Capítulo 3
Era apenas um jantar despretensioso com amigas muito queridas, na verdade as únicas que sabiam sobre o caso entre mim e Mariana. Susana e Clarisse estavam juntas há cinco anos, e eu conhecia Clarisse há uns dezesseis. Tínhamos namorado na época da faculdade, mas descobrimos que éramos muito mais amigas do que amantes, e por este motivo decidimos de vez pela amizade, que foi se aprofundando com o passar do tempo.
Sisse, que era como eu a chamava, também sabia tudo sobre Clara, já que além de amiga era minha única confidente, sempre acompanhando meus casos, meus tropeços, erros e acertos, as paixonites bobas e toda a eterna bagunça da minha existência complicada. Me apoiando se fosse preciso, brigando quando necessário, ou dando colo quando eu entrava na fossa. Eu a tinha como a uma irmã, e por isso jantares como aquele eram sempre muito bem-vindos, momentos de diversão, relaxamento e bom papo. E depois de uma tarde maravilhosa, era tudo o que eu precisava para encerrar a noite em grande estilo. Estava tão animada, que acabei me esquecendo da noite anterior e em consequência de Clara.
Quando passei para pegar Mari, percebi pelo jeito que ela estava vestida, que talvez nem terminasse a noite em minha casa, e isso me deixou ainda mais empolgada. Era muito bom passar a noite com ela dormindo em meus braços.
O restaurante era bem aconchegante, fomos as primeiras a chegar, o clima estava gostoso, pedimos vinho, começamos a conversar, flertamos e brincamos já imaginando como seria o final da noite, logo depois as meninas chegaram. Susana estava toda feliz pois uma velha amiga de infância, que não via há muitos anos, tinha entrado em contato dizendo que estava de volta ao Brasil, segundo Suzi essa amiga morava nos Estados Unidos desde que tinha quinze anos. A noite estava muito agradável, colocamos o papo em dia, e eu tinha até me esquecido que outra pessoa estava para chegar. Estávamos no meio do jantar quando Jaqueline, a tal amiga, chegou e para surpresa geral trouxe com ela uma outra pessoa que também havia acabado de voltar à terra natal.
Distraída me levantei e olhei em sua direção e foi nesse momento que o mundo pareceu parar. Quando meus olhos se encontraram com os dela tudo começou a girar ...
- Mãe você vai sair? – Perguntei como quem não quer nada.
- Sim Ana, por quê? – Respondeu enquanto terminava de passar batom.
- E vai aonde? – Continuei com o meu joguinho, já que sabia muito bem onde ela iria pois a ouvira conversar com o meu pai de manhã.
- Na casa de sua tia Yolanda. Ela me convidou para tomar num chá. Porque?
- Por nada, não. Já que estou sem fazer nada não quer que eu vá com você? – Respondi inocentemente levantando os olhos do livro que estava fingindo ler.
- Como?? Eu ouvi direito? Você está querendo ir comigo até a casa da sua tia? Você está doente filha? – Minha mãe arregalou os olhos e colocou a mão em minha testa.
- Para com isso mãe. Engraçado, você vive falando que eu nunca saio com você, mas quando me ofereço age dessa forma! – Retruquei me fazendo de ofendida.
- Desculpe meu amor! É claro que eu quero que vá comigo. Vai buscar um casaco que eu te espero. – Ela estava sorrindo, mas assim mesmo surpresa.
E com toda a razão do mundo, visto que eu jamais proporia essa visita, ao contrário, sempre fugia ou inventava uma desculpa quando ela queria me levar para casa da minha tia, e quando ia era sempre por obrigação e de cara fechada. Porém naquele dia eu tinha intenções escondidas. A verdade é que durante toda a semana não tinha conseguido tirar aquele sorriso da minha cabeça. Por mais que tentasse me concentrar nas coisas que gostava, quando eu percebia estava lembrando dela, do calor do seu corpo quando tinha me abraçado E sequer conseguia entender o porquê. Nunca tinha me interessado de verdade por ninguém, mas alguma coisa naquela menina tinha mexido comigo a ponto de me fazer sentir vontade de vê-la novamente. E isso estava me incomodando, precisava descobrir o que estava acontecendo comigo por isso precisava voltar até lá.
Mamãe estava toda radiante, coitada, com certeza imaginava que eu realmente estava afim de ver minha tia e minha prima, isso me deu um pouco de dor na consciência, mas logo passou. Se ela soubesse que era Clara, que eu iria tentar ver, não estaria tão feliz, ou talvez estivesse, afinal sempre brigava comigo por não ter amigos.
Para minha alegria a sorte me sorriu, assim que chegamos vi Clara sentada na porta de sua casa junto com minha prima Lia, era toda a desculpa que eu precisava para ir direto pra lá. Ao ver que caminhava em sua direção minha prima abriu os olhos de espanto, e logo em seguida deixou bem claro pela expressão em seu rosto que não estava nem um pouco feliz com minha aparição. Nós não tínhamos nada em comum, ao contrário disso, éramos completamente diferentes em tudo, Lia com seu jeitinho de menina mimada, sempre maquiada e emperiquitada enquanto que eu estava mais para um moleque, sempre de calça jeans e camiseta e a cara lavada, por estes e outros motivos nunca fomos próximas. Mas Clara abriu aquele sorriso estonteante e tudo o mais deixou de ter importância para mim. Era por ela que eu estava ali e minha prima que se fodesse.
- Oi Ana Lúcia. Que surpresa boa! – Disse entusiasmada.
- Surpresa mesmo, boa nem tanto. –Retornou minha adorável prima com desdém.
- Oi priminha linda, é um prazer te ver também. Resolvi acompanhar minha mãe, que veio visitar a sua querida mãe. – Retruquei com um sorriso torto.
Ironia era uma arte que eu já dominava muito bem, e jamais deixaria Lia, aquela idiota, ganhar de mim naquele quesito. Ignorando a nossa troca de farpas Clara disse empolgada.
- Que bom que você resolveu vir, assim fica aqui conversando com a gente.
- Com a gente não. Desculpe Clara, mas acho que vou para casa. - Lia retrucou de cara feia me encarando com olhar mortal.
-Poxa Lia, fica com a gente vai ser legal. – Pediu Clara, coisa que eu realmente não desejava que acontecesse.
- Não dá, amiga. Tenho muitas coisas para fazer. A gente se fala mais tarde.
E sem nem mesmo olhar na minha cara ou me dar tchau ela foi embora. Achei foi bom, porque queria ficar sozinha com Clara. Para fazer exatamente o que eu não sabia, mas queria tê-la só pra mim.
- Bom, sente aqui comigo Ana. Podemos conversar. Pena que Lia não pode ficar. - Disse ela batendo a mão no degrau ao seu lado.
Eu titubeei um pouco, afinal estar tão perto dela me deixaria bem perturbada. Mas não tinha outra opção se quisesse conversar e descobrir o que estava me causando essa comichão estranha no corpo.
- Então conte-me as novidades da semana. – Começou ela assim que me sentei.
- Que novidades? – Respondi olhando para ela enquanto enrugava a testa.
- Oras, eu não sei. Se são novidades são coisas que desconheço. – Ela estava zombando de mim.
- Eu não tenho novidades. Sou uma pessoa muito rotineira. Minha vida é bem comum.
- Rotineira com o que por exemplo? Lembre-se que somos pessoas diferentes, a sua rotina deve ser diferente da minha.
- Ué, faço coisas comuns. – Já estava me arrependendo da minha ideia de ter ido até lá.
- Ok, - disse suspirando -, mas eu não te conheço, então não tenho como saber as coisas que você costuma fazer e acha que são comuns. Estou perguntando porque quero te conhecer, saber do que gosta.
Meio confusa com aquela pergunta e com o fato dela querer saber sobre mim, fiquei pensando por um tempo antes de responder. O que eu tinha pra dizer para ela? Eu me achava uma pessoa tão desinteressante, não queria que ela também achasse. Talvez tenha sido um erro ir até lá. Droga, por que eu tinha que ser uma pessoa tão sem sal. O que teria de legal para contar? Que merd*! Coloquei a mão na nuca e comecei a falar meio sem graça:
- Bom eu gosto muito de ler e costumo fazer isso todos os dias quando chego em casa. Estudei para uma prova de química, que foi bem fácil afinal. Compreis dois CDs, o da Zélia Duncan e o da Madonna. A única coisa um pouco diferente que aconteceu é que dei uma porr*da em um menino idiota da minha sala que se acha o máximo e não é bosta nenhuma, só um babaca que fica me importunando.
Quando terminei de falar ela começou a rir, uma gargalhada gostosa e alta o que me enfureceu. Se era para rir da minha cara por que ele tinha perguntado, porr*? Estava achando que eu era o quê? Palhaça? Lancei a ela um olhar tão feroz que parou de rir na hora.
- Desculpe, Ana Lucia. Não queria te aborrecer, mas é que o fato de você ter arranjado briga com um garoto me fez ter a certeza de que eu acertei na mosca sobre tudo o que pensei durante a semana.
- Você pensou sobre mim? – Perguntei espantada, pois nunca imaginei que alguém perderia seu tempo fazendo isso.
-Sim, claro. Por que o espanto?
- Nada, é que, sei lá, só achei estranho mesmo. Ficar pensando em uma pessoa que não conhece.
- Mas estranho por que? Você é uma pessoa interessante, e como não te conheço direito é normal pensar em como será que essa pessoa é.
- Interessante? Eu? Você é estranha mesmo.
- Estranha nada sua boba. E você? Não pensou em mim? – Perguntou delicadamente.
Meu Deus se ela soubesse o quanto eu tinha pensado nela. Todos os dias, lembrando seu rosto meigo, sua voz rouquinha, seus olhos impressionantes, suas covinhas, seu sorriso aberto, seu cheiro e seu calor. Mas eu não podia falar aquelas coisas para ela de jeito nenhum, então com um meneio de cabeça respondi que não.
- Nossa! Nem um pouquinho? – Fez beicinho.
- Eu me lembrei de você, mas não fiquei pensando. Como eu disse, acho estranho ficar pensando em quem não se conhece. – Menti descaradamente, enquanto não conseguia desviar meus olhos daqueles lábios.
Como alguém podia ser tão perfeita? Nunca consegui entender. Mas aquele dia foi o início de uma amizade que mudou a minha vida pra sempre.
Seu rosto perdeu a cor, ela ficou tão pálida quanto uma folha de papel, por um momento pensei que fosse desmaiar, pude perceber o espanto crescendo em seus olhos, sua reação foi exatamente oposta da minha que enrubesci de forma drástica e intensa, parecia que todos no restaurante podiam sentir o calor e ver a vermelhidão do meu rosto como se eu fosse um farol. A sensação que tive foi que tudo ao nosso redor havia congelado, não existia mais nada, nem ninguém ali, apenas nós duas, depois de tanto tempo aquela atração que nos prendia uma dentro dos olhos da outra ainda estava presente, nos arrastando para um infinito só nosso.
Não conseguia me mover, a mão estendida, sem dizer nada, apenas parada ali, meu coração batendo descompassado, as cenas do passado se repetindo em minha cabeça. Eu precisava encontrar um jeito de sair daquele transe, mas parecia impossível. Por um momento achei que ficaria ali, estática, para sempre.
Nesse momento senti uma mão em meu braço me dando um puxão, era Sisse, que percebendo o que tinha acontecido tinha vindo me salvar de mim mesma. Desviei meus olhos por um instante e imediatamente Clara abaixou os seus como se enfim tivesse conseguido se livrar de um imã poderoso e irresistível. Olhei ao redor e pude perceber a confusão e mal estar que havíamos causado sem querer, todos da mesa estavam nos encarando, Susana com um olhar interrogativo meio surpreso, Jaqueline carrancuda, olhando com raiva em minha direção, Mariana estava confusa e ao mesmo tempo irritada, além de tudo desconfiada de que algo que não era muito bom para ela tinha acontecido, seu olhar pra mim era de “mas que porr* está acontecendo aqui? ”, apenas Sisse estava com um meio sorriso no rosto como se soubesse exatamente o que estava se passando.
Tinha um nó na garganta e sinceramente não me sentia segura o suficiente para falar nada, na verdade acho que mesmo que eu quisesse não conseguiria emitir nenhum som. Ainda estava espantada demais com o que tinha acontecido. Só consegui me mover e sentar depois que Sisse começou a falar.
- Oras, parece que fomos surpreendidos esta noite - Disse com uma calma absoluta.
- Parece que sim. – Retrucou mau humorada Jaqueline.
– Prazer, sou Clarisse, uma velha amiga de Ana. – Disse estendendo a mão para Clara.
- Prazer Clarisse, sou Clara, também uma conhecida Ana. - Respondeu. – Mas, há muitos anos que não nos víamos, aliás, pra falar a verdade, nem sabia se ela estava ainda estava morando aqui, ou se tinha se mudado.
Voltando - se em minha direção, percebi que não havia sequer um traço de sorriso em seu rosto, e sim uma expressão fechada, como se tudo aquilo a estivesse deixando extremamente desconfortável.
- Que coincidência não é mesmo? - Jaqueline se expressou de uma forma não muito agradável, ficou claro para mim que ela estava detestando tudo aquilo.
- É mesmo uma coincidência. Nunca imaginei que reencontraria Ana dessa forma.
Àquela altura senti que precisava falar alguma coisa antes que a situação se tornasse ainda mais pesada, mas não sabia exatamente o que , e disse a coisa mais estúpida que poderia ter dito.
- Oi Clara, tudo bem? Realmente faz muito tempo que não nos vemos, porém você continua encantadora. Não mais uma menina bonita, mas sim uma mulher estonteamente linda.
Mal acabei de falar aquilo e percebi o erro que havia cometido. Queria que um buraco se abrisse sob meus pés para que eu sumisse nele. O que estava acontecendo comigo? Tinha perdido a razão? Ficara demente?
Ela erubesceu absurdamente. Senti um pisão em meu pé, era Mariana com os olhos flamejantes de raiva. Sisse, que estava sentada na minha frente tentava conter o riso.
- Quer dizer, me desculpe, não era isso o que eu queria falar... – Outra gafe.
- Meu Deus, está ficando pior né? – Perguntei diretamente para Clarice que respondeu com um leve aceno de cabeça.
Não preciso nem dizer que o resto da noite foi bem ruim, Mariana não olhou mais para minha cara, e sequer falava comigo, Jaqueline lançava olhares mortais em minha direção, Sisse e Susana até tentaram melhorar a situação e puxar conversa, mas não deu certo, eu estava constrangida e notei que Clara também. Sem saber como agir, só ficava apertando as mãos. Ninguém conseguiu comer direito, foi o caos. Desesperadamente tentava não olhar para ela, mas era impossível, quando percebia estava encarando como se quisesse gravar cada nuance do seu rosto no fundo da minha mente.
A uma certa altura, elas foram embora alegando cansaço, e então o mundo voltou a ser um lugar comum. Porém tudo já estava perdido. Meu final de noite não foi como eu havia imaginado, Mari nem me deixou leva-la para casa, pediu um taxi e entrou sem olhar pra trás. É claro que ela não havia gostado nem um pouco da maneira que eu havia me comportado, eu também não gostaria se fosse o inverso, então não posso culpa-la. Mas também não posso me culpar, eu até tentei, juro mesmo, mas não consegui segurar o sentimento forte e repentino que se apoderou de mim. E no fundo do meu ser eu sabia que se não estivéssemos em um restaurante, provavelmente teria perdido a cabeça e partido pra cima dela, para beijá-la e fazer amor loucamente como nos velhos tempos, sem pudores apenas desejo sôfrego.
Cheguei em casa em chamas, o tesão batia no teto, não conseguia parar de pensar em Clara, em como ela estava ainda mais linda, não tinha mais aquele jeitinho de adolescente, mas sim uma sensualidade madura, seu corpo de curvas insinuantes, seios fartos, quadris bem arredondados, a cintura bem marcada. Como seria possui-la agora? Afinal éramos duas mulheres e não duas adolescentes, tínhamos mais experiência.
Um banho gelado era tudo o que precisava pra ver se apagava meu fogo, mas ao invés disso enchi a banheira com água morna, me recostei e comecei a me masturbar enquanto imaginava tudo o que gostaria de fazer com ela naquele momento, os pensamentos mais indecentes e sacanas que alguém poderia ter, imaginei cada posição, cada toque, foi tão intenso que parecia real, e quando estava perto do orgasmo foi seu nome que chamei enquanto goz*va loucamente.
Fim do capítulo
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Ana_Clara
Em: 02/10/2015
Hum, encontro tenso! Essas duas conseguem exalar sentimentos de um amor verdadeiro. São lindas!
Resposta do autor:
Oi querida Ana.
Um amor verdadeiro mexe com nossa alma não é verdade.
Mais uma vez obrigada pelo elogio e pelos comentários.
Bom domingo e ótima leitura
Beijos
K.
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Mille
Em: 13/09/2015
Valeu ficar esperarando, ainda bem que não demorou.
Encontro inesperado deixou a Ana meia perdida, se a acompanhante da Clara tivesse visão laser não tinha sobrado nadinha da Analu.
Bjus e até o próximo.
Resposta do autor:
Oi Mille, prometo que vou tentar enviar capitulos sem demorar tanto. Obrigada pro estar acompanhando. Beijos e otima semana.
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Sem cadastro
Em: 13/09/2015
ADOREI
Resposta do autor:
Obrigada. Abraços.
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