Pietra desfez o abraço e enxugou o rosto.

                - Muito obrigada pelo apoio, Clarice. Você está sendo um anjo pra mim. Hoje eu estava despedaçada, mas me sinto um pouco melhor.

                - Ain, guria, não fiz nada demais. Só não acho justo você ficar guardando sofrimento dentro desse seu coraçãozinho.

                A morena sorriu tristemente.

                - Obrigada mesmo assim. Sou nova aqui no Rio, ainda não conheci ninguém. Mamãe e eu nos mudamos por causa do tratamento dela. Foi muito bom te encontrar e poder conversar um pouco. Se não for incômodo, gostaria de fazer isso mais vezes.

                Clarice abriu um enorme sorriso, enquanto sentia seu coração acelerar. Apesar de ver muita tristeza naqueles olhos castanhos, sentia-se feliz por poder ficar mais perto da jovem. Não entendia bem a razão do seu corpo estar reagindo daquela forma, mas não queria se preocupar com isso naquele momento. O importante é que mais uma vez seria útil na vida de alguém.

                - É claro que vamos nos encontrar mais vezes. Que tal fazermos um passeio pela cidade pra você ir conhecendo todos os lugares bacanas?

                Antes que Pietra pudesse responder, sua mãe voltou fracamente para sala, fazendo com que a jovem levantasse de supetão para segurá-la.

                - Como se sente, mamãe? – perguntou, preocupada.

                - Estou bem, filha. Você sabe que a quimio me deixa um pouco sonolenta.

                - Tá bom. Vou te levar pra casa. – decidiu, acariciando o braço de sua mãe. – Clarice, muito obrigada pela companhia. A gente se encontra novamente. – agradeceu, olhando pra mais nova.

                A loirinha ficou sentada sem conseguir reagir. Assim que Pietra levantou, finalmente reparou no corpo da jovem. A calça jeans justinha valorizava suas coxas e seu bumbum, mostrando que ela tinha um lindo corpo. A camiseta básica branca mostrava um par de braços bem delineados e o par de all star branco, dois pés pequeninos.

                - Meu Deus, você é linda! – sussurrou ainda em transe vendo a outra partir.

                Quando a porta finalmente fechou, Clarice caiu em si e saiu em disparada atrás da outra jovem.

                - Pietra! – gritou, fazendo com que a outra parasse no corredor e todos a sua volta lhe olhassem. Sem se importar, correu até a jovem. – Você esqueceu de me passar o seu número. Como vou te ligar? – e voltando-se pra mãe da morena. – Ah, me desculpe, meu nome é Clarice. Fiz companhia pra sua filha enquanto ela lhe esperava.

                Dona Regina olhou para menina baixinha em sua frente e sorriu. Sua filha sempre arranjava amigos onde fosse. Provavelmente pelo fato dela ser bastante extrovertida. Foi muito bom verificar que ela já tinha feito uma nova amizade. Desde que se mudaram, Pietra só saía de casa para ir ao hospital ou ao mercado, permanecendo o resto do tempo sempre em casa.

                - Prazer, minha filha, meu nome é Regina. Por que não aparece lá em casa qualquer hora dessas? Pietra está ficando velha, nunca tem vontade de fazer nada. Vai ser bom ter uma companhia jovem. – comentou fazendo a loirinha sorrir.

                - Mamãe! – repreendeu a garota. – Quer me matar de vergonha? O que ela vai pensar de mim? – Desculpa, Clarice, são os efeitos do tratamento que fazem minha velha mãe falar demais. – comentou, sorrindo timidamente.

                - Velha nada, sou muito conservada, sua desnaturada. Você que não parece ter 25 anos. Na sua idade, eu estava sempre passeando com minhas amigas, namorando bastante, querendo conhecer o mundo. Você só... – não conseguiu terminar a frase. Sentia-se muita cansada e fraca.

                Pietra a segurou mais forte.

                - Desculpa, Cla. Preciso levá-la logo pra casa. Eu não lembro de cabeça o número do meu celular, como o peguei há pouco tempo, ainda não consegui gravar. Mas estarei de volta semana que vem aqui no hospital e te passo. Fica com Deus. E obrigada, mais uma vez.

                Sem esperar resposta, a jovem seguiu seu caminho amparando sua mãe.

                “Ela me chamou de Cla. Ninguém nunca me chamou assim” pensou sorrindo. Involuntariamente, começou a seguir as duas mulheres que caminhavam em direção ao estacionamento.

                - Pietra! – gritou novamente, fazendo com que mãe e filha parassem. – Me deixa te ajudar a levar a dona Regina pro carro.

                A morena sorriu em agradecimento e Clarice pegou o braço livre da mãe da jovem. Abraçadas, as três caminharam em direção ao carro.

                Após acomodar dona Regina no banco de trás e fechar a porta, Pietra voltou-se para a loira.

                - Nem sei como te agradecer, anjo. Você aí sofrendo pelo seu primo e ainda ajudando uma desconhecida. Se o mundo tivesse mais pessoas como você, as coisas seriam muito mais fáceis. – sorriu, fazendo a  outra sorrir também.

                - Deixa de bobeira, guria. Não precisa agradecer. Faço de coração. Além do mais, adorei sua mãe. Ela é muito engraçada.

                Pietra corou.

                - Ela adora me fazer passar vergonha, isso sim. Sobre as coisas que ela disse...

                Clarice a interrompeu colocando um dedo na boca da outra.

                - Não precisa me explicar nada. Vamos ter muito tempo pra você me contar tudo. – falou sorrindo e olhando pro dedo encostado na boca da outra.

                - Er... Eu preciso ir...

                - Tudo bem. – Clarice afastou-se da mais velha. – Você pode anotar o número do meu celular? – perguntou timidamente.

                - Claro. Anota aqui no meu celular. – disse entregando o aparelho.

                A loira anotou seu número e tirou um selfie pra salvar no seu contato.

                - Assim quando eu te ligar, vai aparecer a minha foto. – explicou pra mais velha. Aí você não vai esquecer do meu rosto quando nos encontrarmos novamente.

                Pietra sorriu.

                - Anjo, eu jamais vou esquecer o seu rosto.

                Clarice sentiu um frio no estômago e seu coração acelerou no mesmo instante. Sem conseguir evitar, abraçou a mais velha, depositando um beijo demorado em sua bochecha.

                – Agora preciso ir também. Deixe um beijo pra sua mãe e fale que vou visitá-la em breve. – comentou ao perceber que a senhora dormia dentro do carro. - Não esquece de me ligar. Estou esperando. – falou olhando-a fixamente para depois se afastar.

                Ao ver que a outra virara de costas e voltava pro hospital, a mais velha levou sua mão a bochecha que a mais nova beijara demoradamente.

                - Não vou esquecer, anjo – falou baixinho.

Fim do capítulo