--"Era ela, linda feito um anjo. Aquele olhar, nossa como era intenso…" -esses eram os pensamentos de Nathália.

--Doutora Nathalia. - disse Tati ainda aguardando uma resposta

--Han! Oi Tatiana, estava aqui perdida em meus pensamentos e nem vi você entrar.

--Deve ser bem interessante, o que a Doutora estava pensando. - ela disse com um sorriso de moleca.

--Por que você está falando isso?

--Bati na porta, chamei a senhora duas vezes e nem percebeu que eu estava aqui. - disse rindo da cara da Nath.

--Vou ficar mais atenta daqui pra frente. -disse envergonhada por estar com os pensamentos justamente naquele anjo loiro que estava ali, diante dela.

--Bom, só passei pra avisar que a Cris e eu vamos sair ao meio dia pra almoçar no restaurante aqui em frente.

--Tudo bem, vou só organizar o consultório pra receber o meu primeiro paciente e encontro vocês na recepção.

--Estaremos te aguardando DOUTORA. - Tati falou com uma certa entonação.

Tatiana saiu do consultório de Nathalia deixando-a com cara de boba olhando pra porta. Tentou afastar seus pensamentos arrumando as fichas dos pacientes que iria atender na parte da tarde, estava impaciente querendo ver aquele anjinho novamente. Pensou em varias coisas em que pudesse precisar, só pra ter a desculpa de chamar Tati na sua sala, mas não precisava de nada.

Nathalia deu graças a Deus quando seu relógio apitou avisando que já era meio dia.

Saíram às três: Cris, Tati e Nath para o almoço. Como o restaurante era Á la carte fizeram os pedidos e aproveitaram para conversar.

--Nath, sei que vocês já se viram no hospital, mas foi ela que te falei que era um amorzinho. Ela é a chefe da recepção e minha "melhor amiga". - Cris falou amiga fazendo aspas com a mão, deixando Nathalia mais enciumada.

--Tive o prazer de conhece-la assim que cheguei no hospital. -Nath falou olhando para Tati deixando Cris meio sem entender.

O almoço foi servido e elas continuaram conversando, mais a intimidade e o carinho entre Cris e Tati estava incomodando Nathalia, assim que terminou seu almoço, inventou uma desculpa e voltou para o hospital sozinha. 

Entrou em seu consultório bufando...

-- "Como assim, a Cris parecia tão livre ontem e hoje se derrete toda para a Tatiana, com certeza ali tem alguma coisa, mas porque ela jogou aquele charme todo pra mim se era comprometida? Elas não tem nada a ver, a Cris é muito canalha, aquela menina é um doce, não pode ser, isso é coisa da minha cabeça, estou tão abobada com aquela menina que estou vendo coisas."

Nathalia estava brigando com seu eu, quando a porta do seu consultório se abriu sem que ela ouvisse se quer as batidas.

--Não se bate mais na porta dona Tatiana?

--Desculpe doutora Nathalia, eu bati várias vezes e como a senhora não respondeu, entrei para me certificar de que estava tudo bem já que a Mariana me garantiu que a senhora estava aqui.

--Desculpe Tati, não precisa de tanta formalidade. Estava distraída e não ouvi você bater. O que deseja? - Nath falou toda derretida tentando consertar a maneira como falou com Tati.

--A enfermeira está aguardando para falar com a senhora.

--Pode pedir para que ela entre, quero conhece-la melhor antes de começar a consulta.

--Agora mesmo. -falou Tati indo em direção a porta.

--Tati! Qual o nome da enfermeira mesmo? -falou toda derretida sem perceber.

--Jú. -respondeu Tati com o sorriso de orelha a orelha pelo jeito que ela falou o seu nome.

--Jú? - Nath repetiu sabendo que se tratava de um apelido e não tinha intimidade pra isso.

--Júlia, mas as vezes até esqueço que o nome dela é esse. ninguém a chama assim.

--Obrigada. - Nath falou quase babando enquanto Tati saía de seu consultório.

Júlia entrou em seguida, conversaram em como seria o trabalho das duas, Nathalia ficou muito satisfeita com tudo. Atenderam todos os pacientes, Nathalia ficou arrumando o consultório e Júlia foi para o boxe de enfermagem.

Mais uma vez Nathalia ficou tentando arrumar um motivo para chamar Tati até sua sala ou pelo menos ligar para recepção.

-- "Que droga! Precisava ser tudo tão certinho aqui a ponto de não ter motivos pra sair e nem pra chamar ela aqui?"

Deixou tudo organizado para o dia seguinte, sua agenda estava bem movimentada para um segundo dia. Quando estava se preparando para sair, Tati entrou sem bater. Ficou surpresa e feliz em poder ver aquele anjo antes de ir para casa.

--Posso falar com a senhora doutora?

--Claro que pode Tatiana.

--Tatiana? É a primeira vez que me chama assim!

--Você me chama de senhora e de doutora e reclama que eu te chamei pelo seu nome?

--Não estou reclamando, só prefiro que me chame de Tati.

--Tudo bem... - disse rindo --Te chamo de tati, se parar de me chamar de senhora e doutora, e me chamar de Nath.

--Ta bom dou…, quer dizer, Nath.

--O que você queria falar comigo?

--Nada demais, é que você saiu tão de repente do restaurante. Achei que a minha presença poderia ter te incomodado e …

--Nem continua, a Cris quando me chamou pra almoçar, falou que você também iria.

--Então o que houve? Não gostou de almoçar com a gente?

--Gostei sim, só achei que… - Nath ficou pensando se falava ou não do clima que percebeu entre as duas.

--Achou que? Fala Nath!

--Que talvez estivesse atrapalhando, vocês são tão intimas e o jeito que a Cris fala com você...

-Tatiana gargalhou. Não acredito Nath, você achou que tava rolando um clima? A cris é minha melhor amiga, só isso e nada mais. - tati disse com uma segurança, fazendo ela mesma se surpreender.

--Desculpe tati, não quis te ofender.

--Você não me ofendeu, não teria problema em dizer caso tivesse algo com a ela, o que não é o caso.

Nath sorriu, estava explodindo de alegria em saber que não havia nada entre elas. Se despediu de Tati e foi pra casa com os pensamentos todos voltado para aquele anjo loiro que não saia de sua cabeça desde o primeiro momento em que a viu.

Nathalia saiu do hospital toda feliz, tinha sido um dia tranquilo, o pessoal era muito simpático e atencioso.

Como de costume desde que foi morar sozinha, Nathalia foi ao mercado comprar suas besteiras de todo dia, mesmo sendo médica não resistia as besteiras que vivia falando para seus pequenos pacientes que não podiam consumir em excesso.

Chegou em casa flutuando, sim gente, flutuando! Pensando naquele anjo loiro chamada Tati. Só conseguia lembrar de como ela era linda, doce, meiga e tinha um sorriso de tirar o chão de qualquer pessoa.

Foi na cozinha guardar as coisas, Lú(luciana) a ajudante de Nath havia deixado a comida pronta.

Lú foi indicada por uma amiga de Nath que trabalhou no hospital por cinco anos, mas teve que voltar para o Rio.

Colocou a comida no microondas e foi tomar um banho, ligou o som, Nathalia era movida a musica boa e antiga. Enquanto tomava banho viajou pra longe em seus pensamentos.

Estava tudo perfeito, conseguiu um apartamento que era a sua cara, o hospital era ótimo, o que lhe permitia trabalhar tranquilamente.

O que de fato lhe intrigava era Tati não sair dos seus pensamentos.

-- "ela é linda sim, não posso negar, mas a Cris e varias outras lá também são. Sem contar que ela é uma menina. Deve ter no máximo 22 anos. Ai meu deus o que eu estou fazendo, nem sei se ela é entendida. Na verdade ela tem jeito de ser hetero, já pensou o problema que vou arrumar em ficar apaixonada e não ser correspondida?”

Esses pensamentos deixaram Nath assustada, conheceu Tati a menos de 24 horas e já estava pensando em paixão.

Saiu do banho enrolada em um roupão, colocou um babydoll e foi pra cozinha, mesmo jantando sozinha arrumou a mesa só pra ela, pegou seu prato e se sentou pra comer. Nesse momento se lembrou que não havia falado com Beatriz o dia inteiro.

Pegou o celular e discou um número que já sabia de cabeça, e no segundo toque alguém atendeu do outro lado da linha.

--Boa noite meu amor, como você passou o dia?

--Bem, mas senti sua falta, não quis ligar pra não te atrapalhar no seu primeiro dia de trabalho. -a pessoa respondeu.

--Minha vida, você não me atrapalha nunca e não venha com essa desculpa, poderia ter me mandado pelo menos uma mensagem. - Nath falou como se estivesse chateada.

--Não fala assim que fico triste, não posso te abraçar e encher você de beijo pra tirar esse bico. -a pessoa falou rindo.

--Engraçadinha, já sabe como me comprar. Meu amor, só liguei pra te dar boa noite e ouvir sua voz, estava morrendo de saudade. Estou jantando e ainda tenho que estudar uns casos antes de dormir.

--Tudo bem, também estava estudando, prometo que amanhã ligo pra você.

--Vou ficar esperando minha princesinha. Vou te passar o telefone do hospital por mensagem pra você falar comigo quando precisar, sabe que quando estou atendendo eu desligo o celular.

--Sei sim, Doutora Nathalia!.-falou debochando.

--Beatriz! Juízo hem! Beijos e fica bem! Assim que eu me organizar aqui vou te ver, meu amor.

--Eu tenho juízo de sobra. Ta bom, to com muita saudade. Te amo.

--Eu também te amo.

Desligaram o telefone, Nath terminou de comer e foi para o escritório estudar, sentou no sofá com as pastas, depois de muito analisar os casos complicados que tinha acabou adormecendo, acordou já eram quatro da manhã, foi para o seu quarto e voltou a dormir.



***



O despertador tocou as 6:30, Nath tomou um banho correndo, colocou uma calça jeans bem apertada, uma regata branca colada no corpo e saiu para mais um dia de trabalho.

Mesmo morando bem perto do hospital, na verdade na rua paralela a ele, resolveu que iria de carro, assim não precisaria passar em casa quando saísse do trabalho pra ir ao mercado ou em qualquer outro lugar.

Parou na padaria pra tomar café, pediu um suco de laranja e um minas no pão francês. Enquanto aguardava seu pedido, foi responder os sms de suas amigas que se acumulavam em seu celular. Estava de cabeça baixa quando sentiu um perfume que já mexia com todos os seus sentidos, levantou a cabeça para confirmar o que seu coração acelerado já sabia e deu de cara com aqueles olhos lindos que a deixava de pernas bambas.

Fim do capítulo