Capítulo 8
Construindo o amor -- Capítulo 8
Havia passado uma semana desde a reunião com Kleber. Todos os documentos da compra da boate já estavam prontos e assinados. Duda e Jorge já haviam tomado posse do local. Agora faltava tratar dos detalhes como: O nome que escolheriam os funcionários que permaneceriam e os que seriam contratados, a decoração e a festa de inauguração.
-- Jorge estive pensando. Nós temos a empresa contratada responsável pela segurança e zeladoria, A Aline poderia ser a responsável em fiscalizar o trabalho dessas duas terceirizadas. O que você acha?
-- Se você a acha apta para o cargo, por mim tudo bem.
-- Então tá, vou falar com ela amanhã.
-- Tem duas pessoas que seria ótimo se estivessem com a gente aqui Duda.
-- Fala aí Jorge.
-- A Claudia e o Eddie - Duda engoliu em seco, ter Claudia por perto o tempo inteiro com Jorge feito pit bull atrás, não seria nada legal. Por outro lado é bem melhor ter Claudia de vestido com aquelas pernas maravilhosas sentada a sua frente do que uma bicha cabeluda.
-- Será Jorge? Eles teriam que largar os empregos, será que estão dispostos a isso? - Eddie talvez sim, mas Claudia achava difícil.
-- Deixa comigo. Vou marcar com eles pra gente conversar. Pode ser?
-- Claro, depois que marcar me avisa. Tenho um encontro com a Sheila, vou dar uma prensa nela ainda não me conformei com a sacanagem dela.
-- É isso aí Dudinha, dá duro nela - deu um soco no ar.
Rafaela e Claudia almoçavam em um restaurante próximo à construtora.
-- O Sr. Eduardo retorna hoje da França. O interessante é que ele nunca gostou de viagens longas e agora já tem outra agendada pra semana que vem. Vai para o Canadá. - passou a mão pelo rosto demonstrando preocupação.
-- E isso é problema para você? - perguntou a advogada, percebendo o semblante diferente da amiga.
-- Digamos que eu sou uma simples chefe da equipe de arquitetos que não tem poder nenhum sobre os demais setores e que na ausência do todo poderoso tem que resolver todo tipo de pepino - desabafou.
-- Você deveria conversar com ele Rafa - aconselhou à amiga.
-- Não sei, vai parecer um pedido de promoção. Ele me trata como se eu fosse a vice-presidente da empresa. Vive me perguntando: Rafaela o que você acha? Rafaela se fosse você como agiria? - sorriu lembrando-se de como ele a incentivava a pensar.
-- Mas sem poder usar a caneta de nada adianta o importante é o poder de assinar - riu do que acabou de falar - Quem sou eu pra dar conselhos né amiga? - Claudia estava a ponto de largar tudo. Trabalhava como advogada em uma empresa aonde seu único trabalho eram com pequenas causas trabalhistas, aonde o objetivo era tão somente ferrar os empregados.
-- Vou deixar rolar por enquanto, mas se o homem começar a exagerar nas viagens vou ter que me rebelar.
-- Será que o coroa não está arrastando as asas para alguma donzela internacional? - cogitou Claudia.
-- Será? Depois que a esposa faleceu ele só viveu para a filha e a empresa, se tiver mulher na história deve ser uma francesa belíssima e culta, pra fazer a cabeça daquele homem não é fácil - Rafaela conhecia muito bem Eduardo.
-- Esse salmão está um pecado, você precisa me convidar mais vezes para almoçar aqui. Sem contar que você pode não ter o poder da caneta, mas o poder da carteira amiga, disso você não pode reclamar não é? - riram muito com o comentário.
-- Tem visto a Eduarda? - estava ensaiando a pergunta desse que chegaram ao restaurante.
-- Depois do luau, falei com ela só por telefone - Claudia baixou a cabeça para evitar o olhar da amiga. Estava com saudades da garota.
-- Você está lidando bem com isso?
-- Claro, a adolescente da historia não sou eu Rafa. Pra mim foi só uma trans* gostosa -- sorriu sem jeito.
-- Então tá, se você está dizendo - Rafaela não estava muito convencida, mas decidiu deixar pra lá.
Eduarda e Sheila já tinham terminado o almoçar e estavam comendo um pavê de sonho de valsa de sobremesa, o preferido de Eduarda.
-- Dessa vez passa Sheila, mas você está de castigo. Sem beijos, sem trans*s, sem passeios - fez cara de brava.
-- Tudo bem bebê, desde que me perdoe - falou dengosa.
-- Não deveria. O que você fez foi muito grave e merecia uma punição mais rígida - Sheila pegou a mão de Eduarda por debaixo da mesa e colocou em sua coxa - Mas como eu tenho um coração mole vou passar uma borracha em tudo - as pernas de Sheila eram tão gostosas que resolveu tira-la do castigo.
-- Me arrepiei todinha bebê. O castigo acabou?
-- Acabou minha Yorkshire - cochichou no ouvido dela.
-- Vamos lá pra casa? - fez biquinho.
-- Acho melhor não, tenho um compromisso - Sheila colocou a mão de Eduarda entre as suas pernas e apertou.
-- Pensando bem o compromisso pode esperar um pouquinho. Vou pedir a conta depois vamos pra sua casa - afastou uma mecha de cabelo que teimava em cair no rosto de Sheila, jogou um beijo pra ela e chamou o garçom.
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Eduarda chegou em casa e foi direto para a cozinha. Estava com saudades de Bárbara, fazia dias que não sentava com ela para conversar, ganhar e dar carinho. Era um costume que iria preservar para o resto de suas vidas.
-- Bába minha TDB - abraçou a governanta por trás mordendo seu pescoço.
-- Pára Dudinha sua maluca. Onde você estava? - Bárbara passava as mãos no rosto de Eduarda com carinho.
-- Estava tratando de negócios. Agora sou uma empresária ocupadíssima - lavou uma maçã e começou a comer calmamente.
-- Esse seu cabelo molhado me diz outa coisa - sacudiu a cabeça -- Seu pai voltou de viagem - falou sentando próximo à menina que ainda comia sua maça.
-- Lembrou que tem uma filhinha pra criar então. Dessa vez ele demorou mais do que de costume não é Bába? O papai filesão tá aprontando - falou fazendo Bárbara sorrir.
-- Não fala assim, ele é um santo - defendeu o patrão.
-- Se ele estiver me traindo boto ele de castigo - terminou a maçã e pegou um cacho de uva.
-- Você não vai ter fome para jantar minha filha - Bárbara preocupava-se com ela, achava que a menina estava magrinha.
-- Só vou ficar na fruta mesmo Bába, o almoço está aqui ainda - passou a mão pela barriga.
-- Duda só por curiosidade o que significa TDB?
-- Significa: Tudo de bom - riu da cara da governanta - Vou lá ver o que o chuchuzão pai tá aprontando - beijou a testa de Bárbara e seguiu para ver o pai.
No escritório Eduardo estava ao telefone conversando com a delegada Pamela. Fazia alguns dias que havia recebido uma mensagem da amiga pedindo que assim que retornasse ao Brasil entrasse em contato com ela. Foi o que fez assim que chegou em casa. Qual foi sua surpresa e desespero quando Pamela narrou todo o ocorrido de alguns dias atrás. Não conseguia imaginar sua menina em uma cela cercada por marginais. Mesmo a delegada dizendo que não era nada disso, que ela não passou por nenhum tipo de constrangimento, não adiantou. Eduardo desligou o telefone nervoso e foi atrás de Eduarda.
Quando chegou à sala deu de cara com ela vindo da cozinha.
-- Minha filha como você está? - olhou para Eduarda como se investigasse se ela estava realmente bem.
-- Estou bem paizão - recebeu um abraço tão apertado do pai que chegou a doer os ossos.
-- Credo pai, parece um urso - reclamou do exagero do abraço.
-- Desculpe Dudinha estava com muita saudade. Vem cá senta aqui com o papai - bateu no sofá - Como foram às coisas na minha ausência?
-- Foi bem corrido pai. Eu e o Jorge praticamente acertamos tudo na boate - lógico que nem em sonho comentaria sobre ter sido detida, isso omitiria até a morte, não queria ser motivo de preocupação para o pai.
-- Hum interessante. Conte-me tudo então - sabia que ela não falaria nada sobre o ocorrido, mas teria que tomar algumas providências, não poderia viajar e deixar uma garota de dezoito anos fazendo o que bem entendesse.
Eduarda deixou o pai a par de tudo que fosse relacionado à boate, detalhes da negociação e os planos para os próximos dias que antecedem a inauguração.
-- Amanhã vou até a construtora falar com essa tal de Rafaela, estou querendo modificar a fachada da boate e preciso de alguém que entenda disso. Apesar de não gostar de aparecer por lá, dessa vez não tem jeito.
Eduarda evitava o máximo de ir à construtora. Chamava muita atenção, chegavam a parar o que estavam fazendo para vê-la passar.
-- Quem manda além de ser tão linda também ser filha do dono da empresa - falou orgulhoso.
-- Vendo por esse lado - sorriu lindamente, o que fez o pai suspirar fundo. Nesses momentos lembrava-se da esposa e quase sempre terminava com a voz embargada e os olhos molhados de lágrimas.
-- Não insiste Jorge. Eu pretendo ir sim, mas não hoje. Estou morta e hoje é apenas o meio da semana - Rafaela estava animada para conhecer a boate, tinha planos de ir no sábado e não em uma quarta-feira como queria o amigo.
-- Você parece uma velha está sempre cansada. Estou morta, estou morta. Só sabe falar isso mô? - Jorge já tinha perdido a conta de quantas vezes tentou arrancar Rafaela de casa e não conseguiu.
-- Te prometo no sábado sem falta. Tá feliz? - foi até a cozinha, pegou uma garrafa de vinho e levou para a sala -- Vamos beber esse vinho juntos antes de você cair na noite - encheu o seu copo e o do amigo.
-- Tudo bem. Sábado estarei aqui no mesmo horário de hoje para te pegar, mas olha hein, sem desculpas, sem tô morta, você vai mesmo que esteja com uma espinha gigante na ponta do nariz. Meu Deus que desgraça - procurou uma madeira para bater três vezes.
-- Sai pra lá desgraça - Rafaela bateu também na madeira.
Jorge bebeu sua taça de vinho e saiu. Rafaela estava feliz pelo amigo, via em seus olhos o brilho cada vez que falava da boate. Duvidava de sua volta para a construtora, se tudo corresse como o planejado por eles, ninguém lhe tiraria mais de lá. Ele adora a menina maluquinha e do jeito que Jorge conta parecem até irmãos.
Rafaela olhou para o relógio e viu que já eram 23h00min, Kenedy costumava ligar todos os dias nesse horário. Apesar de não ama-lo sentia a falta dele. Ao menos tinha com quem dividir as noites chatas. Foi tirada de seus pensamentos pelo toque do telefone. Sempre pontual. Largou a taça de vinho sobre a mesa e foi atender a ligação do namorado.
-- Oi amor, sobrevivendo sem mim? - quanta presunção. Pensou Claudia.
-- Vou levando. Quando você volta?
-- Sabia que estava com saudades. Volto sábado pela manhã - ferrou. Jorge vai dar a luz.
-- Que bom amor - mentiu. Estava achando péssimo.
-- Estou feliz, fiz ótimas vendas por aqui. Poderemos até sair para comemorar. Dessa vez por minha conta.
-- Fico feliz por você - não entendia Kenedy, trabalhava tanto, mas nunca tinha dinheiro. Talvez esse trabalho de representações não fosse um bom negócio para ele.
-- Pois fique feliz por nós. Se os negócios continuarem indo bem, em breve poderemos pensar em casamento.
-- Deixaremos para conversar sobre isso quando você voltar, agora vá descansar seu dia deve ter sido difícil.
-- E foi. Beijo amor, amanhã te ligo.
-- Beijo - Rafaela desligou, mas continuou com o telefone na mão. Casamento. Se desesperava só de pensar.
Na boate Jorge e Eddie dançavam como sempre cheios dos exageros e rebol*dos. Eduarda chegou neles e falou no ouvido de Jorge:
-- Você parece uma galinha com poliomielite - Jorge a empurrou para fora da pista.
-- Seu grosso estava só brincando - berrou de longe. Quando virou, deu de cara com Claudia.
-- Oi, precisando de uma advogada? - Sorriu tão linda que Eduarda até suspirou fundo.
-- Pode processar aquela bicha violenta pra mim - apontou para Jorge que continuava se quebrando na pista.
-- Coitado, ele está mostrando a sua performance para o Eddie.
-- Me parece mais uma convulsão. Deixa o John Travolta do Leblon aí e vem comigo - pegou na mão de Claudia e foram abrindo caminho até o bar.
-- Isso aqui está cheio hein? - sentou na banqueta oferecida por Eduarda.
-- E vai ficar bem melhor depois que fizermos as mudanças que estamos planejando - ficou de pé na frente da advogada.
-- Vocês nasceram pra isso - olhou ao redor.
-- Talvez não tenhamos nascido para isso Claudia, mas nos adaptamos as situações. Você não se adaptaria? - chamou Fernanda com a mão.
-- Talvez. Tudo é trabalho não é? - A advogada não sabia até aonde Eduarda queria chegar, mas estava curiosa.
-- Fala patroazinha - Fernanda se aproximou como sempre simpática.
-- O que vai beber? - Eduarda perguntou para Claudia.
-- Uma caipiroska de pêssego, por favor.
-- Um mojito pra mim Fernanda, por favor - a atendente saiu providenciar os pedidos.
-- Temos uma proposta de trabalho para você e o Eddie. Podemos conversar a respeito mais tarde, em um lugar mais tranquilo?
-- Claro. Pode ser em meu apartamento.
-- Legal. Agora vamos até lá dançar com as bibas bailarinas?
-- Vamos.
Pegaram as bebidas trazidas por Fernanda e foram para a pista.
Fim do capítulo
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