Capítulo 3
Os Anjos Vestem Branco - Capítulo 3
-- O que está acontecendo? - Bruna interrompeu o barraco que Victória aprontava.
A morena virou-se em direção de onde vinha a voz.
-- Você não está vendo que o meu amigo está sangrando horrores? - apontou para Thiago sentado na cadeira de espera - Estão esperando o que? Que ele morra enquanto vocês dormem.
Bruna sentiu-se injustiçada, mas não iria perder tempo batendo boca enquanto pessoas aguardavam atendimento.
-- Doutora eu estava terminando de preencher a ficha dele - a recepcionista entregou o papel para Bruna - Pedi para ela aguardar só mais um pouquinho.
-- Tudo bem Samanta. Deixa que eu mesmo levo - foi até um canto da sala pegou uma cadeira de rodas e levou até o rapaz, olhou o nome dele na ficha - Por favor Thiago, senta aqui vou te levar para dentro.
-- Você é médica? - Victória olhou desconfiada para a doutora que mais parecia uma menina - Desculpe mas meu amigo precisa de alguém mais experiente para atende-lo, ele não está nada bem.
Bruna fingiu não ouvir e começou a empurrar a cadeira em direção a sala de sutura. Após posicionar a cadeira puxou um banco, colocou as luvas, sentou em frente a Thiago e começou a examinar o corte.
-- Vou precisar fazer uma sutura...
-- Ele vai ter que fazer um raio x - Victória se aproximou para ver melhor o que a médica fazia, ficando praticamente em cima da loira - Está com muitas dores, sabe-se lá quantos ossos não deve ter quebrado e...
-- Como estava lhe falando Thiago, primeiro vou fazer a sutura e parar o sangramento, depois vou solicitar raio x e ultrassom - sorriu para ele - Posso começar?
-- Claro doutora - Thiago apesar de apavorado permitiu com um sorriso tímido.
-- Foi uma briga e tanto. Brigou com o Cigano, lutador de MMA? - Bruna tentava distrair o rapaz.
-- Antes fosse, teria sido menos humilhante - sentindo-se mais à vontade diante da simpática médica, começou a contar a história - Um rapaz muito bonito me...
Victória agora mais calma, observava Bruna trabalhando. Aquele rosto lhe parecia tão familiar, aquele sorriso, os olhos verdes, aquele jeitinho carinhoso de tratar Thiago. Esticou o pescoço para tentar ler o nome dela no jaleco, mas só estava escrito Dra. Bruna.
A loira percebeu o olhar da morena sobre ela, desviou um pouco a atenção do que fazia e a encarou. Poucos segundos que foram suficientes para a jovem médica fazer uma avaliação minuciosa daquele rosto lindo, cara de brava, mas linda. Ela é uma daquelas mulheres gostosas, gostosas mesmo, que deixam a gente com água na boca. As pernas compridas e torneadas e uma bunda redonda e dura. Uma cinturinha, caramba! E uns seios empinados. Ela estava sem sutiã, acreditam? E abaixava-se deixando-os a amostra. Bruna teve a impressão de ver o seu espirito sair do corpo aproximar a boca do ouvido dela e ronronar:
"Quero sair daqui agora e passar o resto da noite na cama com você".
A médica acordou dos seus devaneios quando se imaginou levando um belo tapa no rosto e uma acusação de assédio que lhe custaria a carreira.
-- Você não foi a primeira vítima de homofóbicos que eu atendi hoje - Bruna terminou a sutura e caminhou até sua mesa.
-- Sério, é tão comum assim? - Victória estava surpresa.
-- É mais comum do que você possa imaginar. Pelo menos 312 gays, lésbicas e travestis brasileiros foram assassinados em 2013, média de um homicídio a cada 28 horas - Bruna falava encarando Victória - Provavelmente esse número aumentou em muito de lá pra cá.
-- Que absurdo meu Deus. Eu sempre te falava né Thiago e mesmo assim foi sair com um cara que encontrou pela primeira vez - olhou para o rapaz que estava com a cabeça baixa.
-- Bem, o que importa é que você não entrará nas estatísticas de 2015 - brincou - Vou chamar a enfermeira para te levar para realizar os exames. Aguarde um instante, por favor - e saiu atrás da enfermeira.
-- Essa médica não me é estranha. Tenho a impressão de conhece-la... - Parou pensativa.
-- Ela é uma gata isso sim. Deve ter gente que vem aqui só para ser examinada por ela - Thiago falava fazendo caretas de dor.
-- Tenho que concordar com você, ela realmente é linda... - Victória parou de falar quando viu Bruna voltar acompanhada da enfermeira.
A morena não entendia, mas já estava ficando nervosa. Os olhos verdes da médica pareciam enxergar algo além dela. Arrependeu-se por ter pego o primeiro vestido que estava a sua frente. O decote era ousado e sensual e quando abaixava-se deixava parte dos seios à mostra. Não tinha como a médica não reparar nos bicos dos seios dela marcando o tecido do vestido.
Não sabia se cruzava os braços para cobri-los ou abaixava-se de frente pra ela, mostrando propositalmente os seios ...
Victória assustou-se com seus próprios pensamento. Meus Deus ela é uma mulher...
-- Quando estiver tudo pronto você retorna e eu avalio os exames. Ok? - Bruna sorriu para Thiago.
-- Até mais doutora - Thiago saiu levado pela enfermeira.
Victória os acompanhou até um determinado ponto, mas foi solicitado a ela que retornasse e aguardasse na sala de espera. A morena bufou contrariada, mas obedeceu.
Bruna sentou em sua cadeira pensativa. Aquela mulher é muito linda, será que é casada? Ela é hétero, tinha quase certeza. A não ser que o seu gaydar estivesse com algum defeito. Balançou a cabeça como que querendo afastar esses pensamentos. Levantou e foi até a recepção verificar se havia alguma ficha para ela.
-- Ninguém para mim Samanta?
-- Não doutora, graças a Deus - respondeu sorrindo.
-- Ótimo. Estou na sala. Qualquer coisa é só chamar - colocou as mãos sobre os olhos que estavam ardendo.
-- Com sono doutora? - Victória que estava em pé ao lado do bebedouro perguntou sorrindo.
-- É. Ao contrário do que você pensa não estava dormindo quando chegaram - Bruna aproveitou a oportunidade para dar uma cutucada, não podia deixar passar barato.
-- Desculpa, fui injusta - mostrou-se arrependida - Mas convenhamos doutora isso é muito comum em hospitais - Victória sentiu novamente aquela corrente elétrica atravessar todo o seu corpo. Imaginava-se colocando o rosto da loira entre os seus seios, dava para sentir a sensação macia e quente do seu rosto. Com biquinhos durinhos querendo que ela ficasse ch*pando e mordiscando por bom tempo... Lambendo ao redor dos bicos, e depois mamar... Esqueceu até que estava em um hospital.
-- Acredito que sim, mas não podemos generalizar - sorriu simpática.
-- Claro que não - Victória mais uma vez perdeu-se naquele sorriso lindo, naquelas covinhas que se formavam em seu rosto e suspirou pesado. Devia realmente estar muito necessitada, ficar tendo pensamentos eróticos com uma mulher, era demais!
-- Vou esperar o seu amigo lá na minha sala. Daqui a pouco nos vemos - fez um gesto de tchau com a mão e saiu.
Bruna estava em sua sala sentada em uma cadeira com as pernas sobre a mesa quando Sabrina entrou ainda sonolenta.
-- Pode ir loira, é a sua vez - jogou-se em outra cadeira.
-- Não vou agora, estou esperando um paciente retornar dos exames - riu, se divertindo com a cara da amiga.
-- É mulher né sua sem vergonha.
-- Não... Sei lá... É um gay - riu da confusão que fez.
-- Amiguinho então...
-- Desamassa essa cara, porque segundo a acompanhante, os médicos só dormem.
-- Há, então o fruto do desejo é a acompanhante - levantou e foi dar um jeito na aparência.
-- Digamos que ela é bem gostosa - brincou passando a língua pelos lábios - Gostosa demais... Que bunda... Que seios... Que pernas...
-- Você não presta Bruninha - espalhou os cabelos da amiga.
-- Olha o que você fez sua Sabrina sapa... - deu de cara com Victória - Desculpa - pediu ajeitando os cabelos.
-- Não por isso - a morena riu do jeito fofo da garota que estava com cara de quem foi pega inventando arte.
Sabrina pulou na frente da loira.
-- Meu nome é Sabrina - estendeu a mão.
-- Não sabia que os médicos agora podiam ser menores de idade - a morena brincou com as duas garotas.
Bruna e Sabrina se olharam sem saber o que responder.
-- Brincadeirinha. Eu sei que são residentes e não são menores de idade - sentou na cadeira e cruzou as pernas mostrando parte das coxas.
Bruna engoliu em seco e foi tomar um pouco de água. Sabrina pelo contrário sentou em uma cadeira de frente para a morena.
-- Desculpe eu vir até aqui Dra. Bruna, é que meu amigo está demorando demais, estou ficando nervosa.
-- E você nervosa é um perigo - sorriu para ela.
-- Você já viu né - devolveu o mesmo olhar penetrante que a garota deu.
-- Ui que medo - Sabrina foi até o telefone - Eu não vi e nem quero ver. Aonde ele está?
-- No raio ou no ultrassom - Bruna sentou na cadeira deixada por Sabrina, mas estava incomodada, não sabia para onde olhar. A mulher iria sair do hospital pensando que ela era uma tarada, mas fazer o que se os seus olhos não obedeciam e caiam de novo nas pernas dela.
Sabrina conversou por telefone com um funcionário do setor de ultrassom.
-- Pronto ele já está no caminho de volta. O que aconteceu com ele Bruninha?
Bruna queria matar Sabrina. Aonde já se viu ficar chamando ela de Bruninha na frente dos pacientes.
-- Agressão - Evitou entrar em detalhes, mas Victória não.
-- Esses homofóbicos covardes que não respeitam ninguém. Que mal os homossexuais fazem a sociedade pra terem que sofrer tamanha perseguição? São pessoas tão boas, tão legais, tão divertidas e até bonitinhas as vezes. Vejam pelo meu amigo, ele é um gato. Se eu tivesse a oportunidade de ficar frente a frente com esse cara que espancou ele, eu bateria tanto, tanto, mas tanto que ele nunca mais iria sequer olhar para um homossexual.
As duas médicas estavam de boca aberta com o discurso excessivamente acalorado da morena.
-- Aonde já se viu mexer com quem está quieto...
Victória interrompeu o discurso para receber o amigo que retornava dos exames naquele momento.
-- Amiga desiste da ideia - Sabrina falou baixinho próximo ao ouvido de Bruna - Ela é hétero demais, bravinha demais e você vai se dar mal - Sabrina saiu da sala rindo.
-- Então vamos ver esses exames - Bruna pegou primeiramente o raio x e colocou na caixa com luz - Como eu imaginava. Temos aqui três costelas fraturadas - mostrou para os dois.
-- Estou sentindo uma dor infernal, está difícil até de respirar - Thiago reclamou.
Bruna analisou o ultrassom.
-- Menos mal. O ultrassom não mostrou nada de anormal, os órgãos internos não sofreram qualquer dano e descarto hemorragias internas. Agora vou prescrever algumas medicações para serem feitas aqui no hospital e outras para você comprar - deu um soquinho no ombro de Thiago - A dor vai diminuir pode confiar em mim.
-- Eu confio. Muito obrigado não tenho palavras para lhe agradecer - estendeu a mão para a médica.
Bruna abaixou-se e beijou carinhosamente o rosto do rapaz.
-- Vai lá e se cuida - abriu a porta para Valquíria empurrar a cadeira para fora da sala.
-- Obrigada Dra. Bruna e desculpa pelo barraco. Sangue gaúcho - bateu no braço - Você é um anjo - deu uma última olhada naquela médica linda, beijou o seu rosto e saiu.
Bruna soltou o ar e passou a mão pela testa.
-- Essa mulher é pura tentação. Que noite meu Deus...
Fim do capítulo
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