Capítulo 4
Construindo o Amor -- Capítulo 4
Na construtora, Eduardo e Jorge tratavam dos últimos detalhes do acordo.
-- Você vai continuar recebendo o seu salário atual e mais um abono, está aqui - estendeu um cheque para ele. Eduardo observava a reação do rapaz esperando uma resposta, caso fosse negativa ofereceria mais.
-- Tudo isso? - Jorge estava de queixo caído, não imaginava que fosse receber tanto por esse trabalho.
-- Não é pelo trabalho, é para aturar a Duda mesmo. Se a boate "bombar", você receberá um premio especial - Eduardo fazia questão de exagerar quando se referia ao gênio da filha apenas para ver a cara de desespero de Jorge. No fundo Eduardo sabia que os dois iriam se dar bem. -- Que dupla meu Deus, esses dois juntos vão aprontar, espero não me arrepender com isso - pensava Eduardo.
-- Acho que não teremos problemas de relacionamento, sou muito paciente e tranquilo.
À noite na mansão:
-- Uma biba pai?
-- Olha o respeito Duda - Eduardo chamou a atenção.
-- Só que me faltava, uma sapata homofóbica - Jorge estava indignado.
-- Não sou homofóbica, hô biba sentimental, só que quando meu pai falou "um profissional do ramo" imaginei outra coisa.
-- Está me chamando de que? De burro, você acha que bicha só pode ser cabeleireiro? - Jorge soltou a franga, fazia gestos exagerados.
-- Viu pai, são todos espalhafatosos - Eduarda apontou para Jorge que estava com as duas mãos na cintura.
-- E as sapas são todas deprimidas e vitimas do mundo - não deixou por menos.
Eduardo só observava em silêncio.
-- Péraí estou longe de ser deprimida, só se as suas amiguinhas sapas forem. Também ser sua amiga deve ser deprimente - parou a centímetros de distância de Jorge e o encarou com os olhos tão verdes que o rapaz até perdeu o rebol*do.
-- Sua... - deu de dedos.
-- Chega vocês dois - Eduardo teve que intervir. - Qual é o motivo da discursão mesmo?
-- Nem sei mais - Jorge sentou no sofá e cruzou as pernas delicadamente.
-- Eu sei, quer que te lembre? - sentou no sofá e cruzou as pernas em um gesto debochado imitando Jorge.
-- Dudinha, por favor, peça desculpas a Jorge - Eduardo pediu carinhosamente.
-- Tá bom papai. Jorge querido desculpa - falou fazendo caretas.
-- Vou pensar se desculpo - Jorge achou aquela desculpa meio que falsa.
-- Você está sendo intransigente fofa - Duda provocou mais uma vez.
-- Isso já passou dos limites. Resolvam logo suas diferenças ou desistam disso - Eduardo perdeu a paciência com os dois, falou e retirou-se para o escritório.
-- Viu, meu pai se estressou com você biba - descruzou as pernas e colocou os pés sobre a mesa de centro.
-- Até parece que a sapinha mimada é uma santa. Tira o pé daí, que coisa feia - deu um tapa no tênis da garota.
-- Jorge esse papo já está me dando uns dez tipos de nojos sabia? Não quero mais discutir, perdeu a graça.
-- Foi você quem começou. Queria que seu pai indicasse um daqueles idiotas que tem de monte lá na empresa?
-- Claro que não só faço isso pra dar um clima. Jorge, a mãe de Maria tinha cinco filhas: Ra, Re, Ri, RO. Qual o nome da quinta filha?
-- Não sei - respondeu desconfiado.
-- Maria seu bobo - riu da cara dele.
-- Idiota - jogou uma almofada na cabeça dela.
-- Seu grosso - passou a mão aonde havia batido a almofada - Vem comigo - levou Jorge até a cozinha.
-- Essa mansão é um espetáculo Eduarda - Jorge estava abobalhado.
-- Que nada boba precisa conhecer a do meu avô em Teresópolis. Senta aí na banqueta.
Jorge sentou na banqueta oferecida por Eduarda, enquanto ela pegava de dentro do freezer um pote de sorvete três sabores: amêndoas, chocolate e avelã. Pegou duas colheres, deu uma para Jorge e ficou com outra.
-- Come, ou não gosta desses sabores? Posso pegar outro pote para você.
-- Adoro, mas comer assim sem uma taça?
-- Deixa de ser fresca bicha. Nós vamos comer todo o sorvete mesmo - começou a comer o sorvete não dando a mínima pra Jorge.
-- Tem certeza que você é filha do Eduardo. Ele é tão chique - Não resistiu e começou a comer também.
-- Não se apaixona pelo meu pai Jorge, não te quero como mamãe.
-- Olha aqui criaturinha do brejo, mais respeito...
-- Você deve torcer pro Botafogo né Jorge? Tá tão nervosinho.
-- Torço pelo Fluminense - falou todo orgulhoso.
-- Só podia. Pó de arroz. Toca aqui - fizeram o cumprimento de mão com mão lá no alto - Nem vou perguntar qual o seu jogador preferido.
-- É lógico que eu amoooooo... o Fred, aquelas pernas musculosas, aquela bun...
-- Chega Jorge, controle-se, por favor. Pensei que você estava convulsionando.
Pausa para comer sorvete.
-- Jorge, a bichinha chega com as mãos escondidas atrás das costas e diz para um rapaz bonito:
-- Se você adivinhar quantas laranjas eu tenho nas mãos, eu dou para você.
--Aí o rapaz pensa e diz:
-- Cinco!
-- Acertou! Amanhã eu trago as outras três.
Os dois riram alto e continuaram a comer o sorvete.
-- Qual a sua opinião sobre a boate?
-- Seu pai não me passou muita coisa... - colocou uma colherada de sorvete na boca.
-- Então tá. Segunda temos uma reunião com Kleber, a bicha barbuda dono do lugar - duas colheradas de sorvete.
-- Mas eu nem dei minha opinião - mais sorvete.
-- Eu perguntei você que não deu - uma super pausa para o sorvete -- Jorge você tem namorado? - Eduarda perguntou do nada.
-- Mais ou menos - raspou com a colher o resto de sorvete que tinha no pote.
-- Como que é namorar mais ou menos? Seria tipo assim: você namora o cara, mas ele não sabe?
-- Digamos que sim. Ainda não consegui me chegar nele.
-- Vou te dar um conselho, preste bem atenção. Essas pessoas são iguais docinho de festa, você fica com vergonha de chegar junto, então vem outro e come e deixa você ch*pando dedo...
-- Eu sei Duda, estou me chegando aos poucos.
-- Vai esperando vai. Pensa no sorvete se você não comer logo, ele derrete e você não come nunca mais.
-- Você só pensa nisso, comer, comer... parece um brucutu.
-- A gente tem que aproveitar enquanto é jovem Jorgete, depois que virar uma mulher Maverick já era.
-- O que significa mulher Maverick Duda?
-- Antiga, já esteve na moda e bebe pra caralh*.
-- Você é um dicionário de besteiras. Sabia? - Duda deu de ombros.
Conversaram muito, trocaram ideias, Jorge ria muito quando Duda contava algo sobre os frequentadores da boate, o jeito que ela imitava as pessoas era hilário. Aos poucos aquela ideia que fazia de uma garota insuportável e mimada, foi dando lugar a uma menina meiga, divertida, linda e apaixonante.
Aline resolveu dar uma passada na Supra talvez Duda estivesse por lá. A loira não havia dado sinal de vida desde a noite passada, isso queria dizer que ela estava aprontando alguma.
Assim que entrou avistou Sheila e Fabi sentadas em uma mesa conversando e bebendo.
-- Olá meninas -- sentou com elas - Viram a Duda por aí?
-- Não apareceu hoje. Provavelmente está atrás de algum rabo de saia - Sheila comentou.
-- Com a DJ ela não está, a morena está sozinha lá na cabine - apontou discretamente quando percebeu que Pérola olhava.
-- A gente precisa dar um chega pra lá nesta garota. Mandar ela de volta pra ostra de onde saiu - Sheila virou o copo de bebida.
-- Porque todo esse drama Sheila? Ciuminho agora? Você nunca conseguiu nada com a Duda.
-- Diferente de você né Aline que dá pra ela desde o prézinho.
- Você não presta Sheila, sempre deu em cima dela até mesmo na minha frente.
-- Quem manda ser tão boca aberta. Ficou com ela um ano e não conseguiu prender a garota - adorava ver os olhos de Aline soltando faíscas de raiva - Até acho que ela ficou com você esse tempo todo por pena.
Aline levantou-se da cadeira pronta para dar na cara de Sheila, mas foi contida pelas mãos de Fabiana.
-- Vamos parar por aqui - Fabi berrou para as duas - vocês não tem vergonha não?
-- Quem ela? Não me faça rir. Desde quando essa vagabunda tem vergonha na cara? - Aline estava nervosa, Sheila havia tocado no assunto que mais a perturbava. Sempre achou que Eduarda sentia-se culpada pelos pais a terem expulsado de casa e por esse motivo mantivera o namoro por tanto tempo.
Aline conheceu Eduarda em uma festa do pessoal do curso de administração. Na época a loirinha cursava o segundo ano do Ensino Médio e Aline o primeiro ano do curso de Administração na PUC. Duda era só uma menina com dezesseis anos, não foi difícil seduzi-la e leva-la pra cama e o que era pra ser só uma trans* transformou-se em um namoro que lhe daria muitas dores de cabeça.
Quando Aline decidiu contar aos pais que era lésbica e estava namorando com Eduarda, eles ficaram horrorizados e a expulsaram de casa. Sua mãe sequer olhou para ela, isso foi o que mais lhe machucou, não nutria expectativas positivas com relação ao pai, mas com a mãe sim, achou que ela fosse mais compreensiva e lhe apoiasse. O mundo parecia ter caído na cabeça de Aline, foram momentos terríveis e ela só conseguiu se reerguer com a ajuda de Eduarda. A menina cuidou dela, deu carinho, amor, um lugar para morar e não houve um dia sequer que deixasse de lhe perguntar se estava tudo bem ou como foi o seu dia. Por isso por mais que falassem de Eduarda de suas maluquices e safadezas não se importava, ela sempre seria o grande amor de sua vida.
-- Sabe de uma coisa Sheila? Tudo o que você fala é por inveja. Eu tive uma história muito legal com a Eduarda, fui a amiga, a confidente, a conselheira e por ultimo a namorada - Sheila a olhou surpresa, não esperava que Aline fosse dominar tão bem a situação, foi obrigada a aceitar que perdeu a discursão.
-- Então chega de bobagens, brigar por causa de uma garota que já transou com toda a torcida feminina do Fluminense é prá cabá - Fabi falou recebendo em troca o olhar raivoso de Aline. Sheila que estava chateada só deu de ombros e continuou a beber - Pensem pelo lado positivo ao invés de ser a do Fluminense poderia ser a torcida do Flamengo.
-- Cala a boca Fabi - Sheila e Aline falaram juntas.
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Amanheceu um lindo sábado de sol no Rio de Janeiro. Jorge aproveitou para dar uma caminhada pelo calçadão e dar uma passadinha no apartamento de Rafaela. Moravam próximos o que facilitava um visitar o outro. Chegou ao prédio e como tinha acesso livre passou direto. Tocou a campainha e aguardou mais do que de costume, achou estranho, pois a amiga costumava acordar cedo mesmo no final de semana. Finalmente ouviu a chave ser virada e a amiga abrir a porta.
-- Desculpe querida, estava dormindo? - Rafaela estava vestida com um roupão e as olheiras denunciavam que havia dormido pouco.
-- Bom dia Jorge entre. Estava sim, Kenedy chegou ontem de viagem e fomos dormir tarde - bocejou e espreguiçou-se.
-- Matando a saudade do mala? Menina você está acabada, sex* gostoso deixa a gente maravilhosa e não desse jeito aí. Esse cara deve ser muito ruim na cama.
-- Não começa Jorge. Por nossa amizade, tenta ao menos manter um clima suportável entre vocês. Por favor.
-- Por você minha deusa faço qualquer sacrifício. Até aturo aquele biscoito embolorado.
-- Desisto. Vem vou fazer um café pra nós - Jorge acompanhou a arquiteta até a cozinha.
-- Liguei para o Eddie ontem à noite - falou desanimado.
-- Deixou a timidez de lado então? - começou a preparar o café.
-- Digamos que estou mais confiante. Só não criei coragem de convida-lo para sair.
-- Deixa disso Jorge, vai à luta. Chega junto e com jeitinho fala dos seus sentimentos. O máximo que vai acontecer é ele te dizer não.
-- Vou tentar, mas quando chego perto as minhas pernas começam a tremer, as mãos a suar e fico todo mole - jogou-se na cadeira da cozinha.
-- Todo mole, isso é mesmo coisa de bicha - Kenedy entrou na cozinha nesse momento.
-- E duro é coisa de hétero que nunca tem dinheiro e vive à custa da namorada - falou e correu pra se esconder atrás de Rafaela.
-- Não tem medo de morrer seu bicha nojento - esbravejou partindo pra cima de Jorge.
-- Calma - gritou Rafaela. Era sempre assim, cada vez que se encontravam o clima esquentava. Rafaela tinha que defender Jorge se não ele apanharia até no céu da boca.
-- Rafaela seu namorado é um monstro - falava ainda escondido atrás dela.
-- Você quem começou, sua borboleta albina - jogou uma uva que acertou em cheio na cabeça de Jorge, que deu um gritinho tão agudo que chegou a doer os ouvidos de Rafaela.
-- CHEGAAAA - Rafaela berrou - Saiam daqui. Os dois - apontou para a porta.
Os dois olharam assustados para ela, não arriscaram contrariar a morena e seguiram em direção à sala. Sentaram cada um em um sofá e ficaram em silêncio aguardando o café ficar pronto. Jorge ainda provocou o namorado da amiga mostrando a língua e recebeu de troco uma revista na cabeça.
-- Bom dia Bába! Pedi pra Joana servir o café pra mim que eu vou sair pra surfar no Arpoador hoje.
-- Peço meu anjo. O dia está lindo e já faz algum tempo que você não sai pra surfar.
-- É verdade Bába e o surf tem me feito tão bem, as crises de asma diminuíram muito. Não posso relaxar. Enquanto a Joana prepara a mesa, vou arrumar meu material - Na garagem pegou sua prancha Billabong e colocou no bagageiro do seu Pajero TR4, escolheu um de seus trajes de borracha e deixou no banco do carro. Tudo pronto, agora era tomar café e partir para o Arpoador.
O Arpoador localiza-se entre as praias do Diabo e de Ipanema, é conhecida como a praia dos surfistas, uma vez que conta com muitas ondas grandes, propicias a prática desse esporte.
O nome do local provém do fato de, no passado, ser possível arpoarem-se baleias.
Cada vez que Eduarda passava por aquele lugar fazia questão de abrir bem o vidro do carro e cantar bem alto um trecho da musica de Cazuza Faz parte do meu show.
"Vago na lua deserta das Pedras do Arpoador" e Te ver do Skank "Te ter e ter que esquecer, é insuportável é dor incrível, é como não sentir calor em Cuiabá, ou como no Arpoador não ver o mar...".
Parava na Pedra do Arpoador, subia no capô do carro e berrava:
-- Arpoador eu te amooo... - Eduarda não estava nem aí para as pessoas que passavam pelo local e a achavam maluca, essa era a maneira com que expressava o seu amor pela sua maior e eterna paixão.
-- Somente a você serei fiel AMORRR!!! - e seguia em direção ao local aonde os seus amigos costumavam se encontrar, o bar surf do Perebinha.
Fim do capítulo
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Maria Flor
Em: 23/09/2015
Cara, te contar. Arpoador é meu lugar favorito no Rio. Amo de paixão! Que bacana a Duda gostar de lá também.
Estou curiosa pra ver essa menina se apaixonar :)
Beijo, querida!
Resposta do autor:
Legal que você goste do Arpoador, Maria. Vocês duas tem uma paixão em comum. O Arpoador é o cantinho da Duda, lá era irá chorar e sorrir. Bjã garota. Até.
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