Alice estava sentada de frente para Joene sem entender o motivo de tantos atrasos. Percebeu que Joene não estava nem um pouco confortável com a situação, então decidiu acabar com aquilo logo.

-- Espero que saiba que terá que ter uma boa explicação sobre esses atrasos. - disse ela a Joene.

Joene abaixou a cabeça como quem pensava se contava ou não o real motivo de seus atrasos.

Após alguns segundos de espera, quando Alice ia começar a falar, viu que Joene limpar as lágrimas que escorriam de seu rosto e começou a falar:

-- Dona Alice não há motivo que justifique os meus atrasos. Mas não me mande embora, por favor? - a suplicou com novas lágrimas rolando em sua face.

-- Eu tenho me atrasado, pois tenho tirado a madrugada para estudar. É o único momento que tenho para fazer isso. - disse ela com sinceridade.

-- Posso saber para o que está estudando? - perguntou Alice querendo saber o motivo para tudo aquilo.

-- Estou inscrita em um concurso para fazer um curso em Paris com o Chefe Nicolas Joan e o teste será em duas semanas. - disse ela com medo do que Alice diria a ela.

-- Bom Joene se é esse o caso, gostaria de saber por quanto tempo ficará fora se passar no concurso? - Perguntou Alice.

-- Se eu passar ficarei fora por um período de três meses. - respondeu ela com a cabeça baixa e já mais calma.

-- Eu acho muito bom você fazer cursos para aprimorar seus conhecimentos, e conheço muito bem os métodos do Chefe Nicolas Joan. Só não consigo entender o motivo de você não ter vindo me contar que estava estudando para isso, e se está precisando de ajuda, por que não me pediu? - disse Alice seria mas em tom de tranquilidade. Sabia que nunca havia dado esse tipo de liberdade a nenhum dos funcionários, e imaginou que esse seria o motivo de Joene não ter dito nada antes. Alice nunca tolerou atrasos, mas com Joene não teve a mesma postura que sempre mantivera com os outros funcionários.

-- Eu não queria dizer nada sem antes ter certeza de que iria participar do concurso. Alias ainda não tenho. Tenho tido dificuldades com as novas receitas que estou tentando criar e isso tem me desanimado um pouco. - foi sincera.

-- Posso até lhe ajudar com suas receitas, se você assim desejar. Sei que é difícil essa parte de criar novos pratos, principalmente quando estamos no começo da carreira. Já passei por esse período e sofri muito para chegar onde estou. Mas vou querer pontualidade da sua parte com relação aos horários de serviço - disse ela séria, mas com sinceridade. Alice sabia bem que esse momento da carreira era muito complicado e se sentiu na obrigação de ajudar Joene a passar por esse momento. Mesmo sem saber o motivo de se sentir assim.

Joene com uma cara de "Não acredito estar ouvindo isso!", abriu um sorriso dizendo:

-- Muito obrigada Dona Alice. Prometo não me atrasar mais. Isso significa muito para mim. - disse ela com muita gratidão e admiração por Alice e sem acreditar em tudo que acabara de ouvir.

Alice vendo a cena, não percebeu que em sua face se esboçava um sorriso.

Joane ao ver o sorriso de Alice ficou enfeitiçada. Olhava Alice com brilhos nos olhos de tanta felicidade e não conseguia parar de agradecer Alice e a Deus pelo que estava acontecendo.

Quando Alice se deu conta que estava sorrindo, tornou a ficar séria.

-- Bom, ficamos assim. Mais tarde passe aqui para combinarmos um horário para que eu possa te ajudar. Agora volte aos seus afazeres. - disse ela vendo que dali a duas horas o restaurante iria abrir.

-- Obrigada Dona Alice! Muito Obrigada mesmo! Mais tarde passo para combinarmos o horário. - disse Joene sorridente e muito feliz, levantou e saiu pela porta em direção à cozinha pensando que a “Dama de Gelo” não era tão gelada quanto todos pensavam.

Alice ficando no escritório começou a se perguntar por qual motivo estava se sentindo feliz, se sentindo bem ao ver Joene feliz com sua ajuda. Realmente em meio a tanta bagunça seu coração começava a bater diferente, e sem se dar conta do que estava acontecendo, sentiu que sua vida voltava a ter algum motivo para sorrir depois de tanto tempo.

-- "Só posso estar louca!" - disse sorrindo, deixando esses pensamentos de lado e ligou seu computador para resolver alguns problemas pendentes do restaurante.

****

Joene ao chegar sorridente na cozinha deixou todos sem entender nada. Todos achavam que hoje seria seu último dia no restaurante, e de repente Joene entra sorrindo na cozinha. Todos se perguntavam o que havia acontecido naquele escritório. Ao observar que todo a olhavam ficou seria e foi preparar as coisas para abertura do restaurante.

Pedro sem entender o que tinha acontecido ficou irritado e saiu da cozinha cuspindo fogo. Não acreditava que depois de tantos atrasos sem justificativa não foram motivo pra que Joene fosse demitida. Foi em direção ao salão e chegando perto de Lavínia que estava terminando de preparar os talheres, disparou a falar:

-- Você acredita que depois de mais de uma hora no escritório da Dama de Gelo a Loira Azeda da Joene ainda voltou sorrindo que nem uma iêna para a cozinha? - disse ele inconformado.

-- Sério? - disse ela também sem acreditar. - Mas ela não disse nada? - perguntou curiosa.

-- Não! Ela percebeu que estávamos todos olhando e foi para a bancada dela. - disse ele incrédulo cruzando os braços.

Quando Lavínia ia dizer alguma coisa, Pedro ouviu a Dama de Gelo perguntando por ele na cozinha, e saiu em passos largos seguindo em direção a cozinha.

Chegando à cozinha viu a Dama de Gelo séria em sua bancada que ainda não estava arrumada para a abertura do restaurante, ele parou em sua frente já sabendo que iria levar uma boa chamada na frente dos colegas de serviço.

Alice muito irritada com o desleixo do funcionário perguntou:

-- Posso saber por qual motivo sua bancada ainda não esta arrumada Pedro? E o que você estava fazendo no salão? - disparou ela.

Pedro engoliu em seco, e sem ter alguma desculpa para dar, pediu desculpas e virou-se para começar a arrumar sua bancada.

Alice ficou parada em sua frente esperando que Pedro desse um motivo para tudo aquilo.

Desde que tinha dado uma oportunidade a Pedro, ele mudou muito. Quando Juliene saiu do restaurante para ir estudar fora do país, ele achou que seria sua oportunidade para subir de cargo. Mas ela sabia que ele ainda não estava preparado para ocupar a bancada de assados. Com a indicação de Luiz, contratou Joene, o que fez essas atitudes piorarem muito. Essa não e a primeira vez que Pedro comete esse erro e isso já estava passando dos limites. Nunca havia feito nada mais que chamar a atenção, mas agora teria que tomar uma decisão.

-- Pedro arrume sua bancada, e ao final do expediente de almoço quero você em minha sala. - falou Alice a Pedro e saiu em direção ao salão principal para ver se já estava tudo certo para a abertura do restaurante.

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Como o horário do almoço fluiu bem depois que Luiz ajudou Pedro com sua bancada. Não houve nenhum problema com atrasos nem reclamações.

Alice vendo que no salão só haviam três mesas ocupadas decide deixar a cozinha aos cuidados de Luiz e ir para o escritório.

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O Portella's Grill foi inaugurado há cinco anos, logo após Alice voltar da França onde morou por quatro anos para estudar e trabalhar com o Chefe Oliver Torres, um dos mais renomados na França. Luiz foi o único funcionário da primeira equipe que permaneceu no restaurante. Os outros haviam saído do restaurante com um ano e meio há dois de serviço por conta de desentendimentos com Alice, a não ser Juliene que só saiu para ir para Itália estudar culinária há um ano.

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Chegando ao escritório pensava em que atitude tomaria com Pedro. Não podia deixar aquilo passar impune mais uma vez, e não podia aceitar que ele tivesse aquela postura diante dos outros funcionários. Aquele era Seu restaurante e não iria deixar que essas atitudes de Pedro prejudicassem o atendimento aos clientes e sujasse o nome do restaurante.

Passado dez minutos, seu celular começa a vibrar. O visor mostrava uma chamada. Era Gabrielle.

Alice não queria atender. Não estava com cabeça para mais uma discussão, e ainda mais, estava trabalhando.

Pegou o celular e o desligou e guardou na gaveta de sua mesa rezando e pedindo a Deus que Gabrielle não ligasse ou viesse ao restaurante.

Encostou a cabeça no encosto da cadeira olhando para o teto, e se lembrou de tudo que aconteceu em sua vida de um mês para cá, e novamente uma única lágrima escorreu de seus olhos.

Manteve-se ali pensando por algum tempo que nem ela soube determinar, até que ouviu a voz de alguém gritando no corredor. Uma voz que para ela não era desconhecida gritava exigindo a presença dela no corredor. Pareceu reconhecer a voz de Gabrielle, mas não queria acreditar que fosse ela. Não queria acreditar, que mesmo depois de tanto pedir a ela que não viesse ao restaurante, ela teve a coragem de aparecer por lá.

-- “Só posso estar tendo um pesadelo!” – pensou.

Levantou furiosa da cadeira, abriu a porta e viu a cena que nunca esperava ter de ver em seu restaurante. Luiz e Joene segurando Gabrielle para que ela não passasse pelo corredor. Os outros funcionários observavam a confusão de longe. Não quiseram se intrometer, até porque nunca na história do restaurante aquilo havia acontecido.

Alice se aproximou da confusão e olhando nos olhos de Gabrielle. Estava incrédula com a gritaria e a confusão que ela estava causando.

-- Que diabos esta acontecendo aqui? – perguntou a Gabrielle que tentava se desvencilhar de Luiz e Joene.

Fim do capítulo