Passei o resto da tarde tramando maneiras de matar minha mãe e não deixar pistas. Como ela pode fazer aquilo comigo? Quanto mais eu pensava pior a coisa ficava. Meu Deus uma viagem para Ribeirão seria horrível. Não era ali do lado, seriam três horas e meia de tortura. Só de pensar em nisso um suor frio escorreu pela minha testa. Nervosa como eu estaria poderia até causar um acidente. Só se eu fosse de avião. Como não havia pensado nisso antes? Imediatamente liguei pra companhia aérea e comprei as passagens de ida e de volta. Pelo menos esse problema estava resolvido, agora teria que nos pensar outros.

À noite quando cheguei em meu apartamento minha mãe estava na cozinha cantarolando toda feliz, como se nada tivesse acontecido.

Ela veio me receber com um sorriso estampado no rosto, e o Boris que  mal caminhava de tanto que devia ter comido, passou direto por mim e foi deitar-se em sua almofada preferida.

- Boa noite filha. - Disse dando-me um beijo  - Como foi o dia de trabalho?

- Fala sério mãe! Você quer saber do meu dia de trabalho? Você acha mesmo que eu consegui trabalhar depois da surpresa que me fez no almoço?

 - Ué o que eu fiz de mais? – Perguntou inocentemente.

- O que você fez? Eu não acredito no que eu estou ouvindo isso. Mãe qual parte você não entendeu quando te falei que a Clara não queria me ver? Aí você a convida para almoçar em minha companhia, e se isso não bastasse a intima a conhecer a chácara, ah e pra melhorar a situação ainda me obriga a leva-la.

- Por acaso você viu a Clara reclamando de alguma coisa? E depois foi só um convite se ela quisesse teria dito não.

- O que você está tramando mãe?

- Eu? Nada oras. Que ideia!

- Ah, tá. Veja bem mãe eu nem ia pra chácara este fim de semana. Você mentiu.

- Claro, senão você não teria a gentileza de se oferecer para levar a menina. A coitada ia ter que ir sozinha.

- Coitada? Coitada de mim isso sim!

- Para com isso Ana Lucia!

- Você sabia que eu tentei seguir seu conselho e liguei pra falar com a Clara?

- E porque não falou com ela então?

- Porque querida mãe, quem atendeu foi a namorada dela, que me informou de uma maneira nada sutil que a Clara estava dormindo por estar cansada demais depois de uma tarde tórrida de amor.

- Eu não acredito! Ela disse isso mesmo?

- Não com essas palavras! Mas disse. Então de nada vai adiantar essa trama que você planejou. A Clara tem outra pessoa.

- Engraçado Ana, essa história esta estranha.

- Por que você esta falando isso?

- Porque em nenhum momento percebi qualquer gesto de carinho entre as duas.

- A Clara sempre foi muito reservada.

- Sim, mas nem troca de olhares, ou algo parecido.

- Ah mãe, eu não quero saber disso. Elas que se tratem do jeito que quiserem! Não é da minha conta. Quer saber vamos mudar de assunto, porque o mal já esta feito e não tem como voltar atrás.

- É bom mesmo porque o jantar esta esfriando. E depois o futuro só a Deus pertence.

 No dia seguinte assim que cheguei ao escritório liguei e obriguei Sisse a vir me encontrar. Ela chegou uma hora depois.

- Nossa Ana, o que aconteceu?

- Sisse minha mãe veio pra São Paulo ontem.

- Poxa Ana e você nem pra me falar nada. Eu adoro sua mãe, gostaria de tê-la visto. – Falou fazendo bico.

- Fica quieta e me escuta. Minha adorável mãe me chamou para almoçar, e quando eu cheguei ao restaurante adivinha quem estava lá.

- Hum é cantor ou ator?

- Que cantor ou ator Sisse. Acorda! Era a Clara e a namorada dela. A minha mãe as tinha convidado também.

- Ai essa dona Vania é o máximo. Queria tanto ter visto a sua cara. – Disse rindo.

- O máximo? Queria ver a minha cara? Você entendeu o que eu te falei?

- Entendi claramente.

- Bom deixa pra lá. O pior vem agora. Ela convidou a Clara para ir até a chácara neste fim de semana, e me incumbiu de ser a transportadora do precioso bem. Que tal?

Assim que terminei de falar Clarice desatou a gargalhar, enquanto eu fechava a cara.

- Legal te chamo aqui pra te contar a minha situação e você ri de mim. Grande amiga.

- Ai Aninha me desculpe, mas sua mãe é tudo de bom. Ela é maravilhosa! Se eu  a adorava agora eu amo de paixão.

- Você tá louca Clarice? Eu estou te dizendo que minha mãe me jogou na fogueira e você a está idolatrando.

- Ana você realmente não entendeu o que sua mãe está tentando fazer?

- Além de querer me foder? Devo ser muito burra, por que a única coisa que eu estou vendo é um fim de semana muito constrangedor.

- Olha só, você contou pra sua mãe que tentou conversar com a Clara e ela não quis ouvir, não é mesmo?

- Sim contei.

- Então, é exatamente isso que ela quer proporcionar, que você consiga falar com ela.

- Que é que vai adiantar isso agora Clarice? Ela tem namorada. Ta vivendo a vida dela.

- E por falar nisso, como a Jaqueline reagiu ao fato.

- Bom acho que ela não se apaixonou minha mãe como você. Os olhares que me lançou foram de extrema fúria. Ainda mais porque ela trabalhará esse fim de semana e não poderá ir.

- Não acredito! Nada poderia ser mais perfeito! Isso é Deus agindo.

- Que Deus agindo que nada é a louca da minha mãe maquinando mesmo! Sisse será que você não vê que não há nada de perfeito nisso. Eu ainda estou tentando convencer a Mari a não ir embora, tinha planejado umas coisas pra nós duas.

- Nossa a Mari já sabe desse encontro e do convite da sua mãe?

- Não e eu sinceramente não sei nem como contar isso pra ela.

- Bom amiga, eu não posso te ajudar nisso. Só posso te desejar boa sorte.

- Vou precisar de muita sorte mesmo, e nos dois casos!

Passei o resto da manhã imaginando um modo de contar para Mari. Eu não queria magoa-la, mas não podia deixar de explicar o que eu teria de fazer no fim de semana. Como se pudesse ler meus pensamentos ela entrou na sala.

-Oi! – Disse sorrindo

- Oi minha Ruiva linda.

- Uau esta inspirada hoje. Eu também estou por isso vim falar com você.

Eu a enlacei pela cintura e beijei seu pescoço.

- Em que posso ajudá-la?

- Queria sabre se você estará muito ocupada hoje à tarde.

- Hum depende. O que a senhorita tem em mente?

- Alguma coisa bem relaxante.

- Um SPA? – Brinquei.

- Não. Outra coisa.

- Bom posso pensar em algumas outras coisas bem interessantes. – Falei enquanto ia dando pequenos beijos em seus lábios - Tenho um lugar que acho que vai resolver seu problema.

- É mesmo? Será que é um recanto que costumamos utilizar nas tardes livres?

- Não. É outro lugar.

- Ué. Onde então?

- Meu apartamento. – Sussurrei em sua orelha.

- Já entendi, quer que eu cozinhe pra você.

- Não mesmo, porque o que eu quero comer já está prontinho. – Falei bem sacana, enquanto minha mão deslizava em seus quadris, puxando de encontro a mim enquanto devorava sua boca.

- Hum...delícia. Esta tentando manter a comida bem quente até chegar em casa? – Respondeu piscando

- Poda até ser, mas se esfriar acho que sei fazer esquentar rapidinho. – Disse com meu sorriso metido.

- Convencida. O pior é que sabe mesmo safada. – Essa última frase ela murmurou no meu ouvido. – Agora tenho que ir pra minha sala deixar tudo arrumado, pois acredito que nosso almoço vai ser bem longo. – Disse antes de sair.

Eu estava doida de tesão, comecei a arrumar minhas coisas pra ir embora quando meu celular tocou e atendi despreocupadamente:

- Alô?

- Ana Lucia?

- Sim. – Não reconheci a voz.

- Aqui é Jaqueline.

Caralh* era o que me faltava. O que será que ela queria e como tinha conseguido meu número?

- Boa tarde. Em que eu posso te ajudar?

- Você sabe muito bem porque estou te ligando.

- Na verdade não tenho a mínima ideia.

- Sério mesmo? Ou esta se fazendo de idiota?

- Olha aqui Jaqueline, não sou obrigada a aguentar desaforo de quem não conheço e muito menos de quem não tenho a mínima intenção de conhecer, então se quer me falar alguma coisa seja direta, ou vou simplesmente desligar.

- Vai me dizer que não teve nada a ver com o convite que sua mãe fez a Clara?

- Não tenho não.

- Bom vamos ser diretas aqui.

- Ótimo.

- A Clara é minha mulher. Nós preferimos não assumir nosso romance para não haver problemas no trabalho, afinal sempre que viajamos são pagas diárias separadas. Não tente se insinuar pra ela, nem fazer joguinhos. Espero não precisar tomar outras providencias em relação a isto. Fique bem longe dela. Você teve sua oportunidade e jogou fora! Não tente consertar seu erro agora, pois ela não vai cair na sua estória. Você entendeu?

- Em primeiro lugar não me insinuo para ninguém. Quando eu quero uma mulher vou atrás, e pego. Simples assim! Depois pode ficar tranquila que comprei passagens de avião de ida e volta para que a viagem não seja constrangedora nem pra ela nem pra mim. Quanto a ter perdido minha chance isso é um problema nosso e você não tem nada com isso. Além do mais não me lembro de ver Clara se negando a ir viajar comigo. Talvez seja por isso que esteja tão irritada não é mesmo? Bastava a “sua” mulher dizer não, afinal ninguém a obrigou a ir para a chácara.

- Você pensa que é a fodona, né. Se acha muito. Só que não é nada! Saiba que não tem chance nenhuma com ela, não depois da sacanagem que fez. Aliás, sua “amiga” esta na cidade sabia? Porque você não aproveita e não a convida para ir pra chácara com vocês? Seria bem interessante ver como se sairia dessa. – E desligou na minha cara.

Alicia na cidade? Quem diria, fazia vinte anos que não a via também. Ela estaria com mais de quarenta, será que tinha sossegado o facho? Ou continuava a mesma... Mas isso não me importava. Nunca quis saber da sua vida e não seria agora.  O que Jaqueline me falou a respeito de Alicia só fez com que a certeza que eu tinha sobre a intimidade das duas aumentasse. Jaqueline sabia o porquê da nossa separação. Ou melhor, imaginava. Mas foda-se! Não estava nem ai pras duas!

Quando Mari entrou toda feliz na sala eu me vi sendo obrigada a conversar sobre o fim de semana que teria junto com Clara, afinal estávamos nos preparando para passar a tarde juntas, e não seria justo ir pra cama com ela sem contar o que estava acontecendo. Peguei suas mãos e a levei até o sofá.

- Mari precisamos conversar. É um assunto chato e eu sinceramente espero que não acabe com nossos planos.

- O que foi Ana? Você esta tensa.

-Um telefonema idiota que acabei de receber. Mas não é sobre isso que quero falar. Olha sabe ontem, eu te falei que iria almoçar com minha mãe?

- Sim, aconteceu alguma coisa? Percebi que você voltou agitada.

- Aconteceu sim. Minha mãe encontrou Clara e Jaqueline na casa da minha tia e as convidou para almoçar, sem me avisar, é claro. Minha mãe não tem muita noção, é doida mesmo.

- Não fala assim meu amor, ela fez o que qualquer pessoa faria com um conhecido que não via há anos. Você ficou muito mal por tê-las visto juntas?

- Não Mari, não foi nada disso. É que a tresloucada da minha mãe não contente em convidá-las para almoçar convidou Clara para passar o fim de semana na chácara e prometeu que eu me incumbiria de levá-la.

Imediatamente vi o sorriso deixar os olhos de Mari. Sua expressão mudou drasticamente, era perceptível a mágoa. Comecei a pensar em novas maneiras de matar minha mãe e dessa vez com torturas antes da morte em sí.

- Entendo.

- Não Ruiva, não entende, afinal nem eu entendi o que minha mãe fez. Eu sei que essa não é uma boa hora pra falar sobre isso, mas não poderia te levar pra cama sem contar.

- Você sempre tão sincera. Já te falei que não sei te amo ou te odeio por isso?

- Não me odeie, por favor.

- É claro que não. Já arrumou suas coisas? Afinal não é bom deixar a comida esfriar muito.

- Mari você é incrível sabia? O que eu vou fazer da minha vida sem você?

- Não vamos falar disso. Vai me deixar esperando muito?

- Claro que não, afinal esse corpo maravilhoso, que eu sinto junto ao meu, neste momento, e que está me deixando doida de tesão, não merece esperar tanto assim.

- Sério que você está ficando doida? – Disse mordendo a boca, coisa que eu adorava.

- Por que você não vem verificar?

- Safada! 

Fim do capítulo