Os dias passaram diante dos meus olhos. Assim como as semanas. Olhei para o calendário que segurava na mão. Vinte e três de dezembro.

 

Tinha sido um ano bom. Tinha sido um ótimo ano no final das contas. Conhecer Camila   fez tudo ficar melhor. Levantei-me da cama e fui até minha mesa de estudos. Deixei o calendário no canto e peguei o porta-retrato que tinha uma foto nossa. Era um foto recente, de duas semanas atrás.

Estávamos em frente de casa e Camila jogou uma bola de neve em mim. Ela me olhou rindo e   começou a correr. Não dei mais que dez passos para alcançá-la. Segurei em sua cintura e caímos rindo. Depois de rolar na neve, segurei seus pulsos e a fiz pedir desculpas. Enchi seu rosto de beijos e

depois de sua crise de risos, trocamos um olhar intenso. Camila quis registrar o momento e o resultado estava em minhas mãos. Uma das minhas fotos preferidas. Ela estava com seu sorriso lindo olhando para a câmara, e eu a olhava  apaixonada.

 

Foi um dos poucos momentos em que Camila se divertiu nessas semanas. A data próxima do natal e seu relacionamento instável com seus pais a tinham deixado muito sensível. Às vezes se fechava em um mundo só seu. Tinha sido assim quando ela saiu de casa, e agora foi mais intenso.

 

Apesar dos meus esforços para animá-la, não surgiam muitos resultados positivos. Eu sabia que com o tempo ela lidaria com esse sentimento de rejeição, mas ainda assim me machucava vê-la sofrendo.

 

Peguei as chaves do carro e me despedi dos meus irmãos que estavam em casa. Papai estava na loja e minha mãe no hospital, tinha pego dois turnos para poder passar a noite de natal em casa.

 

Entrei no carro e liguei o aquecedor. Olhei as horas no celular. Estava com tempo ainda. Ia para o colégio fazer o último treino do ano. Alexa tinha se mostrado uma ótima parceira. Os treinos começaram a render bem mais de quando eu o fazia sozinha. Disquei o numero de Camz e aguardei que atendesse.

 

-- Oi, amor!! – Atendeu em meio a uma risada.   Sorri.

 

-- Oi, linda! Tudo bem?

 

-- Tudo. Diana acabou de contar uma piada tão ruim, amor! Tive que rir por dó.

 

-- Mentiraa foi uma boa piada – Pude ouvir Diana falando atrás de Camz- Me dá o telefone!

 

Fala, perdida!

 

-- Oi, Diana! Qual foi a piado ruim ao qual você submeteu minha   namorada?

 

-- Se prepara, lá vai. Por que a mulher do Hulk se divorciou dele?

 

-- Huum, não sei. Por que? – Ela mesma riu antes de continuar.

 

-- Porque ela queria um homem maduro. – E riu sozinha.

 

-- Diana, com essa piada, não dá nem pra rir por dó.

 

-- Você que não tem humor, Carter. - Ela se afastou do celular. – Você devia namorar alguém que saiba apreciar uma boa piada, Mila. – Camila   riu.

 

-- Fala, amor. – Camz voltou ao  celular.

 

-- Linda, to indo pro colégio treinar. Passo ai depois, pode ser?

 

--Claro, vou ficar te esperando. Quer ver algum   filme?

 

-- Pode ser. Diana comentou de um esses dias. Vê com ela e quando eu chegar nós vemos.

 

-- Tudo bem. Bom treino.

 

-- Obrigada. Te amo.

 

-- Também te amo.  Beijos.

 

Desliguei o celular e guardei na mochila. Dei partida no carro e fui para o colégio. Cheguei no ginásio e Alexa ainda não tinha chego. Peguei a rede e bolas e fui montando tudo.

 

-- Olá, Laura!

 

-- Hey, Alexa! Não ouvi você chegando. Tudo bom?

 

-- Tudo. Quer ajuda com a  rede?

 

-- Por favor.

 

Ela me ajudou a terminar de  arrumar.

 

-- E então como vai os preparativos para as festas de fim de ano? – Perguntei a ela.

 

-- Ah minha mãe esta muito empolgada. Ela adora essa data. A família do meu pai vem para cá também. Então esse ano a casa vai estar bem  cheia.

 

-- Assim que é bom, família reunida. – Sorri para ela.

 

-- Sim, tem razão. E você, vai passar o natal aqui   mesmo?

 

-- Vou sim. Minha mãe até dobrou o turno no hospital para ficar com a noite de natal livre.

 

-- Que legal. Depois da meia noite você vai fazer   algo?

 

-- Vou para casa de Diana. A gente sempre faz alguma coisa depois.

 

-- Ah sim, entendi.

 

-- Chega de conversa. Vamos treinar? – Falei pegando uma bola.

 

-- Claro. Vamos lá.

 

Fizemos um treino mais leve. Como era o último, foi só para manter o ritmo. Depois de quase duas horas de treino, estávamos guardando os equipamentos. Sentei na arquibancada e peguei minha garrafa de água bebendo um gole. Alexa se aproximou e sentou do meu lado. Ela passava constantemente a mão no short, percebi que estava um pouco nervosa.

 

-- Então, esse foi nosso último treino? – Perguntou.

 

-- Foi. Vamos dar uma folga, né? Você já não deve mais aguentar me ver. – Dei risada para descontrair. Ela permaneceu séria e mordeu os   lábios.

 

-- Eu gosto de estar na sua companhia, Laura. Já lhe disse isso antes.

 

-- Certo, mas vamos dar essa folga para as festas de fim de ano. Depois do ano novo nós retornamos com mais energia.

 

-- Vou viajar no ano novo. Acho que essa é a última vez que nos vemos esse ano.

 

-- Huum, certo. – Não entendia bem onde Alexa queria chegar com aquela conversa. – Vai para onde?

 

-- Laura. – Ela olhava par frente. Virou seu rosto em direção ao meu e me olhou nos olhos. – Eu prometi que faria isso antes de terminar o ano. Eu tenho que fazer.

 

Antes que eu pudesse ter qualquer reação, Alexa se postou a minha frente. Jogando seu corpo de encontro ao meu me beijando. Foi apenas um selinho de dois segundos até que eu recobrasse a consciência.   Arregalei os olhos e me afastei dela. Levantei-me e passei as mãos pelos meus   cabelos.

 

-- Laura, desculpa, mas se eu não fizesse agora, não teria mais coragem depois. – Ela se levantou também e ficou ao meu lado. – Há algum tempo eu tenho sentimentos por você. Isso é confuso, eu sei. No entanto acho que gostei de você desde o primeiro momento que te vi.

 

-- Alexa... eu... não sei o que dizer. – Eu sabia como era estar naquela situação. Ela estava abrindo seu coração, expondo seus sentimentos.

 

-- Olha, no começo eu tentei lutar contra, de verdade, sabe? – Algumas lágrimas começaram a cair de seu rosto. – Só que foi mais forte que eu. Eu nunca te vi com ninguém, e você sempre foi tão gentil comigo. Confesso que entrei para o time só por sua causa. Para ficar mais perto de você. – Ela pegou minha mão - Eu só te peço uma chance. Para nos conhecermos   melhor.

 

-- Alexa. – Tirei delicadamente minhas mãos das suas. – Olha, você é uma pessoa muito especial...

 

-- Não Laura, não diga isso, eu sei onde vai terminar – Ela levou a mão até sua boca, suas lágrimas ficando um pouco mais intensas  agora.

 

-- Alexa, eu digo de coração. Você é uma pessoa incrível. É inteligente, engraçada, madura e eu realmente te admiro por ter tido coragem e ter falado sobre os seus sentimentos. Nunca tenha medo de arriscar, ok?

 

Ela balançou a cabeça positivamente. Olhei para ela e pensei em fazer isso da maneira menos dolorosa possível.

 

-- Acontece que eu já tenho uma namorada, e sou completamente apaixonada por ela. – Ela deu uma pequena risada.

 

-- É a Camila, não é?

 

-- Na verdade, é sim. – Falei um pouco confusa.

 

-- Eu desconfiava, pelo jeito que se tratam e olham, mas acho que no fundo eu não queria admitir. – Ela tentou engolir o choro. – Laura, me desculpe pelo   beijo.

 

-- Tudo bem, de qualquer forma você não tinha como saber. Olha – Segurei seu rosto. – Você vai encontrar uma pessoa legal, ok? Alguém que te ame também, como você merece.

 

-- Por que não pode ser você, Laura?

 

-- Meu coração já tem dona, Alexa. Eu a amo completamente. E tenho certeza que você irá encontrar uma pessoa que te amará da mesma   forma.

 

Ela suspirou e limpou as  lágrimas.

 

-- Vem cá, me dá um abraço. Ta tudo  bem.

 

A abracei e dei seu tempo. Era uma situação extremamente delicada. Alexa era uma garota muito legal, de caráter e personalidade forte. Ela merecia alguém que estivesse por inteiro para ela e que a amasse assim como eu amava  Camila.

 

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Cheguei na casa de Diana ainda um pouco atordoada pelo que aconteceu no ginásio. Passei a mão pelos cabelos e encostei a cabeça no  volante.

 

-- Que merd*. – Suspirei.

 

Decidi não enrolar mais e sai do carro. Bati na porta da casa dos Hansen e aguardei. Quem atendeu foi o pai de Diana, cumprimentei-o e fui em direção ao quarto dela. Dei dois toques na porta e a abri.

 

-- Laura. – Camila sorriu e foi até mim dando-me um   selinho.

 

Diana estava na cama com um pote de pipoca. Levantou a mão me dando um “oi” com a boca toda cheia de comida.

 

-- Oi, amor. – Beijei seu rosto. Minha cara não devia estar das melhores, pois logo em seguida Camz perguntou.

 

-- Aconteceu alguma  coisa?

 

-- Na verdade, aconteceu. – Suspirei. – Posso conversar com você?

 

-- Claro. É algo sério?

 

-- Mais ou menos. – Olhei para Diana. – Dih, poderia falar um pouco as sós com a Camila?

 

Diana em uma situação normal teria me zombado de alguma forma, mas pelo nossos anos de amizade, ela percebeu que aquele não era o   momento.

 

-- Ok, vou fazer mais pipoca.

 

Dei um meio sorriso a ela em agradecimento. Passou por mim e percebi que seu pote estava transbordando de tanta pipoca. Ela saiu do quarto e Camila me puxou para a cama.

 

 

-- Muito bem. O que houve? – Perguntou preocupada

Fim do capítulo