With the Stars por Alex B
Capítulo 19
Virei-me na cama e meu braço tocou um corpo. O corpo de Camila. Deixei um sorriso escapar. Ainda de olhos fechados deixei minha mão repousar em sua cintura. Eu estava ciente que a porta do meu quarto estava aberta. Depois de jogar vide-game com meu irmão, Camila e eu subimos para o meu quarto onde ficamos passando o tempo conversando e ouvindo músicas. Em algum momento da tarde Camila acabou pegando no sono enquanto dividíamos os fones de ouvido. Eu apenas tinha deitado também, evitando ao máximo a dormir, apesar dos pesadelos terem diminuindo a frequência.
Abri os olhos para me deparar com a imagem da minha namorada dormindo profundamente. Olhei o relógio que tinha na parede e constatei que já era de noite. Seu rosto estava de frente para o meu. Levei minha mão até seus cabelos acariciando delicadamente. Com as costas da mão passei levemente por sua bochecha, admirando o quão linda Camila era. Toda vez que eu ficava com Camz, eu sentia que estava bem onde deveria estar. Ao seu lado.
Continuei acariciando seu rosto até perceber pela visão periferia que havia alguém encostada na minha porta. Levantei até metade do meu corpo para ver minha mãe de braços cruzados encostada no batente. Ela me deu um sorriso e se aproximou de mim passando a mãos pelos meus cabelos. Eu já estava sentada e passava a mão pelos meus olhos.
- O jantar está pronto, querida. Acorde Camila para comermos.
- Tudo bem. – Bocejei. – Já vamos descer, mãe.
- Não demorem. – Ela saiu do quarto, nos deixando sozinhas.
Olhei para Camila e ela respirava profundamente. Nem tinha notado a pequena movimentação que teve. Resolvi ir ao banheiro primeiro. Escovei os dentes e joguei uma água no meu rosto tentando tirar a cara de amassada. Assim que julguei estar apresentável novamente, voltei para o quarto. Fechei a porta que minha mãe tinha deixado aberta e sentei-me ao lado de Camila. Aproximei nossos rostos e comecei a chamar seu nome no ouvido. Ela se remexeu, mas não acordou.
- Camz, acorde linda. – Beijei sua bochecha. – O jantar já está pronto.
Ela apenas murmurou algo. Esticou o braço e deixou-o no meu colo. Passei a mão por todo seu braço, fazendo um carinho.
- Camz, vamos. Levante, não está com fome? – Ela assentiu, ainda de olhos fechados. – Então, linda. Vamos comer. – Ela suspirou e abriu os olhos. Estavam levemente inchados e eu achei muito fofo.
Ela sentou-se e coçou os olhos. Aproveitei para roubar-lhe um selinho. Depois de mais um pouco de manha ela finalmente foi ao banheiro. Esperei sentada na cama mexendo no celular. Estava com a bateria quase zerada, então coloquei para carregar.
Assim que Camila saiu do banheiro descemos para ir jantar. Dessa vez com todos da minha família a mesa. No último mês Camila havia passado bastante tempo em casa, até porque seus pais quase nunca estavam presentes. Minha mãe tinha até feito uma sobremesa pra Camila. Torta holandesa. Como tinha feito no dia anterior, o doce havia sido alvo de diversas tentativas por parte dos meus irmãos para ser consumido. Todas tentativas foram frustradas pela minha mãe. E agora que podiam comer, os dois atacavam sem piedade. Depois de jantarmos, avisei-os que ia levar Camila para casa. Pelo que aconteceu na última vez que Camz dormiu comigo, eu achei melhor não dormirmos mais juntas, pelo menos por enquanto. Meu pai acabou oferecendo para nos levar. Acabei aceitando porque tinha comido tanto o doce que estava com preguiça de andar.
Já na frente da casa de Camila despediu-se de nós agradecendo meu pai pela carona, esperamos ela entrar na casa. Mudei a estação de radio e esperei meu pai dar partida. O que não aconteceu.
- Não quer ir dirigindo, Laur? – Eu gelei. Não esperava por isso. Evitei ao máximo toda e qualquer imagem do acidente que queria voltar a minha cabeça nesse momento. Engoli em seco e apenas neguei com a cabeça e olhei pela janela. – Tem certeza? Eu estou aqui, não vai acontecer nada. – Olhei para meu pai e senti toda a confiança que ele estava passando, mas ainda assim preferi não arriscar.
- Está tudo bem, pai. Eu que não quero dirigir mesmo. – Ele não se convenceu.
- Amanhã tenho que ir a um lugar cedo, você vem comigo?
- Mas amanhã é domingo. – Ele não disse nada. – Tudo bem, eu vou.
Ele assentiu e finalmente ligou o carro. Meu pai dirigia calmamente e permiti perder-me em pensamentos. Amanhã seria domingo, e como todo domingo minha família passava o dia juntos, isso quando minha mãe não trabalhava ou quando algo importante exigia a nossa presença em outro lugar. Achei que seria uma ótima oportunidade para contar sobre meu namoro.
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Senti meu corpo sendo balançado. Murmurei algo e me virei para o outro lado da cama, puxando o edredom para cobrir até minha cabeça, o tempo estava esfriando. O edredom foi puxado do meu corpo. Fiquei irritada imaginando que seria algum dos meus irmãos enchendo o saco. Estava pronta para manda-lós ao inferno, quando foquei minha visão e vi que era meu pai.
- Vamos, Laura! Levante logo, o café está pronto. Vou te esperar lá embaixo.
- Mas já? Não posso dormir mais um pouco?
- Você disse que ia comigo, não vai mais? – Apenas suspirei.
- Eu vou, me de um minuto.
- Te espero na mesa.
Aguardei ele sair do meu quarto para jogar meu corpo novamente na cama. Suspirei pesadamente, querendo poder dormir mais um pouco, pois finalmente nas últimas semanas eu havia conseguido dormir a noite inteira, tendo agora pouquíssimos pesadelos. Peguei meu celular e vi que ainda eram 7:30 da manhã. Aproveitei e mandei uma mensagem de bom dia para Camz. Levantei e peguei uma calça jeans, uma blusa e minha jaqueta. Quando estava colocando a calça, achei melhor tomar um banho senão não acordaria. Tirei a calça e fui ao banheiro. Depois de banho tomado e trocada eu desci para a cozinha.
Apenas meu pai e mãe estavam lá. Desejei “Bom dia” e beijei a bochecha da minha mãe. Sentei e olhei para uma xícara e uma caneca, medi o tamanho do meu sono e peguei a caneca enchendo-a de café.
- Fiz panquecas, ovos mexidos e bacon. Tem torradas e geleia de amora. Vai querer o que, querida?
- Nossa, me senti num hotel cinco estrelas agora. – Sorri para minha mãe
- Acordei disposta hoje. – Flagrei um olhar com segundas intenções para meu pai. Ecaaa. Fiz uma careta antes que uma imagem da qual poderia me traumatizar se formasse em minha mente.
- Vou ficar com as panquecas, torradas e geleia, por favor.
Ela foi até a geladeira pegar a geleia. Deu-me um prato com panquecas e colocou uma cestinha com torradas em cima da mesa. Peguei o pote de mel e despejei sobre as panquecas. Comia calmamente.
Esperei meu pai terminar o café também e despedi-me da minha mãe. Eles trocaram um beijo que, em minha opinião, durou mais que o necessário, revirei os olhos e fui para a garagem.
Assim que entramos na auto-estrada, eu estranhei. Ainda assim, esperei por um tempo. Entretanto meu pai não falava nada. O único som preenchendo o ambiente era da música.
- Pai, a gente ta indo em outra cidade pegar uma peça, fazer uma entrega, algo do gênero?
- Não.
- Huuum. - Encostei minha cabeça na janela e fiquei vendo a vista. Até começar a reconhecer onde estávamos indo. – O sitio do Steve! É pra lá que estamos indo, não é? – Ele assentiu. E foi ai então que entendi o que meu pai queria fazer.
Era lá que meu pai tinha me levado na primeira vez que peguei o carro. Ele me ensinou a dirigir e me mostrou o que deveria fazer em cada momento. Senti meu corpo ficar tenso. Sabia que sua intenção era boa, mas eu definitivamente não estava pronta para pegar no carro novamente.
Chegamos na entrada do sítio e meu pai desceu do carro para abrir a porteira. Entramos e andamos um pouco até ele parar o carro no meio do nada. Ele saiu do carro e deu a volta até o lado do passageiro. Abriu minha porta e se abaixou.
- Laura, eu sei que você tem medo de voltar a dirigir, por tudo que aconteceu. Só que você amava dirigir, deve estar sentindo falta, e eu sei de poucas coisas nessa vida, mas uma delas é que devemos tentar superar nossos medos.
- Pai... eu não sei se é o momento...
- Laura, me escute. – Ele segurou minha mão. – Você tem que tentar, deve isso a si mesma. Olha, aqui só tem pasto, não tem nada demais. Eu vou ficar o tempo todo do seu lado. Se achar que é muita pressão, nós voltamos pra casa, sem problema algum. Mas tente primeiro.
- Tudo bem... eu vou tentar.
- Isso, essa é minha garota.
Ele deu espaço para que eu saísse do carro. Dei a volta e sentei no lado do motorista. O carro estava desligado e meu pai já estava sentado ao meu lado. Senti minhas mãos começarem a soar e eu passei elas no jeans das minhas calças. Minha respiração ficou mais pesada. Imagens do carro rodando, do outro veículo batendo no nosso, o impacto intenso que foi quando batemos na cerca. Tudo voltou a minha mente.
- Pai, eu não quero... não quero... não me sinto bem...
- Laura, estamos só eu e você aqui. Não tem mais nada além de pasto e nosso carro. Você não está na estrada, não é aquela madrugada. Hoje é domingo, está de manhã e só vamos dar uma volta. - Eu engoli o pouco de saliva que tinha e senti minha boca ficar seca. – Não temos pressa, leve o tempo que por preciso.
Olhei pra frente e havia apenas pasto a nossa frente, a perder de vista. Coloquei as mãos no volante e pude sentir meu corpo tenso ainda. Voltei a alisar meus jeans. Fiquei um tempo assim. Muito tempo. Eu apenas permanecia com as mãos na minha perna. Tenho impressão que ficamos nesse cenário no mínimo por uma hora. Meu pai não me pressionava e eu ainda estava me acostumando com a ideia. Quando percebi que já havia passado muito tempo e meu corpo já estava mais relaxado. Eu levei minha mão até as chaves e virei-a, ligando o carro.
Esperei mais um tempo assim, porque meu coração tinha acelerado de novo. Quando me senti segura novamente, tirei do ponto morto e engatei a primeira. Devagar fui soltando o pé da embreagem e acelerando o carro. Assim que entrou em movimento eu engatei a segunda. Pude ver de soslaio meu pai sorrindo e acabei sorrindo também. Pretendia ficar só na segunda marcha, mas mais rápido do que pensava acabei criando coragem e mudei pra terceira. Ou tentei. Acabei errando o tempo da embreagem a afoguei o carro. Meu pai riu.
- Tudo bem, faz tempo que você não pega o carro. É normal.
Coloquei em ponto neutro e liguei o carro de novo. Ficamos andando por um bom tempo pelo pasto. Até me sentir totalmente confortável novamente. Fiquei feliz por isso. Eu não sabia que estava sentindo tanta falta de dirigir até esse momento. Queria que fosse mais fácil com os pesadelos também. No entanto, se vence uma batalha de cada vez. E eu tinha acabado de derrubar uma barreira. Com o tempo outros obstáculos cairiam.
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Assim que chegamos em casa pude sentir o cheiro de comida. Minha mãe estava na cozinha preparando o almoço. Quando percebeu que estávamos entrando em casa, ela parou e foi até a gente.
- Eai, foi tudo bem? – Ela perguntou olhando de mim para meu pai.
- Ela foi perfeita, como sabia que iria ser. – Meu pai respondeu, abraçando a cintura da minha mãe.
- Foi tudo bem, mãe. Você sabia que ele ia fazer isso?
- Na verdade foi ideia da sua mãe. Fico feliz que tenha conseguido dirigir de novo.
- É, digamos que foi um bom recomeço. Obrigada, pai. – Fui até ele dar-lhe um beijo na bochecha. – Obrigada, mãe. – Fiz o mesmo com ela. – Eu amo vocês.
- Nós também te amamos, querida. – Minha mãe respondeu passando a mão por meus cabelos.
Olhei pra eles e como já tinha decidido, ia contar hoje sobre meu namoro. Eles estavam sorrindo, ainda felizes por eu ter dirigido. Senti-me uma criança que havia acabado de dar o primeiro passo.
- Eu queria conversar com vocês. É sobre algo que eu queria contar.
- Tudo bem, quer conversar agora? – Meu pai perguntou.
- Onde estão Alice e Sean?
- Estão dormindo ainda, se deixar só vão acordar para o almoço. – Assenti para minha mãe.
- Tudo bem, vamos pra sala então. – Chamei eles.
Minha mãe voltou para a cozinha para desligar uma panela do fogo. Os dois sentaram-se na minha frente, no sofá, enquanto eu estava na poltrona. Entrelacei meus dedos e comecei a estralá-los. Não havia um jeito certo de fazer. Eu apenas tinha que contar. Poderia imaginar mil cenários, poderia fazer e refazer o discurso diversas vezes na minha cabeça, mas eu sabia que na hora nada seria como o planejado. Senti minha mão começar a soar e tinha quase certeza que o sangue tinha parado de circular no meu corpo.
- Pai, mãe, eu realmente não sei como fazer isso. Então eu queria que vocês me escutassem primeiro, tudo o que tenho pra falar, e depois vocês podem pirar. – Tomei um pouco de ar. – Eu sei que eu já apresentei alguns namorados a vocês, mas a verdade é que... Eu sempre tive um interesse maior em garotas. – Dei uma pausa para observar a reação deles, não fizeram nenhum movimento, os dois estavam com as mãos dadas. – Não sei quando isso começou, no inicio eu até tentei lutar contra, sabe? Eu até pensei que seria uma fase, só que não foi. Eu definitivamente nunca pensei em ter essa conversa agora, mas eu encontrei uma pessoa que me faz muito feliz e percebi que era o momento para contar a vocês sobre isso. Bem, essa pessoa é a Camila e nós estamos em um relacionamento a cerca de dois meses.
Eu estava ansiosa. Eu definitivamente estava ansiosa. Eu não tinha ideia de qual seria a reação deles. Minha respiração estava acelerada e eu olhava aflita para eles. Quando perceberam que eu havia falado tudo eles se entreolharam. Minha mãe deu um meio sorriso e meu pai assentiu.
- Laura, querida. – Minha mãe começou. – Nós já sabíamos. – Fiz uma cara de surpresa e minha mãe logo já emendou. – Digo, nós já sabíamos dessa sua preferência por garotas, ou melhor, desconfiávamos, e então veio a Camila e o jeito que você falava dela, como sempre chegava radiante em casa depois de passar o dia com ela, e querida, o jeito que você a olha diz tudo, foi ai então que tivemos certeza. – Eles se entreolharam de novo e meu pai estendeu sua mão para pegar na minha. - Só estávamos esperando que você viesse nós contar.
Eu estava chocada com a reação deles, pois eu sempre pensei que eles nunca nem imaginassem. E a forma como estavam lidando com aquilo, sem gritos, sem julgamentos, sem acusações, me deixava sem reação.
- E agora que confirmei tudo? Vocês não estão bravos? Não vão gritar comigo? Sei lá, me colocar pra fora de casa?
- Nós nunca faríamos isso, Laura. – Meu pai respondeu. - Você é nossa filha e nós respeitamos a sua escolha. Se você está feliz com Camila... – Eu o interrompi.
- Muito pai, estou muito feliz com ela. – A essa altura algumas lágrimas escapavam pelo meu rosto.
- Então – Ele continuou. – É isso que importa.
- Ainda sou sua filha?
- Sempre, querida. – Minha mãe se levantou e me abraçou. – Você sempre será nossa filha, nós te amamos muito, querida.
Chorava com muita emoção nos braços da minha mãe. Meu pai se levantou e nos abraçou e pude perceber que ele chorava também. Meus pais tinham me aceitado. Tinham aceitado do jeito que eu era e aquilo era uma felicidade imensa para mim. Meu coração batia como um louco e me apertei ainda mais nos braços dos meus pais. Feliz demais para dizer alguma coisa. Eu apenas queria curtir o momento.
Depois de beijar-lhes e dizer o quanto eu os amava eu corri até meu quarto, louca para ligar pra Camz contando como foi. Assim que peguei meu celular, na afobação que estava acabei apertando o play no walkman e o som de “Secrets” do One Republic invadiu meu quarto. Dei risada do quanto aquela musica dizia sobre meu momento. Deixei-a tocando enquanto deitava na cama e ligava pra Camz.
Fim do capítulo
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