Capítulo 11. O desaparecimento
Durante a noite a coronel foi acordada pela filha caçula que estava dormindo no quarto com elas. Ao ascender o abajur perguntou:
-- O que houve filha? --Você está se sentindo bem?
A menina ainda meio sonolenta respondeu:
-- To com sede e fome, mamãe!
-- Então vamos levantar que eu vou preparar um chá de camomila, erva cidreira e erva doce para você e pegar aquela bolacha que tanto gosta.
-- Aquela de água e sal mamãe?
-- Sim minha princesa!
Pegou a filha no colo e se encaminhou até a cozinha. Assim que começou a fazer o chá, percebeu que a filha a observava com os mesmos olhos iguais aos seus. Antônia olhava todo o movimento que a mãe fazia e quando a coronel sentou-se à mesa, a filha perguntou:
-- Mamãe você está brava?
A coronel olhou para a filha parando por alguns instantes e depois de se recobrar da pergunta feita pela menina respondeu:
-- Não filhinha a mamãe não está brava. Só estou um pouco cansada com algumas coisas que andam acontecendo, mas nada que não se consiga resolver.
-- Mas não é com a gente?
-- Claro que não minha princesa! -- Vocês são o meu maior orgulho e o meu amor não só por vocês, mas, também pela sua mãe Andressa, é imenso. Ai se um dia acontecer algo com vocês, eu vou passar igual a um trator por cima de quem for. Mesmo que isso custe a minha posição dentro da polícia militar.
Enquanto tomava o chá com as bolachas, a menina escutava atentamente tudo com muita atenção. O aniversário da coronel assim como o de Antônia e Nicola, se aproximava. Mesmo com todos os problemas profissionais, a coronel já pensava na festa de três anos dos filhos mais novos. Quando a menina terminou de lanchar, foi até o banheiro e deu um banho na filha colocando ela novamente para deitar. Viu também que ela estava sem febre e sorriu. Os olhos da coronel encheram de água quando a filha disse:
-- Eu te amo mamãe Márcia, dorme bem!
-- Eu também te amo muito minha princesinha. Que os anjos olhem por você e seus irmãos. Falou dando um beijo de boa noite na menina que dormiu agarrada a ela.
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Quando acordou pela manhã, a coronel viu que tinha alguns pesos extras na cama. Olhou ao redor e viu que os quatro filhos juntamente com as filhas de Laura, estavam espalhados pela cama de casal que era grande, pois a coronel havia mandado fazer sob medida. Riu da cena e depois acordou a esposa. Quando Andressa viu as crianças na cama perguntou:
-- O que é isso aqui amor?—Isso aqui está parecendo a Disneylândia!Falou rindo ao ver as crianças espalhadas na cama.
-- Bom, como eu preciso ir trabalhar, vou levantar, tomar banho e depois de tomar café vou ao quartel, porque hoje o Nogueira não me escapa.
Quando a coronel falou isso para a esposa, Andressa pediu:
-- Por favor, meu amor tome cuidado. Você sabe muito bem que esse pilantra é uma cobra traiçoeira.
-- Eu sei disso minha primeira dama, mas não se preocupe porque eu sei muito bem como matar essa cobra e as outras!
Pouco tempo depois quando foi tomar café, os filhos correram em sua direção. Foi André quem disse:
-- Mamãe Márcia eu não gosto dessa roupa! – Gosto da que a mamãe Andressa usa, porque essa é feia!
Márcia riu da colocação do filho e disse ao rapaz que olhava seriamente para a mãe:
-- Escuta aqui mocinho fofo, vou te contar uma coisa. Eu também não gosto dela, mas sou obrigada a usá-la. Mas tenha certeza de que isso tudo logo vai terminar e então a mamãe vai deixá-la de lado, porque o verdadeiro dono, o major Radamés voltará logo para o lugar que lhe pertence e ai, a mamãe vai sair de lá. Então ficamos combinados assim?
-- Está bem mamãe, mas a senhora prometeu!
A coronel riu do jeito do filho mais velho e depois chamou Nicola para conversarem na biblioteca. Andressa ficou apreensiva quando Márcia chamou os dois.
-- O que será que a Márcia vai falar com os meninos? Perguntou para Laura que estava tomando café enquanto observava as filhas brincarem com Celina e Antônia.
-- Calma Andressa deve ser alguma coisa importante, não se preocupe!
Enquanto isso na biblioteca a coronel explicava aos filhos o que queria deles. Nicola estava com a pulga atrás da orelha pois tanto ele como André entendiam o que se passava.
-- Então meus príncipes vocês serão os homens da casa na minha ausência. Se perceberem algo errado me avisem. Se não conseguirem vocês sabem como telefonar para o tio André?
-- Sabemos mamãe e para o nossos avôs também!
-- Então para ficar mais fácil, a mamãe colocou a foto deles e o número do telefone na frente. O do vovô Amorim também está junto. Agora vamos porque a mamãe vai trabalhar e você tomarão conta da casa.
-- Oba, nós vamos mandar na casa mamãe? Perguntou Nicola.
-- Não Nicola, nós vamos tomar conta da casa e das nossas mulheres! Falou André para o irmão que entendeu porque os dois tinham uma sintonia muito grande. E num futuro não muito longe André seria o conselheiro e confidente de Nicola e do pequeno Gabriel Henrique que chegaria algum tempo depois, trazendo alegria para todos.
Ao saírem da biblioteca, Andressa estava inquieta. Logo de imediato perguntou para Márcia o que havia acontecido e porque ela havia chamado somente os meninos para conversar. A coronel então explicou para todos o que havia falado com os meninos, que estavam orgulhosos da missão que a mãe havia dado a eles.
-- Bom minhas queridas estou indo. Qualquer coisa amor, telefone imediatamente.
Andressa se aproximou de Márcia e depois de beijá-la apaixonadamente pediu:
-- Tome cuidado minha coronel você sabe o que aqueles vagabundos podem fazer, inclusive aquele safado do Borges.
-- Fique tranquila minha primeira dama, cuide de você e dos nossos filhos. É só o que te peço.
Logo em seguida a coronel saiu. O que ninguém sabia era que o coronel Borges havia decidido fazer o jogo dos dois oficiais, para pegá-los com a mão na massa. As únicas pessoas que sabiam de todo o plano, eram o pais, o sogro e o ex-sogro da coronel. Isso era segredo e ninguém podia contar para Márcia.
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Quando chegou ao quartel, a coronel depois de cumprimentar a sentinela e estacionar o carro, desceu do mesmo e olhou ao redor. Viu que o tenente Donizete se aproximava e imediatamente o chamou dando a seguinte ordem assim que ele bateu continência.
-- Bom dia tenente quero que faça duas coisas para mim!
-- Sim coronel o que a senhora deseja! Disse percebendo que ela estava com cara de poucos amigos.
-- Em primeiro lugar eu quero a tropa reunida no pátio em dez minutos e depois peça ao capitão Nogueira para vir até a minha sala. Imediatamente!
O tenente ficou inquieto quando a coronel lhe falou isso. Percebendo a reação do seu comandado perguntou:
-- O que houve tenente?
-- Coronel fazem três dias que ele não aparece aqui no batalhão.
-- O que? – Quem está no lugar dele?
-- O capitão Esdras!
-- Então mande aquele rato vir na minha sala agora!!
-- Mas coronel!
-- Agora tenente!
-- E a tropa?
-- Deixe-os lá. Um pouco de sol não mata ninguém!
Dizendo isso a coronel se dirigiu até a sala. Logo em seguida o capitão entrou.
-- Bom dia coronel. O tenente disse que a senhora quer falar comigo? – O que aconteceu?
-- Bom dia capitão. Sente-se! – Eu quero que o senhor me diga onde está o Nogueira?
Diante da pergunta feita, a coronel percebeu que o capitão mudara de cor.
-- Eu não sei coronel, fazem três dias que ele não aparece!
-- Tem certeza de que o senhor não sabe? – Uma pessoa não some assim do dia para a noite. E a esposa dele sabe onde ele se enfiou?
-- Não coronel, ela disse que ele saiu e não voltou!
-- Como assim, saiu e não voltou? – E porque eu não fui comunicada sobre isso?
-- Acontece que o coronel Borges deu ordens para não avisá-la do sumiço dele!
-- Escute aqui tenente, eu vou falar uma única vez: TUDO O QUE ACONTECE AQUI NESSE BATALHÃO ME DIZ RESPEITO e o senhor tem a obrigação de me avisar. Eu comando essa merd* e não o Borges. E agora saia da minha sala que eu não gosto desse cheiro de rato podre.
O capitão olhou sério para a coronel e disse:
-- Se eu fosse a senhora coronel, tomaria cuidado com as suas palavras, porque ninguém está livre de levar uma bala perdida. Nem a família! Disse colocando a mão no revólver e tirando o para fora.
A coronel quando viu a atitude do capitão foi mais rápida e encostando o revólver na cabeça de Esdras falou:
-- Escute aqui capitão, nunca mais ameace a mim ou à minha família. Eu já matei dois coronéis e matar um capitão não fará diferença. Portanto tome o senhor muito cuidado! Aqui nesse revólver tem somente uma bala e ela está reservada para quem quer que seja. E dizendo isso o capitão só escutou um clik perto da sua têmpora e se borrou na hora. A coronel quando sentiu disse:
-- Saia agora da minha sala e aproveite para trocar a calça da sua farda, porque ela está igual a você capitão, cheirando a merd*! – Seu cagão!
O capitão entendeu o recado da coronel e ao sair ela disse:
-- Aproveite que a sua bota também está suja de merd* e trate de lavá-la.
Quando ele saiu a coronel se pôs a rir e logo ligou para a esposa contando o acontecido. Andressa começou a rir e disse:
-- Amor você não fez isso com ele?
-- Fiz sim minha primeira dama, inclusive vou ter que pedir para a faxineira limpar e desinfetar a minha sala. Agora ele é o capitão cagão!!!
-- Ai anjo só você para me fazer rir. E você virá almoçar em casa?
-- Sim minha querida. Chame o pessoal que eu quero contar a proeza que fiz. E tem mais, preciso saber o que aconteceu com o Nogueira. Creio que ele deva estar morto, porque ninguém some assim!
-- Faça o que for preciso amor, eu vou sair com os seus pais, os meus, com a Laura e a dona Marina também vai com o coronel Amorim.
-- Então façamos o seguinte, vamos nos encontrar na churrascaria de sempre. O que você acha?
-- Perfeito amor então nos encontramos lá por volta do meio dia.
-- Feito meu amor. Até mais tarde então.
O que Márcia não imaginava é que a esposa já estava em processo de fertilização para uma nova gravidez e isso deixou a todos radiantes. Logo ela saberia sobre o bebê.
Após conversar com a esposa, a coronel foi até o pátio. Ao chegar viu que a tropa estava reunida e quando os soldados a viram ficaram em posição de sentido. Olhou para todos e disse:
-- Pelotão descansar! – Em primeiro lugar bom dia a todos! – Senhores eu pedi que o tenente os colocasse aqui no pátio porque eu tenho um comunicado a fazer-lhes. Não sei se os senhores estão cientes, mas o nosso capitão Nogueira está desaparecido a três dias e segundo o capitão Esdras, não se sabe onde ele se enfiou. Portanto eu quero duas coisas de vocês: se alguém tiver alguma notícia ou pista sobre ele, eu quero saber. E a outra coisa é que nada passará despercebido ou acontecerá nesse batalhão sem o meu conhecimento e se isso acontecer, as punições acontecerão, porém, serão justas. Portanto senhores espero que tenham ouvido bem e agora vocês estão dispensados.
Quando a coronel estava se dirigindo ao seu gabinete, um soldado perguntou:
-- Coronel Mantovanni, então não precisamos mais comunicar ao capitão Cagão sobre nada?
A coronel e os demais riram. Porém logo ela retomou a postura de sempre e respondeu:
-- Comuniquem ao major Nunes ou então ao tenente Donizete. Se eu não estiver aqui!
Ao entrar encontrou o major Nunes a sua espera. E esse se mostrava preocupado com o sumiço do capitão.
-- Major Nunes eu ia chamá-lo agora mesmo. Mas o que aconteceu o senhor parece tenso?
-- Bom dia coronel, mas eu tenho certeza de que o capitão Nogueira está morto!
-- E porque o senhor acha isso?
-- A senhora pediu que eu ficasse atento a qualquer coisa anormal que houvesse por aqui. Na quinta-feira quando a senhora foi embora, o capitão Cagão chamou o Nogueira para conversarem. Não sei o conteúdo, mas só escutei quando ele disse que não poderia fazer o que o Esdras estava pedindo. Com essa recusa ouvi quando o nosso cagão falou que ele iria se arrepender. Mas creio que o Nogueira não deu muita atenção à ameaça feita e com isso, ele está desaparecido desde então.
-- Mas como isso aconteceu aqui, se a própria esposa dele falou que ele saiu de casa e não voltou? – Como isso pode acontecer major?
-- Não sei coronel. Só sei que estamos todos em perigo aqui nesse batalhão principalmente a senhora, o tenente e eu. E depois do que aconteceu hoje com o Esdras aqui na sua sala, creia-me, ele vai se vingar da senhora com tudo o que tiver direito. Portanto tome cuidado e redobre a segurança da sua família.
-- Pode deixar major, da minha família eu sei como cuidar. Mas ele que fique esperto, porque dessa historia um dos dois não sai vivo e tenha a plena certeza de que será ele e não eu. Agora pode se retirar e continue o seu trabalho, porque estou começando a crer que o senhor foi mesmo vítima desses ratos peludos.
Depois que o major saiu a coronel pediu que o tenente Donizete trouxesse as fichas dos capitães Esdras e Nogueira. Assim que o chefe de gabinete da coronel chegou com os documentos ela pediu a ele que ficasse e a ajudasse a analisar os prontuários. Começou pelo capitão Esdras que se chamava Esdras Euclides Peixoto, nasceu em 12/06/1968, na cidade de São Paulo. Filho de Euclides Peixoto e Martina Gomes Cabral Peixoto. Entrou na academia do Barro Branco em 26/04/1986, formou-se em 06/01/1991, com a patente de 2º tenente. Serviu nas unidades da Rota, Policiamento Rodoviário e atualmente serve ao Batalhão de Choque da policia militar do Estado de São Paulo.
-- Como eu não me lembro desse rato na unidade da Rota tenente? – E o pior é que nada de anormal existe na ficha desse crápula.
-- Vai ver que ele fazia serviços burocráticos coronel!
-- É pode ser. Talvez o senhor esteja com a razão tenente. E agora vamos analisar a ficha do outro.
Sérgio Maciel Nogueira Filho nasceu em 21/08/1970, na cidade de Pedregulho-SP. Filho de Sergio Maciel Nogueira e Alvina Maria Góes Nogueira. Entrou na academia do Barro Branco em 26/04/1986, formou-se em 06/01/1991, com a patente de 2º tenente. Serviu nas unidades do batalhão de trânsito, Atualmente serve ao Batalhão de Choque da policia militar do Estado de São Paulo.
-- Definitivamente Donizete eu preciso saber mais coisas sobre esses dois, principalmente em suas unidades anteriores, porque aqui eu já sei. Amanhã o senhor irá comigo nessas unidades militares e então vamos descobrir o porquê das transferências.
-- Como a senhora quiser coronel.
-- E agora o senhor pode se retirar. E peça para que o major venha até aqui novamente.
Assim que voltou o major estava com cara de assustado, mas a coronel tratou de tranquilizá-lo.
-- Major Nunes eu tenho algumas coisas para resolver e depois vou almoçar com a minha família. Provavelmente eu não volte mais hoje. Quero que fique no meu lugar e de olhos e orelhas abertas. Qualquer coisa, não deixe de me procurar.
-- Sim senhora coronel e obrigada pela confiança.
-- Major não faço isso pelo senhor e sim pelo capitão Prado que sempre foi meu amigo e confidente. Portanto se quiser novamente a minha confiança, terá que provar para que eu o veja novamente como realmente deve ser.
-- Eu entendo coronel e não estou magoado, afinal a senhora tem seus motivos, mas eu vou provar a minha inocência nessa história sórdida. Passar bem!
-- Eu não espero outra coisa de você Nunes. Só que a verdade venha a tona. Passar bem e tenha uma boa tarde.
A coronel ficou mais um tempo no quartel e depois foi até a churrascaria onde a esposa, os filhos e os outros a esperavam. Assim que viram a mãe, as crianças já foram em sua direção. Lorena também foi abraçar a tia e futura sogra. A recíproca foi a mesma e logo sentou-se ao lado da esposa. Nicola como sempre reclamou que estava com fome e sem mais perda de tempo, o churrasco começou a ser servido.
Enquanto comiam a coronel narrou aos amigos as últimas descobertas e o que havia feito com o capitão Esdras. Foi o filho quem falou:
-- Capitão Cagão mamãe, nossa ele deve ser fedido! E com isso todos deram risada da colocação feita por André que estava todo prosa sentado no colo da mãe.
Depois de almoçarem, todos se despediram e a coronel mais do que depressa foi para casa com a esposa e os filhos. Quando chegaram, as crianças foram para a sala de brinquedos, pois lá havia uma barraca para as meninas e outra para os meninos. Márcia e Andressa ficaram observando os filhos brincando com as outras crianças e a coronel pensava somente na felicidade de agora. O resto viria depois.
Fim do capítulo
Ondeandará Nogueira? E o capitão Cagão ficou com medo da coronel?
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