cada detalhe, pode ouvir o grito de sua mãe. Caiu em um pranto desesperado. Chorava sem controle algum. Susane correu ao seu encontro, estava feliz que enfim ela havia acordado, mas sabia que não seria fácil contar tudo para Larissa.

Larissa queria acreditar que todos estavam bem, mais ao ver Susane correndo em sua direção e olha-la de forma tão triste, teve a certeza de que havia ficado sozinha no mundo. Teve a certeza de que aquela viagem havia sido a última vez que vira seus pais e seu irmão. E que de todas as boas lembranças que existiam de sua família, a única que estaria em sua mente da li em diante seria a do acidente.

Com os olhos banhados em lágrimas, olhou Susane e falou:

— Suse, diz que é mentira, por favor. — Olhando-a com pesar, tomou suas mãos e respondeu com a voz trêmula.

— Lari querida, sinto muito.

Fim do capítulo