Helena foi transferida para outro hospital e Carolina ainda nao conseguiu normalizar a sua rotina...
Capítulo 3
3 - Uma boa recuperação
-- Você se atrasou Carol, o pessoal está te esperando a mais de meia hora. Se prepara porque Cláudia está pior que na semana passada. Vão nos virar de cabeça pra baixo. Ei, mas o que é isso? Minha nossa, você está horrível, menina!
A jovem loura de cabelos curtos não conteve o seu assombro ao observar as olheiras e a expressão de cansaço de Carolina que fez questão de baixar os olhos escuros e mostrar a língua como se tivesse não tivesse se importado com o comentário.
-- Bom dia pra você também, Patrícia. Não tive tempo de fazer a maquiagem. Olha a minha cara de preocupada!
-- Por onde você tem andado sua doida. Certeza que você não voltou com Luiz Henrique, ele nunca faria este tipo de estrago!
-- Era só o que me faltava. Pare de tentar ressuscitar os mortos, eu me meti numa confusão ontem a noite. Enfim, depois te conto, vamos que a rainha da sucata vai rodar a baiana hoje porque eu não concordei com as alterações do projeto Sunday.
-- Alguma coisa me diz que você deve ter batido com a cabeça. Pare de delirar, é ela quem manda nesta porcaria de empresa. Pra que bater de frente, no fim das contas será uma briga inútil, o pai dela vai autorizar as alterações e você vai ficar com a cara grande novamente!
-- Não sou obrigada a jogar o meu nome e o bom senso de um projeto tão importante por causa dos delírios daquela patricinha. Se ao menos os gastos exorbitantes dessas mudanças engrandecessem a beleza do projeto, mas não, ainda por cima tem o péssimo gosto, diria que não passa de um amontoado colorido e brega, bem a cara da nossa querida miss purpurina.
-- Deixa ela ouvir você falando isso. Mas se bem que ela fica bonitinha naqueles paetês e brilhos, naquelas sainhas, hum!
Carolina revirou os olhos e suspirou diante das observações maliciosas da amiga homossexual assumida. Trabalhavam a mais de três anos e acabaram tornando-se grandes amigas e, por vezes, confidentes. Numa oportunidade a amiga revelara sua sexualidade, o que fora recebido por Carolina com a mesma naturalidade da mesma ter revelado preferência a ovo frito que a ovo cozido. Em suma, Carolina nunca foi muito ligada às diferenças, pra ela gente era gente, simples assim. Muito bem criada pela sua mãe, professora de filosofia de universidade e o pai, um biólogo renomado, sempre vivera a vida com muito carinho e responsabilidade, livre de qualquer preconceito e divergências de crença ou religião. Sentada em sua cabeça, colocou as mãos na testa resistindo a falta de paciência. Pegou uma pasta de dentro da gaveta, um pen drive e o inseparável notebook. Abriu um sorriso diante do próprio infortúnio.
-- Estou armada contra toda tirania deste mundo!
-- Você bateu mesmo com a cabeça!
-- Bora, que sofrimento maior é ficar esperando a guilhotina cair.
-- Tá engraçadinha hoje, né. Quero ver o que vai fazer com o xilique da patricinha.
-- E eu não te falei? Vô prendê na garrafa do saci, oras!
-- Que essa garrafa seja bem grande, viu, você vai precisar!
-- Bora, chata!
-- Primeiros as damas.
A extensa sala de reuniões parecia diminuída com a quantidade de pessoas presentes. Os olhos de uma delas destilaram raiva ao percorrer cada passo das recém chegadas:
-- Bom dia Carolina! Ainda bem que tínhamos a manhã inteira para esperá-la. Estou aqui no facebook postando como tem sido prazeroso o abundante tempo que dispomos, eu, os investidores e nossos clientes, só em função de esperar minha funcionária chegar para darmos seguimento ao nosso mais precioso projeto.
Um clima constrangedor se instalou na sala após o pronunciamento irônico de Cláudia Spezzato, filha do famoso proprietário do escritório franquiado de arquitetos Spezzato. Carolina e Patrícia tomaram seus lugares em silêncio. A primeira arranhou a garganta antes de tomar a palavra.
-- Bom dia a todos. Primeiramente, sei que devo me desculpar pelo atraso, é que tive problemas muito sérios durante a noite, acabei me envolvendo num acidente automobilístico com vitimas e, bem, isso não vem ao caso agora, mas, em todo caso, estamos prontas para fornecer todos os esclarecimentos e orientações necessários ao projeto.
-- Então senhores, semana passada requisitei da nossa arquiteta chefe algumas mudanças no projeto Sunday por minha conta. São inovações que acredito serem necessárias e que darão maior visibilidade a todos, inclusive aos nossos parceiros e investidores, maiores interessados. Espero que gostem e aprovem. Mostre a eles Carolina!
-- Desculpe Cláudia, mas verificamos alguns pontos discutíveis nas alterações sugeridas em conjunto com os engenheiros e o grupo de arquitetos. O orçamento aumentou consideravelmente e as adaptações não foram..esteticamente bem recebidas.
-- Mas como assim, não estou entendendo. Como vocês...?
-- Melhor eu mostrar de uma vez para todos. Preparei os slides dos custos e de como o projeto irá ser alterado drasticamente com essas mudanças. A própria proposta do projeto não cumprirá o mesmo objetivo, o público mudará também, dentre outras coisas...
-- Vocês estão enganados, é tudo o que há de mais moderno em Dubai, fiz questão de ir pessoalmente verificar. Tudo bem, que ficará mais oneroso, mas veja o outro lado!
-- Não é isso Cláudia, nada contra as inovações de Dubai, mas a proposta do grupo é outra, não se encaixa a esse perfil de consumidor. Por favor, vamos ter calma e verificar direito.
-- Mostre os seus argumentos, Carolina. Que os investidores e os nossos parceiros decidam, eu já tenho o meu posicionamento!
A voz decepcionada de Cláudia tornou ainda mais constrangedor os olhares do grupo. Carolina passou a explicar as modificações sugeridas, tentando amenizar e não diminuir as sugestões de Cláudia, ponderando até em alguns tópicos, todavia, deixando a entender o tiro no pé que o grupo faria se aceitasse as mudanças proposta. Como não foi diferente do previsto, o posicionamento geral foi pela manutenção do projeto principal. Cláudia apenas finalizou a reunião e saiu da sala sem tentar esconder sua contrariedade.
-- Amiga, a mulher está uma arara. Você a desafiou. Estou com mau pressentimento.
-- Eu não poderia colaborar para essa insanidade, Patrícia e, quer saber, não tenho medo de ser demitida, tenho medo de sujar o meu nome assinando um projeto caro beirando ao ridículo.
-- Não fale assim, você gosta de trabalhar aqui. O pai dela é fascinado pelo seu trabalho. Você lidera uma equipe de mais de 15 arquitetos. Nem sonhando vai encontrar tanta mordomia noutro lugar. Pense bem no que pode estar perdendo!
-- Já pensei, Patrícia, já pensei.
-- Depois não diga que não avisei.
-- Obrigada por se preocupar, mas eu não consigo ser tão submissa.
Carolina pedia paciência quando emitiu um forte e sonoro suspiro antes de sair da sala, visivelmente exausta, deixando Patrícia recolher parte dos materiais, ao mesmo tempo em que passava os acontecimentos daquela manhã de terça – feira.
--“Essa não tem jeito mesmo, gosta de viver de risco”. Pensou admirada, todavia, sem esconder a preocupação com a amiga.
Sentada em sua mesa Carolina se entregara aos projetos da empresa, perdendo a noção do tempo até ser interrompida com a chamada do interfone.
-- Resolveu trabalhar durante o almoço?
-- Nem vi o tempo passar, Patrícia!
-- Vamos fazer um lanche rápido, também estou cheia de trabalho.
-- Cinco minutos e estarei lá na frente.
-- Te espero, beijos.
A tranquilidade do almoço parecia não contagiar Carolina, que pra piorar, tinha perdido a fome novamente.
-- Você vai voltar voando pro trabalho?
-- Não estou com tanta pressa, Patrícia.
-- Eu disse voando mesmo, sabe. Você não comeu nada. Tá voltando a infância, brincando com a comida? Tudo bem que essa sua fase emagrecer com esportes radicais te fez muito bem, mas saco vazio não para em pé! Já tem um tempo que vejo essa abstinência alimentar aumentar dia após dia.
-- Aff, é que eu tenho estado ansiosa ultimamente. Tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Férias vencidas, saudades dos meus pais...
-- Falta de namorado...
-- Me poupe, Patrícia, tenha dó!
-- Puxa amiga, você é tão bonita. Vive aí sozinha. Só arruma fim de carreira, homem nada a ver!
-- Não precisa exagerar, não é bem assim. Mas falando em bonita...deixa eu fazer uma ligação.
-- Hum?
Carolina estava com o celular nas mãos quando em pouco tempo alguém do outro lado da linha atende com certa formalidade.
-- Pois não!
-- Fátima, aqui é a Carolina, tudo bem?
-- Ah, sim, dona Carolina, tudo bem.
-- Então, eu queria saber notícias de Helena, como ela está?
-- A dona Helena está fazendo um pequeno procedimento cirúrgico neste exato momento.
-- Nossa, mas tão rápido?
-- Sim, senhora! O médico achou prudente a realização, houve um problema num dos braços.
-- Entendo. E a família já deu noticias?
-- O dr. Paulo deverá seguir viagem tão logo resolva os compromissos em Cuiabá e a dona Eva, mãe de dona Helena já está vindo.
-- Ótimo, então mais tarde volto a ligar, viu! Até mais Fátima! Melhoras a Helena!
-- Muito obrigada pela consideração dona Carolina!
A expressão curiosa de Patrícia trouxe Carolina a realidade dos fatos da noite anterior e, como sempre desabafou com a amiga contando toda história.
-- Vixi, Carol, você não quer ir a missa tirar esse encosto? Nunca vi ninguém como você pra se meter em tanta confusão na minha vida!
-- Pois é, Patrícia, mas acho que fiz bem em ajudar.
-- Nisso tenha certeza, ainda bem que existem pessoas de bom coração, já pensou se fosse com você e não tivesse ninguém ali pra te dar uma mão?
-- Então, eu pensei nisso também. Poderia ter acontecido com qualquer um. No fim das contas, estou feliz, acho que ganhei uma amiga. Nunca vi pessoa tão delicada.
-- Delicada, é! De repente você podia me apresentar sua amiga.
-- Nem pensar! Ela é casada, querida, desista!
-- Hum, e quem disse que não me interesso em manter uma boa amizade, conhecer pessoas novas?
-- Sei. Conheço seu interesse. Helena definitivamente não é o seu tipo e nem você o dela.
-- Credo. Eu, hein, que mal humor!
-- Só não confunda as coisas.
-- Tá bom, não precisa ficar brava. Eu nem quero conhecer a Helena. Para o seu governo vou sair com uma loura estonteante mais tarde. Um cineminha e quem sabe, um drink no meu apartamento.
-- Ótimo, divirta-se e saia um pouco do meu pé!
-- Relaxa, Carol, você anda muito nervosa, viu! Mas então, mata minha curiosidade, me diz como é sua amiga do acidente? Loura, morena, alta?
-- Patríciaa!
Carolina olhava feio para a amiga que deu de ombros rindo enquanto degustava a sobremesa de morango fazendo biquinho de satisfaçao.
Fim do capítulo
Fim de semana quente aqui em Cuiabá...muito obrigada pelo carinho de sempre, postarei o proximo breve! beijos no coracão
Comentar este capítulo:
Maria Flor
Em: 22/09/2015
Olá, Veruska! Tudo bem?
Aguardando ansiosa o novo encontro entre a Helena e a Carol.
Ps: Adorei o posicionamento firme da Carol no trabalho.
Beijo!!
Resposta do autor:
OI Flor,
Vamos tentar postar ainda esta semana. Carol tem que ser ajuizada mesmo senao nao tera a menor chance com Helena,...kkkk...beijos
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