Capítulo 2
Construindo o Amor -- Capítulo 2
-- Dudinha acorda - Bárbara sacudia Eduarda de um lado para outro na cama.
-- Sai bába me deixa em paz, não vê que preciso dormir? - Virou de lado e tampou a cabeça com o cobertor.
-- Você pediu para te chamar cedo porque queria conversar com o seu pai. Lembra?
-- Lembrei Bába - jogou o cobertor em cima de Bárbara e pulou da cama - Papai ainda está em casa?
-- Está tomando café. Corre lá que ele já deve estar quase terminando - deu um tapa na bunda da garota que saiu correndo.
Quando chegou à sala de estar o pai ainda estava tomando café e lendo o jornal. Aproximou-se e beijou sua cabeça.
-- Bom dia papai - puxou uma cadeira e sentou-se.
-- Bom dia Eduarda. Filha deve ter acontecido algo de muito grave para você estar de pé há essa hora, chego a ficar preocupado. - Jogou o jornal sobre a mesa e olhou sério para a filha. Eduardo não lembrava a última vez que ela estava presente no café da manhã.
-- Pai queria te pedir uma coisa - falou dengosa - Dois amigos meus estão indo morar na França. Eles são donos de uma boate no Leblon e como eles pretendem fixar residência por lá, estão querendo vender o imóvel. É uma boate GLS muito legal, frequentamos há muito tempo e nunca presenciamos algo que pudesse denegrir a imagem da casa. Estive pensando pai se não seria um bom investimento e como vou cursar administração ano que vem poderia ser uma boa. O que achas pai? - Ajeitou-se melhor na cadeira e encarou o pai que ensaiava um discurso.
--Uma coisa tenho certeza Duda, de boate você entende né? - Riu alto, mas logo ficou sério novamente ao ver a carinha fofa que a filha fazia - Desculpa filha, não resisti à piada.
-- Quem faz piada sem graça sou eu pai. Quer roubar o meu título? - Pegou um pedaço de bolo do prato do pai e comeu.
-- Não filha, esse título foi conquistado com tanto esforço. Porque não pega uma fatia para você e para de comer o meu pedaço?
-- Do seu prato é mais gostoso - limpou a boca com o guardanapo e insistiu no assunto com o pai - Agora sério Sr. Eduardo. Eu e a Aline já falimos tantos negócios nessa nossa curta caminhada como empresárias que até perdi a conta. Foi academia, sex shop, pet shop, sei lá mais quantos. Gostaria que desse certo dessa vez - falou sincera.
-- Vocês faliram porque não fizeram um plano de negócio realista Dudinha, o plano de negócios tem que ser verdadeiro e o empresário tem que pensar que todo negócio demora um tempo para decolar. Por isso é fundamental ter esse planejamento, que vai servir como mola propulsora do negócio durante toda a sua vida - tomou todo o café que ainda tinha na xícara e voltou a olhar para Eduarda que se mantinha pensativa.
-- Nós não fizemos nenhum planejamento pai, as coisas foram meio que na bagunça - riu envergonhada lembrando que levavam tudo na empolgação do momento, depois desanimavam e abandonavam.
-- Um plano de negócios realista incorpora informações verdadeiras provenientes de um estudo de mercado, de planejamento financeiro, fluxo de caixa, previsão de vendas, entre outros. Saber como atender à demanda, enfrentar períodos de sazonalidade, suprir a mão-de-obra é fundamental para um plano de negócios eficiente. Enriqueça-o com informações. Escolher seu melhor amigo como sócio não garante o sucesso do negócio. Para dar certo, é necessário que haja perfis complementares. Eu posso te apresentar o profissional certo para te orientar nesse negócio. Você é inexperiente Duda e o investimento é alto demais, se não tiver alguém do ramo ao seu lado o destino desse negócio será o mesmo dos outros.
Eduardo não conseguia dizer não para a sua pequena, mas tinha a obrigação de zelar pelo patrimônio que mesmo sendo dela deveria ser bem administrado por ele.
-- Pai esse profissional que o senhor está indicando não é nenhum engravatadinho, manézinho metido a playboy ou um tiozinho tarado né?
-- Claro que não Dudinha - sorriu em pensar na cara da garota quando conhecesse o profissional que Eduardo indicaria.
-- Então tudo bem pai, eu topo. Quando quiser marca uma reunião com ele. Pode ser aqui em casa mesmo - levantou-se para abraçar e beijar o pai - Obrigada você é o melhor pai do mundo.
-- O mais bonito, mais elegante, mais sex... - falou brincando retribuindo o abraço da filha.
-- Isso eu não preciso nem falar né pai, quem fala é a mulherada por aí - apertou a bochecha do pai - Se orienta hein coroa.
Como não atender ao pedido de um anjo como Eduarda, ela podia ser irresponsável, malandra, sem-vergonha, mas era carinhosa, nunca mentia, não escondia nada do pai, até mesmo quando teve dúvidas quanto a sua sexualidade, foi a ele que recorreu para pedir conselhos. Eduardo sempre apoiou a filha, temia que a sua escolha lhe trouxesse sofrimento e não mediria esforços de sempre que possível estar por perto para defendê-la e ai daquele que se metesse a bobo de mexer com sua princesinha.
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-- Bom dia Débora - Eduardo teria um dia cheio então queria resolver o assunto Eduarda logo pela manhã.
-- Bom dia Sr. Eduardo. Deseja algo que não esteja na agenda?
-- Sim, quero que chame Jorge agora em minha sala.
-- Sim senhor - esperou o patrão entrar em sua sala e em seguida ligou para Jorge.
Jorge é o diretor financeiro da empresa, 30 anos, gay assumido. Trabalha há cinco anos na Jeser. Funcionário exemplar em que Eduardo confia cegamente e não pensaria duas vezes em lhe indicar como consultor empresarial de Eduarda.
Em cinco minutos Jorge já batia na porta da sala de Eduardo.
-- Bom dia Jorge. Pode entrar e sente-se, por favor. Deseja algo para beber? - Quando viu Jorge todo engravatadinho Eduardo se lembrou de Eduarda e riu por dentro.
-- Bom dia senhor Eduardo. Não quero nada, obrigado - Jorge estava todo sem jeito, não sabia nem aonde colocar as mãos, não fazia a mínima ideia do motivo da conversa, resumindo, estava uma pilha.
-- Por favor, Jorge não me chame de senhor - pediu simpático.
-- Vou tentar senhor, desculpa Eduardo - riu da confusão do rapaz.
-- O que vou lhe pedir não tem relação alguma com a empresa, na verdade é um favor que preciso que me faça, se aceitares é claro. Vou lhe pedir isso porque confio em você e sei que é um profissional muito competente - acomodou-se em sua poltrona torcendo para que o rapaz aceitasse a proposta.
-- Pode falar Eduardo, se estiver ao meu alcance será um prazer - no atual nível de stress dele se o chefe pedisse para se jogar pela janela, ele aceitaria.
-- Como você deve ter conhecimento, tenho uma filha de dezoito anos e hoje pela manhã ela me procurou para pedir um conselho, eu dei e fui mais além, me ofereci em ajuda-la - percebendo um ponto de interrogação no olhar de Jorge foi direto ao assunto - Ela vai comprar um imóvel no Leblon aonde hoje funciona uma boate GLS. A intenção dela é reformar e "fazer bombar" - fez sinal de aspas com os dedos e continuou - O que você acha dessa ideia?
-- Você mais do que ninguém sabe o valor dos imóveis desse bairro, não é? - Leblon tem o metro quadrado mais caro do país.
-- Claro, que sei, Jorge, o dinheiro não será problema. O que realmente desejo é que dê certo, que a boate seja elogiada por todos, que a casa esteja sempre cheia e que minha filha se sinta feliz com isso.
-- Para que tudo isso aconteça talvez leve algum tempo, espero que ela saiba esperar e não desanime logo nos primeiros meses. Lucros então nem pensar, muito pelo contrário os gastos serão enormes. O que queres que eu faça?
-- Quero você como consultor, assessor, diretor, conselheiro, tudo que for possível. Se você aceitar lhe darei carta branca para tudo, faça o que achar melhor.
-- Poxa, desse jeito posso até mudar de profissão - Jorge começava a gostar da proposta, o único problema seria a garota, pelo pouco que sabia dela imaginava ser uma patricinha mimada - E ela Eduardo aceitará um desconhecido mandando bronca no negócio dela?
-- Não se preocupe com a Duda, só tenha paciência no começo, depois de se conhecerem, um pouco mais, não vão querer se largar - conhecendo os dois como conhecia tinha certeza que em breve seriam grandes amigos.
Rafaela recolhia alguns papéis que estavam espalhados sobre a mesa e os organizava em uma pasta, teria uma reunião com o engenheiro da obra do supermercado da zona sul e não queria esquecer nenhum papel importante. Havia vários pontos que discordava nessa obra, mas o homem era um cabeça dura e não estava conseguindo convence-lo sequer a reavaliar as questões. Ouviu batidas na porta o que lhe fez voltar à realidade.
-- Pode entrar - terminou de arrumar a pasta, fechou e deixou sobre a mesa para não esquecer.
-- Sua secretária sumiu - Jorge colocou a cabeça para dentro da sala.
-- Entra querido, você não precisa ser anunciado. Camila foi buscar uns projetos pra eu analisar - foi até a porta receber o amigo com um abraço.
-- Finérrima como sempre mona - segurou na mão de Rafaela fazendo a arquiteta dar uma voltinha.
-- E você amável como sempre Jorge - levou o rapaz até o sofá e sentaram.
-- Tenho novidades -- falou cantando.
-- Logo imaginei essa sua cara não me engana -- Jorge tinha um sorrisinho de canto da boca que lhe denunciava -- Conta logo.
-- Primeiro uma pergunta: Você por acaso conhece a filha do Jorge? - Cruzou as pernas e colocou as mãos sobre o joelho.
-- Não, só ouvi boatos sobre ela. Por quê? - Rafaela achou estranho o interesse do amigo na filha do patrão.
-- Jorge me chamou hoje em sua sala para uma conversa, ou melhor, para me fazer um convite tentador - Rafaela fez um sinal com a cabeça para que continuasse - A menina vai comprar uma boate GLS que fica no Leblon e como ela é inexperiente e muito cabecinha dura ele me indicou como consultor.
-- Interessante. E por que você? - Gostava muito de Jorge não queria que ele entrasse em uma furada. Todos comentavam que a menina era mimada, irresponsável e vivia arrumando confusão.
-- Segundo ele, porque confia em mim, porque a filha é um problema, porque ela é expert em falir negócios, porque ela é lésbica, porque a boate é GLs e porque sou bicha.
-- Ele falou isso? - Estava pasma Eduardo não era disso.
-- Menos o porquê eu sou bicha, mas claro que pensou isso também.
-- Você vai aceitar Jorge? - Levantou do sofá foi até a bolsa e pegou o estojo de maquiagem - Vou retocar a maquiagem, pode continuar.
-- Claro que vou aceitar, estou até pensando em mudar meu nome pra Priscila, Jorge é muito forte - brincou.
-- Fala sério, já ouvi falar horrores dessa garota Jorge, a Débora a chama de marginalzinha.
-- Não dê ouvidos á Débora ela não é flor que se cheire, não esqueça que ela é homofóbica. A menina é só mimada demais e geralmente as sapatas são legais. Se ela não me respeitar tiro o salto e jogo na cabeça dela. Meu Deus, que cor divina desse batom.
-- Não se empolga você ainda trabalha aqui - tomou o batom da mão de Jorge.
-- Vai sair? - Olhou para amiga que agora arrumava o cabelo em frente ao espelho.
-- Tenho uma reunião com o engenheiro Assunção - gostava de comparecer às reuniões bem apresentável, geralmente funcionava, os marmanjos ficavam babando e Rafaela se divertia muito com isso.
-- Poxa, o mala do Assunção não merece tudo isso - beijou Rafaela no rosto - Vou indo tenho muito que fazer.
-- Me liga para combinarmos algo - fazia algum tempo que não saiam, seria o momento ideal já que Kenedy estava viajando.
-- Te ligo sexta então. Beijos, beijos, beijos - da porta jogou vários beijos e saiu.
Eduarda entrou correndo na cozinha e encontrou Bárbara envolvida em separar algumas correspondências.
-- Bába diga um ou dois - falou ofegante
-- Dois - Bárbara respondeu sem entender o motivo da pergunta.
-- Você é demais - agarrou a empregada e deu beijos por todo o rosto.
-- Para Duda olha o respeito não tenho mais idade pra essas brincadeiras - voltou a separar as correspondências.
-- Sabe bába eu acho que você fica excitada quando te agarro - pegou um suco na geladeira e abriu.
-- Eu não acredito que estou ouvindo isso Duda -- falou indignada - Você não deveria falar essas coisas para mim, sou como uma mãe para você.
-- Eu acho oras e sempre gostei de mulheres mais velhas, você ainda dá um belo caldo ouviu? - Levou um, dois, três tapas pelo corpo e levaria mais se não tivesse corrido ao redor da mesa.
-- Era pra ser um elogio Bába - falou ainda com medo.
-- Mas saiu como ofensa sua safada, vem cá me dá um beijo, mas agora direitinho sem palhaçada - abriu os braços para ela.
-- Tá, mas não me bate - Bárbara á beijou com carinho, adorava aquela menina como se fosse sua filha.
-- Mas o que significa escolher entre um ou dois? - Perguntou carinhosa.
-- Vou sair só não sabia para qual boate iria. Agora já sei, vou pra opção dois a Supra.
-- Aquela boate no Leblon? - Pegou a caixa de suco vazia que Duda fazia de bola e jogou no lixo.
-- A minha boate, vou comprar - falou ressaltando o, minha boate e dançou imitando Carlinhos de Jesus.
-- Palhaça - balançou a cabeça.
-- Meninas do Rio me aguardem Hu, Hu --. Jogava beijos pra torcida.
-- É pra isso que você quer comprar essa boate Duda? Pra pegar meninas?
-- Também bába, por outro lado quero ser a maior promotora de eventos do país, vou trazer os melhores DJs do mundo. Você vai ver e as meninas que eu vou pegar serão consequências do sucesso e da fama. Quatro por semana? Talvez cinco? - Colocou a mão no queixo como se estivesse na dúvida.
-- Meu Deus, criei um monstro - Bárbara fez sinal da cruz.
-- Lembra-se do filme, A Experiência, bába? Linda por fora um monstro por dentro, pois é sou euzinha - bateu três vezes no peito.
-- Eu não sei por que perco o meu tempo conversando contigo Duda, só fala besteiras - deu as costas e saiu em direção à sala com Duda lhe seguindo.
-- Também te amo bába. O papo tá bom, mas preciso ir me produzir, ficar maravilhosa para as minhas gatas. Fui - deu um beijo em Barbara e ia saindo quando ouviu a governanta chamar.
-- Duda meu amor, você tem carregado a bombinha sempre contigo?
-- Tenho Bába, pra todos os lugares, somos inseparáveis, não se preocupe - Eduarda é asmática e Bárbara já havia presenciado crises tão fortes na garota, que tinha pavor só de imaginar a menina sem a bombinha em um momento como esse.
Fim do capítulo
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Maria Flor
Em: 23/09/2015
Baladeira asmática? Tem que dar muita sorte em encontrar uma boate realmente livre de fumaça, hahaha.
Tou gostando da história, Vandinha, e adorando a Duda!
Lindo nome, linda personalidade, linda de corpo, hehe. Linda Duda.
Beijo, querida!
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