With the Stars por Alex B
Capítulo 15
A música do som do carro ainda invadia o ambiente. Diana deu um soco no som o fazendo parar de tocar. A adrenalina do momento ainda corria nas minhas veias e eu mal podia pensar. Ou melhor, só conseguia pensar em uma pessoa. Me virei para Camila e segurei seu rosto. Afastei os cabelos e percebi o sangue escorrendo pelo seu rosto do lado esquerdo.
-- Camila, Camila! – Comecei a chamar por ela. Não respondia.
Kate já tinha saído do carro e tentava abrir a porta do motorista depois de tirar a cerca do caminho, já que estava praticamente toda quebrada. Diana ajudou abrindo por dentro. Eu retirei o cinto de Camila e a coloquei encostada em meu corpo. O desespero começou a ser o único sentimento para mim, e então sem que percebesse comecei a chorar.
-- Camila, fala comigo! Camila! Por favor!
Diana começou a bater levemente no rosto de Henry e ele começou a acordar. Kate estava ajudando a tirar ele do carro.
-- A perna dele está presa por esse lado. Não tem como sair por aqui. – Kate olhava onde a perna de Henry estava presa.
-- Laura, como está Camila? – Diana se virou para mim.
-- Ela não acorda. Ela... ela está com sangue no rosto e... e não acorda.
-- Eu vou te ajudar ai. – Kate veio pra porta de trás e tentava abrir. – Está muito amassada, não consigo abrir, tenta abrir por dentro, Laura.
Estiquei meu braço pra alcançar a maçaneta. Puxei duas vezes e nada. O corpo de Camila ainda estava junto ao meu, meu braço esquerdo estava sujo com seu sangue. Henry começou a gritar.
-- Aaaaaaah Porr*! Minha perna! Tá doendo!
-- Mor, calma! Tem mais algum lugar que está doendo? Você está sangrando. – Diana tentou falar de um jeito calmo.
Ele limpou o rosto e levou a mão até seu abdômen do lado esquerdo. Sua mão voltou com sangue.
-- Tem um corte desse lado. PORRA como isso dói.
-- Vem vamos sair daqui. Eu já liguei para o resgate. – Kate disse, e deu a volta no carro, indo para o passageiro junto com Diana. – Acho que você consegue sair por aqui Henry. É só puxar devagar sua perna.
Abracei Camila e deixei minhas lágrimas correrem livremente. Kate tocou meu ombro e disse algo que não compreendi. Ela começou a me puxar para fora do carro. Não queria largar Camila. Kate colocou a mão no meu rosto.
-- Laur, vamos tirar ela do carro só, ok?
Eu assenti. Kate me ajudou a pegar com cuidado Camila e a sair do carro. Precisava ver melhor como era seu estado. Estava garoando agora. Diana e Henry já estavam fora, Henry estava sentado com as costas apoiada na roda dianteira, e Diana começou a rasgar sua blusa no local do ferimento. Kate e eu colocamos Camila próxima a eles. Comecei a chamar novamente por Camila, não sabendo se conseguiria conter meu desespero se ela não acordasse logo. Eu sabia que muito tempo desacordada não era nada bom. Coloquei minha mão em seu peito. Havia batimento. Sua respiração estava fraca, mas ela estava viva. Passei a mão por seus cabelos e comecei a chamar novamente pelo seu nome. Implorando para que ela acordasse. Céus, isso era uma merd*, por que não acordava logo?. Encostei minha cabeça em seu pescoço. Assim que fiz esse movimento ouvi um gruninho leve. Levantei rapidamente minha cabeça e olhei para seu rosto. Seus olhos estavam tremulando. Ela estava acordando. Foi inevitável o sorriso no meu rosto.
-- Camila, Camila! Está bem? Está me ouvindo?
-- Laur... Laura? – Ela disse com o voz bem fraca.
-- Sim, linda! Sou eu! Que bom que acordou! Como você ta?
-- Minha cabeça... Minha cabeça dói muito. E meu... Meu braço esquerdo também dói. Laur... Como você está?
-- Eu estou bem, não se preocupe comigo.
-- E os outros? Minha prima?
-- Henry está machucado também, a batida foi do lado de vocês. – Ela gem*u de dor e virou um pouco a cabeça pra direita, vendo então Henry e Diana apoiados no carro.
-- Camila tente não se mexer muito, ok? Acho que seu braço está fraturado e não sabemos como está esse ferimento na cabeça. – Kate falou passando a mão por seu rosto. Ela estava do outro lado de Camila.
-- Você não está sentindo mais nada, linda? – Perguntei de novo. Kate se levantou e foi até Henry.
-- Meu corpo todo está dolorido.
-- Tudo bem, isso é por causa da batida. Camila eu vou passar meu dedo na frente do seu rosto, acompanhe o movimento, tudo bem? – Passei meu indicador lentamente próximo aos seus olhos, ela acompanhou o movimento. Suspirei aliviada. - Você não sabe o quanto fiquei preocupada por você não acordar.
-- Desculpe, não foi minha intenção te assustar. – Deixei escapar um som nasal.
-- Claro que não, meu anjo. Claro que não foi sua intenção.
-- Laur, precisamos de você aqui. – Kate me chamou.
Dei um beijo na testa de Camila e fui até eles. Por minha mãe ser enfermeira, eu tinha alguns conhecimentos sobre procedimentos padrão. Aproximei-me de Henry e retirei sua mão do ferimento. Era um ferimento profundo e tinha uma ponta de um objeto para fora.
-- Você acha melhor tirar, Laur? – Diana me olhou perguntando.
-- Não, não. Tem que deixar, se tirarmos pode ser que ele tenha uma hemorragia. Melhor não mexer e esperar o resgate. Tem algo com que podemos enfaixar pra não continuar sangrando?
-- Tem... Tem uma blusa minha no porta-malas. – Assenti para Henry e Kate foi buscar.
-- Você consegue mexer os dedos dos pés? – Ele fez um esforço e mexeu levemente. – Ok, muito bom. Vou dar uma olhada no seu joelho.
Rasguei sua calça e toquei em seu joelho, ele gritou de dor. Passei levemente a mão por ele e vi onde reclamava de dor.
-- Henry, você deslocou o joelho e provavelmente rompeu alguns ligamentos, tente não mexer mais sua perna.
Kate voltou com a blusa e a rasquei na costura para que ficasse maior. Com a ajuda das meninas enfaixamos da melhor maneira possível, deixando a ponta do objeto de fora. Ele estava soando frio, devia estar com muita dor.
Entrei no carro e peguei uma garrafinha de água que Kate estava tomando. Peguei outro pedaço da blusa e voltei para Camila. Ajoelhei-me perto do seu rosto e joguei a água no pedaço de pano. Comecei a limpar seu ferimento na cabeça. Ela reclamava por causa da dor e pedia para parar. Limpei como pude e vi que o corte apesar de longo, era superficial. Eu sabia que toda coisa relacionada a cabeça merecia o dobro de atenção. Então estava sempre conversando com Camila e vendo se suas respostas tinham nexo. Não podia descartar uma hemorragia interna. E só de pensar na possibilidade, meu corpo todo arrepiou.
-- Laur, precisamos ver como está o outro carro, não vi ninguém saindo de lá. – Kate sentou do meu lado.
-- Vai lá, Laur. Eu estou bem aqui. – Minha mão segurava a mão direita de Camila e ela deu um leve aperto para confirmar que estava tudo bem. – Você precisa ver como estão as outras pessoas.
Não queria sair de perto de Camila. Nunca mais. Eu ainda estava muito assustada de como as coisas aconteceram. A imagem de Camila gritando, das luzes do carro, da batida, tudo ainda estava muito fresco. O sentimento de que eu poderia ter a perdido, era insuportavelmente doloroso. Como se fosse uma parte de mim. Eu queria ter a protegido disso tudo, queria estar em seu lugar. Eu só queria que ela ficasse bem.
Apertei sua mão e me levantei calmamente. Disse para Diana ficar com eles e que os mantivessem acordados. Fui com Kate até o outro carro. Só então pude ver como estava a cena. Tinha algumas marcas de pneu na pista, havia poças de água por causa da chuva também. A cerca onde batemos estava toda quebrada. A lateral do carro de Henry estava tão amassada como se fosse papel. E então olhei para o outro lado da pista, onde estava o outro carro. Gelei. Ele estava de cabeça para baixo e praticamente todo destruído. Um arrepiou passou pelo meu corpo. O carro muito provavelmente havia capotado.
Chegamos perto e me abaixei do lado do motorista, Kate foi para o lado do passageiro. Era um casal. O homem estava dirigindo. Havia uma poça de sangue considerável embaixo dele. Nenhum dos dois estavam acordados. Tentei tirar seu cinto, mas estava emperrado. Chamei por eles e nenhum respondeu. Dei a volta e ajudei Kate com a moça. Eles estavam muito machucados.
-- Acha que conseguiremos tirar eles?
-- Não sei, Kate. Não consegui tirar o cinto do cara. Precisamos de algo que corte. Agora a moça, acho que dá.
-- Laur, tem um vazamento ali atrás.
-- O QUE? Vazamento? Ohhh merd*.
Me levantei e fui olhar. Era gasolina vazando. Voltei pra frente e vi que o carro ainda estava ligado.
-- Merda. Kate eu não entendo muito bem como isso funciona, mas acho que pode explodir. Vamos tentar tirar eles logo. Não temos muito tempo.
Kate arregalou os olhos. Começamos a tentar tirar a moça do carro. Tinha muitos cortes em seu corpo e seu quadril e começo de perna estavam praticamente esmagados por causa das ferragens. Eu nunca tive estômago pra essas coisas. Mas sabia que tinha que engolir qualquer que fosse meu receio nesse momento. Conseguimos tirar a mulher com muito custo. Eu estava ficando nervosa. Comecei a sentir o cheiro forte de gasolina vazando cada vez mais.
-- Kate você consegue levar ela para perto do nosso carro?
Ela assentiu, ajudei ate metade do caminho e voltei pro carro virado. Abri o porta-luvas procurando algo que pudesse servir para me ajudar a cortar o cinto.
-- Droga, droga.
Kate voltou pra perto de mim. Ela tentava tirar o cinto e eu ainda procurava por algum objeto cortante. Nesse tempo o homem começou a acordar.
-- Moço, moço! Você está bem? – Kate conversava com ele.
-- Ahh minhas pernas estão presas. Minha mulher... como está minha mulher?
-- Nós a tiramos daqui. Ela está segura agora. – Escolhi as palavras com cuidado, não podia dizer que ela estava bem porque estava muito machucada, e não podia falar que o carro tinha risco de explodir para que ele não se apavorasse.
-- Cuide dela. Ela está grávida. – Ele começou a tossir e vi sangue saindo de sua boca. – Foi minha culpa... Eu... Eu perdi o controle. Me distrai por um momento.
Olhei para onde suas pernas estavam e percebi que estavam totalmente prensadas. Isso era um problema, se conseguíssemos tirar ele do cinto, não sei se conseguiríamos o mesmo com suas pernas.
-- Qual seu nome?
-- Wes... Wesley. – Ele respondeu para Kate.
-- Fique tranquilo, Wesley. Vai ficar tudo bem. – Entretanto eu mesma não acreditava nas palavras de Kate.
-- Eu estou tranquilo, minha mulher está bem. – Ele fechou os olhos. – Ela me contou ontem que estava esperando um filho meu... Fiquei tão feliz.
O cheiro agora de gasolina estava insuportável. Comecei a ficar nervosa. Não sabia o que fazer. Meus atos ficaram mais agressivos para soltar aquele maldito cinto. Comecei a sentir uma angustia no peito. E então eu sabia que tínhamos de sair dali naquele momento.
-- Kate, Kate, vamos! – Eu estava com as mãos tremulas. Puxei seu ombro.
-- Não!! Temos que tirar ele daqui. – Ela se agarrou na porta.
-- Kate, precisamos sair daqui. Vamos. Por favor.
-- Não Laur! De forma alguma.
Então puramente por instinto eu abracei Kate por trás e tentei arrasta-lá pra longe dali. Ela gritava e se segurava no carro. Eu não estava com muitas forças e Kate não facilitava. Escutei um barulho estranho e soube então que era o momento. Peguei Kate no colo que ainda gritava e chorava e comecei a sair de perto do carro. Dei apenas dez passos para longe arrastando Kate e o carro explodiu. Um som absurdamente alto e o carro começou a pegar fogo. Tive apenas tempo de fechar os olhos e ser arremessada junto com Kate para frente. Senti meu corpo saindo do chão e sendo arremessado sem dó. Tentei colocar as mãos na frente do meu rosto e logo depois bati com a cabeça no asfalto. A partir desse momento tudo escureceu pra mim.
Sei que perdi os sentidos por alguns momentos. Senti meu rosto ardendo. Ainda de olhos fechados ouvi passos perto de mim e o som das sirenes se aproximando. Permiti que a exaustão tomasse conta do meu corpo. Ainda bem, o regate tinha chego.
Tudo ia ficar bem agora. Tinha que ficar.
Fim do capítulo
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