CapÃtulo 1
CONSTRUINDO O AMOR -- CAPÍTULO 1
Com passos rápidos Eduardo caminhava pela mansão em direção à sala de estar, era lá, desde a morte da esposa, que fazia sozinho a sua refeição matinal.
-- Bom dia bába - bába é o apelido de Bárbara, governanta dos Jeser há vinte anos. O apelido carinhoso foi dado pela pequena Eduarda assim que começou a pronunciar as primeiras sílabas.
-- Bom dia Sr. Eduardo - serviu o patrão com uma fatia de bolo de milho e uma xícara de café com leite.
-- Onde está Eduarda? - Pegou o jornal e começou a folhear até parar na página de economia.
-- Dormindo, chegou quase pela manhã e provavelmente só levantará lá pelas três da tarde.
-- Pra variar não é bába? Humm, esse bolo está uma delícia - Bába lhe serviu de mais um pedaço.
A mulher nada comentou, Eduardo falou só para provocar Bárbara, sabia que Eduarda era o xodó dela e por mais que a menina aprontasse a governanta sempre a defendia. Pediu licença e saiu bicuda em direção à cozinha.
Eduardo Jeser é presidente de uma grande empresa do ramo da construção civil. Herdou de seu pai uma pequena construtora e através de muito trabalho e conhecimento no ramo, transformou no que é hoje "A poderosa Jeser Construtora". Com vinte e cinco anos casou-se com Jeniffer, uma bela loira de olhos verdes filha de imigrantes alemães que trouxeram consigo uma imensa fortuna e se estabeleceram na cidade de Teresópolis, a alemãzinha foi o grande e único amor na vida do empresário. Era grande a paixão, mais forte era o vínculo. Não havia dúvidas de que ia durar para sempre. Eles se casaram em uma bela cerimônia. Ali se iniciou uma linda e eterna lua-de-mel, se entendiam e viviam na total sintonia. O lar era para muitos, um pedaço do céu e era pequeno para tanto amor que tinham. Dessa união nasceu Eduarda, menina linda cópia fiel da mãe e que era chamada por todos como a princesinha dos Jeser.
Em um feriado de corpus Christi Jeniffer resolveu visitar seus pais na cidade vizinha de Teresópolis, no retorno do passeio seu carro colidiu de frente com outro carro que trafegava na contramão da rodovia Rio - Teresópolis conduzido por um motorista embriagado. A notícia da morte de Jeniffer abalou de tal forma aquele homem que nunca mais se recuperou do golpe, daquele dia em diante viveu apenas para o trabalho e para sua pequena filhinha.
Felizmente existia Bárbara, a jovem babá, que tomou para si a responsabilidade de ajudar o empresário a criar Eduarda que tinha apenas dois anos na época da tragédia. A menina cresceu mimada pelo pai, avós e empregados da mansão. Tudo o que o dinheiro poderia comprar estava ao alcance da menina dos cabelos loirinhos.
Duda, como todos a chamam, se tornou uma bela adolescente, olhos incrivelmente verdes, cabelos loiros, corpo sarado, surfista e esbanjava simpatia. Lésbica assumida, desejada tanto por homens como mulheres. Hoje com dezoito anos, ainda não havia se apaixonado por ninguém, só queria saber de curtir.
-- Duda sua safada, sem-vergonha, tarada - gritava Aline descontrolada.
-- Calma aí Aline foi ela quem me agarrou. - Duda defendia-se.
-- Duda eu sei que não somos mais namoradas, mas podia me poupar dessas cenas em público, todos olham pra mim com pena, isso é muito chato.
-- Manda eles pra pqp japa, somos amigas agora e eu te amo como tal, você deveria dar uns pegas em alguém de vez em quando né, aí essa galera desencarnava de você.
-- Não tô a fim de me amarrar, por enquanto vou ficar só na curtição - sentou na cama encostada na cabeceira.
-- Sempre que você estiver sentindo-se só pode me chamar Aline, eu faço você goz*r bem gostoso - jogou-se sobre a japa e mordeu o seu pescoço.
-- Ai Duda. Tá pensando que sou o que hem? - Empurrou a loira de cima de si fazendo com que ela caísse no chão.
-- Quanto mais você me agride mais eu fico com tesão - levantou do chão e voltou a agarrar Aline que se defendia como podia.
-- Parece que você tem dez mãos garota - A japa levantou da cama e correu para longe da loira.
-- Seria bom demais. Eu poderia passar a mão nos seus seios, nos seus cabelos, na sua bunda, na sua coxa, tudo ao mesmo tempo e ainda...
-- Chega Duda, você não presta mesmo, terminou comigo e agora fica aí querendo essas trans*s sem compromisso - fazia aproximadamente um mês que haviam de comum acordo terminado o namoro, desde então mantinham uma amizade colorida, sem cobranças, sem promessas como Eduarda desejava. Aline pelo contrário ainda amava a garota e sofria com essa situação, mantinha esse relacionamento louco por saber que seria bem pior à distância, cada vez que a encontrava nas baladas estava nos amassos com uma garota diferente.
-- Escuta essa Japa:
Um garoto de 15 anos chega à farmácia e pede uma camisinha.
O farmacêutico olha para o rapaz com um olhar surpreso.
-- É que eu vou jantar na casa da minha namorada, justifica-se o garoto, e nunca se sabe.... De repente, pode rolar um clima.
O farmacêutico entrega o preservativo para o rapaz, este paga e vai embora. Cinco minutos depois está de volta e pede outra camisinha.
-- Lembrei que a prima da minha namorada também vai estar lá e ela é muito gostosa. Talvez ela se interesse por mim... Só por precaução acho melhor levar mais uma!
O rapaz embolsa a segunda camisinha, paga e vai embora. Logo depois está de volta.
-- Sabe moço! Eu estive pensando e acho que seria melhor eu levar mais uma só por precaução. Eu ouvi dizer que a mãe dela é tarada por rapazes novos e, quem sabe, ela também se interesse por mim.
-- À noite, no jantar com a namorada, a família toda reunida à mesa, o rapaz permanece o tempo inteiro no mais absoluto silêncio. Ao final do jantar, a menina se vira para o rapaz e cochicha:
-- Puxa querido! Você não falou uma palavra! Não sabia que você era tímido!
-- E eu também não sabia que o seu pai era FARMACÊUTICO!!!!!!!!!
-- Mais ou menos Duda - falou séria, mas depois teve que rir, Duda era a campeã das piadas sem graça, todos riam eram dos gestos e caretas fofas que ela fazia.
-- Vou tomar banho japa, não comi nada hoje, a bába daqui a pouco vem me buscar pela orelha. Espera aí tenho um lance muito show pra te contar - Eduarda estava empolgada com um papo que ouviu no bar da boate na noite anterior e queria contar para Aline à ideia que tivera.
-- Vai lá que te espero - sentou na cama ligou a tv e com o controle remoto nas mãos e sem muito interesse, ficou passeando pelos canais.
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Rafaela Dumont é uma arquiteta cria da casa, com vinte e oito anos é a funcionária de confiança de Eduardo Jeser, está na construtora desde o estágio da faculdade, logo após se formar foi contratada e no momento é responsável por todo o setor de arquitetura.
-- Bom dia Rafaela - falou Camila toda sorridente.
-- Bom dia Camila - Rafaela também sorriu simpática.
Camila é a secretária e amiga de Rafaela, praticamente começaram juntas na empresa, criaram um vínculo muito forte de confiança e amizade.
-- Sr. Eduardo já chegou? - Andava em direção à sala sendo seguida por Camila com a agenda nas mãos.
-- Acredito que sim Rafaela, já vi muita movimentação por aqueles lados, mas posso confirmar para você - sentou na cadeira a frente de Rafaela.
-- Faça isso, mas depois, agora quero que me passe os compromissos do dia - olhou séria para a secretária esperando a avalanche de informações que Camila lhe passaria.
-- Então vamos lá - Camila leu todos os compromissos do dia, haviam reuniões agendadas para quase toda à tarde, a manhã estava reservada para o Sr. Eduardo. O dono da empresa sempre a chamava uma vez por semana para analisar projetos e conversar. Essas conversas eram importantes para Rafaela, aprendia muito com o jovem empresário que parecia ter prazer em lhe ensinar os macetes e as novidades da arquitetura moderna. Muitos anos com essa convivência experiente renderam para ela conhecimentos imensuráveis tanto na arquitetura como na administração.
Após a saída de Camila serviu-se de um café e ficou olhando a fumaça dançando no ar. Pensou em como essa empresa é importante para ela, sentia-se como se estivesse em sua própria casa. Eduardo para ela era como um pai pra quem jurou internamente nunca abandonar ou decepcionar.
Após uma hora de trabalho em seu projeto atual, foi interrompida por batidas na porta. Camila pediu licença entrou e foi até a mesa de projetos onde Rafaela estava.
-- Rafaela o Sr.Eduardo está livre. Los peruanos se han ido - brincou falando em espanhol.
-- Ya voy - devolveu a brincadeira. Saíram rindo da sala.
Débora secretária de Eduardo estava envolvida com alguns papéis e nem percebeu a sua chegada, parou em frente à mesa e tocou com as pontas dos dedos para chamar a atenção da mulher.
-- Bom dia Rafaela, deseja algo? - Perguntou com o mau humor que lhe era peculiar. No começo Rafaela achava que o problema era somente com ela, mas com o passar do tempo percebeu que Débora era grossa com todos. Eduardo a mantinha por tantos anos devido a sua inegável competência.
-- O Sr. Eduardo está me aguardando - respondeu também da mesma forma pouco amável. Quem ela pensava que era? - Indagou-se Rafaela.
-- Pode entrar, ele pediu que assim que chegasse fosse direto - falou mostrando descaso.
-- Obrigada - mal-amada - riu por dentro de seus próprios pensamentos.
-- Bom dia Sr. Eduardo - dirigiu-se até a enorme mesa do chefe e estendeu a mão para cumprimenta-lo.
-- Bom dia minha querida Rafaela - levantou da poltrona e recebeu a funcionária com um sorriso largo e um aperto de mão firme - Por favor, sem o Senhor Rafaela. Sente-se, aceita um café, um suco ou uma água? -- perguntou gentilmente.
-- Um café seria bom - sentou e aguardou Eduardo ligar para Débora e solicitar o café. Até imaginou a cara de raiva da secretária por ser tirada de seus afazeres.
-- Como de costume Rafaela reservei essa manhã para nós. Veja que lindo - apontou para uma pilha de papéis que estavam sobre a mesa - Vamos começar?
-- Não vejo a hora - sorriram juntos e começaram a avaliar os contratos. Eduardo fazia questão de analisar cada um de maneira minuciosa e sempre com a opinião da jovem arquiteta.
Como previsto finalizaram o trabalho por volta do meio dia. Rafaela saiu da sala morta de fome, por diversas vezes teve a impressão de que Eduardo ouvira o ronco de sua barriga, corava só de pensar na possibilidade. Passou por sua sala pegou a bolsa e foi almoçar em um restaurante próximo à construtora.
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Rafaela estava sentada na sacada de seu apartamento tomando vinho e desfrutando da visão privilegiada que tinha da praia do Leblon. Era uma noite quente, as pessoas caminhavam animadas pelo calçadão, os bares estavam lotados de jovens bebendo e fazendo algazarra. Rafaela gostaria de ter esse pique, no final do expediente o único pensamento que lhe dominava era ir correndo para casa tomar um belo banho e cama.
Estava tão perdida em pensamentos que se assustou com o som da campainha. Apenas três pessoas tinham autorização para subir sem precisar anunciar: Kenedy, Jorge e Claudia e era ela quem estava parada na porta.
-- Pensei que não fosse abrir a porta para essa pobre coitada - fez cara de tadinha.
-- Claudia querida, que saudade -- deu um abraço demorado na amiga - Pobre coitada é? Feliz é você viajando por esse Brasil lindo, cada mês uma cidade diferente. Não é pra qualquer um.
-- Também estava morrendo de saudade, Rafa e com relação as minhas viagens são todas a trabalho, hotéis horríveis, reuniões estressantes e o salário desse tamainho - fez o gesto típico com os dedos.
-- Sinto muito Claudinha, por enquanto não temos nada lá na empresa que corresponda ao seu perfil profissional, mas, quem sabe no futuro né? - Pegou a amiga pelas mãos e a levou até o sofá.
Claudia e Rafaela são catarinenses, saíram da cidade de Joinville com vinte anos. Decidiram tentar a sorte no Rio após terem passado no vestibular da UFRJ, Rafaela para arquitetura e Claudia para Direito. Como eram ótimas alunas ambas logo foram chamadas para estagiar em empresas. Depois de formada Rafaela realizou seu grande sonho de ser efetivada na Jeser, já Claudia não teve a mesma sorte e após muita procura conseguiu uma vaga no jurídico de uma empresa de RH.
-- Não se preocupe com isso, reclamo de barriga cheia, o salário não é dos melhores, mas dá pra me manter, mas vamos falar de você agora, onde está o mala do teu namorado? - Mudou de assunto, sentia que a amiga ficava triste com a insatisfação profissional e financeira dela.
-- Kenedy está viajando, foi para Manaus e vai ficar quinze dias por lá, esse tempo que ele fica fora é bom para nós dois, dá tempo de esfriar a cabeça e renovar a paciência - tentou esconder o desanimo que lhe abatia com esse relacionamento entediante, mantido apenas pelo companheirismo e comodismo.
-- Rafa você não ama esse cara, eu vejo isso nos seus olhos - aproximou-se mais da amiga no sofá e segurou-lhe as mãos - Não estrague a sua vida com algo sem futuro, ou pior ainda, com um futuro desastroso. Você é linda tem um ótimo emprego é independente, deveria estar curtindo a vida com os amigos e não entocada nesse apartamento torcendo para que as viagens do seu namorado sejam longas - já havia dado o mesmo conselho tantas vezes para a amiga que mais parecia um script de novela.
-- Não sei Claudia, tenho medo. Ele me dá segurança, me faz acreditar em um futuro tranquilo, casamento, filhos, passeio no final de semana, viagem para Disney, Beto Carreiro ou visitar a sogra no interior - parou para pensar - o último a gente pode excluir da lista - riram do comentário.
-- Tudo isso você poderá fazer com alguém que você realmente ame, dê tempo ao tempo. Se permita amar e ser amada - olhou para Rafaela e viu duvidas em seu semblante, não seria nada fácil a arquiteta libertar-se desse encosto chamado Kenedy.
-- Que tal uma pizza e um bom vinho para acompanhar? - Rafaela resolveu mudar de assunto.
-- Seria ótimo. A de sempre? - Para Claudia Pizza era tudo de bom procurava não comer com muita frequência por medo de engordar, mas sempre que encontrava a amiga não resistiam à tentação.
-- Com certeza - Rafaela concordou já com o telefone na mão para fazer o pedido.
Fim do capítulo
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LavinneBella
Em: 15/10/2015
Tô amando, ficou interessantissimo esse casamento arranjado !!!
torcendo para que Eduarda se ajeite.
com cólicas aqui na espera.
Parabéns Autora.
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Maria Flor
Em: 23/09/2015
Vandinha, confessa que tu adora piadas, hahahahahahahahahaha.
Essa do farmacêutico eu já conhecia. Morri de rir a primeira vez que ouvi. Pela Aline, parece que gosto de piada sem graça :(
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Nana2014
Em: 15/09/2015
Eba... Parabéns Vandinha...... Espero que venham outras lindas histórias.... Vc tem uma delicadeza ao escrever que comove e nos faz entrar na história. Nos personagens... Arrasando...
Parabéns mais uma vez...
Bjs
Resposta do autor:
Obrigada Nana. "Quem escreve cria um castelo, quem lê mora nele. Monteiro Lobato
Fique com Deus.
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