With the Stars por Alex B
Capítulo 41
Passei a mão pelos meus cabelos. Eu sabia que era a coisa certa a se fazer. Contar a Camila. Se fosse a situação contrária, eu definitivamente gostaria que Camz confiasse em mim e me contasse. Entretanto isso não me deixava mais tranquila.
-- Você sabe que está me deixando preocupada, não é? – Camila franziu a testa.
-- Ok, tem razão. Não quero te deixar preocupada. Lembra da Alexa, certo?
-- Claro, ela é do time e vocês têm treinado juntas desde que as aulas terminaram.
-- Isso, certo. Hoje foi nosso último treino, resolvi dar essa pausa para as festas de fim de ano. - Suspirei. – E bem... Hoje ela me contou sobre seus sentimentos. – Nossas mãos estavam juntas. Assim que contei, Camila quebrou nosso contato retirando suas mãos das minhas, repousando-as no seu colo.
-- Como assim sentimentos? – Sua voz era calma.
-- Alexa me contou que gosta de mim há algum tempo, que inclusive entrou para o time por minha causa. E me pediu uma chance também.
-- Te pediu uma chance? – Podia sentir a insegurança de Camila, sua voz soava fraca.
-- Camila, amor. Eu logo expliquei que tinha namorada. Assim que confessou seus sentimentos, eu expliquei que não estava disponível porque estou completamente apaixonada e estou namorando.
-- Contou que sou sua namorada?
-- Na verdade, ela adivinhou que fosse você. Amor, juro que expliquei toda a situação para ela, e de qualquer forma, ela também não podia adivinhar que eu era comprometida. Não somos assumidas na escola.
-- Gostou de ouvir ela se declarando para você?
-- Quê? Como assim gostei, Camz? Eu apenas senti por ela gostar de uma pessoa que não pode correspondê-la.
-- Foi só isso que ela disse?
-- Bem... Ela me beijou também. – Camila se levantou da cama assim que terminei a frase.
-- Vocês se beijaram? – Agora eu podia ver seus olhos querendo lacrimejar.
-- Não, amor. Não nos beijamos. Ela me beijou. Há uma grande diferença nisso. Assim que percebi o que estava acontecendo eu a afastei. – Me levantei também. Camila levou a mão até a boca e depois cruzou as mãos sobre seu peito, em modo defensivo.
-- E quanto tempo você demorou para ‘perceber’ o que estava acontecendo?
-- Eu não demorei, Camz. Assim que me dei conta a afastei. Ela falou de seus sentimentos e em seguida expliquei que não podia corresponder porque já estou apaixonada.
-- Isso aconteceu mesmo hoje, Laura? Vocês treinam há bastante tempo juntas e agora, treinam sozinhas.
-- Camila, não imagine coisas. Isso acabou de acontecer. Eu sai do treino, vim pra cá e estou te contanto. Não deve fazer nem uma hora. – Tentei me aproximar dela, mas ela se afastou mais. – Amor, eu te amo. Não tem motivos para você ficar brava ou chateada. Certas coisas eu não posso controlar, o que estava ao meu alcance, eu fiz.
Pude ver que uma lágrima escapou de seus olhos. Me cortava o coração vê-la tão frágil. Fui tentar me aproximar de novo, mas dessa vez ela me deu as costas e se virou para a janela do quarto.
-- Eu só... – Sua voz falhou. Ela suspirou antes de continuar. – Eu só preciso de um tempo, tudo bem?
-- Tempo? Como assim, Camila? – Agora era eu quem estava preocupada.
-- Eu quero entender o que aconteceu, não consigo pensar agora.
-- Mas Camz, não tem o que pensar. Eu já te expliquei o que aconteceu, não tem pelo que você ficar preocupada.
-- Laura, não é assim tão simples, ok? Preciso pensar e gostaria que você me desse esse espaço. – Ela se virou para falar comigo. Podia perceber que ela estava chateada, só não conseguia entender com o quê.
-- Você está me pedindo para ir embora? – Levantei uma sobrancelha.
Camila não respondeu. Apenas mordeu os lábios e acenou positivamente com a cabeça, devagar.
-- Amanhã é véspera de natal. Vou poder te ver? – Perguntei com o coração apertado.
Dessa vez ela não manifestou nenhum tipo de resposta. Apenas olhou para o chão.
-- Tudo bem, então. – Suspirei. Dessa vez, eu quem queria chorar. – Se quer assim.
Olhei para ela esperando qualquer reação, mas não obtive. Então me virei e sai do quarto. Assim que fechei a porta, me recostei nela. Segurei o choro respirando fundo. Assim que me dei por satisfeita, fui em direção a porta da sala.
Diana estava na sala com seus pais. Estava tão atordoada que se Diana não tivesse me gritado, teria saído sem me despedir.
-- Ué, já vai Laura? E nosso filme? Você também tava doida pra ver.
-- É, então... Lembrei que tenho que fazer umas coisas em casa e vou ter que ir. Depois a gente se fala. Tchau, Sr. E Sra. Hansen.
-- Eu te acompanho até o carro. – Diana falou, não se dando por satisfeita com minha explicação.
Saímos da casa e assim que chegamos no carro ela me abordou.
-- O que aconteceu entre você e minha prima?
-- Ela me pediu um tempo para pensar.
-- Tempo para pensar? Como assim, Laura? Do nada isso?
-- A Alexa se declarou hoje pra mim no treino, e me beijou. Contei para Camila e ela falou isso.
-- A Alexa te beijou? Eu sabia que aquela garota queria alguma coisa. Era só sorrisos pra você. – Bufou e cruzou os braços.
-- Eu expliquei que tinha namorada e que a amava. Não deixei nada mal resolvido. Vim pra cá e fiz o que acreditei ser certo. Contei pra Camila.
-- Você fez o que era certo, Laura. Não se preocupe com isso. Esconder só pioraria as coisas quando viessem à tona. E acredite, elas sempre vêem.
-- Será que fiz o que era certo mesmo, Diana? Será? Por que Camila me pediu um tempo então? – Minha vontade de chorar estava voltando.
-- Calma, Laura. Entenda o lado da Mila também. Os pais não falam com ela, praticamente a deserdaram e pra piorar estamos nas festividades de fim de ano, logo no natal que é uma data em que celebramos com a família. Ela tem estado muito preocupada com relação à universidade. Você sabe que além da nota de admissão eles têm que se apresentar para ingressarem, e Camila não tem treinado em um piano faz muito tempo, porque o único em que ela fazia, está na casa dela. Ela está muito instável emocionalmente. É compreensível que ela tenha dito isso. É muita coisa para ela absorver.
-- Eu não queria que isso fosse mais um problema pra ela. Porque não é. Não tem a mínima chance que eu me interesse por outra pessoa que não seja a Camila.
-- Eu sei disso, Laura. Camila confia em você. Ela só esta em um momento em que parece que tudo está acontecendo. Apenas dê esse tempo a ela, vai ficar tudo bem. Não se preocupe.
Eu olhei para o céu e suspirei. Estava começando a nevar de novo. Sabia que Diana tinha razão. O melhor que eu poderia fazer agora, era respeitar o que Camz me pediu. Mesmo o que eu mais queria, era estar ao seu lado.
Subi o olhar para Diana, e me permiti dar um meio sorriso em concordância.
-- E você e Ian, como estão?
-- Muito bem na verdade. – Ela sorriu para mim. – Vamos sair depois da ceia de natal.
-- Mas nós sempre fazemos algo juntas depois. Nem que seja só nos reunirmos. – Falei com um pouco de ciúmes. – Kate e Troy não estão aqui. Somos só nós esse ano.
-- Quer voltar a ser minha vela preferida e ir comigo e Ian? – Falou segurando a risada.
-- Vai se catar. – Ela riu alto. Em seguida me deu um abraço.
-- Não se preocupe, Lolo. – Usou meu apelido de infância. – As coisas vão se resolver. – Se afastou um pouco de mim. – Pode vir pra casa depois, faremos algo.
Assenti com a cabeça. Me despedi e entrei no carro indo para casa.
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Estava deitada na cama do meu quarto, com fones de ouvido e olhos fechados. Não tinha falado com Camz desde que sai da casa dos Hansen. Havia apenas trocados umas mensagens com Diana. O refrão da música que tocou quando eu e Camz tivemos nossa primeira começou, e eu cantei junto.
A música estava tocando pela décima quinta vez só naquela manhã. Tive ânimo apenas para escovar os dentes e voltar para a cama. Virei de lado e olhei no canto os presentes de natal que daria a Camz. Suspirei. O plano era passarmos o dia juntas, de noite ela passaria a ceia na casa dos tios e eu com minha família. Depois eu iria para lá ficar um pouco com Diana e Camila dormiria em casa.
Entretanto, os planos mudam. Diana ia sair com Ian, rolo que estava ficando bem sério nas últimas semanas, e minha namorada não queria me ver no momento. Me afundei mais na cama.
-- Hey Laura. – Sean entrou no meu quarto. – Preciso do meu fone. – me virei pra ele.
-- Cadê o meu? – Perguntei enquanto tirava o dele.
-- Acho que a Alice quem pegou. Ela estava fazendo umas edições de música. O dela quebrou. – Entreguei os fones pra ele. – É melhor arrumar seu quarto antes que mamãe chegue. – Apenas dei de ombros.
Sean saiu e deixou a porta aberta. Resolvi me levantar e ir até o quarto de Alice para pegar os meus fones. Entrei no quarto e ela não estava. Avistei os fones na escrivaninha, perto no notebook. Peguei eles e antes de sair, reparei no violão do lado do guarda-roupa. Tinha sido meu durante um tempo, depois de enjoar passei para Alice que fazia aulas desde então. Fui até lá e peguei o violão. Dedilhei lentamente e constatei que estava afinado.
O resto do dia passou rápido. Depois de levar uma bronca da minha mãe pelo quarto bagunçado, eu o limpei. De tarde ajudei com os afazeres para a ceia e assim que estava tudo pronto, subi pra meu quarto. Liguei para Camz duas vezes durante o dia. Ela não havia atendido em nenhuma delas. Liguei para Diana e conversei com ela, Camila estava ajudando Dona Malika na cozinha, enquanto Dih e seu pai estavam tirando a neve da frente da casa.
-- Quer que eu leve o telefone pra ela? – Perguntou.
-- Não precisa. Acho que ela ainda não quer falar comigo, liguei no celular dela duas vez e não me atendeu.
-- Ela pode não ter escutado. Minha mãe tem triturado sementes o dia todo. Daqui a pouco a SWAT baixa de helicóptero em casa achando que são tiros de metralhadora. – Dei risada.
-- Pode ser, mas não precisa. Obrigada.
-- Você quem sabe.
-- Até mais, Dih.
-- Até, Carter.
Desliguei o celular e deixei na cômoda. Resolvi tomar banho e me arrumar, já estava começando a escurecer e eu estava suja por ajudar papai a descarregar o pinheiro da caminhonete.
As horas até meia noite passaram voando. Não importava quantos anos eu e meus irmãos tivéssemos, papai ainda colocava as meias com nossos nomes penduradas perto da árvore de natal. O pinheiro deste ano era um dos maiores que havíamos comprado. Quem colocou a estrela na ponta este ano, foi Alice. Mamãe havia desenterrado umas fotos antigas, foi um momento divertido no fim das contas.
Assim que o relógio marcou exatamente meia noite, nos cumprimentamos desejando feliz natal. Mamãe fez uma prece e logo depois Papai cortou o peru, servindo cada um da família. Ceiamos entre conversas leves e brincadeiras. Depois de comermos, fomos até a árvore e trocamos os presentes. Havia ganho uma mochila de treino nova de Alice, e Sean me deu um Box da última temporada de um série que assistia. Dos meus pais, havia ganho um notebook novo e bem melhor que o meu atual. Dei a Sean um jogo novo para seu PS4 e a Alice dei uma sandália que ela havia gostado em uma loja quando eu, ela e Camila passeávamos pelo centro da cidade. Na verdade, os presentes que eu estava dando, eram meus e de Camila. Havíamos comprado juntas já que ela insistia em presentear minha família.
Minha mãe ganhou um perfume Francês, e meu pai um Bénédictine, licor também Francês que segundo Camila tinha um sabor inigualável. Claro que Camila teve uma participação maior nos presentes dos meus pais, ela conseguiu a um preço razoável para que eu também pudesse bancar. Meu coração estava apertado por passar o dia todo sem falar com ela.
Ajudei minha mãe arrumar tudo na cozinha e subi para o meu quarto. Peguei os presentes de Camz e olhei sobre minha cama. Sorri e o peguei também. Estava confiante. Despedi-me dos meus pais e fui até meu carro. Iria ver Camz sim, um dia estava ótimo para pensar.
Tinha trocado mensagem com Diana. Ela já havia saído com Ian, mas seus pais ainda estavam acordados e ela os deixou avisados que eu estava indo para lá. Cheguei e bati duas vezes na porta. Malika me atendeu.
-- Olá, Laura! Feliz natal, querida. – Me abraçou.
-- Obrigada Dona Malika, Feliz natal!
-- Tudo bem? – Perguntou enquanto passava as mãos por meus cabelos.
-- Tudo sim. – Respondi sorrindo. Cumprimentei e desejei feliz natal ao Sr. Hansen também. Malika olhou para mim e balançou a cabeça negativamente.
-- Vai aprontar, né Laura? – Falou rindo.
-- Talvez. – Falei um pouco envergonhada.
-- Não tem problema. Depois venha comer biscoitos na cozinha. Fiz uns com sementes integrais, mas também tem com chocolate.
-- Pode deixar, dona Malika, irei comer sim. Camila está no quarto?
-- Está sim, pode ir lá. Você irá esperar Diana voltar?
-- Sim, irei esperá-la.
-- Neste caso, vou me deitar. Fique a vontade, Laur.
-- Muito obrigada. Boa noite.
-- Boa noite.
Peguei todas as coisas que carregava e me dirigi até o quarto de Diana. Em vez de bater, preferi entrar direto. Camila estava com um vestido vermelho, sentada na cama, abraçada a uma almofada e segurando um porta-retrato. Ela levantou os olhos e ficou surpresa ao me ver.
-- Laura? O que faz aqui?
-- Vim te ver. – Sorri para ela. - Antes de falar qualquer coisa, apenas me escute primeiro, tudo bem?
Ela ficou um pouco em dúvida, mas assentiu positivamente.
-- Ok, vamos lá. – Falei comigo mesma.
Fim do capítulo
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