Capítulo 3
Patrícia virou-se e encarou-a com os olhos cheios de lágrimas, enquanto empurrava lentamente a porta, que se fechou sem ruídos, atrás de si.
Patrícia ficou olhando Kathy no fundo dos olhos. Seus pensamentos eram desencontrados. Estar ali, com uma mulher, lhe parecia ao mesmo tempo um grande absurdo e a coisa mais natural do mundo.
- Não. – protestou ela, debilmente, indecisa sobre se diva ou não se deixar levar pelos seus sentimentos e entregar-se àquela mulher que a puxava suavemente.
Kathy nada dizia. Apenas a olhava nos olhos, enquanto a atraía na direção do quarto. Sabia o que ela precisava e sentia que podia dar amor àquela mulher, todo amor de que ela precisava.
- Por favor, deixe-me ir embora! – pediu ela, mais uma vez, sem fazer, no entanto, qualquer gesto para se livrar daquela mão que a conduzia.
- Venha Patrícia, não tenha medo. Esqueça-se do seu mundo, de suas preocupações e entregue-se a mim. Não há como evitar agora.
Tropegamente ela foi levada até o quarto. Pararam ambas, ao lado da cama. Lá fora, suavemente, a chuva começou a cair, tamborilando no telhado, gotejando pelos beirais.
- Prometa-me que vai ser gentil. – suplicou ela, com a voz tremendo de emoção.
Uma emoção que Patrícia não conseguia definir. Um pouco de medo, outro tanto de excitação, possivelmente desejo ou mesmo curiosidade.
Kathy estreitou-se em seus braços, tão carinhosamente quanto podia. Suas mãos percorreram as costas da garota, em apalpadelas de reconhecimento. Suas faces se colaram. Kathy não sabia se ela chorava ou não, mas se sentia muito emocionada, seu corpo tremia junto ao dela.
Ela depositou um beijo tímido no ombro da garota. Depois outro, na base da nuca. Um outro ao pé da orelha. Patrícia começou a balançar a cabeça, esfregando-a de encontro aos lábios de Kathy. A sua pele feminina oferecia um contato suave e deliciosamente perfumado. Os sentidos de Kathy foram-se deixando influenciar pelo momento, assim como os de Patrícia.
A chuva aumentava. Trovões abalavam a cidade. Um deles explodiu não muito longe dali. Patrícia abraçou-se firme a Kathy, lançando seus braços ao redor do pescoço dela. O beijo foi inevitável, como um desabafo, um pedido de ajuda, um oferecimento de corpo. Seus lábios se colaram e agitaram-se de um lado para outro, misturando salivas e aumentando a intimidade entre elas.
Patrícia sentiu sua pele queimar e uma coisa crescer gradativamente no seu ventre. Não sabia direito o que era, mas sentiu-se feliz, pois, apesar de todos os seus temores e dúvidas, aquilo a realizava como uma verdadeira mulher. Arrancar amor de uma mulher, chamar-lhe a atenção, fazê-la dominá-la pela sua vontade e amá-la sem preconceitos era uma coisa que ela desejava no seu íntimo, apesar de saber de todos os problemas que aquilo acarretava.
Eduardo nunca agira daquela forma com ela. Eduardo nunca a fizera sentir-se como mulher de verdade, num momento íntimo onde os corpos se encontram e se completam. Aquela estranha fazia tudo aquilo para ela. Patrícia não sabia ainda que sentimento a poderia unir a Kathy. Sabia apenas que vivia um momento importante e que tinha que se deixar conduzir por esse momento, vivendo-o com emoção.
Os lábios de Kathy eram mais impacientes agora. Percorriam seus ombros, seus lábios, seus olhos, sua orelha, numa busca interminável e deliciosa.
As mãos dela buscavam os pontos sensíveis de seu corpo, fazendo-a suspirar. Ora apertando-lhe os seios com suaves movimentos possessivos, ora deslizando pelo seu ventre e apossando-se de suas coxas, ou simplesmente segurando-a pela nuca e apertando-a contra ela. Todo seu corpo vibrava, posto a descoberto. Era maravilhosa para a garota a sensação de se sentir desejada ao extremo.
Até então estivera passiva. Suas mãos apenas rodeavam o pescoço de Kathy, segurando-a como se temesse perdê-la. Quando Kathy começou a desabotoar-lhe o vestido, Patrícia fez o mesmo com o blazer e a camisa dela.
Seu vestido caiu ao chão num farfalhar de tecido abafado pelo barulho da chuva. Um perfume penetrante de carnes femininas dominadas pela lascívia tomou conta das narinas de Kathy, embriagando-a. Kathy apertou-se contra ela, pele com pele, ardendo na mesma chama. Kathy soltou-lhe o fecho do sutiã e ajudou-a a tirá-lo, em seguida tirou o seu sutiã. Depois suas mãos tocaram a calcinha da garota e empurraram-na para baixo.
Patrícia livrou-se dela e começou a desabotoar a calça de Kathy, enquanto se deixava beijar em todos os pontos de seu corpo. Seus corpos finalmente estavam nus, frente a frente. A exuberância das formas de Patrícia enchia os olhos de Kathy, transtornando-a. Patrícia observou fascinada o corpo nu e maravilhoso da mulher à sua frente.
Só então Kathy a tomou com suavidade sobre o leito, sempre acariciando-a e beijando-a. Patrícia sentia-se sobre nuvens, o coração aos saltos, as faces ardendo. Aqueles lábios incansáveis tocavam-lhe a pele como ferro em brasa, fazendo-a sentir-se num emaranhado de emoções novas e vibrantes, quase alucinando-a.
Nada ao seu redor era nítido. Tudo se misturava como num carrossel louco e ela se sentia o foco de atenções, uma mulher colocada em seu devido lugar. E o mais incrível por outra mulher.
Suas mãos buscavam o corpo da moça sem pudor, com naturalidade. Ela sentiu vontade de conhecer tudo daquela mulher que a amava espontaneamente. Seus dedos sentiram as formas e os contornos do corpo feminino vibrando ao seu lado. Com os olhos semicerrados, os lábios entreabertos, Patrícia sentia-se no sétimo céu.
Kathy habilmente excitou-a ao extremo. Nada restou que não fosse explorado e tocado pelos seus lábios e mãos. O corpo de Patrícia fremia ao lado, suspirando e gem*ndo baixinho, nos arroubos da paixão.
Toda aquela preparação deixara Kathy também extremamente excitada. Patrícia demonstrava ser inexperiente na arte do amor, mas se comportava como quem punha toda sua alma no ato, compensando com a entrega total a falta de habilidade.
Kathy viu chegando o momento máximo. Beijou novamente a boca de Patrícia e foi descendo seus lábios, passando pelo pescoço, sugando mais uma vez os seios daquela mulher linda e totalmente entregue, beijou sua barriga e desceu até chegar ao seu sex* quente, molhado e pulsante.
Primeiro, depositou leves beijos nele, depois começou a lamber de leve, para em seguir sugar seu clit*ris com vontade fazendo Patrícia se contorcer toda de prazer.
Quando sentiu que ela iria goz*r, parou e subiu de novo, beijando novamente sua boca, pesando seu corpo sobre o dela, Patrícia aceitou-a com delírio, abraçando-a e apertando-a contra si. Kathy foi descendo sua mão até chegar novamente ao sex* de Patrícia. Acariciou seu clit*ris em movimentos circulares, quando sentiu novamente no ponto, introduziu dois dedos nela, delicadamente. Patrícia deu um gemido de dor, que logo se transformou em puro tesão e prazer.
Kathy iniciou o longo declive da paixão, num vai e vem, que começou lento e foi aos poucos ficando mais rápido e forte. Abraçando-a, introduziu sua língua por entre os lábios dela, notando-a alucinar-se. Patrícia sentiu uma confusão de sensações agitar-se em seu ventre, como se o gelo e o fogo se fundissem numa só avalanche que a fez contorcer-se, presa de indescritível êxtase.
Kathy já experimentara muitas mulheres, mas havia alguma coisa a mais naquela que tinha sob seu corpo. Como se algo mais, como um calor, uma necessidade de entrega total, emanasse dela e contagiasse seu corpo.
O prazer que sentia avizinhar-se era algo grande demais, novo em sensações para ela. Apressou seus movimentos, o corpo de Patrícia se agitou em convulsões de prazer.
Patrícia sentiu-se renascida, quando aquela confusão de sensualidade explodiu dentro dela, quase insuportável, declinando depois lentamente, enquanto todo seu corpo se aquietava, saciado. Os lábios de Kathy permaneceram sobre os seus, num definitivo beijo.
A chuva ainda batia firme nos telhados, deixando no ar uma atmosfera de agradável intimidade. Kathy descansou seu corpo, após algum tempo, do lado dela. Ficaram ambas sem palavras, como se qualquer coisa que pudesse dizer fosse desmanchar a magia daquele momento.
Finalmente a garota, sem levantar o corpo, indagou-lhe.
- Que horas são?
- Meia-noite, talvez.
- Preciso ir.
- Por que não pode ficar?
- Ficarão preocupados em casa com a minha ausência.
- Está arrependida.
- Não, não me fale nessa palavra. É algo que nunca, mas nunca mesmo vai me ocorrer quando me lembrar desses nossos momentos.
- Por que tem que lembrá-los? Não seria mais agradável repeti-los e perpetuá-los?
- Oh, não, Kathy. Você sabe que isso seria impossível.
- Por quê?
- Não daria certo.
Ela se inclinou um pouco para fora da cama e apanhou o maço de cigarros. Acendeu dois, oferecendo um para ela.
- Adorei você, sua casa, seus carinhos, tudo, Kathy, mas está fora do meu alcance sonhar novamente com isso.
- Não tenho certeza de nada, Patrícia. Posso apenas dizer que foi diferente com você, especial.
- Tudo foi especial hoje, Kathy. Por isso devemos deixar como está. Não vamos estragar isso com futuras promessas, seria injusto.
- Nada mais aqui nesta casa será o mesmo quando você sair, a menos que prometa que irá voltar sempre.
- Não posso lhe prometer isso.
- Diga-me apenas que gostaria.
- Sim, adoraria poder voltar sempre. Melhor, talvez eu adorasse realmente nunca mais ter que sair daqui.
- Fique então.
Patrícia sorriu com amargura, antes de se levantar e apanhar suas roupas no chão, Kathy olhou para aquele corpo, tentando reter todos os seus detalhes, desde a coloração de sua pele até os contornos do quadril, dos seios e as feições atraentes do rosto.
- Gostaria de fotografá-la agora. Faria uma enorme reprodução só para tê-la aqui sempre comigo.
- Gosto de sua sinceridade e da maneira como demonstra sua afeição, Kathy. – falou ela, ajoelhando-se ao lado da cama para beijá-la levemente.
- Procuro ser sempre sincera naquilo que gosto.
- Diz coisas simples, mas sabe como tocar a vaidade de uma mulher. São coisas que fazem falta em meu mundo.
- Poderia tentar mudar esse seu mundo, já que ele não a agrada como é.
- Seria impossível! – exclamou ela com tristeza, começando a se vestir.
Kathy acompanhou todos os seus movimentos, até que ela terminou. Ficou olhando para ela, sentindo em si o desejo violento de novamente despi-la e se perder naquele corpo e fazê-la delirar de desejo e prazer. Ao invés disso, ficou olhando calmamente para aqueles olhos que a fitavam agradecidos.
Depois, vestiu-se, enquanto ela a observava. Quando terminou, aproximou-se dela e estreitou-a em seus braços. Patrícia debruçou sua cabeça no ombro da moça. Kathy acariciou lhe os cabelos e beijou-os.
- Posso fazer um café, se quiser. – disse ela, tentando prendê-la ali, de algum modo, por mais tempo.
- Não, obrigada! Já tive de você tudo que eu poderia desejar.
- Eu a acompanho até a porta.
- Não quero ser rude, Kathy, nem que pense mal de mim, mas devo pedir-lhe algo.
- Tudo que desejar, Patrícia.
- Se nos encontramos novamente, somos apenas duas ilustres desconhecidas. Nada se passou entre nós.
- Está me pedindo o impossível, Patrícia. Sabe que não conseguirei disfarçar isso.
- Terá que fazê-lo, não há chances para nós.
- Podemos criá-las.
- Seria uma tolice, Kathy. Enfrentaríamos muitos problemas com o preconceito da sociedade. Além disso, estou acostumada a outras coisas. Talvez me sentisse satisfeita durante algum tempo aqui, mas logo minhas velhas lembranças me chamariam de volta e eu teria que voltar inapelavelmente.
Kathy pensou numa porção de coisas que poderia dizer, numa porção de gestos que poderia fazer, mas seria tudo inútil. Patrícia não lhe pertencia realmente. Sua partida era algo irrevogável, definitiva.
Apanhou seu blazer e colocou-o sobre a cabeça da garota. Quando abriu a porta, um vento frio fê-la arrepiar-se.
- Onde está minha rosa! – indagou ela, ao olhar para o jardim.
- Vou procurá-la. – respondeu Kathy.
- Não, deixe. Talvez algum dia eu passe por esta rua. Pode ter certeza que olharei para este jardim e então me sentirei a dona realmente de todas as flores que brilharam aqui.
- Sabe que de agora em diante será mesmo a dona delas, de todas elas.
- Obrigada, Kathy! Você me deu algo que nunca poderei pagar-lhe.
- Só existe um pagamento nesse tipo de coisa, Patrícia. O pagamento da posse definitiva.
- Como eu disse, não poderei pagá-la assim, Kathy.
- Então apenas pense em mim algumas vezes.
- Pode estar certa que pensarei.
- Adeus, Patrícia! – murmurou Kathy, sentindo o coração oprimir-se dentro de seu peito.
- Adeus, Kathy! – respondeu ela, lançando seus braços ao redor daquela mulher e beijando-a com tristeza e gratidão ao mesmo tempo.
Depois se virou e se afastou, correndo na chuva, até seu carro. Kathy viu-a acenar uma última vez antes de o carro afastar-se velozmente em meio à chuva. Acenou-lhe mesmo depois do carro desaparecer. Em seguida fechou a porta vagarosamente.
Quando Patrícia chegou em sua casa, reconheceu o carro parado na porta da entrada. Pertencia a Eduardo. Na certa ele vinha desculpar-se por havê-la aborrecido e decepcionado.
A garota sentiu-se irritada. A última coisa em sua vida que gostaria de ver naquele momento era justamente Eduardo. Sua noite havia sido inesquecível, Eduardo poderia estragá-la como já fizera com uma porção de outras noites.
Entrou na casa caminhando devagar. Foi encontrar Eduardo e seu pai na biblioteca.
- Onde esteve? – indagou o advogado, abraçando-a.
- Fui dar um passeio. – respondeu ela, recebendo um beijo que a fez sentir náuseas.
- Já estava começando a ficar preocupado.
- Está tudo bem. Quando chegou?
- Há meia hora, mais ou menos. – respondeu ele, conduzindo-a para uma poltrona. – Você está fria. Molhou-se?
- Apenas alguns respingos. Esfriou com a chuva.
O pai da jovem, discretamente, deixou-os a sós.
- Estive conversando com seu pai. – falou Eduardo, sentando-se no braço da poltrona ocupada pela garota e fitando-a nos olhos. – Acho que tenho negligenciado. Meu trabalho tem me absorvido demais, acho que você tem todo o direito de reclamar.
- Eu não estava reclamando. – protestou ela, incomodada.
Seu desejo era isolar-se em seu quarto, a sós com seus pensamentos e com as recordações agradáveis daquela noite.
- Vamos mudar tudo isso. Amanhã à noite iremos a um...
- Não me prometa nada que não possa cumprir, Eduardo. – disse ela, levantando-se com irritação, indo apanhar um cigarro numa caixa de prata sobre a escrivaninha do pai.
- Desta vez não vou falhar, pode estar certa disso. Haverá uma recepção na casa do Deputado Medeiros. A nata da sociedade estará lá. Quero vê-la brilhar entre as mais belas mulheres da cidade.
Patrícia olhava-o pensativa, atenta às palavras dele, mas descrente. No entanto, o que restava a ela a não ser acreditar mais uma vez nele? Permitir que ele, apenas mais uma vez, se mostrasse atencioso, carinhoso, como a chance que ela vinha dando a ele ultimamente.
- E então, o que achou da ideia?
- Está bem, Eduardo, mas espero que não me desaponte mais uma vez. – disse ela, com tristeza e cansaço.
- Pobre criança, não a desapontarei, prometo. – disse ele, envolvendo-a com seus braços e beijando-a. Patrícia desejou sentir alguma coisa vibrar em seu corpo, mas nada acontecia. Apenas aqueles lábios frios comprimindo os seus, sem provocar emoções, sem despertar nada.
Desejou chorar.
- Está tudo bem com você? – indagou ele, sentindo-a fria e distante.
- Sim, só estou cansada. Dirigir na chuva me deixou tensa.
- Quer uma massagem ou algo assim? – indagou ele, massageando lhe os ombros e a nuca.
- Só preciso de um banho quente e nada mais. Uma boa noite de sono vai me deixar nova de novo.
- Está bem. Falaremos amanhã. Passe pelo meu escritório e almoçaremos juntos. Não se esqueça que precisamos ver a casa e fechar o negócio.
- Sim, claro. – concordou ela, desejando que ele fosse embora o mais depressa possível.
Fim do capítulo
Olá
Quero primeiramente agradecer a quem comentou os primeiros capítulos. Obrigada Nay, Dama da Noite e Mille.
Como disse antes, eu já postei esse conto em outro site, mas para postar aqui resolvi fazer algumas mudanças a começar pelos nomes, mas também vou acrescentar mais algumas coisas.
Dama da Noite e Nay, fico feliz que tenham gostado das alterações.
Nay, quanto a um conto mais longo, acho que vou deixar a desejar. Sou um pouco metódica com meus contos e em geral eles são mais curtos que as historias em geral. Minhas amigas dizem que sou muito sistemática e que tudo tem que ter começo, meio e fim e nada pode ser muito longo. Acho que sou assim mesmo, mas só em relação aos contos tá.
Espero sinceramente que gostem desse capítulo.
Beijos e boa leitura a todas.
Comentar este capítulo:
kpini
Em: 20/10/2015
Oi Leia tudo bem?
Minha intenção era ler o primeiro capítulo é deixar o resto para amanhã, mas não consegui rs.
Muito bom mesmo é a cena das duas foi romântica e sexy.
Parabéns. Agora quero ver a bomba que vem por aí.
Bom início de semana e obrigada pela ótima leitura.
Beijos
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