With the Stars por Alex B
Capítulo 16
Abri os olhos lentamente. Arderam. Fechei novamente.
Tentei de novo, mais devagar dessa vez. Pisquei algumas vezes e encarei o teto branco.
Fechei os olhos e suspirei. Eu conhecia aquele ambiente. Estava no hospital.
Virei minha cabeça para o lado e percebi minha mãe na poltrona, dormindo toda torta. Sorri por vê-la. Limpei a boca para chamá-la e percebi que estava seca.
-- Ma... Mãe – Chamei e minha voz saiu mais fraca do que esperava. Limpei minha garganta. – Mãe. – Dessa vez foi mais audível, apesar de minha voz ter saído totalmente rouca. – Mãaae.
Ela se remexeu na poltrona e começou a acordar. Olhei para a janela e percebi que o sol já estava nascendo. Ela limpou os olhos e foi como se uma ficha caísse. Deu-se conta da situação e levantou-se apressadamente da poltrona, postando-se logo ao meu lado.
-- Laura, querida! Como você está minha filha?
-- Estou bem, to com sede.
Minha mãe pegou uma garrafa de água que tinha em cima da cômoda do lado da minha cama e colocou um pouco em um copo. Ela me ajudou a sentar na cama e no processo percebi várias partes do meu corpo doendo. Eu estava um pouco desorientada. Peguei o copo e bebi lentamente a água.
-- Meu rosto está ardendo, meu corpo está doendo, e minha perna também.
-- Você está com alguns roxos pelo corpo, meu bem. Sua cintura está marcada pela pressão do cinto de segurança. Seu rosto tem alguns cortes e está muito ralado. – Ela passou a mão por minha bochecha fazendo um carinho. – Tivemos que fazer uma limpeza, havia alguns fragmentos nos cortes, coisas do asfalto. Tem também algumas queimaduras superficiais pelo seu corpo. Uma de segundo grau, mais grave, na sua perna direita, onde esta enfaixada.
-- Pode me dar um espelho?
Ela foi até sua bolsa e tirou de lá um pequeno espelho. Peguei e olhei meu rosto. Meu cabelo estava totalmente bagunçado, meus lábios estavam ressecados com um corte bem feio no lábio inferior e o lado esquerdo do meu rosto estava todo ralado, com dois cortes mais fundos, não estava nada bonito. Provavelmente foi na hora que cai no asfalto depois da explosão. Ohh shit, o acidente.
-- Mãe, como está a Camila? – Abaixei o espelho e olhei pra ela perguntando de forma agoniada. – Ela está bem?
-- Calma, Laura. Camila está bem. – Ela passou a mãe pelos meus cabelos. Estava inquieta. - Ela quebrou o braço esquerdo e levou sete pontos no corte na cabeça. Fizemos uma ressonância e está tudo certo, não teve nada mais grave. – Suspirei aliviada, com uma vontade imensa crescendo em mim para vê-la. Ver por mim mesma que ela estava realmente bem e segura.
-- Mãe, e o Henry? Ele estava com um corte bem profundo no abdômen, e tinha alguma coisa no corte também.
-- Henry passou por uma cirurgia. O caso dele foi o mais complicado. Ele tinha um fragmento do volante no abdômen, foi retirado, por sorte não pegou em nenhum órgão. Ele também rompeu com uma grande maioria dos ligamentos do joelho. A recuperação vai ser demorada. Mas ele está bem agora, fora de perigo. – Apenas assenti, feliz por saber que apesar de tudo, ele estava bem. – A Kate e Diana estão em observação também, apenas com alguns roxos e arranhões.
-- Mãe, eu preciso ver a Camila, me leva até lá? Por favor!
-- Filha, você tem que descansar agora, ainda está se recuperando e está em observação, todos estão.
-- Por favor, mãe. Eu tenho que ver como ela está.
-- Laura, não começa. – Ela me olhou. – Sua saúde é prioridade agora. Você me matou de preocupação.
-- Você estava de plantão? – Perguntei quando percebi que ela estava com o uniforme.
-- Estava. Entrei em desespero quando o resgate começou a descer vocês. Quando vi Henry e o estado dele, entrei em pânico. Eu sabia que tinha sido um acidente de carro e quando vi ele, significava que você estava envolvida. Tiveram que me tirar do posto. – Os olhos dela começaram a ficar vermelhos e eu sabia que ela estava segurando as lágrimas. – Laura, você não tem ideia da preocupação que fiquei. Então quando digo que você vai ficar nessa cama se recuperando, é porque você vai, entendeu? Eu não vou te perder. Não vou.
Me dei conta do quão egoísta estava sendo. Só de imaginar o desespero que minha mãe passou. O choque. Me coloquei em seu lugar e senti suas dores, suas aflições. Estiquei meu braço e a chamei para um abraço. Ela se aproximou e colocou a cabeça no meu peito.
-- Eu estou bem, mãe. Vou ficar bem. – Ela deixou escapar um soluço abafado. – Não aconteceu nada de grave comigo. Tivemos muita sorte.
Ficamos assim por mais alguns momentos, até que ela se acalmasse. Estávamos vivos, isso importava. Assim que tive esse pensamento, me lembrei de Wesley. Meu corpo se arrepiou com imagens dele no carro, e por não ter conseguido tirar ele de lá.
-- Mãe, veio mais uma moça não é? Ela estava no outro carro. Qual o estado dela? Ela está grávida. – Ela se afastou um pouco para me olhar.
-- Ela chegou aqui com vida e foi imediatamente levada para cirurgia, mas seus ferimentos eram muito graves e ela acabou não resistindo.
Fechei meus olhos não acreditando. Ela não tinha sobrevivido, céus ela estava grávida. Como se toda a carga emocional do acidente tocasse em mim de uma vez, eu comecei a chorar. Deixando que meus sentimentos fossem expressos. Imagens vieram a minha cabeça. O farol do carro. O grito. A batida. Camila machucada. Henry ferido. A mulher grávida, e por fim, o homem que não consegui ajudar e covardemente me afastei deixando-o morrer. Meu choro se tornou tão intenso que comecei a soluçar. Minha mãe me abraçava e acariciava meus cabelos. Tudo tinha acontecido tão de repente. Tudo tinha mudado em um instante.
-- Mãe... Mãe, eu... eu fui tão co-covarde – Eu não conseguia formar uma frase decente. – Eu... eu sai correndo... eu deixei ele no carro, mãe...
-- Filha, eu conversei com Kate, ela me contou o que aconteceu, você fez o que era certo.
-- Como que eu fiz o que era certo? EU DEIXEI UM HOMEM MORRER.
-- Laura, se acalme. – Ela tocou meus ombros. As lágrimas corriam livremente pelo meu rosto.
-- Você... você acha certo deixar alguém pra trás?
-- Filha, você fez o que devia ser feito. – Ela pegou minhas mãos. – Se você e Kate tivessem ficado, eu não quero nem pensar o que poderia ter acontecido.
-- Eu não consegui nem ajudar a mulher dele, ela estava... ela estava grávida...
-- Laura pare de se culpar! Isso estava totalmente fora do seu alcance, ela chegou muito ferida aqui.
-- Eu devia ter conseguido tirar ele do carro. – Minha mãe deu um beijo em minha testa e colocou as duas mãos no meu rosto, segurando firmemente e me fazendo olha-lá.
-- Eu tenho muito orgulho de você, Laura, entendeu? Muito orgulho. Você fez o que pôde, tentou ajudar da melhor maneira aquelas pessoas. Você ajudou seus amigos, fez os primeiros socorros. Pare de se culpar sobre algo que não tem controle, tudo bem? Você foi tudo, menos covarde.
Ela me abraçou de lado e começou a passar as mãos pelos meus cabelos. Me deixei vencer nesse momento, cansada demais pra continuar falando. Deviam ter me dado analgésicos, pois meus olhos começaram a pesar e eu não tinha mais forças pra lutar contra o sono que chegava.
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Escutei alguém falando ao telefone. Abri meus olhos e olhei em direção a voz. Alice estava no quarto falando no celular. Assim que ela percebeu que eu tinha acordado, desligou o telefone e se aproximou de mim.
-- Você tem noção do susto que deu na gente? – Sempre tão delicada minha irmã.
-- Sim, Alice. Eu estou bem, algumas dores aqui e lá, mas está tudo bem. – Ela me abraçou rapidamente, me sufocando no processo.
-- Eu quase não acreditei quando mamãe ligou falando o que aconteceu. Jurava que era um sonho. Você não pode mais fazer isso.
-- Foi um acidente, Alice. É meio que imprevisível, ninguém agenda algo assim.
-- Eu sei, me desculpe. É que... é tão surreal. Eu estou feliz que não tenha acontecido nada de pior com vocês.
-- Sim, tivemos sorte. Infelizmente o outro carro nem tanto. – Senti uma dor ao lembrar das outras pessoas. Pensei em Camila, poderia ter sido ela ou qualquer um de nós. – Alice, onde está a mamãe?
-- Ela e o papai estão na lanchonete, Sean meio que os obrigou a irem comer alguma coisa. Não comem nada desde que ficamos sabendo do acidente. – Olhei no relógio na parede, já eram 16:00.
-- Alice, eu preciso ver a Camila. Me leve até lá.
-- Como assim? Como eu vou te levar?
-- Acho que consigo andar. – Sentei-me na cama e assim que coloquei o pé direito no chão senti uma dor muito forte. – Mas acho que uma cadeira de rodas ajuda. Pegue uma.
-- Caraca, a mamãe vai nos matar. Você é louca.
-- Eu preciso ver ela, entenda isso. Vai logo Alice, antes que eles voltem.
-- Isso vai dar merd*.
Ela saiu do quarto a procura da cadeira de rodas. Eu conhecia o hospital, afinal minha mãe trabalhava lá e diversas vezes eu vinha trazer algo pra ela quando estava de plantão. Alice voltou com a cadeira e levou até perto de mim. Me virei de costas para sentar, apoiei minha mão e sentei devagar.
-- Nossa Laura!
-- O quê?
-- Sua bunda, legal. – Falou de modo sacana. Maldita roupa de hospital, por que esse trem tinha que ser aberto?
-- Cala a boca.
-- Você sabe em que quarto ela está?
-- Não.
-- Huum, muito bom.
-- Ela deve estar nesse setor, neh. De observação.
-- Já viu o tamanho desse hospital? Vamos demorar uma eternidade. – Alice começou a empurrar a cadeira, já estávamos no corredor.
-- Então vai lá perguntar na recepção.
-- Você só dá trabalho.
-- Vai logo e não reclama.
Esperei ela voltar com a informação do número do quarto. Finalmente ia ver Camila depois disso tudo. Mal podia conter a ansiedade. Alice voltou e disse que Camila estava no andar de cima. Fomos até o elevador e demos sorte dele estar vazio. Começamos a andar a procura do número. Assim que encontramos Alice abriu a porta e eu vi Camila sentada na cama, olhando a TV. Ela percebeu a movimentação e olhou em nossa direção.
-- Laura! – Disse de forma surpresa e abriu um sorriso que me faria vacilar se eu estivesse de pé.
-- Camila, finalmente! – Alice me deixou perto da cama e eu me esforcei para levantar da cadeira de rodas e ficar em pé ao lado da cama. – Como você está, linda? Está com dor?
-- Eu estou bem, levei alguns pontos aqui. – Ela apontou para sua cabeça, onde estava com um curativo. – E parece que quebrei o braço e machuquei o ombro. –Me mostrou o braço esquerdo com a tipóia.
-- Não tem mais nada doendo? Fizeram todos os exames corretamente?
-- Laura, sua bund.. – Alice começou e eu a interrompi.
-- Alice, nos deixe um minuto a sós? Por favor.
-- Ok, depois não fala que não avisei. – Ela saiu do quarto.
-- Claro que sim, Laura. Sua mãe veio aqui duas vezes. E meu pai, bem, pode ter certeza que todos os exames foram feitos.
-- Que bom. – Eu dei um selinho nela. – Estava preocupada com você.
-- Eu também estava com você. Senti saudades. E você, como está? Seu rosto está muito machucado.
-- Eu estou bem, isso em algumas semanas já some, não se preocupe.
Sorri pra ela e colei meus lábios no seus. No começo foi só um encostar, mas logo comecei a movê-los e pedi passagem pra minha língua, a qual ela permitiu prontamente. Meu corpo estremeceu com o contato. Ela colocou as mãos envoltas do meu pescoço. Me apoiei melhor na cama e aprofundei um pouco mais o beijo. O beijo de Camila era tão doce. Tão viciante. Não entendia como fiquei tanto tempo sem seus beijos. Começamos a nos separar lentamente. Eu estava tomada pela emoção. Estava tão feliz por ela estar bem, meu coração se encheu de carinho e amor por olhá-la. Eu estava sentimental e senti meus olhos começarem a marejarem. Eu tinha certeza de apenas uma coisa. Não queria nunca ficar longe dela.
-- Camila, aceita namorar comigo? – Ela me olhou espantada, surpresa pelo pedido tão repentino.
-- O quê?
-- Eu sei que devia fazer algo mais romântico, mas entenda eu quero estar ao seu lado sempre. Quero que você seja minha namorada. Quero te encher de carinho e beijo todos os dias. Quero segurar sua mão nos momentos difíceis e quero compartilhar dos seus sorrisos nos momentos de felicidade. Você me completa, Camila. Eu me sinto inteira quando estou com você. E só de pensar na possibilidade que eu poderia ter te perdido. Céus, eu não quero nem imaginar. Eu só não quero esperar por mais nada.
-- Laura, isso foi lindo. – Seus olhos estavam marejados. Ela levou a mão até meu rosto. – É claro que eu aceito.
Tinha certeza que o sorriso que dei foi de orelha a orelha. Não pensei duas vezes antes de colar nossos lábios novamente. Dessa vez ela que pediu passagem com a língua. Eu a beijava com toda a paixão que sentia. Minhas emoções estavam a flor da pele. Terminei com selinhos pelo seu rosto e encostei nossas testas, sentindo apenas sua respiração.
-- Você me faz tão feliz, Camila. – Falei em seu ouvido.
Escutei a porta sendo aberta abruptamente e minha mãe entrando no quarto sendo seguida por Alice que parou logo atrás, ela levantou os as mãos em sinal de que não podia ter feito nada.
-- Eu sabia que ia te encontrar aqui Laura Michelle Carter! – Me virei pra ela e tentei colocar o meu melhor sorriso no rosto. – É tão difícil ficar de repouso?
-- Mãe, me desculpe, mas eu tinha que vir aqui. – Minha mãe se aproximou de nós. Olhei pra Camila e percebi que ela estava corada e não me olhava. Logo me lembrei da roupa que estava.
-- Como você está, querida? – Minha mãe perguntou para Camila.
-- Estou bem Sra. Carter, obrigada.
-- Daqui a pouco venho aqui de novo, tudo bem? Vou trocar seu curativo dos pontos. – Ela assentiu. – E você mocinha. – Se virou pra mim. – Vai voltar já para o seu quarto.
Nesse momento a porta se abriu novamente, relevando a figura dos pais de Camila. Era a primeira vez que via pessoalmente o Sr. Foster. E céus, aquele homem era grande. Ele estava com o semblante fechado, com o rosto sério, entretanto atribui isso as devidas circunstancias. Mas não deixei de estremecer com a presença do meu recém sogro.
Cumprimentei os pais de Camila e antes de sair do quarto dei um beijo em sua testa, sempre cuidando para que minha camisola não mostrasse mais do que deveria. Alice me acompanhou na volta para o quarto. Já que estávamos no corredor, aproveitei para visitar os outros, conversei com Kate e Diana, logo receberiam alta. Kate não teve queimaduras como eu, provavelmente devido ao meu corpo ter a protegido enquanto estava no meu colo, mas teve diversas feridas por conta do atrito com o asfalto. Henry estava dormindo, então fiquei apenas alguns minutos em seu quarto.
Kate, Diana e eu recebemos alta no dia seguinte. Camila no dia posterior, e Henry apenas nos dois dias seguintes. Logo que sai do hospital, fiquei sabendo que a mulher de Wesley se chamava Adrian e o enterro seria na cidade vizinha, onde moravam. Conversei com meus pais e eles me permitiram ir ao enterro, sendo assim Troy nos levou, Kate e Camila também foram. Foi um momento muito intenso tanto pra mim como pra Kate. Nos ficamos ao fundo, esperando discretamente o momento oportuno para fazermos nossas homenagem.
Os dias foram passando. Assim que possível voltamos às aulas, Henry ainda teve que ficar em casa devido ao pós de sua cirurgia.
Não consegui dormir nos três dias posteriores ao acidente, não sem remédios para tal. Acordava de madrugada suando frio. Os faróis, o grito de Camila e o carro pegando fogo sempre em minha mente. Depois que acordava não conseguia mais pegar no sono, então ficava lendo até dar a hora para a escola. Os pesadelos só davam uma trégua com os remédios, mas assim que parava de tomá-los, eles voltavam. Não consegui dirigir novamente. Sempre que pegava nas chaves do carro, me lembrava do que aconteceu naquela madrugada.
Acompanhava Camila todo dia após a escola até sua casa, às vezes almoçávamos juntas e ficava até tarde da noite. Seus pontos já haviam sido retirados, e devido ao trabalho bem feito do médico, a cicatriz seria mínima. Henry teve que começar uma fisioterapia e o diagnóstico final foi de que só poderia voltar a praticar esportes depois de sua recuperação completa, o que ocorreria apenas em nove meses. A notícia o deixou desolado, sua paixão de jogar futebol americano entraria em um hiato. E sua maior preocupação era como conseguir a bolsa de estudos estando machucado.
Kate encontrou apoio na religião e até mesmo eu fiquei mais frequente na igreja. Entretanto a culpa pelas mortes que aconteceram com o acidente não me deixava. Como os dias, as semanas foram passando. Em uma madrugada em que havia tido outro pesadelo e até então tida sido o pior de todos. Estava chorando no sofá da sala, até que meu pai ao descer as escadas e perceber que eu estava lá, se aproximou de mim. Foi então que pela primeira vez conversei com alguém sobre os pesadelos. No dia seguinte meus pais haviam marcado uma consulta com uma psicóloga. Camila ficou chateada quando contei a ela que isso vinha acontecendo há algum tempo e não tinha dito isso a ela antes. Ela me apoiou e conversamos pela primeira vez sobre o acidente tão diretamente. Chorei em seu colo como uma criança. Lembrar daquele dia mexia muito comigo.
E assim como os dias e semanas, um mês e meio se passou. A terapia estava me ajudando, mas os pesadelos continuavam. Era um sábado e eu estava na casa de Camila, estávamos assistindo um seriado quando peguei sem querer no sono. Acordei sendo balançada por Camila. Ela estava com o braço arranhado, olhei pra mim e vi que estava suada. Tinha tido outro pesadelo e enquanto ela tentava me acordar, acabei arranhando-a.
-- Shhh está tudo bem. – Ela me abraçava. – Eu estou aqui, Laura. Tá tudo bem, já passou. – Eu respirava pesadamente, ela apertou os braços entorno de mim e eu suspirei.
-- Camz... É tão real... Parece que estou passando por tudo aquilo de novo, e de novo, e de novo.
-- Eu sei, eu sei, mas já passou, vai ficar tudo bem. – Ela levantou meu rosto pra ela e me beijou. – Eu estou aqui com você.
Camila ficou fazendo carinho em meus cabelos até eu me acalmar. Eu evitava dormir quando estava com Camila para que esse tipo de situação não acontecesse. Mas com as noites mal dormidas e os treinos de vôlei o cansaço finalmente havia me atingido.
Não estava conseguindo ter avanços com os pesadelos, então simplesmente comecei a falar tanto para meus pais como para Camila que eles estavam parando. Não queria preocupá-los e decidi que lidaria com isso sozinha. Com isso, tentei tornar a normalidade da minha vida.
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Estava na minha cama terminando de ler um livro. A porta do meu quarto se abriu lentamente revelando a mais doce das surpresas. Um sorriso imediatamente preencheu meu rosto.
-- Oi, Linda. – Cumprimentei e Camila sorriu pra mim. Estava com uma saia preta godê e uma blusa branca levemente justa. – Que surpresa boa, você não me avisou que vinha.
-- Ai não seria surpresa, não é? – Ela se aproximou de mim e me deu um selinho. Me afastei mais para o lado e bati na cama para ela sentar-se. Ela tirou as sapatilhas e se acomodou. – Lendo “Romeo e Julieta” de novo?
-- Claro, é uma bela história. Você não acha?
-- Sim, realmente é uma bela história, mas não deixa de ser uma história triste.
-- Isso que a torna real e encantadora. As melhores historias são dramáticas. – Levantei-me para fechar a porta do quarto, voltei e sentei novamente na cama.
-- Prefiro finais felizes, Laur.
-- Finais Felizes são tão... Disney.
-- Não me importo, desde que com a gente seja assim. – Ela se virou e deitou-se em cima de mim. Ela apoiou as duas mãos acima do meu peito, dando suporte para ela recostar seu queixo e me olhar. – Seus olhos são tão fascinantes. Nunca me canso de olhá-los, você é muito expressiva por meio deles. - Sorri pra ela. – E o seu sorriso é tão lindo.
-- Acho bom parar com os elogios. Depois eu vou ficar me achando.
Ela riu e me deu um selinho. Depois outro. E mais um. O quarto se transformou em um beijo. No começo só o encostar dos lábios, mas logo pedi passagem para minha língua, a qual ela concedeu de bom grado. Assim que nossas línguas se encontraram uma corrente elétrica passou pelo meu corpo. Isso era tão bom. Como se tivéssemos todo tempo do mundo, comecei a explorar sua boca calmamente. Em um ritmo apenas nosso. Devagar, estava aproveitando o momento, sentindo o quão doce era seu beijo. Ninguém brigava por domínio. Nossas línguas dançavam lentamente, apreciando o contato. Quando o ar realmente se fez necessários, nos separamos devagar. Ela terminou me dando um longo selinho e tocando o seu nariz no meu em um leve carinho.
-- O que quer fazer, Camz?
-- Não sei. Sugestões?
-- Tem um jogo novo de tabuleiro que o Sean comprou. Quer jogar?
Ela assentiu, então cuidadosamente sai debaixo dela e fui até o quarto de Sean pegar o jogo. Quando voltei Camila estava sentada na cama, sua saia estava levemente levantada e não pude deixar de imaginar coisas com sua pele da coxa recém exposta. Balancei a cabeça e sentei em sua frente. Depois de um tempo fiz pipoca e suco. Continuamos jogando e conversando. Quando nos demos conta a noite já tinha caído e estava tarde. Apesar da cidade ser bem tranquila, não queria arriscar sair andando por ai na rua a noite para levar Camila para casa, tendo em vista que eu ainda não tinha conseguido dirigir novamente depois do acidente.
Achei um ótima oportunidade para Camila dormir em casa e aproveitarmos para passarmos mais tempo juntas. Fiz o convite e ela aceitou. Antes que eu me levantasse da cama pra ir falar com meus pais, ela segurou minha mão me impedindo de sair da cama.
-- Laur, já faz algum tempo que namoramos, não acha que está na hora de contarmos para os nossos pais? – Um leve arrepio percorreu meu corpo com a imagem deu contando aos meus pais que namorava uma garota.
-- Você quer isso?
-- Você não? Acho que contar para nossas famílias é um bom começo.
-- Diana sabe sobre nós, e ela é sua prima.
-- Diana não conta. – Ela revirou os olhos. – Os nossos amigos sabem. Mas eu estou falando dos nossos pais.
Olhei em seus olhos e vi o quão importante isso era pra ela. Eu sabia que o momento havia chegado. E eu não poderia estar mais feliz por namorar Camila. Eu já tinha pensado no assunto e no fundo sabia que esse era um passo fundamental.
-- Tudo bem, vamos contar para os nossos pais, mas não hoje ok?
Ela sorriu e me beijou. Sorri de volta e finalmente me levantei para ir falar com meus pais sobre Camila dormir em casa. Eles concordaram sem maiores relutâncias. Emprestei um pijama meu que estava um pouco apertado e uma escova de dente nova para Camila. Ela tomou um banho e se trocou no meu banheiro. Fiz o mesmo e depois coloquei um filme para assistimos no notebook, não tinha TV no meu quarto. Assim que o filme terminou, coloquei o notebook na mesa e me ajeitei na cama. Camila tinha caído no sono antes da metade do filme. Ajeitei-me melhor e a abracei por trás, senti o doce cheiro de seus cabelos e sorri, feliz por ela estar em meus braços. Antes que eu adormecesse, lembrei que não havia tomado o remédio. Eu estava tão confortável abraçada com Camila que apenas resolvi dar de ombros.
Fim do capítulo
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