Acordei com o barulho do meu celular. Peguei e vi que era uma mensagem de Diana. Ela passaria em casa oito horas, olhei para o relógio e já eram 19:15. Me levantei e desci até a cozinha, quase caindo no penúltimo degrau da escada. É... eu ainda estava com sono. Alice, minha irmã mais nova, estava no sofá da sala assistindo televisão, meu pai e Sean estavam na cozinha.

 

-- Mamãe ainda não voltou? – Peguei o copo de leite que estava com Sean, meu irmão do meio, ele me olhou feio e eu apenas dei a língua ainda roubando metade do lanche dele que estava no prato. – Tô sem tempo. – Me justifiquei.

 

-- Você tava dormindo até agora. – Ele levantou uma das sobrancelhas.

 

-- Sim, porque passei a tarde toda trabalhando enquanto você tava em casa jogando vídeo game. – me sentei no balcão e mordi o lanche.

 

- Sua mãe ainda não chegou, mas ligou avisando que já está a caminho. – Meu pai falou, apenas assenti a cabeça por estar com a boca cheia. – Você já esta indo para a quermesse?

 

- Sim, Diana vai passar aqui daqui a pouco com meu carro pra gente poder ir. Vocês não vão? – Perguntei observando que ninguém estava pronto ou dando indícios que iam sair.

 

- Vamos mais tarde, vou esperar sua mãe chegar.

 

    Terminei o lanche ainda sob o olhar mortal de Sean, coloquei o prato na pia e terminei de tomar o leite. Subi para meu quarto e liguei o notebook colocando algumas músicas para tocar, como já tinha tomado banho só tinha que trocar de roupa e fazer o cabelo.  Abri meu guarda-roupa e considerei as opções.

 

Estava frio, então optei por uma calça jeans escura, uma blusa com gola e por cima usaria uma jaqueta de couro. Procurei pelo quarto minhas botas e meu gorro roxo. Vesti tudo e me olhei no espelho, aprovando o visual. Fui para o banheiro do meu quarto, a casa tinha três banheiros, um no quarto dos meus pais, um social e o outro no meu quarto, confesso que são algumas das vantagens em ser a irmã mais velha.

 

Terminei de ajeitar meu cabelo e coloquei o gorro, busquei meu perfume pela pia e o passei. Tudo certo, agora era só esperar Diana chegar. Deitei-me na cama e fiquei olhando alguns vídeos no youtube até a hora que ouvi a campainha tocar e escutei Alice gritando que Diana tinha chego. Peguei minhas coisas e desci as escadas. Dei um tchau geral pra minha família e fui ao encontro de Diana que me esperava ao lado do meu carro.

 

-- Boa noite. – Ela respondeu e me cumprimentou com um beijo no rosto. – Cadê sua prima? Achei que ela iria com a gente.

 

-- Henry chegou de viagem agora pouco e vai levar ela e minha família, estavam cansadas da viagem que capotaram assim que chegaram em casa!

 

-- E como Henry foi no jogo? – Henry era namorado de Diana há dois anos, ele jogava futebol americano e havia ido fazer um teste para um time de uma faculdade em Nova York.

 

-- Ele está confiante, falou que deu o seu melhor, mas ele só vai saber se vão aceita-lo ou não daqui algumas semanas. – Ela me entregou as chaves e entramos no carro, liguei o rádio e deixei em uma estação que tocava musica Pop. – Hey, você não esta com uma cara muito boa, ta tudo bem?

 

- Ta sim, é que eu cansei por ter trabalhado hoje e ainda estou com sono porque acordei cedo, mas logo passa. – Olhei pra ela e sorri, Diana era sempre preocupada.

 

- Tudo bem então. Mal posso esperar pra te apresentar minha prima, tenho certeza que você vai adorar ela.

 

- Se ela for chata como você, tenho minhas dúvidas. – Ela olhou pra mim com uma cara de espanto e me deu um soco no ombro. – OUTCH. Doeu, Diana, e eu estou dirigindo quer que eu perca a direção e batamos o carro?

 

- Essa foi por você me chamar de chata. – eu olhei pra ela e ri.

 

- Vem cá, você sabe que eu te amo, criatura. – Tirei uma mão do volante e apertei-lhe a bochecha. Ela riu.

 

- Não faz menos que a obrigação. – Apenas revirei os olhos.

 

     Depois de uns vinte minutos chegamos à igreja, que por sinal já estava cheia. Falei para Diana descer e procurar Kate enquanto estacionava o carro. Por sorte um carro estava saindo e pude deixar ele perto da igreja, no quarteirão ao lado. Desci, peguei minhas coisas e fui rumo à quermesse, avistando de longe onde Diana e Kate se encontravam.

 

- Oii, Kate. – A cumprimentei assim que cheguei até elas.

 

- Ei Laur, quanto tempo. – Piscou pra mim. Eu ri.

 

- Já estava com saudades. – Dei um abraço nela.

 

- Eu sei que você não vive sem mim. – Deu uma piscada pra mim. - Meninas, eu vou ajudar na barraca dos doces. Depois a gente se fala ok? E consumam coisas para ajudar a igreja, é uma ordem.

 

- Sim, senhora. – Diana respondeu. Ela acenou e se afastou. - Vamos procurar um lugar pra sentar?

 

- Vamos, se ainda tiver alguma mesa.

 

 Andamos pelas pessoas a procura de alguma mesa vazia. Ao longe avistei duas mesas vazias no canto, cutuquei Diana e fomos até lá. Juntamos as mesas e sentamos. Ficamos conversando sobre diversos assuntos, a escola, as nossas férias que já estavam na metade e as expectativas para o ano que vem, já que estaríamos no último ano do ensino médio. O celular de Diana começou a vibrar em cima da mesa, ela o atendeu e começou a falar com Henry.

 

-- Laura eles já chegaram, vou buscar eles ok? – Apenas assenti com a cabeça.

 

     Fiquei entretida com um jogo qualquer no celular. Ate que senti alguém me abraçando, levei um susto, mas logo percebi que era Henry.

 

- Laura, sua perdida! – Ele se afastou um pouco. Levantei minhas sobrancelhas e sorri.

 

- Olha quem fala, como vai meu quarterback favorito?

 

- Muito bem obrigado. – Ele ajeitou o boné na cabeça e abraçou lateralmente Diana. Levantei-me e cumprimentei os pais de Diana.

 

- Haa Laura, essa é minha tia Constance! – Ela me apontou para uma mulher magra, de cabelos curtos  e muito simpática, ela sorriu e apertou minha mão, sorri de volta e me apresentei. – E esta é a minha prima, Camila. – Apontou para a menina que estava do lado de Constance, até então não tinha percebido.

 

     Quando a olhei foi como se eu perdesse o chão, ela estava sorrindo e era maravilhosamente encantadora. O olhar dela era puro, inocente. O cabelo era comprido até a cintura e negro, estava solto e o vento não permitia que ele ficasse parado, ela estava usando um vestido branco com detalhes em rosa e rasteirinhas. Me perdi totalmente e completamente em seu olhar, em sua boca extremamente convidativa e pintada de vermelho. Eu apenas perdi as ações e não consegui fazer nada, nem sorrir. Ela era linda, e o seu sorriso era perfeito, exibindo dentes perfeitamente alinhados e brancos. Sua pele mostrava um pequeno bronzeado, provavelmente consequência do sol de Miami. Me perdi em meus próprios pensamentos e só voltei à realidade quando Diana tocou em meu ombro.

 

-- Camila, essa é Laura, minha amiga. – Ela sorriu pra mim e repetiu meu nome, mais para si mesma, para ver se realmente tinha entendido. Ela me estendeu a mão e eu finalmente consegui me mover e a apertei. Uma corrente elétrica passou pelo meu corpo. Mas que diabos estava acontecendo comigo? Esbocei um sorriso de volta para ela, ainda atônita com a que tinha acabado de acontecer. Odiava ser pega de surpresa. E ver ela, me pegou completamente desprevenida.

 

-- Vamos dar um volta? – Diana perguntou olhando para a gente.

 

- Claro. – Concordei. Camila também assentiu. Diana e Henry foram na frente de mãos dadas, ficando eu e Camila logo atrás. – Haan então, você já conhecia a cidade antes?

 

- Eu vinha mais vezes aqui quando era pequena, em datas comemorativas, mas de uns anos pra cá ficou mais difícil, meu pai se envolveu muito com a empresa então viajar pra cá realmente ficou complicado, considerando que é longe de Miami também. – ela deu um meio sorriso e passou a mão pelo vestido que usava.

 

- Deve ser ruim mudar assim, de uma hora pra outra né? Largar escolas, amigos e tudo mais.

 

- Confesso que legal não é, mas não me importo muito, tenho que ver que isso é o melhor pra minha família no momento. E eu gosto daqui também, da tranquilidade, sem aquela correria que é em Miami.

 

- Entendo, é que sei lá, a cidade aqui é tão pequena, sempre as mesmas pessoas, não sei se aceitaria assim numa boa como você aceitou, sair de uma cidade grande e maravilhosa como é Miami e vir morar nesse fim de mundo.

 

- Você faz parecer pior do que realmente é. – Ela deu uma risada e eu sorri. - Tudo é questão de um ponto de vista, eu gosto de tranquilidade, ar fresco e não me importo da cidade ser pequena, as pessoas aqui são bem mais cordiais, me sinto em casa quando venho pra cá. Bom, e como disse não foi bem uma escolha eu vir pra cá, foi mais uma consequência, então eu só tenho que aceitar. – Ela sorriu novamente.

 

-- Você tem irmãos?

 

-- Não tenho, somos apenas eu, minha mãe e meu pai que chega daqui umas duas semanas.

 

-- Eu disse pra você Laura, nunca presta atenção no que eu digo. – Diana se virou para falar comigo, ainda de mãos dadas com Henry.

 

-- Me desculpe se minha memória é péssima. – disse levantando as mãos.

 

-- Não é que sua memória seja péssima, é que você realmente não presta atenção no que eu digo.

 

-- Quando me disse isso Diana?

 

-- Essa semana quando te liguei pra pedir o carro emprestado.

 

-- Eu estava dormindo quando você me ligou, tinha que dar graças a Deus que eu ainda lembrei que você tinha me pedido o carro. – Diana começou a rir. – O que foi?

 

-- Agora entendi por que a ligação terminou do nada. Você deve ter voltado a dormir comigo ainda falando no telefone.

 

-- Não duvido. – Ri junto com ela.

 

-- Se eu não me engano, você tem dois irmãos né? Pelo que Diana me disse.

 

-- Aham, isso mesmo! Sean e Alice.

-- Meninas, vamos comer? Desde que cheguei ainda não comi nada. – Henry abraçou Diana por trás e colocou seu rosto no ombro dela, fazendo uma carinha de cachorro abandonado.

-- Oh meu amor, nem pensei nisso, vamos sim, Kate nos deu um ultimato para consumir aqui. – Diana passou a mão pelo rosto dele.

-- Está com fome, Camila? – perguntei olhando em seus olhos, eles simplesmente tinham um imã comigo.

 

-- Acho que sempre estarei com fome. - Ela deu um enorme sorriso, o que fez meu corpo dar um leve arrepio, ah que sorriso.

 

- Acredite, isso é verdade. – Diana confirmou, o que nos fez rir.

 

    Fomos até a barraca de cachorro quente, fizemos nossos pedidos e ficamos conversando ate ficarem prontos. Camila era engraçada, no começo ela estava um pouco tímida, mas depois foi se soltando. Tinha um jeito só dela, ela era cativante, apaixonante. Sorri com essa observação, não tinha como não gostar dela. Ela exalava simpatia e bom humor.

 

Nossos pedidos ficaram prontos e fomos até uma mureta que tinha ali perto, nos sentamos para comer. Descobri que Camila era muito ligada a sua família, ela realmente encarava essa mudança toda numa boa porque era o que tinha que ser feito. E não pude deixar de observar que realmente Camila tinha um apetite e tanto, o que me deixava em conflito, pois seu corpo era extremante perfeito, curvas delicadas, era magra, mas tinha conteúdo onde deveria ter, as vezes me perdia a analisando e era flagrada por Diana o que me deixava sem graça e me fazia desviar o olhar.

 

    Depois de um tempo decidimos dar mais uma volta, fomos ate Kate onde compramos alguns doces, que por sinal estavam muito bons, Troy, seu namorado, estava com ela ajudando no caixa. Eles eram um casal recente, talvez uns dois meses juntos, se conheceram na Igreja e qualquer um que os olhasse diriam que foram feitos um para o outro.

 

Kate já conhecia Camila, ano retrasado ela tinha vindo passar as férias de fim de ano aqui e eu tinha ido para a Califórnia com a minha família, depois que fiquei sabendo disso Califórnia não me parecia mais um lugar tão interessante assim, se eu tivesse ficado teria conhecido ela há mais tempo e quem sabe como as coisas seriam agora? Minha atenção foi chamada quando Camila tentando mostrar algo a Kate ao longe tropeçou e foi direto ao chão. Rapidamente fui até ela, em uma velocidade considerável já que não estava tão perto.

 

-- Meu deus Camila, você esta bem? – Me agachei até ela já que ate então não tinha se levantado e ajudei a pôr-se de pé, segurei em seus braços e a puxei junto de mim para que tivesse apoio.

-- Ah não foi nada. – Ela deu um meio sorriso e abaixou a cabeça. – Isso vive acontecendo. – Levantou a cabeça me olhando e deu uma risada. – Sério, acontece o tempo todo.

 

-- Mas você se machucou? – Me afastei um pouco para olhá-la, até então não tinha percebido o quão perto estávamos.

 

-- Acho que não. – ela olhou para si e deu uma batida de leve no vestido. – Viu? Eu disse que não foi nada.

 

    Troy se aproximou e perguntou novamente se ela estava bem, ela confirmou com um sorriso. Me afastei um pouco indo para o lado de Diana, estávamos a uma pequena distância, Kate e Henry estava junto com Camila.

 

-- Bem prestativa você né, Carter? – Eu olhei para ela e levantei uma sobrancelha, ela estava rindo.

 

-- Melhor que você, uma prima desnaturada, Camila caiu e você só ficou ai vendo.

 

-- O que eu ia fazer? Você foi voando até ela, não deu tempo nem de pensar.

 

    Depois desse pequeno incidente a noite passou rápido, rápido até demais ao meu ver, queria estar mais tempo na companhia de Camila. Logo já estava tarde e a família de Diana resolveu ir embora, minha família assim que chegaram tinham se sentado com eles. Ofereci-me para dar carona já que todos não iriam caber no carro de Henry. Avisei meus pais que daria carona, mas que voltaria para ficar com eles. Infelizmente Camila não foi no carro comigo, deixei eles em casa e me despedi de todos, me demorando um pouco mais no abraço com Camila.

 

-- Foi um prazer te conhecer, Camila. – Eu sorri e ela deu uma leve corada.

 

-- Eu também Laura, Diana sempre fala de você, finalmente te conheci.

 

-- Sabe, a gente podia fazer algo amanhã. – Ela me olhou e trocou o peso do corpo nos pés. – com o pessoal e tudo o mais. – levei a mão até meus cabelos e olhei para Diana, Camila fez o mesmo.

 

-- Com certeza, já tenho alguns planos. – Foi Diana quem respondeu. Todos entraram na casa restando apenas eu e Diana.

 

-- Bonita minha prima não? – Diana ficou na minha frente, eu estava encostada no carro.

 

-- Sim, muito bonita. – Levantei uma sobrancelha para ela tentando entender onde queria chegar. Ela continuou me encarando, me analisando com um meio sorriso na boca.

 

-- Sabe, agora que to pensando, não sei como não se conheceram antes. – Apenas concordei com a cabeça.

 

-- Ela é bem engraçada e bem legal também. Ela vai estudar em qual escola?

 

-- Na mesma que a gente. As notas da Camila são muito boas, não teve problema com transferência.

 

-- Que bom. E quais os planos que você tem pra amanha, senhorita Hansen?

 

-- Tava pensando em ir no parque de diversões, o que acha? Amanhã é o último dia dele aqui na cidade. – Dei uma risada com a proposta do programa. – Não ria, é bem legal o parque ok?

 

-- Não disse nada. - Levantei a mãos em minha defesa. – Achei interessante até.

 

-- Ok então, amanhã combinamos direito. Até mais, Laur. – Ela se aproximou me dando um abraço e um beijo. – E obrigada por ter emprestado o carro e pela carona, de verdade, você ajudou muito.

 

-- Não foi nada, qualquer coisa é só falar. – Dei uma piscada e ela entrou em casa.

 

 

     Voltei para a quermesse, mas fiquei pouco tempo por lá, minha família logo quis ir embora e procurei Kate e Troy para me despedir. Feito isso, me dirigi até meu carro, Alice iria comigo. Colocamos o som quase no último e fomos cantando, entretanto meus pensamentos todos terminavam em uma pessoa apenas. Camila.

Fim do capítulo