As Cores do Paraíso - Capítulo 44

Na construtora, Alice observava Larissa olhando para a tela do computador com olhar de sonhadora. Talvez seu corpo estava ali, mas sua alma estava longe, bem longe. Mexia no mouse de lá para cá, sorria bobamente, fechava os olhos e suspirava fundo.

Quando percebeu que Alice a encarava, pigarreou e levantou-se da cadeira.

-- Acho que vou embora - foi até a janela e olhou para o céu - O dia está lindo demais para eu ficar presa nesse escritório olhando a Gabi mandar de minuto a minuto um emoticons: "Lari, agora vou tomar um Danoninho, Lari, agora vou assistir tv..."

-- Na verdade, eu acho que você nem veio para a construtora hoje - fez uma careta de descaso.

-- Sexta-feira é assim mesmo, a cabeça da gente já está pensando no sábado - pegou a bolsa e ajeitou no ombro - Vamos até a praia do Encanto amanhã?

-- Vamos. Eu e a Talita entramos com a cerveja e vocês com a carne.

-- Legal. Liga pra Fê e avisa que elas estão encarregadas da sobremesa.

-- Deixa comigo Lari.

No apartamento de Larissa

Gabriela pintava uma tela que seria incluída em sua próxima exposição.

-- Mauricio quero conhecer o seu namorado.

-- Acho que não será um bom negócio. Ele é muito tímido e você...saidinha demais - ajeitou-se em uma cadeira ao lado da loira.

-- Também sou uma pessoa simpática, alegre e de bom caráter..., extrovertida, sincera, gosto de passeios, cinema, ... sou uma pessoa compreensiva, calma, gosto de me divertir, dançar e fazer novas amizades.

Mauricio simplesmente ficou olhando para ela.

-- Gabi que tal se mantermos o foco? Estávamos falando do meu namorado.

-- Então... O que você acha dessa tela?

-- Estranha. Uma mulher tomando cerveja pelada e o dono do bar tarando a bunda dela.

-- Você não entende nada de arte, mesmo. Vou te explicar:

 A mulher entra no bar nua e pede uma cerveja.

O dono do bar a olha dos pés à cabeça, depois vai ao freezer e pega uma cerveja geladíssima.

Ela toma rapidamente e pede outra.

O dono do bar olha para a mulher, olha, olha, olha, fica olhando, olha e olha de novo, até que a mulher diz:

-- O senhor nunca viu uma mulher pelada, não?!

E o dono do bar tranquilo responde:

-- Ver eu já vi, só estou querendo saber de onde você vai tirar dinheiro para pagar as cervejas!

Larissa entrou e estranhou o silêncio do ambiente. O apartamento estava uma bagunça.  A sala de estar parecia ter acontecido uma guerra de almofadas, coisas espalhadas por toda parte, pacotes de bolachas pelo chão, na cozinha, uma pilha de louças para lavar amontoadas sobre a pia.

-- Meu Deus! Aonde foi parar o meu Mauricio, aquele empregado exemplar? - Ouviu risadas altas e saiu pisando duro em direção ao ateliê.

Abriu a porta silenciosamente para não ser vista e ficou escutando a conversa dos dois malandrinhos.

-- Três maridos estavam conversando e o primeiro, conta:

-- Ontem à noite fiz massagem em minha mulher com azeite de oliva finíssimo, depois fizemos amor e fiz ela gritar por 5 minutos seguidos.

Então o segundo diz: -- Eu massageei o corpo da minha mulher com um óleo especial, depois fizemos amor e fiz ela gritar 15 minutos...

O terceiro: -- Isso não é nada, fiz massagem em minha mulher com manteiga, acariciei seu corpo inteiro e depois fizemos amor. E a fiz gritar por seis horas seguidas!

E os outros dois, impressionados, perguntam: -- Seis horas??! O que você fez para conseguir isso?

-- Limpei as mãos na cortina!!!!

-- KKKK...

-- Não se preocupa.... Quando a minha vó saia para ir até o Centro, eu e a Talita ficávamos em casa, sozinhas. Cara...fazíamos uma bagunça! Meia hora antes dela chegar corríamos e organizávamos tudo - olhou para ele e sacudiu a cabeça confirmando -- Quando for cinco horas eu te ajudo a organizar tudo. Não esquenta. Sou cheia das estratégias.

-- É, mas eu tenho medo.

-- Que é isso? A minha, miau é boazinha.

Larissa não pode deixar de sorrir neste momento. Não conseguia ficar brava com Gabriela.

-- Boa tarde pessoal! - Entrou de supetão arreganhando a porta do ateliê.

Mauricio pensou por alguns segundos e quando seu cérebro processou a informação enviada pela visão:

-- Aiiiiiiiiii... -- saiu correndo e gritando.

Larissa sentou no colo da loira e deu um beijo em sua boca.

-- O que deu nele? - Fingiu total inocência.

-- Ele está com dor de barriga. Tadinho - olhou séria para a ruiva - Que bom que você chegou cedo, preciso conversar um assunto muito sério com você.

-- Uau guti-guti. Isso foi profundo e raro também - sorriu - Posso tomar um banho primeiro?

-- Claro amor. Te espero lá no quarto.

Larissa deu um selinho nela e saiu sorrindo. Quando passou pela sala escutou barulho de louças vindo da cozinha. Mauricio devia estar se virando nos trinta.

Na praia do Encanto.

-- Não fica assim amor. Elas não fizeram por mal - Luísa consolava a esposa.

-- Desculpa dona Samanta. Não sabíamos que a senhora gostava desse tipo de programa, afinal, vocês são tão finas... - Alice falou sem jeito.

-- Finas? Adoramos carne gorda e cerveja, né amor? - Samanta falou com a cabeça encostada no peito de Luísa.

-- Adoramos! - Luísa concordou - Mas, você ouviu né amor? Elas não haviam esquecido da gente. Só não convidaram porque pensaram que nós não gostássemos de churrasco.

-- Que bom. Estava tão magoada.

-- E não se preocupem com nada, podem deixar o churrasco comigo. Adoro assar carne - Luísa levantou do sofá e puxou Samanta consigo - Vamos amor. Até amanhã meninas.

Assim que as duas saíram, Alice virou para Talita e riu.

-- A Samanta tem um jeito tão Gabi de ser. Isso é motivo de fazer manha?

-- Elas são tão fofas juntas - Talita abraçou a noiva e fez um carinho em seu rosto - Quero um amor igual ao delas.

-- Igual não. A gente tem que tentar fazer sempre melhor, Tali.

-- Quando duas pessoas se amam, elas não se submetem e não se dominam, apenas se completam - deu um beijo calmo na boca de Alice.

Pararam de se beijar por alguns segundos, Talita pegou Alice no colo e berrou:

-- Tobias fecha a casa antes de ir dormir...

Na mansão dos Simões.

-- Entra minha filha - Davi levantou e foi receber Fernanda - A Laura já deve estar descendo.

-- Boa noite - Fernanda sentiu um frio na barriga e uma dor enorme, quando Davi apertou a sua mão num cumprimento de político quando pede voto. Assim que ele a largou, examinou os dedos para se certificar que não havia ocorrido algum tipo de lesão mais grave.

-- Você sabe como são as mulheres... sempre demoradas... - pensou um pouco - Claro que você sabe, que idiota eu sou.

Laura desceu a escada acompanhada por um casal, que Fernanda deduziu serem os seus pais.

Davi puxou a manga da blusa da advogada e falou próximo ao ouvido dela.

-- Não se preocupe. Se meu irmão tentar de espancar, eu seguro ele.

-- Obrigada, me sinto bem melhor em saber disso.

Laura podia ver o desespero no olhar de Fernanda e a achou tão bonitinha. Ela, uma advogada renomada e conceituada no mercado jurídico, morrendo de medo de conhecer os pais da namorada.

-- Oi Fê - beijou a bochecha da advogada e posicionou-se ao seu lado - Mãe, pai, essa aqui é a Fernanda...-- deu uns cinco tipos de suspiros até completar - A minha namorada.

Davi pulou no meio delas.

-- Ela não é linda? E ainda por cima é cearense. Os cearenses são conhecidos nacionalmente pelas suas cabeças-chatas, mas também é a terra de José de Alencar e Rachel de Queiroz e de toda aquela gente honesta e trabalhadora. Fortaleza é a capital do Estado do Ceará, que foi pioneira na libertação dos escravos, berço de importantes juristas brasileiros como Clóvis Beviláqua e muitos outros.

-- Amelinha, também - Fernanda sussurrou.

-- Amelinha também, "Mulher nova bonita e carinhosa, faz o homem gem*r sem sentir dor". As mulheres cearenses são verdadeiras guerreiras. Vou colocar um projeto no senado que...

-- Tio...

Davi pigarreou duas vezes antes falar.

-- Desculpa Laurinha. Pode continuar.

Agora Laura estava tão nervosa quanto Fernanda. Abriu a boca, mas não saiu som algum.

-- Olá Fernanda - a mãe de Laura sorriu, estendendo a mão em direção a ela.

Laura levantou as sobrancelhas receosa e olhou para o pai que deu uma piscadinha e fez sinal de positivo com o polegar.

-- Ela é mais bonita do que imaginávamos, não é amor?

-- Muito mais - o pai de Laura confirmou.

Laura e Fernanda se olharam.

-- Agora vamos jantar. Você está muito magrinha.

Fernanda encolheu-se toda quando a mãe da garota tocou a sua barriga com o dedo indicador.

-- Sendo assim... - Davi falou animado - Vamos encher a pança.

No apartamento de Larissa.

A ruiva terminou o banho, colocou somente a calcinha, se enrolou na toalha e saiu do banheiro. No quarto, Gabriela estava sentada na cama olhando para a janela, mas logo voltou seu olhar para ela.

-- Cheirinho bom. Miau - fixou seu olhar nela por um instante, a imagem era tão bela e tentadora que quase esqueceu que tinha algo muito importante a falar com ela -- Foco, Gabriela! - Falou para si.

-- Estou ansiosa, até preocupada... - confessou -- Em saber o que você tem para falar comigo.

-- É importante, mas não é nada preocupante - puxou-a para sentar-se em seu colo.

-- Fala logo guti-guti - já estava agoniada com o suspense que Gabriela fazia.

-- Lembra de quando a gente se conheceu? Você era arrogante, impaciente, autoritária, insistente, e tinha uma ideia fixa...

-- Construir um condomínio luxuoso na Praia do Encanto.

-- Isso mesmo. Confesso que não achava má ideia. O que não me agradava era a forma como você tratava o nosso paraíso. Simplesmente um pedaço de terra bonita e valiosa. Em nenhum momento pensou no lado emocional, em tudo o que aquela praia representava para mim e para as minhas mães.

-- Mas eu...

-- Calma miau. Eu chego lá -- seu sorriso abriu após ela umedecer os lábios - Aquele lugar merece algo especial, amor e naquela época você não estava preparada para oferecer isso. Você construiria apenas cantos sombrios e paredes de concreto frias e úmidas. A luz nunca entraria alí, nem o sol seria capaz de iluminar.

Larissa prestava atenção em cada palavra, curiosa em saber até onde ela chegaria com aquela conversa.

-- Compra-se o que tem preço. O que tem valor conquista-se! E você conquistou.

-- O que você quer dizer com isso, Gabi?

-- Que você está preparada para construir o condomínio no paraíso. Minhas mães construíram o paraíso para mim, nós vamos construir o paraíso para os nossos filhos Lari. O nosso amor vai construir.

Larissa ficou em silêncio, nada do que dissesse agora poderia expressar a sua emoção. Sorriu e as lagrimas foram inevitáveis.

Gabriela passou o polegar no rosto dela secando as lágrimas que insistiam em cair.

-- As casas não terão muros entre elas, os jardins serão enormes. As crianças e os animais brincarão livres pelo lugar. Essa é a minha única exigência.

Gabriela passou a língua pelo rosto da ruiva, sentiu o sabor da sua pele macia misturada ao salgado das lágrimas que molhavam toda a superfície do seu rosto.

Soltou a toalha que envolvia aquele corpo lindo e expôs sua pele lisa e pálida que reluzia com a meia luz que iluminava o quarto.

Com uma das mãos segurou um dos seios dela e o sugou, usou a língua no bico rijo de Larissa e ela gem*u alto envolvendo seus braços ao redor do pescoço da garota.

Gabriela começou uma deliciosa sessão de carícias por toda a extensão do corpo da ruiva. Distribuiu beijos do seu pescoço até sua barriga, brincou passando a ponta da língua em volta de seu umbigo e parou bem em cima de seu lingerie.

Olharam-se e entenderam. Juntas, se admiravam, devagar, com carinho.

-- Vem meu amor, te quero todinha...

Com aquela frase saindo da boca vermelha de Gabriela, Larissa sentiu o arrepio mais forte de toda a sua vida, que enrijeceu todos os pelos do seu corpo. Fechou os olhos, levou as mãos nas costas dela e se deixou levar por aquele amor que lhe queimava o corpo em cada toque, em cada afago.

Fim do capítulo