Na semana seguinte após a comemoração do aniversário de Márcia e das crianças, a mãe de Meire estava sendo internada para os procedimentos do transplante de medula. O que ninguém imaginava é que a coronel fora a doadora da “esposa” de Nicola. Somente o major Chang e o coronel Magalhães é que sabiam disso. Na segunda-feira a coronel passou na casa da sobrinha e de lá foram para o hospital da Cruz Azul.Ao chegarem foram recebidas pelo major e a equipe médica que já estava a esperando pela paciente e os familiares.

 

Percebendo que Maira estava nervosa e ansiosa, a coronel tratou logo de acalmar a “cunhada”, porém ela também estava nervosa com a situação, mas como sempre, não demostrava a ninguém.

 

-- Tenha calma Maira, logo você estará livre disso e ficará bem!

 

A mãe de Meire olhou para Márcia e disse:

 

-- Márcia se algo acontecer comigo, por favor, cuide da minha menina e da minha mãe para mim?– Elas são o bem mais precioso que eu carrego. Promete que vai cuidar delas? – A Meire já não tem o pai e eu tenho medo do que a sua cunhada possa fazer com elas.

 

A coronel ficou sensibilizada com o pedido e respondeu:

 

-- Maira nada de ruim vai acontecer tenha certeza disso. E logo você estará em casa e tudo ficará bem! – E quanto a Silvana, deixe que com ela eu me entendo. Não se preocupe que eu sei como cuidar daquela serpente!

 

Na realidade coronel nunca gostou da cunhada e somente a aturava por causa do irmão e da sobrinha. Quanto ao filho de Nicola, ela também não se amarrava com o rapaz. Achava que Enzo era muito acomodado e mimado pela mãe, sendo que tudo de ruim que acontecia ela descontava em Carmela. Por esses e outros motivos, Márcia não se amarrava com nenhum dos dois. Carmela era a menina dos seus olhos e por isso fazia de tudo para ela e sendo madrinha da moça ai é que fazia muito mais. De todos os sobrinhos que ela tinha, Enzo era o único com quem a coronel realmente não se afinava. Até apanhar da coronel, ele apanhou pelo motivo de responder ao avô. Mas Enzo sempre fora facilmente influenciado pela mãe. Os filhos de Francesca, Genaro, Marieta e Marcelo sempre respeitaram o jeito de ser de Márcia e a sua opção sexual. Samir Júnior era o neto mais velho de Carlota e Giuseppe e apesar de seguir a religião mulçumana do pai, sempre prezou pelo respeito com a tia. E os outros sobrinhos da coronel também seguiam a mesma linha de respeito e admiração.

 

-- Por favor, prometa que vai cuidar delas! – Você é a única segurança que elas têm agora.

 

-- Prometo! – Se isso te deixa melhor, eu prometo sim. Mas agora vamos nos preparar para o transplante?

 

Maira ficou mais calma e logo tudo já estava preparado. A coronel também se internaria naquele mesmo dia, porém avisou ao major:

 

-- Major Chang faça o que tem de fazer e tome muito cuidado. Confio plenamente em você!

 

-- Fique tranquila coronel, logo tudo ficará bem!

 

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Quando Andressa chegou com os filhos, todos já se encontravam no hospital. O velho Mantovanni estava inquieto e isso fez com que dona Carlota ficasse preocupada com o marido.

 

-- Giuseppe você tomou os seus remédios hoje?

 

-- Tomei sim minha querida, só estou um pouco apreensivo com essa situação. Afinal de contas não podemos esquecer que ela também foi nossa nora. Independente de termos conhecido ela há pouco tempo, isso não muda nada! – Querendo ou não, ela foi “casada” com o Nicola e isso não tem volta e nem como apagar da vida dos Mantovanni!

 

-- Tenha calma papai, logo isso estará terminado e então, iremos comemorar com um bom e legítimo vinho italiano. Falou Genova que estava junto aos pais.

 

O coronel Magalhães saiu na sala de espera e comentou que logo a cirurgia iria começar. Ao ver que Márcia estava paramentadaAndressa perguntou:

 

-- Amor porque você está com essa roupa? Perguntou ao ver a coronel vestida com roupas hospitalares.

 

Olhando a todos os presentes Márcia falou em bom tom:

 

-- Sou eu que vou doar a medula para a Maira. Eu fiz o teste e deu positivo, portanto minha querida fique calma que tudo está bem!

 

Andressa ficou inebriada com a atitude da esposa e todos aplaudiram a coronel.

 

-- É por isso e muitas coisas que eu te amo meu anjo. Você é a luz que existe em nossa família e isso só me deixa orgulhosa em ser casada com você!

 

-- Mamãe a senhora está bem? -- Não está “doente"? Perguntou Antônia já começando a chorar.

 

A coronel abaixou chamou os filhos e respondeu:

 

--Não filha, eu não estou doente. Somente vou ajudar a tia Maira e logo estaremos em casa. E agora quanto a vocês dois seus malandrinhos, cuidem da sua mãe e das suas irmãs, ok?

 

-- Sim mamãe eu vou por ordem na casa! Falou Nicola.

André repreendeu o irmão e disse:

 

-- Nicola é para cuidar das nossas mulheres e não mandar em casa!

 

A cirurgia estava marcada para as catorze horas. A previsão é de que duraria mais ou menos umas três horas. Todos estavam apreensivos, mas na sala de cirurgia tudo corria bem.

Pouco depois das seis da tarde o major Chang juntamente com Laura, Magalhães e o neurologista capitão Décio, saíram da sala. Quando o pai da coronel viu o médico perguntou:

-- E então major foi tudo bem? -- Minha nora e minha filha estão bem? -- Dá para responder?

O médico olhou para todos e respondeu:

-- Calma coronel Mantovanni que eu vou explicar. Tudo correu bem e tanto a sua filha quanto a sua nora estão bem. A coronel assim que acordar, vai ser examinada e poderá receber alta. Porém, vai ter que ficar em repouso e comer coisas leves e nada de vinho.

-- Mas e quanto a minha mãe major, ela está bem?

O major era um jovem oficial com idade aproximadamente uns 42 anos e sorrindo falou para a sobrinha de Márcia.

-- A sua mãe está bem e se continuar reagindo como está, daqui a uma semana, eu vou dar alta. Mas ela também tem que permanecer em repouso e comer somente coisas leves como frutas, verduras, legumes e algo que tenha ferro para evitar a fraqueza. Como por exemplo, suco de beterraba com laranja e cenoura, batata, couve, brócolis, ou seja, alimentos que contenham vitaminas, ferro e fósforo.

-- Obrigada major. Agora eu fico mais aliviada!

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Duas semanas haviam se passado e tanto a coronel quanto Maira estavam bem. Márcia além de conseguir uma licença prêmio para a sobrinha havia cedido o chalé em Campos do Jordão para que ela, a mãe e a avó pudessem curtir um pouco o ar puro da montanha.

Enquanto isso, o coronel Borges pediu para que Andressa avisa-se à coronel que o depoimento do capitão Esdras e dos outros policiais que também estavam presos havia sido marcado.

-- Pode deixar coronel que eu aviso a Márcia e aos demais.

-- Obrigada Andressa e as meninas estão bem?

-- Sim coronel, aqui está tudo bem. E a propósito eu quero lhe perguntar o seguinte: -- Eu também tenho que ir depor ou não?

-- Andressa isso ficará a seu critério. No dia em que eu e a coronel conversamos, ela me disse que conversaria com você! – Porém, disse também que se você não quisesse depor, ela não iria te forçar porque você e as meninas naquela época estavam abaladas e eu acabei concordando com a colocação. Agora cabe a você decidir, mas a sessão será aberta somente aos envolvidos no caso do Esdras e de mais alguns que estão por ai na lista.

Depois de pensar um pouco, Andressa respondeu:

-- Pois bem coronel, eu vou depor! -- Quero ver esse vagabundo apodrecer na cadeia, porque o tapa que ele deu na minha filha ainda está bem claro aqui na minha mente coronel. Pode aguardar que eu estarei lá.

-- Pois bem Andressa, só não se esqueça de avisar a Márcia. Tenha um bom dia!

-- Obrigada coronel, o meu dia está maravilhoso.

A coronel havia ido até o batalhão conversar com o agora tenente coronel Radamés para saber como estavam às coisas por lá e para saber sobre o major Nunes.Radamés passou o relatório de tudo que estava acontecendo e a coronel se deu por satisfeita.

-- Márcia ele é um bom soldado e tenho certeza de que foi facilmente influenciado por aquele traste. E tem mais, ele tem família e você mesmo sabe o quanto sofremos pressões e quando não se cumpre ou cede aos caprichos desses porcos, a nossa família sempre é o ponto alvo. Então para nos deixar vulneráveis, a família sempre está na linha de tiro e com isso acabamos fazendo o que não se deve. Você amiga sabe o quanto é complicado porque já passou por isso duas vezes!

-- Nesse ponto você está certo Radamés. Eu sofri muito e fiquei desesperada quando as ameaças se voltaram contra a minha esposa e os meus filhos. Você não imagina o desespero que dá. Porque nunca se sabe o que um rato acuado pode fazer!

-- Ah eu imagino amiga e como imagino!

Quando chegou em casa, foi recebida com um beijo apaixonado. A esposa passou o recado que o coronel havia deixado e Márcia respondeu:

-- Quer dizer então que agora eu vou poder afundar aquele maldito na lama de vez?

-- Sim meu amor, a hora da justiça chegou e esse mérito todo é seu, porque foi você quem enfrentou aquele crápula e isso só me deixa muito orgulhosa de tudo o que fez.

-- Aquele safado deve agradecer a nossa filha, porque se não fosse ela e você me impedirem eu teria picotado aquele infeliz. E pensar que aquele mau caráter tem responsabilidade na morte da Celina e na tentativa de estupro contra você! -- Mas eu afundo aquele infeliz e ele que não tente nada porque dessa vez eu mato ele de qualquer jeito. Com Celina ou sem Celina, eu mato aquele desgraçado! Falou dando um murro na mesa fazendo com que os copos caíssem ao chão.

-- Calma meu amor, o importante é que daqui a pouco estaremos livres desse demônio!

-- Eu espero que tudo saia bem Andressa!-- Caso contrário, EU NÃO REPONDO POR MIM!

Andressa sabia quem era a coronel fora do seu estado normal e só de pensar nessa hipótese isso a deixava preocupada e apreensiva. Lembrou-se de que ela já havia matado ao coronel Dimitri Hainz queimando-o vivo, cortara o temido bandido Barbatana que se julgava matador de policiais em pedaços e mandado seus restos mortais para a festa do finado coronel Gutierrez. Isso sem contar que também havia capado o tenente coronel Cardoso com um tiro certeiro em seu membro. Apesar de ser benevolente em algumas situações, a coronel era temida por alguns policiais, pois todos conheciam quem era Márcia Mantovanni. Uma mulher exigente, sem papas na língua e que quando contrariada por algum policial fosse ele oficial ou não, soltava não somente os cachorros, mas um canil inteiro e todos sabiam que ela não temia nem ao velho Mantovanni e quando preciso apesar do respeito, admiração e amor que sentia por ele, enfrentava o próprio pai quando achava que o velho estava intransigente demais. E uma dessas situações, foi quando bateu o pé e disse que exumaria o irmão quer com a autorização do pai ou não para provar que Meire era neta legítima do coronel. Ambos haviam ficado sem se falar por uma semana, porém, nem ela e nem o velho imaginavam que na reconciliação dos dois, havia os dedos de Andressa e dona Carlota. Já dentro de casa era autoritária sim, porém, a benevolência falava mais alto, principalmente com os filhos e a esposa. Não que os filhos escapassem de algumas chineladas, principalmente os meninos que juntos quando resolviam, aprontavam de tudo. Mas depois de uma boa conversa, sempre pintava algum castigo para as crianças como a queda de Celina no buraco que havia no terreno ao lado da casa de Cláudia e que rendeu a todos uma semana de castigo sem televisão e sem passeios.

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Na sexta-feira todos se reuniram na casa do pai de Márcia. A tradicional e famosa festa da família ou Noite Italiana acontecia na casa do velho. Márcia foi a última a chegar com a esposa e os filhos. Lorena e Celina ficaram na sala de brinquedos enquanto Nicola, Antônia e André juntamente com os outros estavam comendo. Tales estava com a filha caçula da coronel sentada em seu colo e todos percebiam que ele era só mimos com a menina. Giuseppe Junior deu um cutucão na irmã e disse:

-- Marcinha eu não sei não. Mas acho que um genro você já garantiu!

Márcia olhou séria para o irmão e perguntou:

-- Porque você está dizendo isso Pequeno Giuseppe?

-- Olhe para trás que você vai ver!

Quando a coronel olhou na direção onde estavam as duas crianças, deu risada com a cena que viu. Tales estava abraçado com Antônia e essa também não se fazia de rogada. Chamou o amigo e compadre Tavares e falou:

-- Coronel Tavares acho que o senhor arrumou uma nora!

-- Como assim Marcinha?

-- Olhe naquela direção que você vai ver.

Quando Henrique Tavares olhou para onde a amiga apontava, deu risada com a cena.

-- É Marcia acho que você está certa. Os nossos filhos estão crescendo muito rápido!

-- Nem me lembre disso Henrique, não gosto nem de pensar que daqui a algum tempo terei em casa duas moças e dois rapazes.

Henrique olhou sério para a amiga e falou:

-- Duas moças e dois rapazes? -- E o bebê que está a caminho?

-- Tavares nós ainda não sabemos o sex* do bebê. Por isso fiz essa citação!

-- Entendi amiga, isso é verdade. De momento você só pode citar isso mesmo. E se novamente vier mais do que um?

-- Não quero nem imaginar Tavares! Porque vou ter que fazer uma reforma lá em casa para que fique mais aconchegante. A minha esposa e os meus filhos tem de ter o máximo de conforto possível. Preciso olhar a planta da casa e ver quais as modificações que posso fazer.

-- Creio que dará certo Marcinha, porque você sendo formada em engenharia, as coisas ficam mais fáceis e com isso se economiza o valor da obra.

 

-- Filha venha aqui e veja quem chegou! Falou o pai de Márcia.

A coronel foi até a sala e abriu um sorriso ao ver Meire, dona Alice e Maira.

-- Que prazer vê-las! – Como foi a estadia em Campos do Jordão? – Aproveitaram bastante?

Meire abraçou e beijou a tia. Foi a mãe da moça que respondeu:

-- Muito Márcia, aproveitamos bastante e quero muito agradecer tudo o que está fazendo por nós.

-- Eu não estou fazendo nada de mais Maira, somente ajudando a minha família. Afinal não é porque você não era casada oficialmente com o Nicola, que não faz parte da família. A partir do momento que você nos deu de presente essa moça linda que aqui está vocês também são Mantovanni. E agora vamos nos acomodar, curtir uma boa música italiana e comer umas boas massas. Silvana quando viu que as mulheres haviam chegado, torceu logo o nariz e fez cara feia. Quem estava ao redor não percebeu, mas Genova viu o olhar que a cunhada havia lançado e chamando Thesca de canto falou:

-- Francesca vem aqui!

-- O que houve Genova?

-- Acho melhor a gente se preparar porque eu tenho uma certa impressão de que a Silvana vai aprontar. E dessa vez eu tenho certeza de que a Marcinha além de coloca-la daqui para fora, ainda vai lhe dar uns tapas. Porque nós sabemos que ela tem a nossa “querida” cunhada atravessada na garganta e não é de hoje.

-- Vamos ficar atentas. Vou conversar com o Genaro e o Giuseppe. Porque se eu for falar com o Marcelo e a Marieta ou com o papai, ai é que a coisa vai pegar. O que nós não podemos deixar é a Márcia perceber.

-- Está bem minha irmã, eu vou conversar com a Andressa e a mamãe.

A festa transcorria normalmente. Dona Carlota estava empolgada com as recuperação de Maira e ambas conversavam muito. Maira estava se recuperando muito bem e o prazo que o major Chang havia dado já terminara. Mas ela continuaria a fazer o tratamento e Márcia fazia questão de acompanhar e pagar as despesas.

Enquanto isso Nicola estava todo faceiro sentado no colo da prima. Meire olhava o menino e via nele os traços do pai.

-- Sabe que você é muito fofo Nico e tão parecido com o seu tio!

-- BigaduMeile, voxêtabém é linda! -- Vô namolavoxê. Falou dando um beijo no rosto da prima.

A moça riu do menino e falou:

-- Você é muito pequeno Nicola e quando ficar moço, eu já vou estar bem velha. Mas você vai conhecer outras moças e um dia vai se apaixonar. Vai casar e construir família e ser feliz.

-- Mais eu vô espera voxê! Desceu do colo da prima e foi até onde estavam as crianças. Acabou criando confusão com Cláudio, mas logo tudo foi contornado por Celina que deu uma bronca nos dois e todos brincaram normalmente.

A festa terminou sem maiores problemas. Cada um foi para a sua casa e as crianças de tão cansadas que estavam dormiram. Márcia despediu-se da sobrinha e reiterou o convite para passarem o fim de semana em sua casa.

-- Iremos sim tia. Pode esperar!

Despediram-se e foram embora e a coronel mais uma vez agradecia ao bons mentores e aos avós a noite de calma e paz.

-- Vamos amor, estou hiper cansada! Falou Andressa.

-- Sim minha primeira dama, eu também estou!

 

 

 

Fim do capítulo