Capítulo 7
Os Anjos Vestem Branco -- Capítulo 7
Uma semana já havia se passado desde a reunião na casa de Sabrina. Bruna resolveu não insistir com Victória, deixaria as coisas acontecerem por si só. A morena era comprometida e longe dela querer arrumar confusão ou separar um casal que estava feliz na deles. Para Bruna relacionamento é como moto: Só cabe duas pessoas. Estava sofrendo, mas com o tempo o coração vai melhorando e vai parando de sofrer. Era com esse pensamento que seguia a vida.
Na Barra da Tijuca...
-- Vic do céu... Que jóia linda - Thiago passou a mão pelo colar que reluzia no pescoço da morena.
-- Realmente é muito linda - falou enquanto preparava a mesa para o café - Presente do Mô pelo aniversário de três anos como a outra.
-- Que maneira horrível de se intitular Vic - Thiago fez uma careta.
-- E não é? Estou chateada Thiago. Cansada de ouvir ele dizer que semana que vem terá uma conversa com a família e abrirá o jogo com eles. Assim não tem amor que sobreviva.
-- O amor deve ser cultivado todos os dias mona, se não morre e espero que morra mesmo.
Victória encheu as xícaras dos dois de café.
-- Tem falado com a Bruna ou com a Sabrina? - Victória perguntou enquanto cortava o bolo de fubá que acabara de tirar do forno.
-- Falei ontem com a Bruna por telefone - Thiago serviu-se de uma fatia.
-- Você tem o número então - sorriu feliz - Passa pra mim. Estou com saudades dela.
-- Passo. Acho que ela não vai se importar.
-- Ela perguntou por mim? - olhou ansiosa para Thiago que mastigava antes de responder.
-- Perguntou se você estava bem - respondeu com pouco entusiasmo - Esse bolo está uma delícia.
-- Só isso? - perguntou decepcionada.
-- Você quer mais ainda? Tá bom. Está saboroso, macio, no ponto...
-- Não estou falando do bolo. Mas tu és mais perdido que cebola em salada de frutas né guri? Estou falando sobre a Bruna - falou sem paciência.
-- Há tá a Bruna - bateu com a mão na própria cabeça - Ela só perguntou isso mesmo.
-- Poxa e eu aqui com saudades dela -- cruzou os braços fortemente.
-- Você queria o que? Que ela perguntasse sobre a sua família, sobre o Mô...
-- Há, sei lá... Mostrasse um pouco mais de curiosidade sobre a minha vida.
-- Grava aí o número dela - Thiago passou o número do celular de Bruna e Victória gravou nos contatos do seu celular.
-- Valeu Thiago. Qualquer hora ligo e marco algo com ela.
-- Faça isso. A Bruna é gente boa vai te fazer bem ser amiga dela.
-- Também acho - sorriu concordando plenamente com o amigo.
No hospital da Barra.
-- Você é muito engraçadinha Bruninha. Mulheres não querem pessoas assim - Sabrina ensinava a Bruna como conquistar uma mulher -- Vamos falar a verdade: elas dizem que curtem pessoas engraçadas. Isso é só o que elas dizem. É o que elas querem que você pense. É o que elas mesmas querem achar que pensam. Mas é mentira.
-- Sério? - Bruna estava sentada em um sofá no conforto médico.
-- Sério. Se o senso de humor fosse tão sensual, os maiores pegadores não seriam os comediantes, em vez dos atores e astros da música?
-- Tem lógica. Quer dizer que não devo mais contar piadas então -- obrigou-se a sorrir.
-- Você tem que saber a distinção entre "engraçado" e "divertido". Se não souber aprenda.
Sabrina pegou um café na máquina e entregou para Bruna, depois continuou a falar.
-- Quando você vai conversar com uma mulher bonita, o jogo não começa no zero a zero. Ela tem a vantagem. Ela é bonita. Você foi conversar com ela. Não foi ela quem puxou papo com você. Logo, algum interesse você tem. É como numa entrevista de emprego. Uma coisa é você procurar emprego. Outra coisa é o empregador ligar para você e oferecer uma vaga.
-- Aonde você aprendeu essas coisas Sabrina?
-- Experiência própria Bru, vivência... - falou sem olhar para a amiga.
Bruna a olhou incerta sobre a veracidade de suas palavras.
-- Tá bom - deu-se por vencida - Eu andei lendo o livro 4 Passos Para Se Tornar Irresistivelmente Atraente do site machoemserie.com.
-- Que vergonha ficar lendo essas coisas Sabrina, ou você acha que esses homens entendem mais de mulheres que nós que somos mulheres...
Nesse momento Rubia, uma técnica de enfermagem, entrou na sala com uma ficha na mão e sentou ao lado de Bruna.
-- Doutora Bruna, esse rapaz foi assaltado e agredido em crime de homofobia. A agressão ocorreu horas após um protesto contra homofobia - A técnica entregou a ficha para Bruna.
-- Mais um caso infelizmente - suspirou fundo - Vamos lá então.
Quando Bruna e Sabrina chegaram no PS, o rapaz estava deitado em uma maca chorando.
-- O que aconteceu Ruan? - Bruna o examinava enquanto ouvia o relato do rapaz de 25 anos.
-- "Parou um carro ao meu lado e abriram a porta falando: "passa, passa, passa tudo". Aí eu tirei o boné, que relativamente era de marca, e o calçado que eu estava e passei" -- descreveu o estudante de teatro -- Eu dei uns dez passos e senti um chute nas minhas costas. Quando houve esse chute, começou a pancadaria e eu só sabia me proteger - parou para respirar fundo --Eles chutavam, chutavam, com muitos xingamentos de homofobia e de racismo. ‘Preto, viado, pobre. Essa desgraça tem que morrer'; ‘Essa raça tem que acabar' -- pausou novamente - "Acho que eles desistiram. Não sei, ou porque estava vindo um menino atrás, aí eles entraram no carro e saíram, mas antes de eles entrarem no carro, eles ainda deram dois tiros pro alto, mas eu achei que era na minha direção".
Ruan, de 25 anos, caminhava para casa quando criminosos o assaltaram e saíram. Segundo depois, voltaram e iniciaram socos e pontapés, acompanhados de insultos racistas e homofóbicos.
O rapaz, que chegou a pensar que fosse morrer, caminhava com dificuldade. Os hematomas estavam por todo o corpo: ombro, costas, quadril e na planta do pé.
-- "Essa gente preconceituosa, eles queriam encontrar alguém na rua. Estou tremendo até agora, Estou sem dormir. É muita dor. Estou com muita dor, nos pulsos, nas costas, no lado direito todo. Graças a Deus estou vivo, apesar das lesões, mas quantos negros e gays morrem por aí? Pra mim é gente desequilibrada" - o rapaz desabafou.
Poucas horas antes, na noite de sexta-feira (28), um grupo promoveu um beijaço contra a homofobia, na Praça São Salvador, em Laranjeiras, na Zona Sul. O local foi escolhido por ter sido palco de um caso de agressão a dois homens que se beijaram no início de março. O ato reuniu dezenas de pessoas.
Bruna encaminhou Ruan para realizar Rx e ser medicado.
-- Sabe o que mais me deixa indignada Sabrina, é que muita gente apoia essas agressões e quando começamos a discutir sobre o assunto, nos acusam de estarmos dando muito destaque para os crimes homofóbicos - A médica bufou e seguiu irritada em direção a sua sala.
No apartamento da Barra.
-- Hoje não posso ficar morena, tenho um jantar importante com um fornecedor alemão - falou abraçando Victória por trás.
-- Sei. Porque será que não estou surpresa com isso -- suspirou entristecida.
-- Não fala assim Vic - beijou-a na cabeça - Te peço um pouco mais de paciência.
-- Não me cobre paciência, é o que mais estou tendo ultimamente - caminhou para o quarto e fechou a porta - Quando sair tranque a porta - berrou lá de dentro.
Victória jogou-se na cama assim que ouviu o som da porta sendo fechada. Só que dessa vez foi diferente das outras. Victória não chorou, esperneou e nem quebrou objetos. Simplesmente sorriu e falou para si mesma: -- Pois fique sabendo Mô, que a minha paciência esgotou.
Pegou o celular e buscou pelo número de Bruna.
No Leblon...
-- Para Bruna... - Priscila corria pela sala gritando desesperada.
-- Me devolve Pri... - Bruna agarrou a irmã pela roupa.
-- O que é isso meninas? - Nestor apareceu na sala.
-- A Pri pai... Roubou o meu bilhete - Bruna apontou para a irmã que balançava um papel no ar.
-- Olha só que safada é a sua filha - entregou o bilhete para o pai.
-- O que é isso Bruna? - Nestor olhou sério para a filha - É uma paciente?
-- É pai, mas eu não a incentivei, nem dei nenhum motivo para ela ficar me mandando bilhetinhos apaixonados - a médica se defendeu.
-- Eu acredito em você, minha filha - Nestor abraçou a loira - Mas tome muito cuidado Bruninha. Não preciso nem falar os problemas que isso pode vir a lhe causar - devolveu o bilhete para ela.
-- Eu sei pai, vou tomar cuidado - mostrou a língua para Priscila.
-- Seu celular não para de tocar Bruna - Débora entregou o celular para a filha - Vamos Nestor, já estamos atrasados.
Bruna olhou para o visor do celular que tocava novamente. Ficou na dúvida se atendia pois a ligação era de um número desconhecido.
Relutou por mais algum tempo até que a curiosidade foi maior e atendeu.
-- Alô - atendeu desconfiada.
-- Alô, Bruna, é a Victória. Tudo bem?
Bruna sentiu as pernas fraquejarem e caiu sentada na beira do sofá. Só conseguiu falar quando ouviu novamente a pergunta.
-- Tudo bem Bruna?
-- Tudo Vic, está tudo bem - sentiu-se uma boba.
-- Está de plantão hoje?
-- Não. Estou em casa - tentava controlar o nervosismo.
-- Estava pensando se não seria um dia legal da gente sair para conversar.
Bruna pensou por alguns segundos e resolveu resistir à tentação.
-- Desculpe Vic, mas estou muito cansada - pausou para um longo respirar. Era tudo o que mais queria. Estava louca de saudades da morena - Não serei uma boa companhia.
-- Poxa Bruna, estou com tanta saudade - falou manhosa.
Com certeza não deve ser nem 2% do que estou sentindo. Pensou Bruna.
-- Por favor, vamos - insistiu.
-- Ok, ok - odiou-se por ter sido tão fraca - Te pego em casa?
O caso Ruan é verídico e foi publicado no site http://g1.globo.com, no dia 28/03/2015
Fim do capítulo
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Srta Petrova
Em: 23/09/2015
Nossa, muito triste essas coisas de homofobia, Espero que um dia estejamos livre disso....bjs queida autora muito bom o capítulo não me canso de dizer que adoro essa estória.
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Maria Flor
Em: 23/09/2015
Oi, Vandinha!!!
Próximo capítulo promete emoções calientes? Hehehe.
Já te disse que adoro a Bruna, né?
Beijão e até o próximo capítulo!
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