Capítulo 12
O fim de semana amanheceu ensolarado e decidi dar uma passada no shopping, queria comprar um novo par de sapatos e depois iria ao supermercado já que minha geladeira estava vazia. Mari e eu havíamos chego à conclusão que talvez fosse melhor que não passássemos mais tanto tempo juntas como antes. Não que fossemos nos afastar de vez, mas tentaríamos não ficar tão grudadas. Na noite passada ela não tinha vindo para meu apartamento, só nos encontraríamos na parte da tarde. Em outro sábado qualquer estaria acordando com ela em minha cama, e antes de qualquer outra coisa trans*ríamos. Eu estava tão acostumada com isso que me sentia perdida.
Peguei as chaves do carro e dei comida ao Boris que me olhou com a cara emburrada como se me dissesse “já vai me deixar sozinho de novo? ”
- Calma amigão, eu volto logo. – Falei alisando seus pelos macios.
Estava em frente a uma loja olhando a vitrine quando alguém bateu em meus ombros, virei-me e dei de cara com o Jorge.
- Meu Deus! Jorge! Quanto tempo cara! – Disse dando um abraço forte em meu amigo.
- Oi Ana. Tinha certeza que era você. Nossa você está linda!
- Deixa disso menino, você nem gosta da fruta que eu sei.
Caímos juntos na risada. Jorge era o único amigo que eu tinha feito na época de escola, aliás, que a Clara tinha feito e eu tinha mantido.
- E aí me conta as novidades.
- Claro, mas vamos procurar um canto pra gente conversar sossegado.
Fomos para a praça de alimentação, pegamos algo para comer e nos sentamos num canto mais tranquilo.
- Então por onde você tem andado?
- Bom como você sabe eu fui fazer faculdade em Santa Catarina e acabei ficando por lá mesmo. Hoje em dia não sei mais viver aqui em São Paulo. Aqui tudo é muito, muito trânsito muito barulho, muita confusão. Eu fico louquinho. – Falou revirando os olhos.
- Já eu não sei se me acostumaria sem essa loucura daqui. - Ri
- Imagino você é a típica mulher de cidade grande. Da pra ver na sua cara. Aliás, cadê os óculos menina?
- Fiz uma cirurgia de correção. Hoje só uso óculos de sol. – Disse piscando.
- E aí se formou em advocacia?
- Sim, hoje sou uma doutora, muito bem obrigada. E você? É um engenheiro ambiental? Ou mudou de ideia?
- Não mudei não. Por isso me respeite viu, cuido do ambiente pra que você possa ter uma vida melhor.
- Eu agradeço muito. – Demos novas risadas. - E sua mãe como está?
- Bem graças a Deus, foi a ela que vim visitar. Venho a cada seis meses quando posso. Ela está morando bem perto daqui, por isso sempre venho a esse shopping.
- E por que nunca me procurou sua peste?
- Eu até procurei uma vez que vim, mas vocês se mudaram, e perdi o contato.
- Ah, mas agora não perderá mais. Anote meu celular.
Depois da troca de números de telefone, endereço e e-mails, voltamos a falar sobre banalidades. Até que, como não podia deixar de ser, começamos a falar sobre relacionamento.
- Bom eu estou casado há dois anos. Mauro é um cara incrível, tenho certeza de que vai gostar dele. Ele é bombeiro, e é um gato. – Disse todo orgulhoso
- Uhhh. Que bom fico muito feliz por você.
- E você? Está com alguém no momento?
- Mais ou menos. É um caso complicado, tipo novela mexicana, sabe.
- E a Clarinha? Tem notícias dela? Sinto saudades daquele tempo.
- Até tenho notícias, ela voltou para o Brasil.
- E aí se entenderam? Nunca soube o que aconteceu. Vocês eram tão apaixonadas, não desgrudavam. Foi a coisa mais louca que eu já vi na vida. Um dia estavam juntas e no dia seguinte a Clara tinha ido embora. Do nada! Você ficou tão mal, que achei melhor não perguntar. Fiquei esperando para ver se você me contava, mas como nunca mencionou nada, e sempre que o nome de Clara surgia eu percebia sua dor, deixei pra lá.
- A gente não se entendeu não, amigo. Na verdade, ela não quer nem falar comigo. Está namorando. A pessoa veio com ela dos Estados Unidos.
- Eu a encontrei há uns quatro anos atrás, quando fui viajar de férias para lá. Ela continuava linda! Mas acabei perdendo o número do telefone que ela havia me passado quando roubaram meu celular.
- Ela continua linda sem dúvida. Se você quiser te passo o número do telefone dela. Sei que ela não se importará se eu fizer isso.
- Ué, mas você não disse que ela nem quer conversar com você? Como tem o numero de telefone?
- É uma longa história Jorgito, e como diz a letra da música, se eu contar você vai rir e eu sei que vou chorar. - Respondi
- Sabe Ana, quando estive com ela tomei coragem e perguntei o que tinha acontecido entre vocês, pois você foi a primeira pessoa por quem ela perguntou, mas ela não quis me contar, só falou que o passado tinha que ficar no passado.
- Ela perguntou por mim?
- Sim, perguntou, mas eu não sabia nada de você, então não tinha o que falar.
- Engraçado, e agora que estou aqui, perto dela não quer falar comigo. Mulheres, quem vai entender...
- Ana, eu sei que não tenho nada a ver com isso, sei também que é passado como ela falou, mas tenho curiosidade, você sabe como gay é né?
Dei uma risada sem graça.
- Sabe o que é amigo, eu não sei se me sinto bem falando sobre isso.
- Tudo bem, se não quiser falar eu vou entender.
- Você se lembra da Alicia?
- A prima dela? Como não se lembrar daquela mulher? Ela era tão linda que até eu queria dar uns catas com ela. Uma morena de fechar o comercio, como se diz por aí. Ela tinha o que, uns vinte anos?
- Vinte e dois.
- Ela estava te dando mole né? Eu percebi uns joguinhos da parte dela naquele.
- É. Estava sim. E eu em um determinado momento fiquei toda envaidecida com aquilo, afinal como você mesmo já disse ela era linda demais. Eu tinha só dezessete anos, me achava tão sem graça que não conseguia entender o que ela estava vendo em mim, por isso fui estupida o suficiente para me iludir.
- Como assim se iludir?
- Comecei a gostar daquele jogo. Eu deixei ela levar aquilo adiante.
- Fala sério, você traiu a Clara?
- Não foi bem assim... eu não traí a Clara de verdade.
- Como alguém trai de mentira?
- Sendo idiota.
- Nossa Ana que situação. E o que você fez para tentar resolver a situação?
- Eu procurei de todas as maneiras pela Clara, eu queria explicar o que havia acontecido de fato, mas nunca soube onde ela estava, até agora. Mas ela não quis me escutar.
- Nunca conseguiu encontrar alguém que tirasse Clara da sua cabeça?
- Não. Sempre faltava algo. Eu fui vivendo minha vida, sozinha, só de aventura atrás de aventura, nunca me entregando inteiramente pra ninguém
- Sabe de uma coisa, você nunca vai conseguir esquecer a Clara. E não é só porque a ama.
- Por que você diz isso?
- Por que na vida tudo tem um início, um desenrolar e um fim. Mesmo que o fim seja a morte, nesse caso a pessoa aceita porque não tem outra solução, só resta seguir a vida. Mas nos outros casos é necessário que se dê um fim seja ele dolorido ou não. Na vida sempre tem que haver a conclusão. No caso de vocês esse fim nunca aconteceu. Vocês se separaram sem um final, sem um desfecho. Tudo continuou suspenso no ar. Sempre fica aquele incômodo “SE” bem grande. E “SE” eu não tivesse feito isso, e “SE” eu tivesse feito aquilo, e assim por diante.
- Talvez você tenha razão.
- Talvez não, tenho certeza disso. Vocês precisam conversar e acertar os ponteiros.
Depois de jogarmos um pouco mais de conversa fora, nos despedimos prometendo um novo encontro. Fui pra casa pensando em nossa conversa. Eu tinha entendido tudo o que o Jorge tinha me falado, mas não sabia mais se queria conversar com Clara. Talvez ela estivesse certa o passado era passado. Porém esse passado insistia em voltar para a minha cabeça às vezes.
Naquela noite, após o jantar fomos todos para a sala assistir televisão, e quando deu meia noite, Clara avisou que íamos deitar. Qual não foi a nossa surpresa quando Alicia falou:
- Posso ir pro quarto com vocês? Estou sem sono e tenho certeza que ainda irão conversar antes de dormir.
- Claro que pode prima. Vou colocar umas almofadas no chão e podemos jogar vídeo game o que acha?
- Vídeo game? É pode ser interessante. Um joguinho é sempre estimulante. Vou me trocar e encontro vocês no quarto.
Não estava gostando nada daquilo. Durante todo o jantar percebi que Alicia ficara olhando em minha direção, ela estava conseguindo me deixar nervosa. O pior é que Clara não estava percebendo nada. Acho que por conta da diferença de idade que tínhamos, ela nunca iria desconfiar, mas eu estava quase certa que sua prima estava se insinuando para mim.
Clara pegou os almofadões da sala e colocou ao lado da cama, jogou um lençol para que pudéssemos nos cobrir enquanto jogássemos e começou a instalar o aparelho de vídeo game toda feliz. Eu estava acabrunhada em um canto.
- O que foi Analu?
- Nada. É que eu queria ficar sozinha com você.
- Bobinha eu também quero ficar com você, mas não posso destratar minha prima né? Ela deve se cansar logo do jogo aí ficaremos juntinhas.
- Se você esta dizendo. – Retruquei, mas não acreditava que seria assim.
Naquele instante Alicia entrou no quarto, e sinceramente quase tive um colapso. Que roupa era aquela, se é que aquilo poderia ser chamado de roupa.
Era um short doll minúsculo, vermelho e transparente. Isso quer dizer que ela estava praticamente nua. Até Clara ficou envergonhada quando a viu. Eu estava sentada no almofadão ao lado da cama e ela sentou-se ao meu lado.
- Já esta tudo pronto priminha? – Perguntou.
Clara muito vermelha, respondeu que sim e sentou-se ao seu lado, passando um controle para mim, e o outro para ela.
- Que os jogos comecem! – Ela disse rindo.
Eu nunca passei tanto sufoco em minha vida! Alicia não sabia jogar bem, ou fingia que não e perdia toda hora, passando o controle para Clara, porém enquanto ela estava jogando, concentrada, sua prima atrevida estava passando a mão em minhas pernas, tentado a todo instante tocar meu sex*, sob o lençol. Eu dava cada pulo, me contorcia, me virava de lado, e então ela deslizava a mão em minha bunda. Eu não sabia mais o que fazer. Desespero era o meu nome. Não podia falar nada, afinal ela era prima da Clara, muito mais velha, ia me desmentir e eu passaria por mentirosa. O suor escorria pelo meu rosto.
- Ana, será que tem formiga aí do seu lado? Você não para quieta, assim me desconcentra. – Reclamou Clara.
- Não tem formiga não Clara. Mas estou com muito calor e isso está me incomodando. Gostaria muito que esse calor parasse de me importunar. – Disse olhando de cara fechada para Alicia.
Essa por sua vez gargalhou, alto.
- Tadinha da sua amiga prima. Não está sabendo lidar com todo calor que está sentindo. Talvez precise de algo para aplacar essa quentura toda. – E tentou mais uma vez me tocar.
- Nossa Ana, nem está tão quente assim. Quer que eu vá buscar um copo de água gelada pra você?
- Seria ótimo Clarinha. Você pode fazer esse favor?
- Claro! – E saiu
- Alicia, dá pra você parar de fazer essas coisas? Eu não estou gostando nem um pouco. – Falei assim que Clara saiu.
- Que foi Ana, está com medinho? – Riu debochada.
- Não é medo. Apenas não quero que me toque.
- Boba, não sabe o que está perdendo. Tenho certeza que você iria adorar. Ficaria tão molhada que teu fogo acabaria rapidinho. Te garanto que sou muito boa no que faço.
- Você é louca. Eu sou mulher assim como você.
- Tá querendo me enganar? Pensa que ainda não percebi o que rola entre você e minha prima? Meu amor enquanto você está aprendendo a nadar na beira da praia eu já surfo nessa onda há muito tempo.
Clara entrou enquanto ela proferia as últimas palavras, me entregou o copo, e eu tomei tudo de um gole só vez.
- Não sabia que surfava prima.
- Ah surfo, e muito bem por sinal. E adoro ensinar as pessoas a surfarem comigo. Gostaria de aprender Ana?
Aquilo foi a gota d’água para mim.
- Gente vocês podem continuar sem mim? Eu estou com sono e quero dormir.
Levantei e fui me deitar. Clara ficou jogando mais um pouco, e depois também se deitou ao meu lado. Mas não pudemos dormir abraçadas pois Alicia passou a noite inteira jogando no chão, ao lado da cama. Com certeza fez isso de propósito. E assim se passou a minha primeira noite na casa de praia da família de Clara.
Lembrar daquilo fez meu sangue ferver de raiva. Estupida! Nuca conheci alguém tão idiota como eu. Devia ter contado tudo para Clara, mas não, fiquei quieta. Se tivesse dito, isso teria mudado todo o curso da minha história infeliz.
Fim do capítulo
Comentar este capítulo:
Luh kelly
Em: 20/09/2015
oiiii nossa a AMANDA anda tao solitaria, as pessoas que ela ama estão se afastando, mas que bom que amigos leais nao faltam e esse muito sábio, adorei ele. Espero que elas conversem e se entendam. Essa prima da clara que falsiane.
um abraço e até.:)
Resposta do autor:
Luh, a Ana esta solitária por conta de um coração magoado, mas ela também tem culpa no cartório né? Amizade verdadeira é uma das coisas mais importanytes da vida. Uma hora elas terão que se entender, ou não... Já a Alicia...
Otimo inicio de semana. Beijos
[Faça o login para poder comentar]
Mille
Em: 20/09/2015
Analu te alaui (orienta), tem que tomar coragem e ter essa conversa com a Clara, não importa se ela vai acreditar ou não. Tem que liberar isso da cabeça e do coração pode ser que se liberte ou não. Ela deve isso a si mesma, e quanto a Alicia essa é traiçoeira, duvido que depois do estrago pegou o caminho de volta para casa e nem conversa ou se fez se vitima.
A ruiva merece ser feliz, e se o coração dela não tivesse ocupado seria um casal belissimo.
Bjus
Resposta do autor:
Oi Mille! Essa Analu é cabeça dura às vezes! Já Alicia, é uma estória a parte. Quanto a Mari, é uma pena um amor tão bonito assim não poder evoluir, você não acha? Otimo inicio de semana! Beijos
[Faça o login para poder comentar]
Deixe seu comentário sobre a capitulo usando seu Facebook:
[Faça o login para poder comentar]